sábado, setembro 30, 2006

PENSAMENTO POSITIVO

Numa terapia de grupo perguntou-se a três alunos:

O QUE GOSTAVAM QUE DISSESSEM DE VÓS NO VOSSO FUNERAL?

O 1º disse:
- Que eu fui um grande médico e um óptimo pai de família.

O 2º disse:
- Que eu fui um homem maravilhoso, excelente pai de família e um
professor de grande influência positiva no futuro das crianças.

E o 3º
rematou:
- Gostava que eles dissessem: "OLHA, O TIPO ESTÁ A MEXER-SE!!!

Será que o Pai Natal existe?

Nenhuma espécie conhecida de Rena consegue voar. MAS existem 300.000 espécies de organismos vivos ainda por classificar, mesmo que a maioria destes sejam insectos e germes, isto não coloca COMPLETAMENTE de fora a possibilidade da existência da Rena voadora que só o Pai Natal é que viu.
Existem cerca de 2 biliões de crianças (-18 anos) no mundo. MAS, já que o Pai Natal não dá presentes às crianças Muçulmanas, Hindus, Judias e Budistas, isto reduz o número de crianças para 378 milhões (de acordo com o Population Reference Bureau). Numa média de 3,5 crianças por habitação, são 91,8 milhões de habitações. Presume-se que pelo menos uma criança se tenha portado bem em cada habitação.
O Pai Natal tem 31 horas de Natal para trabalhar, isto, de acordo com os diferentes fusos horários e a rotação da Terra, assumindo que ele viaja de Este para Oeste (o que parece ser lógico). Isto resulta em 822,6 visitas por segundo. Ou seja, por cada habitação, o Pai Natal tem um milionésimo de segundo (1/1000s) para estacionar, saltar do trenó, descer pela chaminé, encher as meias de presentes, distribuir os restantes presentes por baixo da árvore de Natal, comer qualquer coisa, subir a chaminé, entrar no trenó e seguir para a próxima casa. Assumindo que todas as 91,8 milhões de paragens estão distribuídas uniformemente à volta da Terra (o que é falso, mas para fazermos estes cálculos, vamos assumir que é verdadeiro), estamos a falar de 1,26 km de distância entre as casas, o que dá uma viagem total de 121 milhões de quilómetros, sem contar com as paragens para fazer aquilo que todos nós temos de fazer pelo menos uma vez em 31 horas, mais comer, etc...Isto quer dizer que o trenó do Pai Natal se move a 1.046 km por segundo, 3.000 vezes a velocidade do som. Só para comparação, o veículo mais rápido que o Homem construiu, a sonda espacial Ulysses, move-se a uma velocidade de apenas 44 km por segundo - uma Rena vulgar consegue, no máximo, correr a 24 km por hora.
A carga do trenó adiciona outro elemento curioso. Assumindo que cada criança recebe apenas uma peça de lego (900 g), o trenó carrega 321.300 toneladas, sem contar com o Pai Natal, que, segundo consta, é um pouco obeso. Em terra, uma Rena normal não consegue puxar mais de 136 kg. Mesmo que uma Rena voadora (ver ponto #1) consiga puxar DEZ VEZES mais do que o normal, não conseguimos puxar o trenó nem com oito, nem com nove Renas. Precisávamos de 214.200 Renas. Isto aumentava o peso da carga - sem sequer contar com o peso do trenó - para 353.430 toneladas. De novo, só para comparação, isto é o equivalente a 4 vezes o peso do navio Queen Elizabeth.
353.000 toneladas a viajar a uma velocidade de 1.046 km por segundo geram uma enorme resistência por parte do ar - isto aqueceria as renas a uma temperatura semelhante à de um vaivém a entrar na atmosfera terrestre. O primeiro par de Renas absorveria 14,3 QUINTILIÕES de Joules de energia. Por segundo. Cada. Em suma, elas transformavam-se em chamas quase instantaneamente, expondo a Rena que está por detrás e por aí fora. A inteira equipa de Renas seria vaporizada em 4,26 milionésimos de segundo. O Pai Natal, entretanto, seria sujeito a forças centrífugas 17.500,06 vezes maiores que a força da gravidade. Um Pai Natal de 113 kg (o que até é levezinho) seria esmagado contra o assento do seu trenó por 1.957.290 kg de força.
Conclusão - Se o Pai Natal ALGUMA VEZ entregou presentes na noite de Natal, por esta altura já deve estar morto.

A experiência

A experiência é como uma longa barba, não se pode comprar...
(provérbio chinês)

Foi lançado um concurso

Foi lançado um concurso numa Universidade sobre a melhor frase
referente ao seu curso. O vencedor ganharia uma verba para ajudar na formatura. Engenharia ganhou...
O pessoal de Medicina lançou a seguinte frase:Ninguém conhece o corpo da mulher como nós".Em seguida, o pessoal de Direito disparou a seguinte frase:"De que adianta conhecer o corpo, se só nós sabemos fazê-lo direito?"O pessoal de Economia não deixou para menos:"Não adianta conhecer o corpo, fazer Direito se não souber Administrar o que têm!!"A faculdade de Economia já estava quase a ganhar, quando a Faculdade de Agronomia apareceu com a seguinte frase:"Uns conhecem bem, outros fazem direito, e alguns sabem administrar o que têm, mas plantar o pepino como nós, ninguém consegue!"Acha que acabou por aqui?? Nem pensar... Daí, veio o pessoal de Marketing e Publicidade e largou esta: "De que adianta conhecer bem, fazer direito, saber administrar e plantar o pepino se depois não puder contar a toda a gente?"E, para terminar, a frase vencedora (Engenharia):"De que adianta conhecer bem, fazer direito, saber administrar, plantar o pepino, e poder contar a toda a gente, se não tiverem energia e potência para fazer isso várias vezes?"

Advogado Bondoso

Certa tarde, um bem sucedido advogado estava sendo conduzido em sua limusine para a sua quinta, quando observou dois homens maltrapilhos comendo erva ao lado da estrada.Ele ordenou imediatamente ao motorista que parasse, saiu fora doveículo e perguntou:- Por que vocês estão comendo erva?- Porque nós não temos dinheiro para comprar comida, respondeu um dos homens.- Bem, você pode vir comigo para a quinta - disse o advogado.- Senhor, eu tenho uma esposa e três filhos aqui.- Traga-os também - replicou o advogado.- E quanto ao meu amigo?O advogado virou-se para o outro homem e disse:- Você pode vir connosco também.- Mas, senhor eu também tenho esposa e seis filhos, disse o segundo homem.- Eles podem nos acompanhar também - disse o advogado enquanto se dirigia de volta a limusine.Todos se acomodaram como puderam na limusine, e quando já estavam a caminho, um dos acompanhantes disse:- O senhor é muito gentil. Obrigado por levar-nos a todos com o senhor.O advogado respondeu:- De nada!!! Vocês irão adorar a minha quinta. A erva está com quase um palmo de altura!!!

Um (in)sultão em Parati

Entrevista a Tariq Ali


O paquistanês radicado na Grã-Bretanha, Tariq Ali, falou sobre conflitos no Oriente Médio, sobre Lula e sobre literatura durante a Festa Literária Internacional de Parati.

