quinta-feira, julho 02, 2015

A burguesia lusitana e as eleições

Entre 1985 e 2008, ou seja, do primeiro governo de Cavaco Silva ao primeiro de Sócrates, Portugal foi governado por uma elite composta por poucos sectores: a banca, a construção civil, o sector empresarial do Estado (que inclui empresas recém-privatizadas, mas ainda vinculadas à estratégia conjunta desta fracção burguesa, como a EDP), além de outras empresas dependentes de contratos com o Estado como as empresas de produção de energia. A especulação imobiliária e as obras públicas foram o motor do crescimento económico lusitano e, enquanto pareceu dar certo, os "outros" – quer dizer, os sectores incluídos na outra fracção burguesa – aceitaram ou toleraram esse modelo. Afinal, esta fracção dependeu dos trabalhadores da primeira enquanto seus consumidores. 

A crise de 2008 pôs em causa a capacidade de endividamento do Estado e, portanto, o modelo que havia sido organizado sob a batuta de Cavaco Silva. A crise do modelo data do final de 1999, quando a compra de casas começa a diminuir. Por isso, a banca necessitou colocar no governo um homem da sua confiança, José Sócrates, para prolongar o modelo à custa exclusivamente de obras públicas e do endividamento do Estado. Foi somente com o eclodir da crise que os "outros" se organizaram com a liderança dos supermercados. Deixámos de ter os restaurantes (e os supermercados) cheios de pedreiros e funcionários públicos e passámos a ter Soares dos Santos, nas televisões, dizendo mal de Sócrates. Esta segunda fracção da burguesia difundiu a ideia segundo a qual, não fosse o Orçamento de Estado ajudar tanto a construção civil, o país estaria cheio de Auto-Europas… E, ainda que a Auto-Europa, um enclave alemão em Portugal, tenha dado pouca importância a isso, a média e pequena burguesias, bem como um bom número de intelectuais e jornalistas, se alinharam com Soares dos Santos.


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