terça-feira, junho 30, 2015

ESTRATÉGIA GOLPISTA DE MEDO E TERROR

Uma primeira informação: o governo grego não decidiu encerrar os bancos durante uma semana porque lhe apeteceu e no âmbito de uma qualquer jogada maquiavélica: foi obrigado a isso devido ao facto de o Banco Central Europeu (BCE), entidade chave de um processo ditatorial instaurado pelos mercados financeiros, ter mantido o programa da troika mas secando a liquidez dos bancos gregos.
O que o BCE fez, como grupo de assalto ao serviço das várias instituições europeias que mais não são do que paus-mandados dos credores extorsionistas, faz parte de um processo de sabotagem económica para aterrorizar o povo grego de modo a que vote “sim” à continuação da austeridade no referendo do próximo domingo. O que o BCE está a fazer, em nome da União Europeia, é terrorismo, bandidismo puro.
O que o governo grego fez, em resposta, foi tentar salvaguardar os salários e poupanças dos cidadãos.
Os portugueses que já têm mais anos e tiveram a sorte de viver o 25 de Abril recordam-se que a sabotagem económica foi um dos processos imediatos de resposta do fascismo para travar a revolução. Da sabotagem económica nasceu, por exemplo, a tentativa de golpe fascista da “maioria silenciosa”, uma maioria que os promotores julgavam aterrorizada, em 28 de Setembro de 1974.
O BCE/UE/agiotas faz agora exactamente a mesma coisa: aplica uma estratégia fascista e terrorista – sem dúvida em clima de golpe de Estado -  para procurar alcançar os objectivos de minorias à custa da miséria, da fome, do descalabro da vida do povo grego. Para os próceres com mentes fascistas que agem em nome da chamada “democracia europeia”, 27 por cento de quebra continuada do PIB grego, uma dívida que não para de crescer devido aos mecanismos impostos para a pagar, um desemprego que atinge mais de um terço da população activa e mais de 55% dos jovens, a razia absoluta nas pensões, nos salários, nos serviços públicos, nos acessos a bens essenciais como água e electricidade ainda não chegam. É preciso vergar mais e mais o povo grego, recorrendo para isso à manobra humilhante de tentar obrigá-lo a pedir de joelhos por favor continuem com a troika, queremos mais austeridade e obrigado por isso.
É nesta Europa que vivemos hoje. Uma Europa onde as instituições que se proclamam “democráticas” atiçam um bando de tecnocratas não eleitos, o BCE, contra um povo indefeso encafuado num beco em que é obrigado a decidir por um problema entre dois: sair do euro ou pedir por amor de deus a continuação da austeridade.
Em minha opinião, mas é a minha e não sou grego embora hoje me sinta como tal, a saída do euro seria a resposta digna, porque a Grécia retomaria instrumentos de decisão que agora não lhe pertencem. Mas é apenas uma opinião, cabe aos gregos decidir num contexto de medo e terror que lhes foi imposto em nome daquilo a que, com a cumplicidade de uma comunicação social que não pensa, apenas papagueia, chamam “ajuda”.
O governo grego fez bem em convocar o referendo. É o recurso à democracia contra mentalidades fascistas. Num duelo desigual de David contra Golias, o mais fraco procura na força da união as energias indispensáveis para enfrentar as armas de terror e liquidação contra as quais é obrigado a combater.
Aconteça o que acontecer, percebamos uma coisa: o que está a acontecer na Grécia tem tudo a ver connosco. Não tenhamos ilusões, a mafia terrorista que montou esta estratégia contra a Grécia aplicá-la-á contra Portugal, contra qualquer outro país que desafie as suas vontades absolutas. Ao tentarem trucidar a dignidade do povo grego, as instituições europeias, minadas por mentalidades fascistas, estão a enviar um recado sangrento em todas as direcções: se não querem que o mesmo vos aconteça portem-se bem, não deixem nunca de escolher o arco da governação e a troika, não pode haver outro caminho. Pelo que a estratégia de terror imposta aos gregos também nos atinge, e não é de raspão. A escolha não é fácil, mas existe: tempos difíceis e sem dignidade dentro do euro; tempos difíceis, mas com dignidade e capacidade de decisão (o mundo não se esgota, felizmente, na União Europeia) fora do euro.


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