Romancista, biógrafo, historiador, dramaturgo, activista político, cineasta e editor de longa data da publicação académica New Left Review, o paquistanês Tariq Ali, de 63 anos, é considerado um dos principais intelectuais de esquerda da Grã-Bretanha. Como ensaísta, escreveu Confronto de fundamentalismos (2002) e Bush na Babilónia (2003). O seu trabalho como romancista inclui o “Quinteto Islâmico”, ainda inacabado, que compreende As sombras da romãzeira (1992), O livro de Saladino (1998), A mulher de pedra (2000) e Um sultão em Palermo (2006) [em Portugal, O sultão e o cartógrafo]. O seu livro mais recente é Rough music (2006), uma denúncia enérgica contra o primeiro­‑ministro britânico Tony Blair. A nova face do império e Um sultão em Palermo foram lançados no Brasil, durante a Festa Literária Internacional de Parati, entre 9 e 13 de Agosto, ocasião em que conversámos com o autor.

– Há 35 ou 40 anos, quando seu amigo John Lennon telefonou para saber sua opinião sobre sua música Imagine, que falava de um mundo sem guerra e sem fronteiras, já havia o conflito árabe-israelense, já havia os EUA querendo fincar as suas garras imperialistas na Ásia... O que mudou de lá para cá?

Para não alongar a história, a grande diferença é que os EUA são a única potência imperial do mundo, situação bem diferente da bipolaridade dos anos 60. Quando os EUA intervieram no Vietname, nenhum país europeu mandou tropas. No entanto, quando intervieram no Iraque, muitas nações europeias mandaram tropas. Isso gera uma ideologia global dominante que está cada vez mais difícil de desafiar. Esta situação, que é conhecida como o consenso de Washington, tem dois aspectos essenciais: o primeiro é que as únicas políticas económicas permitidas são as neoliberais. O segundo é a constatação de que as soberanias nacionais não importam mais; se for necessário, na visão deles, os EUA passarão por cima das soberanias nacionais em nome da assim chamada intervenção humanitária. O efeito disso é tirar do mundo as bases da democracia, isolando e afastando muitas pessoas das instituições democráticas.

– O que isso gera no cenário internacional?

Um problema à escala global. Os países estão assustados, mas não se levantam contra o poder dominante, pois os países que denunciam o imperialismo são taxados de terroristas, de populistas ou o que quer que seja. Um outro ponto é que este sistema faz com que países se tornem muito dependentes das instituições globais e muito sujeitos ao que é mostrado pelos meios de comunicação de massa, como a televisão. Esta é uma outra grande diferença em relação aos anos 70, retomando a sua pergunta. Nos 70, um jornalista americano experiente filmou os fuzileiros navais americanos a queimar uma casa, o que foi mostrado na mesma noite na televisão nacional americana. Se compararmos este exemplo com a cobertura que está a ser dada ao que ocorre no Líbano hoje em dia, nenhuma das emissoras de TV americanas mostrou casos de morte de civis libaneses. Quando há uma situação em que as notícias são deliberadamente escondidas do público americano, não podemos esperar que eles saibam o que está a acontecer.

– Não há resistência, então?

É um mundo dominado, e há pequenos bolsões de resistência de pessoas a tentar lutar contra isso.

– O senhor falou em bolsões de resistência. Sabemos que o senhor participa directamente de um deles: o Fórum Social Mundial. Como este movimento é visto pelo mundo ou, ao menos, nos lugares aonde o senhor tem ido? Ele realmente é representativo à escala global ou existe uma ilusão de grandeza dos brasileiros, pelo facto de o Fórum ter nascido aqui e ter tido várias edições que reuniram centenas de milhares de manifestantes em Porto Alegre?

O Fórum Social Mundial começou no Brasil e isso foi muito importante. Mas, agora, acontece em todos os continentes. No começo do ano, houve um Fórum Social Mundial no Paquistão, na África e na Venezuela, nos três continentes simultaneamente. Na verdade, o Fórum Social Mundial está a crescer. Tenho que ser muito sincero sobre isso. Participei de muitos destes fóruns que, de facto, estão a crescer, mas precisamos saber quais são os seus limites. Porque, no momento, está a virar uma festa. E o mundo precisa de mais do que uma festa! E não só de pessoas a gritar que “outro mundo é possível”. Já estamos a gritar isso há muitos anos. Está a ficar monótono. O importante é entender como e onde estão a acontecer mudanças e o que podemos aprender com isso.

– E onde as mudanças estão a acontecer?

Os principais movimentos políticos que estão a ter grande impacto mundial concentram-se na América Latina. Podem ser observados em toda a América Latina. Enquanto estamos aqui reunidos, a Cidade do México é ocupada por mais de um milhão de pessoas, pois o principal partido de esquerda mexicano acredita que a eleição foi fraudada. Isso gerou uma grande ocupação, cuja demanda é muito simples de ser atendida: recontem cada um dos votos. Como alguém pode opor­‑se a isto? É uma exigência legítima da democracia. Tivemos eleições na Bolívia, no Peru... independentemente de quem tenha ganhado em cada lugar, observamos a mesma polarização.

– O senhor aponta alguma liderança neste sentido?

Sei que não é uma coisa muito popular de se dizer no Brasil, mas, à escala global, o principal político claramente posicionado à esquerda, é o Hugo Chávez. O discurso que ele fez na ONU, até mesmo os jornais americanos tiveram que admitir, foi o mais interessante de todos [1]. Quando a Aljazeera entrevista o Chávez, ela obtém audiências maiores do que em entrevistas com qualquer outro líder internacional. É uma situação muito interessante na América Latina e uma tragédia que o Brasil não possa fazer parte dela, pois, cada vez mais, as alianças regionais tornam-se cada vez mais importantes para desviar o eixo político de dominação. Até o Kirchner na Argentina está a mostrar­‑se mais corajoso do que o Lula. Ele é muito inteligente. Quando Bush disse que ele deveria pagar todas as dívidas que o seu país fizera com o Banco Mundial, ele respondeu que não era possível. Mas ele disse: ”vamos dar­‑te alguma coisa, por cada dólar que devemos, vamos pagar um centavo”. Foi uma operação inteligente, pois ele não disse simplesmente que não pagaria nada, e o governo norte­‑americano, no final das contas, teve que aceitar. Isso mostra que não é o caso de que nada pode ser feito, como é corrente na visão política dominante no Brasil. As ligações entre dinheiro e poder podem ser rompidas por organizações políticas que tenham coragem e visão. Isso remete­‑me novamente para a pergunta sobre a música Imagine, que é uma canção utópica que ele queria que se tornasse verdadeira. Há versos muito interessantes nela, um deles fala de «um mundo sem religião», que é muito interessante de se observar se aplicado ao Médio Oriente e aos EUA.

– O que o senhor tem achado das posições externas tomadas pelo Brasil?

Não acompanho tanto a política brasileira quanto acompanho a americana, mas quando o Brasil mandou tropas para o Haiti, um general cometeu suicídio e outro demitiu­‑se. Por que fizeram isso? Porque estavam a pedir­‑lhes que matassem pessoas pobres, e os generais tiveram mais carácter e decência por se recusarem do que os políticos que ordenaram ou consentiram a matança.

– Estamos em ano de eleição no Brasil, o senhor tem acompanhado a política interna brasileira?

