Aguardei com moderada esperança que da reunião da mesa nacional do Bloco de Esquerda saísse aquele anúncio que na vida democrática de outros partidos se tornou a regra mais natural do mundo após um desaire eleitoral, a demissão da sua cúpula. Pelo que me dou conta, e apesar dos desaires eleitorais serem dois e não um, o que saiu foi um conjunto de explicações, algumas delas anedóticas, que nos convidam a concluir que os maus resultados eleitorais nada têm a ver nem com o fracasso da aposta delirante numa liderança bicéfala, nem com a incapacidade de cada um dos seus elementos, cuja demissão tiveram o cuidado de informar que nem sequer foi discutida. Se o PS tem proporcionado um espectáculo degradante, o Bloco não oferece melhor. E um projecto com tantas condições para se impor como a alternativa capaz de devolver a esperança aos portugueses merecia melhor sorte do que implodir na torrente de descontentamentos vários que vai levando consigo aderentes e simpatizantes que não se revêem minimamente numa dupla da qual ninguém espera vitórias, que afasta em vez de cativar, que desmobiliza em vez de galvanizar. E que se agarra ao lugar. Da reunião de hoje saiu a marcação de uma Convenção para daqui a seis meses, a um ano de legislativas. Dificilmente alguém se disponibilizará para avançar para a liderança do Bloco com um prazo tão curto para trabalhar na reversão da imagem de derrota destes últimos tempos.