“Loucos”, “fanáticos”, etc. são os nomes mais comuns dados aos autores dos atentados de Paris pelos governos europeus, seguidos por grande parte da opinião pública. A “irracionalidade” seria portanto a marca da acção destes “extremistas” que não teriam outro objectivo senão destruir a “civilização ocidental”, pelo ódio que os mobilizaria contra a liberdade e a democracia.
Na verdade, este é o caminho mais curto para evitar a pergunta crucial: quais são as motivações políticas dos atentados?
É esta a questão a que os poderes da Europa querem fugir, porque admitir que haja motivações políticas na origem dos atentados será abrir a porta para julgar o comportamento da União Europeia (bem como dos EUA) em relação ao mundo árabe e muçulmano.
Na verdade, este é o caminho mais curto para evitar a pergunta crucial: quais são as motivações políticas dos atentados?
É esta a questão a que os poderes da Europa querem fugir, porque admitir que haja motivações políticas na origem dos atentados será abrir a porta para julgar o comportamento da União Europeia (bem como dos EUA) em relação ao mundo árabe e muçulmano.
De resto, o alibi do “fanatismo” ficou a descoberto quando as polícias de praticamente todos os países da UE, na sequência dos atentados, lançaram o alerta contra o perigo dos “jihadistas” e desencadearam — para já, em França, na Bélgica e na Alemanha — uma verdadeira caça ao árabe e ao muçulmano (causando a morte de “suspeitos”, sem outras provas que não sejam as fornecidas pela polícia) com base no argumento de que essas comunidades seriam albergue de redes de militantes “islamistas”. Afinal, as razões políticas, sejam elas quais forem, existem…
Não esquecer o pano de fundo
Efectivamente, não pode haver dúvidas de que o pano de fundo das diferentes formas de luta desencadeadas pelos povos árabes e muçulmanos é a guerra que lhes é movida por europeus e norte-americanos, em regiões tão vastas como o Médio e Próximo Oriente, ou a África do Norte e Central. Essa guerra desenrola-se no solo dos seus próprios países com efeitos devastadores nas populações. E, não menos importante, atrás dos acontecimentos dos últimos anos há um longo rasto de décadas e mesmo de séculos de exploração e de dominação pelo colonialismo e pelo imperialismo.
É bom não esquecer que vários desses países, como o Afeganistão e o Iraque, foram invadidos e estão ocupados há mais de uma década. A Palestina não tem sequer direito à existência como Estado e foi sendo retalhada, desde há quase 70 anos, por esse intermediário do imperialismo que é Israel. A Líbia e a Síria foram transformadas desde 2011 num caos, em resultado de ataques militares e do financiamento de uma guerra civil sem quartel, ambas as acções promovidas pelos EUA e a UE. O Sudão, a Somália, a Nigéria, o Mali, a República Centro Africana são alvos e teatros de operações militares dos EUA, do Reino Unido e da França. O Egipto é hoje, de novo, uma ditadura militar tenebrosa por obra e graça dos EUA com cumplicidade europeia. Para não falar dos apoios dados por europeus e norte-americanos às ditaduras da Arábia Saudita e demais estados da Península Arábica.
Pensar, pois, que os atentados cometidos nos EUA e na Europa nascem do nada é esquecer tudo isto. Na verdade, o mundo árabe e muçulmano conduz uma guerra de resistência à guerra iniciada pelo imperialismo — e está mesmo, no plano mundial, na frente desse combate. É, de resto, este facto, não admitido publicamente deste modo, que preocupa acima de tudo os governos imperialistas.