No mundo todo, à escala global, as pessoas acabam por se perguntar, se há tão pouca diferença entre centro­‑esquerda e centro-direita, por que me darei ao trabalho de votar? No Brasil, isso está muito claro. Eu estive no Brasil, numa Feira Literária em Ribeirão Preto, exactamente na época das últimas eleições [2002] e alguém perguntou “se você fosse brasileiro, em quem votaria?”. Respondi que votaria no Lula, mas tinha que confessar uma preocupação: Lula seria eleito pela maioria dos votos do Brasil, mas tinha dúvidas se ele serviria os interesses destas pessoas que votaram nele ou os interesses de quem não votou nele, como os bancos internacionais, o FMI, os EUA... Na época, eu disse “espero que ele sirva os interesses do povo, mas podem acontecer muitas coisas, pois há uma semelhança com a Grã-Bretanha, fazendo um paralelo com Fernando Henrique Cardoso e Margareth Thatcher que, quando sucedidos no poder pelo centro-esquerda, viu-se a continuidade do que se vinha fazendo; aqui Lula continua a lógica de Fernando Henrique Cardoso e, lá, Tony Blair deu continuidade ao governo Thatcher. São diferentes países, circunstâncias diferentes, mas sucessões similares.

– Nos EUA, o apoio ao George Bush caiu sensivelmente. Mesmo as pessoas que não são politicamente sofisticadas parecem ter­‑se consciencializado neste sentido. Como o senhor encara isso?

A principal razão para isso é o desastre da intervenção, da invasão, do Iraque. O governo garantiu que entraria, tiraria um homem mau do poder, colocaria outro bom no seu lugar e depois sairia. Eles não previram que haveria tanta resistência no Iraque, o que causou um número cada vez maior de baixas americanas, incluindo pessoas mortas e muitos milhares de soldados americanos gravemente feridos. Esta informação está a disseminar­‑se, infiltrando-se por baixo das notícias, pois, em todo o pequeno lugarejo americano, há alguém que morreu ou foi gravemente ferido. Além disso, o público sabe, agora, que o governo lhe mentiu. Mentiram sobre as armas de destruição em massa, o que já foi publicamente admitido. Isso teve um forte impacto na popularidade de Bush e de Blair também. A aprovação do Blair na Grã-Bretanha agora está muito baixa. Muitas pessoas dizem abertamente que querem que ele vá embora.

– Se Bush não fosse o presidente durante o atentado de 11 de Setembro, o mundo seria hoje diferente, seria mais pacífico?

É muito perigoso colocar toda a responsabilidade numa única pessoa, por mais tentador que seja. Especialmente quando o homem em questão não é tão inteligente. No caso dos EUA, discutimos não um só homem, mas um sistema. Eles têm uma história imperial que já remonta há mais de duzentos anos. Eles tiveram presidentes muito diferentes, alguns bons, outros ruins, uns inteligentes, outros burros, mas todos sempre defenderam os interesses do Império Americano. Clinton começou o processo de conduzir os EUA para a guerra. A secretária de estado americana Madeleine Albright defendeu as sanções que mataram mais de um milhão de crianças. O perigo está em tornar o Bush um alvo fácil e descarregar toda a culpa nele. Quando os EUA não estão no controle absoluto da situação, algo muito interessante acontece, olhem, por exemplo, Reagan e George Bush Jr.: as pessoas que dominaram a política internacional no governo de Reagan são as mesmas agora dominando a política externa do governo do Bush Jr.

– Como o senhor vê o futuro do fundamentalismo islâmico?

É preciso perguntar isso ao governo da Casa Branca. O fundamentalismo crescerá na medida em que crescerem os ataques ao mundo islâmico. Se atacarem o Irão, o grupo que mais crescerá lá será o fundamentalista, não tenho dúvidas.

– Como o senhor encara as acusações da revista Veja que o qualificou como um paquistanês perfeitamente idiota?

Eu não li, mas soube que falam do meu posicionamento em relação ao Irão e a todo o Médio Oriente... Esta é uma crítica que também recebo em larga escala nos EUA e que me é muito familiar. São críticas feitas por jornalistas que nunca falaram comigo, mas que têm uma agenda muito bem definida. Quem lê os meus livros de não­‑ficção tem uma coisa muito clara a meu respeito: eu sou ateu. Não acredito em religião ou em políticas religiosas. Vivemos num mundo em que há grandes vácuos... quando me perguntam se estou feliz por haver resistência no Iraque, eu respondo que sim, pois se não houvesse, Bush e Blair teriam uma vitória muito triunfante. Quando Israel invade o Líbano, destrói a infra-estrutura e a vida social do país, mata milhares de civis... eu digo que estou muito feliz que haja uma resistência a este crime de guerra. A actual mídia global não se vê mais como um grupo independente de jornalistas e sim como um meio para defender a ordem estabelecida e a posição política da Veja eu conheço muito bem... é equivalente à da Time e à da NewsWeek, mas, na verdade, estas duas americanas são, ao menos, mais críticas do que a Veja. Tenho mais uma coisa a falar sobre isso: existe uma enorme gama de pessoas envolvidas com a ordem política global e dominante que querem eliminar a palavra resistência dos dicionários. Se olharmos para a história dos impérios europeus, percebemos que todos aqueles que resistiram a eles foram chamados de terroristas: os franceses chamavam os argelinos de terroristas, os portugueses fizeram o mesmo com Moçambique, Angola e Guiné Bissau, os americanos chamavam os vietnamitas de terroristas comunistas, os britânicos chamavam os quenianos de terroristas, o regime do apartheid na África do Sul chamava Nelson Mandela de terrorista, os israelenses chamam os palestinos removidos da terra de terroristas, então... Pode-se dar o nome que quiser que isso não mudará os fatos.

– Qual a diferença significativa entre os seus textos jornalísticos e os literários? O senhor tem um projecto na ficção?

Quando é ficção, precisamos criar pela imaginação, por todas as vias, a civilização que queremos mostrar. Por exemplo, quando dizemos aos italianos que a Sicília foi, por muitos anos, uma ilha árabe, eles dizem que não sabiam disso! Durante as ditaduras políticas na Espanha e em Portugal, praticamente nada se ensinava sobre a história daqueles países. Durante a época do Franco, quinhentos anos de História árabe na Península Ibérica foram representados oficialmente por um único parágrafo nos livros didácticos. O regime de Salazar em Portugal era igualmente ruim. Ambos negaram um período importante para a cultura europeia, no qual, tecnicamente, o cristianismo estava no poder, mas a cultura árabe era dominante em muitas partes. A língua dominante, escrita e falada, era a árabe; as escolas médicas eram árabes... eles simplesmente não podiam viver sem esta cultura árabe. O meu projecto ficcional é a reconstrução desta história perdida. O trabalho de não­‑ficção é mais voltado para o período actual: o choque dos fundamentalismos, Bush na Babilónia, etc.

– Por que encontramos tão pouco da literatura árabe nas prateleiras das livrarias? Ela não está a ser produzida ou não chega até nós?

Diversos países árabes têm escritores admiráveis, mas uma parcela muito pequena é traduzida. Só aparecem nas luzes dos holofotes da mídia e do mercado editorial quando ganham o Nobel, como foi o caso do egípcio Nagib Mahfuz. Mas o facto é que as grandes corporações que dominam a mídia e as editoras é que decidem o que será ou não será traduzido e lançado no mercado.

