segunda-feira, agosto 02, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

Reconhece¬ se nesta derrota a táctica jacobina. Trata¬se de impedir uma revolução favorável à liberdade, à soberania positiva das nações, mas contrária aos seus instintos de despotismo? O jacobino começa por colocar suspeitas na boa fé das pessoas com quem tem de tratar, e para disfarçar as suas más intenções, denuncia as más intenções dos outros. «Eles não consentirão, diz ele; ou se consentirem será com um segundo pensamento de trair». Mas que sabeis disso? Quem vos diz que diante da imperiosa necessidade do século, esses príncipes, nascidos no absolutismo, não con¬sentirão em abandonar a sua quimera? E se consentirem uma vez, como não vedes vós que tendes na sua aceitação, mesmo feita de má fé, um penhor mais precioso que o que seria neste momento a sua expulsão? Esqueceis o que custou a Luís XVI, a Carlos X, por se quererem desdizer? Esqueceis que a única realeza que não regressa é aquela que, por falta de habilidade ou perjúrio, colocou¬se na necessidade de abdicar? E porquê então, na circunstância, confiareis menos em Francisco II, em Pio IX, em Leopoldo ou em Roberto que em Vítor-Emanuel? Porquê essa preferência a favor de um príncipe que a ironia italiana parece não ter apelidado de homem galante senão em lembrança das longas perfídias dos seus antepassados? Tereis feito um pacto, democratas, com a boa fé piemontesa?
«A Itália, replicam com um ar desdenhoso esses puritanos comedores de reis, tinha sete, tanto imperador como papa, reis e duques. Desses sete o nosso plano era atirar por terra para começar seis, depois do que teríamos rapidamente anulado o último.»
Eu vi homens de ordem, honestos e tímidos burgueses, que os inocentes passeios do 17 Março, 16 de Abril e 15 de Maio de 1848, faziam, há quinze anos, cair desfalecidos, sorrir a esta política de corsários. Tanto é verdade que em três quartos dos mortais a pedra de toque do bem e do mal, não está na consciência, ela está no ideal!
Talvez o cálculo fosse exacto, e como republicano eu teria a boca fechada, se a Itália, livre da Áustria e dos seus príncipes, Vítor-Emanuel compreendido entre eles, devesse ficar in statu quo, quer dizer formar como anteriormente sete Estados diferentes, sete governos. Nós teríamos estado então em plena federação. Mas é justamente o que não querem os nossos tribunos com cara de regicidas, para quem se trata antes de mais de reconduzir a Itália à unidade política. O seu ideal, do qual não atentam em aperceber a contradição, é de acasalar juntos a democracia e a unidade. Com esse objectivo que propõem eles? Afastar inicialmente seis preten¬dentes, mais ou menos como na Turquia, pela morte do sultão, se assegura a coroa ao filho mais velho pelo massacre dos irmãos. Feito isto, acrescentam eles, a república teria facilmente vencido Vítor-Emanuel. Mas aqui eu pergunto quem me garantia o sucesso da conspiração? É claro que ganhando a monarquia em poder o que tinha perdido em número não tem nada a recear dos conspiradores. Não se vence uma águia como sete rouxinóis. E quando o objectivo da democracia italiana tivesse sido preci¬samente fazer servir os seis príncipes poupados ao cadafalso a Vítor¬Emanuel, poderia ela proceder de outra forma? A unidade não está feita, muito longe disso; Vítor–Emanuel não reina ainda senão sobre três quartos da Itália, e já é mais forte que os democratas. Que podem contra ele agora Garibaldi, e Mazzini?... Admitindo por outro lado que o golpe tão bem montado tivesse resultado, que teria a liberdade ganho com isso? A uni¬dade, quer dizer a monarquia, o império, teria sido menos conseguida, a república menos excluída?... A verdade é que os neo-jacobinos não se preocupam mais em 1863 com a república, que eles continuam a proscrever sob o nome de federalismo, com que se preocupavam em 93 os seus avós. O que lhes falta, é, segundo a diversidade dos temperamentos e a energia das ambições, a uns a monarquia centralizadora e basculante, segundo as ideias de Syeyès e do Sr. Guizot, aos outros um império preto¬riano renovado de César e de Napoleão; a este uma ditadura, àquele um califado. Pois nós não devemos esquecer o caso em que estando cortada, a sétima cabeça da besta, a monarquia ficaria sem representante dinástico, presa oferecida ao mais popular, ou, como dizia Danton, ao maior patife. Assim o quer a unidade: O rei morto, viva o rei!

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