quinta-feira, novembro 17, 2005

A AMIZADE VISTA POR PROUDHON

Com trinta anos, em 17 de Agosto de 1839, Proudhon escreve um texto sobre a amizade, texto que parece não ter destinatário. Cinco ideias dominam: A amizade tem um carácter divino, sublime. Graças a ela, “tudo toma um novo rosto”. A amizade tudo engrandece: amplifica os sentimentos e os pensamentos. A amizade tem um carácter sagrado e militante: um “batalhão de amigos”. Este batalhão da amizade tem uma missão predestinada: Deve extirpar o vício e a tirania. Em resumo, Proudhon sublinha que a sua única razão de viver, é a justiça e a amizade.
Amizade e justiça
No seu livro “De la justice dans la révolution et dans l`église”, tomo I, p.347, Proudhon substituiu o laço que existe entre a dignidade do indivíduo enquanto que ser único e o indivíduo em sociedade. De “pessoal” esta dignidade torna-se “genérica” em presença do outro. Esta dignidade reconhecida mutuamente dá “ origem à sociabilidade” e “ constitui a justiça”.
Proposta de interpretação: Podemos então avançar que para Proudhon, a amizade é como um sopro, uma respiração da justiça; é sintoma íntimo da “imanência” da justiça em cada um.
A amizade apaixona o que é da alçada da consciência ou do raciocínio quanto à relação ao “outro”, na “reciprocidade do respeito ou do serviço”.
A “justa amizade”
Tentaremos através de alguns exemplos descobrir como Proudhon exprime a sua amizade a múltiplos correspondentes. Na apresentação, tentaremos respeitar um decrescendo partindo “ da amizade paixão sagrada”, descrevendo a importância que ela tem para ele, procurando em seguida os obstáculos que se levantam para que esta amizade viva plenamente, relevando igualmente algumas práticas correntes da amizade, para terminar por sublinhar o que Proudhon estima ser os agentes da degradação ou do desaparecimento da amizade.
A paixão sagrada
O banho de amizade. “ O que mais me agrada é a amizade”. “ Nenhum homem teve tantos amigos verdadeiros” ( Carta a Antoine Gauthier 2 de Maio de 1841).
A amizade não suporta a indiferença. Proudhon sublinha que é necessário que o amem ou que o detestem ( Carta a Bergmann - 3 de Maio de 1840).
Dum amigo, suporta-se as correcções. “ Não gostarei menos de si”. ( Carta a Tissot - 21 de Abril de 1842).
A amizade é um absoluto, não se presta a uma explicação racional. Como Montaigne definindo a relação que tinha com La Boétie: “ Porque era eu , porque era ele”, Proudhon evoca a lembrança do seu amigo Fallot ao escrever: “ ele pensava por nós dois”... “ Os seus pensamentos eram os meus”. (Carta a M. Weiss ( sobre Fallot) - 1836.
A amizade é “egoísta” (Carta a Langlois - 16 de Outubro de 1859).
A amizade é uma crença, uma oração. “ Amai-me, acredito na nossa amizade” (Carta a Chaudey - 30 de Agosto de 1858).
A importância da amizade

Irei mesmo se ela me falta, até morrer. ( Carta a de Fontaine - 27 de Janeiro de 1864).
Tenho vinte amigos mais caros que a vida. ( Carta a Beslay - 15 de Abril de 1861).
A amizade chega-me para a minha felicidade. ( Carta a de Fontaine - 13 de Julho de 1864).
O número um. O meu melhor amigo. ( Carta a Suchet - 22 de setembro de 1853).

Os obstáculos
Proudhon é capaz de ir longe para salvar uma amizade. Ela está por baixo duma “profissão de fé”. Estou pronto a transigir, diz ele. ( Carta a Jottran - 14 de dezembro de 1863).
A amizade é mesmo estimulada pelas divergências de pensamento. ( Carta a Madier Montjau - 11 de Dezembro de 1852).
É justamente porque divergimos que me agarro à sua amizade. ( Carta a Dufraisse - 23 de Abril de 1861).
A amizade mesmo assim... apesar da oposição política. ( Carta a Darimon - 13 de julho de 1864).
Práticas da amizade
Solicito-te como amigo. ( Carta a Tourneux - 23 Setembro de 1844).
Solicito a liberdade dos meus amigos Pilhes e Duchene. ( Carta a Herzen - 7 de Agosto de 1852).
Solicito a transferência dum amigo detido. ( Carta a Hode - 17 de Março de 1853).

Os agentes da degradação

“ O sono”: fiquemos vigilantes, escrevemos. ( Carta a Bergmann - 22 de Outubro de 1846).
O maior perigo: a mulher. Se não o excluirmos, a amizade fica em risco de perecer. O batalhão dos amigos machos. A sociedade Filadelfica. ( Carta a Ackermann - 4 de Outubro de 1844).
Uma mulher não pode ser um amigo. ( Carta a Ackermann - 25 de Novembro de 1843).
“ Um casado” esquece “ um amigo”. Toma a reforma da amizade. ( Carta a Tourneux - 1 de Setembro de 1844).

A amizade e a morte

A lembrança dos desaparecidos é o afastamento de muitos amigos. ( Carta a Ackermann - 15 de Novembro de 1840).
O vazio deixado por um amigo desaparecido. ( Carta a Altmeyer - 18 de Julho de 1860).
A eventualidade dolorosa da morte dum amigo. ( Carta a Vandenbroeke - 7 de Fevereiro de 1863).
A amizade substitui

Vantajosamente um medicamento. ( Carta a Delhasse - 23 de Novembro de 1864).
Vantajosamente a família. Esta família “ proudhoniana conservadora e beata”. ( Carta à sra. rouillard - 20 de Julho de 1864).
As regras da amizade
Pode-se utilizar algumas destas regras e nomeadamente aquelas que protegem a dignidade do indivíduo com os seus adversários políticos. ( Carta a Pierre Leroux - 7 de Dezembro de 1849).

Viva a amizade
“ Bebo à amizade”. Proudhon tem cinquenta anos. ( Carta a Chaudey - 5 de Janeiro de 1859).

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