sábado, julho 03, 2010

Crônica da Feira do Livro Anarquista de Sevilha

Começando na “provoc” [provocando] pode dizer-se que a Espanha é um pouco a terra prometida de alguns anarquistas que - comigo em primeiro lugar! - são fascinados pela história deste país, o único a ter conhecido até hoje uma verdadeira revolução libertária. Mas hoje em dia é um pouco doloroso constatar que 1936 está bem longe, e que o movimento anarquista espanhol atual tem vindo a perder a base popular que o animou no passado. Vão longe os tempos em que a CNT - a Confederação anarco-sindicalista - contou com mais de dois milhões de aderentes e onde as manifestações estavam recheadas com bandeiras vermelhas e negras.

Mas, se o movimento anarquista espanhol está muito longe dos idos de 1936, é fato que ainda está presente nas lutas e portador de iniciativas no mínimo interessantes.

Relatando esta Feira do Livro Anarquista e Alternativo de Sevilha, à qual tive o prazer de assistir, durante quatro dias, de 2 a 5 de junho, sob os 40 graus diários da Andaluzia, num antigo Centro Social Ocupado, em um bairro muito popular. No exterior do Centro, em frente do grande portão de entrada adornado com um gigante A na bola, mesas expositoras e vendedoras de livros e de DVDs sobre, entre outros temas, a história do movimento anarquista, o anarco-sindicalismo, o feminismo, a sociologia alternativa, a imprensa libertária, etc.

No interior, numa grande biblioteca alternativa, dois documentários foram exibidos, seguidos de debates: um sobre uma forma de ensino alternativo em ruptura com os esquemas de educação escolar tradicionais (“A escola expandida de Zemo 98”) e o outro sobre a luta coletiva dos habitantes do bairro San Bernardo - o mesmo que acolheu esta Feira - contra o despejo das casas que aí são perpetrados (“San Bernardo 52” de Andres Lopez e Cristina Honorato).

Para além destas projeções, outros autores apresentaram os seus trabalhos: “V de Veganismo” de Roberte Lemes, “El tubo. Terror y miseria en las carceles espanolas de la democracia” de Xavier Canadas, “Un deseo apasionado de trabajo mas barato y servicial. Migraciones, fronteras y capitalismo” de Eduardo Romero, “Vida accidental de un anarquista” de F. Ventura e “Sevilla, Cuestion de clases” de Iban Diaz Para.

Em suma e resumindo: dos livros aos documentários, passando pela música e debates, todos os ingredientes estavam presentes para difundir as idéias e as práticas anarquistas para uma ampla gama de pessoas. Tudo isso foi perfeitamente integrado, tudo correu muito bem, a recepção foi calorosa e fiquei particularmente impressionado com o tamanho, o estado de cuidado, limpeza e vivacidade do squat, que dá um exemplo perfeito, em pequena escala, da pertinência e da viabilidade da vida em autogestão. Uma iniciativa que dá uma pista para as lutas atuais e futuras, o tipo de coisa que nos faz querer gritar "Viva o comunismo libertário, viva a anarquia!".

Guillaume Goutte

Semanário “Le Monde Libertaire" Nº1600 (17-23 de junho de 2010)

Tradução > Liberdade à Solta

agência de notícias anarquistas-ana

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