sexta-feira, maio 29, 2015

O Mónaco era mais caro

Se não contarmos com os pormenores, Portugal é de facto um país lindíssimo. Vamos ignorar que num fim-de-semana de muito calor, a câmara ou a junta ou a empresa municipal ou o raio que os parta não recolhe o lixo mais vezes, ficando o caixote no estado em que a imagem relata, ao fim do dia.
Sim, sem cuidar dos detalhes, isto é lindo. Sucede que os caixotes de lixo das praias só são colocados no dia 1 de Junho. Pelo menos em Cascais. Belo sistema este. Pena que os cidadãos não respeitem o sistema e façam lixo antes de 1 de Junho, que é a data oficial para o arranque do lixo.
Há uns dias, em Lisboa, no Largo das Belas Artes, também dei com aquela vista magnífica do parque do Entreposto parcialmente tapada por lixo em cima de lixo. Eu próprio dei uma volta a uma caixa de microondas, pois na posição em que estava não deixava os turistas contemplarem a Sé daquele ângulo.
Mas calma, não há problema, porque os turistas que deram conta deste e de outros detalhes têm perfeita consciência de que somos um país pobre, que tem muito lixo na rua e até tem pulgas. O que eles também sabem é que o Mónaco era muito mais caro. E a nossa espelunca, lá está, descontando os pormenores, é muito linda.
A culpa nem é das pessoas, porque constate-se que o lixo está sempre depositado no mesmo sítio e quase sempre no sítio certo. Só quando há vento – que não é assim tão raro – é que a porcaria anda um bocadinho mais à solta. A culpa é, portanto, da gestão pública, das autarquias e das juntas e dos governos e das empresas municipais e do raio que os parta.
A culpa é desses que não são capazes de decidir que quando se junta muita gente no mesmo sítio, tem de se redobrar a limpeza urbana. Ou daqueles que não conseguem gerir os centros históricos de maneira a que nunca, mas rigorosamente nunca se acumule lixo. E não é preciso serem caixas de electrodomésticos. É beatas. É preciso apanhar beatas. Durante todo o dia e toda a noite. Não é às tantas do dia tal.
Claro que se continuarmos assim pobres e baratinhos, vamos continuar a ser visitados, porque a oferta comercial já é atraente e acaba por se ver coisas engraçadas. Mas se o poder político fizesse a sua parte, a sua parte mais simples – limpar, arranjar, pintar, cuidar – talvez o destino se valorizasse um bocado. Podíamos estar a alugar um belo palácio, mas aquilo que temos para oferecer é um quarto imundo com uma vista lindíssima. E o Mónaco era muito mais caro.



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