[1] Hugo Chávez Frias, «Propomos que a sede das Nações Unidas saia de um país que não é respeitoso com as resoluções da Assembleia». Discurso do presidente venezuelano na Sexagésima Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, 15/09/2005.
Eduardo Carvalho
http://www.infoalternativa.org/cultura/cultura023.htm

Rússia e aliados da Ásia Central efectuam jogos de guerra em resposta às ameaças americanas

Mal conhecidos pelos media ocidentais, os exercícios militares organizados pela Rússia, Casaquistão, Quirguistão e Tadjiquistão sob Collective Security Treaty Organisation, (CSTO) foram lançados em 24 de Agosto. Estes jogos de guerra, oficialmente etiquetados como parte de um programa de contra-terrorismo, são uma resposta directa às ameaças militares americanas na região, incluindo os planeados ataques contra o Irão. O exercício Rubezh-2006 está programado para 24-29 de Agosto próximo à cidade portuária de Aktau, no Casaquistão.
"Será o primeiro exercício militar conjunto empreendido pelos países do CSTO, e envolverá 2500 membros retirados dos vários serviços armados dos estados membros, com a Rússia, o Casaquistão, o Quirguistão e o Tadjquistão como participantes principais. O Uzbequistão, que recentemente retornou ao CSTO, enviará observadores, ao passo que dois outros países membros do pacto, a Bielorússia e a Arménia, não tomarão parte (IPWR News Briefing Central Asia )
Os relatos da imprensa da região descrevem estes jogos de guerra como uma resposta à presença militar americana e às suas ambições na Ásia Central.
"A militarização crescente é ligada à desconfiança mútua entre países na região, afirmam analistas. Os media iranianos especularam que os Estados Unidos estão a utilizar o Azerbaijão para criar um contrapeso militar ao Irão no Cáspio. É possível que o exercício conduzido pelo CSTO — no qual a Rússia é dominante — representa uma resposta a preocupações acerca do envolvimento dos Estados Unidos no desenvolvimento da Marinha do Casaquistão. Observadores dizem que a Rússia está a inclinar-se cada vez mais para a visão iraniana de que países de fora deveriam ser banidos de ter forças armadas no Mar Cáspio". Peritos dizem que os EUA estão a tentar aumentar a pressão sobre o Irão, bem como defender o seus próprios investimentos no Azerbaijão e no Casaquistão. Também estão a tentar garantir a segurança do oleoduto estrategicamente vital Baku-Tbilisi-Ceyhan. Uma presença militar no Cáspio daria aos Estados Unidos uma oportunidade para pelo menos parcialmente compensar sua influência a enfraquecer na Ásia Central, como se viu no encerramento da base aérea no Uzbequistão, no aumento da renda que tem de pagar pela base de Manas no Quirguistão, e pelo escândalo diplomático que resultou na expulsão de dois americanos do Quirguistão. Segundo analistas, a segurança genuína na região só pode ser alcançada se os interesses militares de todos os cinco países do Cáspio forem coordenados. Numa conferência internacional em Astrakan, em Julho de 2005, a Rússia propôs a formação de um grupo de coordenação naval do Cáspio, mas até à data a iniciativa não obteve resposta. (ibid)
Toda a região parece estar em pé de guerra. Estes jogos de guerra do CSTO deveriam ser vistos em relação àqueles conduzidos há apenas uma semana pelo Irão , em resposta às contínuas ameaças militares americanas. Apesar de o Irão não ser membro do CSTO, ele tem o estatuto de observador na Organização de Cooperação de Shangai (SCO), da qual a China é membro. A SCO tem um relacionamento estreito com o CSTO. A estrutura das alianças militares é crucial. No caso de um ataque ao Irão, a Rússia e os seus aliados do CSTO não permanecerão neutros. Em Abril último o Irão foi convidado a tornar-se membro pleno do Acordo de Cooperação de Shangai. Até então nenhum calendário concreto para o acesso do Irão ao SCO foi estabelecido. Esta ampliação do Acordo de Cooperação de Shangai, o qual também inclui a Índia, o Paquistão e a Mongólia com o estatuto de observadores, contrapõe-se aos objectivos militares e estratégicos americanos na região. A realização dos jogos de guerra do CSTO deve ser vista como um sinal para Washington de que um ataque ao Irão poderia conduzir a um conflito militar muito mais vasto no qual a Rússia e os estados membros do CSTO poderiam potencialmente ser envolvidos, tomando partido pelo Irão e pela Síria. Também é significativa a estrutura dos acordos de cooperação militar bilaterias. A Rússia e a China são os principais fornecedores de sistemas de armas avançadas ao Irão e à Síria. A Rússia está a contemplar a instalação de uma base naval na Síria, na costa leste mediterrânica . Por sua vez, os EUA e Israel têm acordos de cooperação militar com o Azerbaijão e a Geórgia.
Michel Chossudovsky

http://resistir.info/

Sangue e esperança

Depois de anos a aterrorizarem um povo ocupado, os regimes párias de Washington e Telavive podem finalmente ter encontrado quem lhes faça frente.

Lembram-se do Kosovo e do resto dos Balcãs arrasados? Lembram-se dos curdos no norte do Iraque? Quantos despachos comoventes essas crises geraram no ocidente, juntamente com outras quantas maldições aos seus atormentadores. De acordo com a minha memória, cada um deles foi chamado «a causa mais moral da nossa geração». Não havia dúvida, diziam os cruzados, entre o certo e o errado; eles estavam firmemente do lado do certo, juntamente com Blair, Clinton e os seus generais. Quão silenciosos estão agora estes cruzados, com a sua compaixão selectiva reservada comprovadamente para causas de estado, as “nossas” causas.

Perante os nossos olhos, o regime israelense (nunca é chamado regime, claro), armado e financiado pelos Estados Unidos, e apoiado pela Grã-Bretanha, está empenhado em destruir todo um país, matando deliberadamente civis, quase metade dos quais são crianças; e os cruzados estão tão calados como ratos ou ocupados a trabalhar arduamente na grande barragem da mistificação.

Detectei um deles ontem a contribuir para uma reportagem sobre Condoleezza Rice — a Ribbentrop moderna — na qual se dizia que ela havia «embarcado numa missão no Médio Oriente para tecer um plano de paz». Li aquilo duas vezes e perguntei-me como era possível para Rice (ou “Condi”) cumprir sua “missão” quando a missão descarada do seu governo era apoiar e colaborar agressivamente com os israelenses, fornecendo­‑lhes mesmo no meio da carnificina bombas guiadas de precisão e mísseis revestidos de urânio. O antigo cruzado não disse.

Detectei um outro cruzado a debater seriamente se o exército israelense ainda era um “exército moral”. Li aquilo duas vezes. Na minha experiência de guerra e do Médio Oriente, o exército israelense é um dos mais cobardes. Todos os dias os seus soldados humilham pessoas indefesas, idosos assustados e mulheres grávidas em barreiras nas estradas e agora os seus pilotos de F-16 despejam bombas de fósforo sobre famílias a fugir em veículos cambaleantes.

O ministro da Justiça israelense, Haim Ramon, disse que Israel havia «na realidade obtido a autorização para continuar as nossas operações» na conferência de Roma de 16 de Julho. Anteriormente, Blair e Bush haviam “dissuadido” a reunião do G8 de apelar a um cessar fogo. O que isto significa é muito simples. Em 1982, as grandes potências ficaram de lado enquanto os israelenses superintendiam o massacre de milhares de pessoas nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, no sul do Líbano. As mesmas grandes potências estão agora a dizer: “Vão em frente, matem e massacrem até ficarem saciados. Dir­‑lhes­‑emos para parar quando pensarmos que já é bastante».

No Vietname, há muito tempo, ao explicar porque “nós venceremos”, um membro da Frente de Libertação Nacional disse-me: «Eles (os americanos) não podem matar­‑nos todos». Os invasores (a palavras quase nunca era utilizada no ocidente) fizeram o seu melhor e mataram ou provocaram a morte de mais de três milhões de pessoas. Os invasores dizimaram a resistência no Vietname do Sul, a FLN, mas não podiam matá­‑los todos, e acabaram por seu expulsos.

