Ficámos a saber que a IAC se vai entreter durante as férias a recolher assinaturas para entregar na AR, para esta criar uma Entidade que acompanhe a auditoria. Já temos a IGF – Inspeção Geral de Finanças e o Tribunal de Contas, lembramos nós; é o habitual pendor para a burocracia e a estatização de keynesianos ou, de próceres do trotsko-estalinismo que reina naquelas bandas. Parece brincadeira de carnaval…
Assim, a IAC desiste da auditoria cidadã, do desenvolvimento da democracia inerente à intervenção das pessoas num processo de abertura e de transparência das contas públicas. Aliás, a referência a “cidadã” sempre foi propaganda pois uma grande abertura significaria riscos de radicalização que o controlo partidário exercido sobre a IAC poderia não conter.
A IAC encaminha a questão da dívida para o vespeiro parlamentar pedindo aos deuses que a maioria PSD/CDS aprove os seus propósitos. Para que isso aconteça terão de pedir ao Cavaco que interceda junto da Nª Sª de Fátima. Quanto às pessoas comuns, que se resignem ao que os seus “representantes” decidam, do alto do seu reconhecido brilhantismo intelectual…
Não é estranho que, com tantos académicos, a IAC, ano e meio depois da abertura com pompa e circunstância no S. Jorge, chegue a esta pífia proposta, reveladora de paralisia e total fracasso. Só revela a sua ausência de trabalho concreto e a sua preferência para debitarem no palanque para plateias selecionadas e normalizadas, adequadas ao seu reacionarismo.
A IAC nunca defendeu que a dívida é um problema político, sem solução neste sistema institucional. Não é capaz de assumir que esta divida não é pagável e que só uma posição de princípio – não pagamos – pode abrir caminho ao apuramento de dívidas ilegítimas, a anulações, à criminalização de quantos participaram em actos danosos de gestão pública. Objetivamente, a IAC coloca-se ao lado de Vitor Gaspar, da troika e do capital financeiro, na perpetuação dos sacrifícios e na punição pelo pecado de “vivermos acima das nossas posses”.
A IAC não quer assumir que não se vai a lado algum com as atuais instituições que acoitam uma classe política que se auto-reproduz e para a qual as pessoas são débeis mentais incapazes de perceber a complexidade da situação e as dificuldades da governação; esta, que como sabemos, se reduz ao roubo de rendimentos e direitos da esmagadora maioria dos sobreviventes em Portugal.
Na IAC mandou-se a toalha ao chão e espera-se que uma pouco reflexiva imprensa divulgue prometidas glórias futuras, já que do passado há pouco para apresentar. Como aliás em outras iniciativas dominadas pelo BE, como se verá em breve.
Estivemos recentemente em Espanha num dos muitos “nós” da Auditoriaciudadana e que compõem a rede que se espalha pelo país. Nesse “nó” – criado em outubro último – vimos trabalho, abertura a todos, organização e propostas políticas adequadas à situação que se vive, em Espanha ou Portugal. Não descortinámos a presença de infiltrados ou controleiros partidários embora estivessem presentes algumas pessoas com simpatias partidárias e que, naturalmente, eram encaradas como quaisquer outras. Nem vimos nenhum caso de premeditada exclusão como na IAC que, em dezembro de 2011, recusou a integração de um ativista enquanto explícito defensor da anulação da dívida pública portuguesa.