quinta-feira, julho 11, 2013

A NSA e os seus prestativos ajudantes

por Edward Snowden
entrevistado por Jacob Appelbaum e Laura Poitras

                                                                                                                             
Entrevistador: Em que consiste a missão da National Security Agency (NSA) daAmérica e como é que este trabalho se compatibiliza com a regra a lei? 

Snowden: Eles querem saber tudo de importante que acontece fora dos Estados Unidos. Isso é um desafio significativo. Quando se dá a impressão que se deve saber tudo sobre todo o mundo, começa-se a acreditar que se pode evadir as regras. Uma vez que as pessoas o odeiam por evadir aquelas regras, rompê-las torna-se uma questão de sobrevivência. 

Entrevistador: Estão as autoridades ou os políticos alemães envolvidos no sistema de vigilância da NSA? 


Snowden: Sim, naturalmente. Nós estamos na cama junto com os alemães assim como com a maior parte dos outros países ocidentais. Por exemplo, nós  lhe damos a dica de quando alguém que queremos está a voar através dos seus aeroportos (o que soubemos, por exemplo, através do telefone celular da namorada de hacker suspeito num terceiro país totalmente não relacionado – e eles entregam-no para nós. Eles não pedem para justificarmos como soubemos alguma coisa e vice-versa, para isolar os seus líderes políticos da reacção adversa (backlash) de saber quão gravemente estão a violar a privacidade global. 


Entrevistador: "Mas se agora forem revelados pormenores acerca deste sistema, quem será acusado? 


Snowden: Frente a tribunais dos EUA? Acho que você não está a ser sério. Diante de uma investigação que descobrisse as pessoas específicas que autorizaram a intercepção sem permissão de milhões e milhões de comunicações, o que em consequência resultaria nas maiores sentenças da história mundial, os nossos mais altos responsáveis simplesmente pediriam que a investigação fosse suspensa. Quem "pode" ser levado à acusação é irrelevante quando a regra da lei não é respeitada. As leis são significativas para você, não para eles. 


Entrevistador: O NSA faz parceria com outros países, como Israel? 


Snowden: Sim. O tempo todo. A NSA tem um corpo maciço responsável por isto: é o FAD, o Foreign Affairs Directorate. 


Entrevistador: A NSA ajudou a criar o Stuxnet? (Stuxnet é o verme de computador utilizado contra o programa nuclear iraniano). 


Snowden: A NSA e Israel escreveram-no em conjunto. 


Entrevistador: Quais são alguns dos grandes programas de vigilância que hoje estão activos e como os parceiros internacionais ajudam a NSA? 


Snowden: Em alguns casos, os assim chamados Five Eye Partners vão além do que faz a própria NSA. Por exemplo, a General Communications Headquarters (GCHQ) do Reino Unido tem um sistema chamado TEMPORA. Na comunidade da inteligência de sinais o TEMPORA é primeiro buffer de Internet que é "tomador total" ("full-take") não se importando com o tipo de conteúdo e prestando apenas atenção marginal à Lei de Direitos Humanos. Ele rouba tudo, num buffer constante para permitir investigação retroactiva sem que falte um único bit. Exactamente agora o buffer pode guardar três dias de tráfego, mas isso está a ser melhorado. Três dias pode não parecer muito, mas lembre-se que não se trata de metadados. "Full-take" significa que não perde nada e engole a totalidade de cada capacidade de circuito. Se você enviar um único pacote ICMP e ele andar através do Reino Unido, nós o obtemos. Se você descarregar alguma coisa e acontece o CDN (Content Delivery Network) ter o servidor no Reino Unido, nós o obtemos. Se os registos médicos da sua filha doente forem processados num call center de Londres ... bem, você fica com a ideia.