Não estou a desenhar um paralelo preciso: basta dizer que a resistência no Líbano, o Hezbollah, está a mostrar que eles, também, operam de acordo com a mesma máxima. A resistência ao poder rapace, aos crimes épicos de invasão (a que os juízes de Nuremberg chamaram o crime «supremo») é a humanidade na sua maior nobreza; contudo, o paradoxo adverte-nos que nenhuma resistência é bonita; que cada uma acrescenta a sua própria forma de violência a fim de expulsar um invasor (tal como os civis mortos pelos rockets do Hezbollah); e isto aplicou­‑se aos heróicos partisans na Europa, aos heróicos curdos e a esses iraquianos sem rosto, desprezados que têm tido êxito em desconjuntar a máquina homicida americana no seu país.

Mas há esperança. Depois de todos estes anos a aterrorizarem um povo ocupado, acabando por conduzi-lo ao desespero de ter de cometer as suas próprias atrocidades, os regimes párias de Washington e Telavive podem, apoiados por Blair (a quem a história julgará simultaneamente como ser desprezível e criminoso), podem, podem mesmo, ter encontrado quem lhes faça frente. Ou, se não durante toda a luta, no princípio dela.

Entretanto, o resto de nós deve exigir que aqueles que alegam um exercício responsável do cargo em governos “civilizados” rompam o seu silêncio cobarde e digam aos invasores para pararem a sua matança e irem­‑se embora agora.

John Pilger
http://www.infoalternativa.org/autores/pilger/pilger052.htm

sexta-feira, setembro 29, 2006

Definição de avó

"Uma Avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dosoutros. As Avós não têm nada para fazer, é só estarem ali. Quando nos levama passear, andam devagar e não pisam as flores bonitas nem as lagartas.Nunca dizem "Despacha-te!". Normalmente são gordas, mas mesmo assimconseguem apertar-nos os sapatos. Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior. As Avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes. Quando nos contam historias, nunca saltam bocados e nunca se importam de contar a mesma história varias vezes. As Avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo. Não são tão fracas como dizem, apesar de morreram mais vezes do que nós. Toda a gente deve fazer o possível por ter uma Avó, sobretudo se não tiver televisão."

Artigo redigido por uma menina de 8 anos e publicado no Jornal do Cartaxo

Teorema do ordenado de Dilbert

Para todos os que gostam da matemática...
O "teorema do ordenado" de Dilbert estabelece que:
"Os engenheiros e os cientistas nunca podem ganhar tanto como os executivos e os comerciantes".
Este teorema, embora não acreditem, é possível ser demonstrado matematicamente a partir dos 2 postulados seguintes com os quais com certeza concordam:
1.- Postulado
1: "O conhecimento é poder"
2.- Postulado
2: "O tempo é dinheiro"
Todos nós conhecemos o seguinte axioma:Poder (potência) = trabalho/tempo
Como Conhecimento = poder, teremos Conhecimento = trabalho/tempo e comoTempo = dinheiro, temos que Conhecimento = trabalho/dinheiro.
Portanto, obtemos:"Dinheiro = Trabalho/ Conhecimento"Assim, se "conhecimento" se aproxima de zero, o dinheiro tende para o infinito, independentemente da quantidade de trabalho feito.
DEMONSTRADO: Quanto menos sabes, mais ganharás.

O mistério do quarto 311

Durante alguns meses acreditou-se que o quarto 311, de um hospital municipal da África do Sul, tinha uma maldição.Todas as sextas-feiras de manhã, os enfermeiros descobriam um paciente morto neste quarto da unidade de cuidados intensivos.Claro que os pacientes tinham sido alvo de tratamentos de risco mas, no entanto, já se não encontravam em perigo de morte.
A equipa médica, perplexa, pensou que existisse alguma contaminação bacteriológica no ar do quarto. Alertadas pelos familiares das vítima, as autoridades conduziram um inquérito.Os utentes do 311 continuaram, no entanto, a morrer a um ritmo semanal e sempre à sexta-feira.Por fim, foi colocada uma câmara no quarto.E o mistério resolveu-se: todas as sextas-feiras de manhã, pelas 6 horas, a mulher da limpeza desligava o respirador artificial do doente para ligar o aspirador !!!

FOBIAS

Automatonofobia - medo dos bonecos dos ventrílucos, estátuas de cera, criaturas animadas - tudo o que represente um ser vivo.Aulofobia - medo das flautas.Antofobia - medo das rosas. Aviofobia ou Aviatofobia - medo de voar.Autofobia - medo de estar só.Automisofobia - medo de estar sujo.Aurofobia - medo do ouro.Atazagorafobia - medo de ser ignorado ou esquecido.Atefobia - medo das ruínas.Atelofobia - medo da imperfeição.Assimetrifobia - medo das coisas assimétricas.Astenofobia - medo de desmaiar.Arsonofobia - medo do fogo.Arrenofobia - medo dos homens.Aritmofobia - medo dos números.Aracnofobia - medo das aranhas.Apifobia - medo das abelhas.Apeirofobia - medo do infinito.Anuptafobia - medo de ficar solteiro.Antlofobia - medo das inundações.Antrofobia ou Antofobia - medo das flores.Angrofobia - medo de ficar zangado.Anemofobia - medo das correntes de ar ou do vento.Androfobia - medo dos homens.Anablefobia - medo de olhar para cima.Amicofobia - medo das arranhadelas ou de ser arranhado.Amnesifobia - medo da amnésia.Ambulofobia - medo de andar.Amaxofobia - medo de andar de carro.Altofobia - medo das alturas.Alodoxafobia - medo das opiniões.aliumfobia - medo do alho.Alectorofobia - medo das galinhas.Ailurofobia - medo dos gatos.Agrizofobia - medo dos animais selvagens.Agliofobia - medo das dores.Ablutofobia - medo de lavar-se ou de tomar banho.

Brontofobia - medo dos relâmpagos e dos trovões.Bromodrosifobia ou Bromidrofobia - medo dos odores corporais.Bibliofobia - medo dos livros.Belonefobia - medo das agulhas.Batracofobia - medo dos anfíbios, tais como sapos, salamandras, etc...Batofobia - medo das alturas ou de estar perto de edifícios altos.Batonofobia - medo das plantas.Batofobia - medo da profundidade.Basofobia ou Basifobia - medo de andar ou de cair.Barofobia - medo da gravidade.Balistofobia - medo dos mísseis ou das balas.Bacteriofobia - medo das bactérias.Bacilofobia - medo dos micróbios.

