segunda-feira, junho 02, 2014

Era uma vez um partido

Aguardei com moderada esperança que da reunião da mesa nacional do Bloco de Esquerda saísse aquele anúncio que na vida democrática de outros partidos se tornou a regra mais natural do mundo após um desaire eleitoral, a demissão da sua cúpula. Pelo que me dou conta, e apesar dos desaires eleitorais serem dois e não um, o que saiu foi um conjunto de explicações, algumas delas anedóticas, que nos convidam a concluir que os maus resultados eleitorais nada têm a ver nem com o fracasso da aposta delirante numa liderança bicéfala, nem com a incapacidade de cada um dos seus elementos, cuja demissão tiveram o cuidado de informar que nem sequer foi discutida. Se o PS tem proporcionado um espectáculo degradante, o Bloco não oferece melhor. E um projecto com tantas condições para se impor como a alternativa capaz de devolver a esperança aos portugueses merecia melhor sorte do que implodir na torrente de descontentamentos vários que vai levando consigo aderentes e simpatizantes que não se revêem minimamente numa dupla da qual ninguém espera vitórias, que afasta em vez de cativar, que desmobiliza em vez de galvanizar. E que se agarra ao lugar. Da reunião de hoje saiu a marcação de uma Convenção para daqui a seis meses, a um ano de legislativas. Dificilmente alguém se disponibilizará para avançar para a liderança do Bloco com um prazo tão curto para trabalhar na reversão da imagem de derrota destes últimos tempos.