Clinofobia - medo das camas.Ciofobia - Medo das sombras.Colpofobia - medo dos genitais, particularmente femininos.Coinonifobia - medo dos quartos.Cleptofobia - medo de roubar.Cinetofobia ou Cinesofobia - medo dos movimentos.Catisofobia - medo de se sentar.Catagelofobia - medo do ridículo.Cainofobia - medo de qualquer coisa que seja nova.Cipridofobia ou Ciprifobia ou Ciprianofobia ou Ciprinofobia - medo das prostitutas ou das doenças venéreas.Cinofobia - medo dos cães ou da raiva.Cimofobia - medo das ondas ou de movimentos ondulatórios.Ciclofobia - medo das bicicletas.Ciberfobia - medo dos computadores ou de trabalhar com computadores.Cristalofobia - medo dos cristais ou do vidro.Cremnofobia - medo dos precipícios.Coulrofobia - medo dos palhaços.Coprofobia - medo das fezes.Contreltofobia - medo do abuso sexual.Coitofobia - medo do coito.Coimetrofobia - medo dos cemitérios.Climacofobia - medo das escadas, de subir ou descer escadas, de cair das escadas.Claustrofobia - medo dos espaços fechados.Cibofobia ou Citofobia ou Citiofobia - medo da comida.Cronomentrofobia - medo dos relógios.Cronofobia - medo do tempo.Cromofobia ou Cromatofobia - medo das cores.Crometofobia ou Crematofobia - medo do dinheiro.Corofobia - medo de dançar.Ceraunofobia - medo dos trovões.Catapedafobia - medo de saltar.Carnofobia - medo da carne.Cardiofobia - medo do coração.Cancerofobia - medo do cancro.Caliginefobia - medo das mulheres bonitas.

Diquefobia - medo da justiça.Didascaleinofobia - medo de ir à escola.Diabetofobia - medo das diabetes.Dextrofobia - medo dos objectos que estão do lado direito do corpo.Dermatofobia - medo das lesões na pele.Dentofobia - medo dos dentistas.Dendrofobia - medo das árvores.Demofobia - medo das multidões.Demonofobia - medo dos demónios.Dementofobia - medo da insanidade.Deipnofobia - medo do jantar ou de jantar.Decidofobia - medo de tomar decisões.Distiquifobia - medo dos acidentes.Dromofobia - medo de atravessar a estrada.

Eurotofobia - medo dos genitais masculinos.Erotofobia - medo das questões sobre sexo.Ergofobia - medo do trabalho.Ereutrofobia - medo de corar.Equinofobia - medo dos cavalos.Epistemofobia - medo do conhecimento.Epistaxiofobia - medo de sangrar pelo nariz.Entomofobia - medo dos insectos.Enoclofobia - medo das multidões.Emetofobia - medo de vomitar.Eleuterofobia - medo da liberdade.Electrofobia - medo da electricidade.Eisoptrofobia - medo dos espelhos ou de se ver ao espelho.Eclesiofobia - medo da igreja.

Fotofobia - medo da luz.Fobofobia - medo das fobias.Filofobia - medo de se apaixonar ou de estar apaixonado.Filemafobia ou Filematofobia - medo de beijar ou dos beijos.Fasmofobia - medo dos fantasmas.Fagofobia - medo de engolir ou de comer ou de ser comido.Frigofobia - medo do frio, das coisas frias.Felinofobia ou Ailurofobia ou Elurofobia ou Galeofobia ou Gatofobia - medo dos gatos e dos felinos em geral.Febrifobia ou Fibriofobia - medo da febre.Fármacofobia - medo dos medicamentos e drogas.

Ginefobia - medo das mulheres.Gimnofobia - medo da nudez.Grafofobia - medo de escrever à mão.Glossofobia - medo de falar em público ou de tentar falar.Geumafobia ou Geomofobia - medo dos sabores.Gerontofobia - medo das pessoas idosas ou de envelhecer.Gefirofobia ou Gefidrofobia ou Gefisrofobia - medo de atravessar pontes.Genufobia - medo dos joelhos.Genofobia - medo do sexo.Geliofobia - medo das gargalhadas.Gamofobia - medo do casamento.

Hipnofobia - medo de dormir ou de adormecer.Hipsiofobia - medo das alturas.Hipengiofobia ou Hipegiafobia - medo da responsabilidade.Hilofobia - medo das florestas.Higrofobia - medo dos líquidos.Hoplofobia - medo das armas de fogo.Homofobia - medo da monotonia ou da homossexualidade ou de se tornar homossexual.Homilofobia - medo dos sermões.Hipofobia - medo dos cavalos.Hierofobia - medo dos padres ou das coisas sagradas.Heterofobia ou Sexofobia - medo do sexo oposto.Herpetofobia - medo dos répteis, coisas rastejantes.Hemofobia ou Hemafobia ou Hematofobia - medo do sangue.Heliofobia - medo do Sol.Hedonofobia - medo de sentir prazer.Harpaxofobia - medo de ser assaltado.Hafefobia ou Haptefobia - medo de ser tocado.Hagiofobia - medo dos santos ou das coisas sagradas.

Itifalofobia - medo de ver, pensar ou ter um pénis erecto.Isopterofobia - medo das térmitas.Isolofobia - medo da solidão, de estar sozinho.Insectofobia - medo dos insectos.Iofobia - medo do veneno.Ideofobia - medo das ideias.Ictiofobia - medo dos peixes.Iatrofobia - medo de ir ao médico ou dos médicos.

Ligofobia - medo da escuridão.Logofobia - medo das palavras.Logizomecanofobia - medo dos computadores.Loquiofobia - medo de dar à luz.Limnofobia - medo dos lagos.Lilapsofobia - medo dos tornados ou dos furacões.Ligirofobia - medo do barulho.Levofobia - medo das coisas que estão do lado esquerdo do corpo.Leucofobia - medo da cor branca.Laliofobia ou Lalofobia - medo de falar.Lacanofobia - medo dos vegetais.

Monopatofobia - medo de doença numa parte específica do corpo.Misofobia - medo dos germes ou da contaminação ou da sujidade.Mirmecofobia - medo das formigas.Micofobia - medo ou aversão aos cogumelos.Motorfobia - medo dos automóveis.Mnemofobia - medo das memórias.Microfobia - medo das coisas pequenas.Metrofobia - medo da poesia.Metifobia - medo do álcool.Metatesiofobia - medo das mudanças.Metalofobia - medo do metal.Merintofobia - medo de ser amordaçado ou atado.Menofobia - medo da menstruação.Melofobia - medo da música.Melanofobia - medo da cor preta.Melissofobia - medo das abelhas.Megalofobia - medo das coisas grandes.Medortofobia - medo de um pénis erecto.Medomalacufobia - medo de perder a erecção.Mecanofobia - medo das máquinas.Mageirocofobia - medo de cozinhar.

Nictohilofobia - medo das florestas à noite.Nosocomefobia - medo dos hospitais.Noctifobia - medo da noite.Nelofobia - medo do vidro.Necrofobia - medo da morte ou de coisas mortas.Nebulafobia - medo do nevoeiro.

Ornitofobia - medo dos pássaros.Oftalmofobia - medo de ser olhado.Oneirogmofobia - medo dos sonhos molhados.Oneirofobia - medo dos sonhos.Olfactofobia - medo dos cheiros.Oenofobia - medo dos vinhos.Odontofobia - medo dos dentes ou da cirurgia dentária.Octofobia - medo do número 8.Obesofobia - medo de ganhar peso ou de engordar.

Pedofobia - medo das crianças.Pogonofobia - medo das barbas.Papafobia - medo dos Papas.Pirofobia - medo do fogo.Pteromeranofobia - medo de voar.Porfirofobia - medo da cor púrpura.Peladofobia - medo das pessoas carecas.Pediofobia - medo das bonecas.Patroiofobia - medo da hereditariedade.Partenofobia - medo das virgens ou de raparigas novas.Parasitofobia - medo dos parasitas.Parafobia - medo da perversão sexual.Pagofobia - medo do gelo ou do congelado.

Quinofobia - medo da raiva.Quimofobia - medo das ondas.Queraunofobia - medo dos relâmpagos e dos trovões.Quionofobia - medo da neve.Quemofobia - medo dos químicos ou de mexer em químicos.

Rupofobia - medo da sujidade.Ranidafobia - medo dos sapos e rãs.

Scotofobia - medo do escuro.Singenesofobia - medo dos familiares.Surifobia - medo dos ratos.Stigiofobia - medo do inferno.Stenofobia - medo de coisas ou lugares estreitos.Sociofobia - medo da sociedade e das pessoas em geral.Socerafobia - medo dos sogros.Siderofobia - medo das estrelas.Sesquipedalofobia - medo das palavras compridas.Selenofobia - medo da lua.Scriptofobia - medo de escrever em público.Scolionofobia - medo da escola.

Tripanofobia - medo das injecções.Toxifobia ou Toxofobia ou Toxicofobia - medo do veneno ou de ser acidentalmente envenenado.Tomofobia - medo das operações cirúrgicas.Tanatofobia ou Tantofobia - medo da morte ou de morrer.Talassofobia - medo do mar.Telefonofobia - medo dos telefones.Tapinofobia - medo de ser contagioso.Tacofobia - medo da velocidade.Triscadecafobia - medo do número 13.

Unatractifobia - medo das pessoas feias.Urofobia - medo da urina ou de urinar.

Xilofobia - medo dos objectos de madeira.

A Amazónia

Escrevo à beira do rio Negro, no coração da Amazónia, não muito longe do “encontro das águas”, onde os rios Negro e Solimões se juntam para formarem o Rio Amazonas. Perante a grandeza do que vejo e sinto, concentro­‑me na mais minúscula versão de mim para escrever à beira do esmagamento pessoal. São, de facto, muitas as Amazónias a pesar em mim e todas elas esmagadoras. Intrigantemente algumas delas são tão esmagadoras quanto frágeis. A Amazónia física: a maior reserva de água doce, de biodiversidade, de riqueza mineral e de madeira do mundo. É uma Amazónia ameaçada pela extracção desordenada dos minérios e da madeira e pelo desmatamento e queimadas ao serviço da expansão da fronteira agrícola, nos últimos anos centrada na monocultura da soja. Os danos ambientais causados pela soja – desertificação, assoreamento dos rios e poluição das águas pelos agrotóxicos e resíduos de adubos químicos – são incalculáveis para a humanidade no seu todo. A fiscalização ambiental é deficientíssima e a punição dos infractores da legislação só em 2005 ganhou alguma credibilidade. A Amazónia mítica é a Amazónia do imaginário das populações ribeirinhas, das cidades encantadas por serpentes – como Abaetetuba, tão brilhantemente descrita pelo grande poeta João de Paes Loureiro – e das mulheres engravidadas pelo bôto, espécie de golfinho que percorre os rios loucamente atraído por mulheres menstruadas.

Há também a Amazónia histórica do Museu do Seringal da Vila Paraíso assente numa reconstrução fidelíssima baseada na Selva de Ferreira de Castro. Aí se detalha a engrenagem da escravidão por dívida dos seringueiros, hoje reproduzida sob outras formas igualmente infames, nomeadamente no Estado do Pará. A Amazónia epistemológica é a Amazónia dos conhecimentos ancestrais, da medicina à alimentação, da astronomia à construção naval, das floras e das faunas das realidades chãs e das encantarias. É uma sabedoria tão profunda e corrente quanto a correnteza dos rios.

E há finalmente a Amazónia social, económica e política. É a Amazónia dos conflitos agrários e da violência, envolvendo comunidades ribeirinhas e indígenas, latifundiários, grileiros (invasores de terras públicas), políticos conservadores, empresários do sector pesqueiro, madeireiros, empresas de mineração, etc. Como assinala o sociólogo Luís António de Sousa, trata-se de conflitos decorrentes do modelo clássico de ocupação do solo rural brasileiro: grilagem + violência + assassinatos + concentração fundiária + pauperização + impunidade + grilagem. Foi às mãos desse modelo que morreu Gedeão Silva, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Sul da Lábrea, emboscado e assassinado em 26 de Fevereiro de 2006. Teve a mesma sorte que os 1399 trabalhadores rurais assassinados entre 1985 e 2004 segundo os cálculos da Comissão Pastoral da Terra. A medida da impunidade está em que apenas 7% desses crimes foram levados a julgamento. Um dos mais hediondos foi o massacre de Eldorado dos Carajás, há precisamente 10 anos, quando três mil trabalhadores rurais sem terra protestavam pela desapropriação da Fazenda Macaxeira. É possível que o governador do Pará que ordenou o massacre volte a ganhar as eleições para governador no próximo mês de Outubro.

A mais sombria de todas as Amazónias é a Amazónia militar. Trata-se de um plano norte­‑americano com a serviçal lealdade das Forças Armadas da Colômbia (Plano Colômbia), Equador, Perú e Brasil para proteger (de quem?) as riquezas da Amazónia. Não me surpreenderia se dentro de algumas décadas o Médio Oriente se mudasse para aqui.

Boaventura de Sousa Santos
http://www.infoalternativa.org/autores/bss/bss050.htm

Eleições presidenciais 2007 em França

"A catástrofe iminente": Haverá meios de a conjurar?

A análise da situação actual é aparentemente bastante desastrosa. Noutros tempos Lenine escreveu um texto intitulado: "A catástrofe iminente e os meios de a conjurar". Quem não sonha neste momento com uma tal intervenção? Com efeito, hoje em dia, temos cada vez mais a impressão, pelo menos em França e na Europa, de estarmos perante a catástrofe iminente sem meios de a conjurar. Como pano de fundo temos um planeta que se destroi e cujos recursos se esgotam, um sistema imperialista mundializado que acelera essa destruição, que nega às nações o direito de estas disporem dos seus recursos, o direito à autodeterminação, que dissemina a guerra, a violência, a tortura por todo o lado, sob a cobertura dos valores ocidentais, uma nova cruzada que confunde liberdade com liberdade de mercado, a pilhagem sem freios das multinacionais financeirizadas. A guerra não conhece quaisquer limites: são atingidas mais populações civis do que soldados. Ao direito internacional, à possibilidade de uma nação conduzir o seu próprio desenvolvimento contrapõem-se tratados de livre-comércio que minam a acção de investidores locais e da "concorrência livre", impedindo, dessa forma, todo o desenvolvimento endógeno, todo o serviço público que tenta responder às necessidades das populações. A União Europeia não é senão uma das formas de incrementar esse mal-estar das nações, uma maneira de nos privar da nossa cidadania. Encontramo-nos, hoje, numa situação que nada a ver com a pilhagem colonial, que era sem dúvida imoral, mas ainda assim, as potências colonizadoras estabeleciam um compromisso com as suas populações, os trabalhadores, as camadas populares beneficiavam com esse acordo e o seu nível de vida elevava-se. Actualmente, a mundialização imperialista neoliberal produz no interior do Ocidente desemprego, degradação do poder de compra, para além de fomentar o ódio ao outro nas suas populações, sob a cobertura do "choque de civilizações". A juventude, em particular, é quem mais sofre e se esforça por suportar esta situação, na medida em que o seu futuro é bem mais incerto do que o das gerações anteriores, e é a primeira vez que se opera uma tal inversão de tendências num processo secular de progresso. Eleições presidenciais transformadas num pesadelo É nesta conjuntura que se realizam as eleições presidenciais de 2007. Bayrou pronunciou-se acerca delas nestes termos: "actualmente, para muitos franceses, ter de escolher entre Ségolène Royal e SarKozy é um pesadelo". No entanto, François Bayrou não rompe com o dito pesadelo, até por se declarar a favor da União Europeia. O pesadelo está no facto de nenhum candidato ser capaz de apresentar uma alternativa a este sistema. Incitam-nos a debater a "idade do capitão", sobre a aparência, sobre tudo, menos sobre os desafios reais. Não fazer o diagnóstico que acabo de esboçar faz parte da estratégia de eliminação desses desafios e da necessidade de "reformas" e de "rupturas", o que implica, em primeiro lugar, a aceitação da integração europeia; em segundo lugar, a visão do mundo em que o Ocidente é considerado o portador dos valores laicos e da democracia, face a um mundo bárbaro; e em terceiro lugar, uma pseudo lógica económica que quer que o emprego e o poder de compra dependam da vitória na guerra concorrencial planetária. Todos os partidos políticos em França, para acederem à representação nacional, têm de aceitar esse consenso. O sistema político-mediático concentrado nas mãos dos trusts e das grandes companhias publicitárias cria um campo político que define os limites do "politicamente correcto" de indivíduos e de partidos susceptíveis de aceder a essa representação nacional. É necessário inventar um povo francês ligado à Europa, porque nenhuma intervenção é crível, caso não se baseie nessa afirmação, e para mais, arrisca-se a ser considerada tão inverosímil quanto o slogan do PCF: dizer NÃO à Constituição europeia para dizer SIM à Europa. O sistema eleitoral que exige determinadas alianças faz o resto, sobretudo quando o financiamento dos partidos não é mais militante, mas antes dependente dessa representatividade. O povo francês é um dos mais rebeldes que existem. Em 1995, quando o mundo inteiro parecia esmagado, ele rebelou-se contra a ordem neoliberal, e não cessa de renovar essa recusa, como na recusa da Constituição europeia. Dessa rebelião, durante algum tempo, parecia ter emanado a ideia de uma união antiliberal. Mas desde o início essa união sofreu de vários males, entre eles:
 a ausência de ligação com as camadas populares;
 conteúdos lacónicos ligados a uma ausência de análise da situação, e consequentemente, um défice de proposições e de perspectivas, em torno das quais se pudesse constituir essa união;
 adopção do primado da representatividade nacional, o que desenvolveu a exasperação, as lógicas concorrenciais de aparelho e das questões pessoais.
Contudo, irá realizar-se a maior união de França, a festa de L'Humanité. Preparada noutras condições, ela poderia ser a ocasião para o início de uma grande batalha, uma mobilização sem precedentes. Mas, na situação actual, arrisca-se, na melhor das hipóteses, a ser uma maneira de limitar as querelas internas, embora estas continuem subjacentes, na medida em que a União antiliberal, tal como foi edificada, não é senão o produto de uma coligação de dirigentes de grupúsculos, sem ligação aos bairros populares e às empresas. Na pior das hipóteses, ela poderá ser o meio de evitar a dispersão de 2002, e assegurar assim a presença do PS na segunda volta, a existência de um grupo na Assembleia Nacional, e por fim, eleitos locais subordinados ao serviço prestado. A questão da participação ou da não participação num governo de esquerda é menos importante para a sobrevivência dos aparelhos políticos do que a questão dos diferentes elementos eleitos que asseguram o financiamento dos partidos, o pagamento dos membros permanentes e da Assembleia. Existem outros desafios, como por exemplo, a tentativa da LCR em retomar a herança comunista. Existem personalidades que são apanhadas no tropismo mediático; enfim, nada disto constitui uma alternativa. Não haverá estratégia antiliberal sem base popular É necessário analisar as estratégias à luz de um princípio: tudo o que divide é mau e não basta promover um conglomerado se o seu princípio, e as bases sobre as quais está estabelecido, alimentarem a divisão. Poderia ter existido uma união em torno de um partido, dentro do qual cada um e cada uma pudessem encontrar o seu lugar, identificando-se com objectivos e perspectivas reais. Quando há urgência, a força política que oferece perspectivas, organização, adquire grande notoriedade, mas o problema é que, justamente, não existe consciência alguma da urgência, da natureza real dos perigos, apenas a lógica dos aparelhos que tentam alagar as suas audiências – o que produz a falsa questão: será que um partido político é capaz de atrair uma forte mobilização, não será melhor apostar numa personalidade independente mediaticamente reconhecida? Certamente, é preferível um bom candidato ou candidata, mas será que é apenas a presença num programa de televisão que define o bom candidato? Mostrar-se convencido de outra coisa para além do interesse na sua própria pessoa ou na sua organização é, talvez, essencial, a manifestação de uma vontade política, também. E, principalmente, ser capaz de defender conteúdos que assegurem a mudança na vida das pessoas, e estabelecer, nessa base, um diálogo real a partir das experiências de cada um. Será que a referência à mediatização não resultará simultaneamente num consenso, ou pelo contrário, em puras candidaturas de provocação, cuja "popularização" mediática é inversamente proporcional à confiança que os franceses nela depositam? Estamos longe do comprometimento político, e essa situação não é de hoje, ela é o produto de uma evolução, em particular, a do PCF a partir dos anos de 1990, da segmentação organizada deste partido e da sua base militante, e das organizações sindicais. Toda a esquerda, inclusive o PS, em maior ou menor escala, conheceu a aspiração ao topo, ao político-mediático, mas no caso do PCF, ela foi mortífera, sobretudo ao intervir após o afundamento da ex-URSS e dos países satélites europeus, sobre os quais nunca se fez uma análise revolucionária. Apenas a análise dos vencedores foi admitida, quando teria sido necessário fazer a seguinte pergunta essencial: por que razão um povo deixa de lutar por um sistema que devia corresponder aos seus interesses objectivos? Houve, então, confusão, dissolução ideológica reforçada pelo desmantelamento organizacional. Isto revela que o modelo social-democrata não foi melhor defendido do que o comunismo, e a ausência de alternativas surgiu daí, toda a esquerda perdeu a sua razão de ser, desligou-se das camadas populares. As análises ditas "sociológicas" sobre a evolução da população vieram confirmar essa demissão, não haveria mais operários, apenas empregados, simplesmente do sector terciário e das camadas médias. Como a economia neoliberal teve a pretensão de se impor como uma "técnica" incontornável, rejeitando a política, e o debate em torno das escolhas, a demissão foi justificada por uma tecnicização sociológica da população francesa. Cabe a cada eleição descobrir que as camadas populares maioritárias não se reúnem em Paris, e esquecê-las assim que a eleição termina. Trata-se de uma situação irreversível? Tudo leva a crer que sim: basta pensarmos na recente escolha do PCF de se juntar aos comités do Não, em privilegiar os fóruns, em vez de recriar uma organização; na ausência total de análises sobre a mundialização imperialista, sobre as grandes tendências do momento, sobre a escalada das resistências. A acção sobre questões tão essenciais como o problema dos deslocados ou dos imigrantes é muito difícil, ou mesmo impossível, sem a compreensão da ordem internacional. De modo geral, a procura efectiva de soluções foi abandonada juntamente com renúncia às lutas contracorrente. Não se trata apenas da experiência soviética, mas também da esquerda que dirigiu a integração europeia e foi conivente com as políticas neoliberais. Se, actualmente, a União antiliberal não ousa falar verdadeiramente de nacionalizações, salvo de maneira pontual, é porque as nacionalizações levadas a cabo durante os anos de 1980 se traduziram em reestruturações maciças, no licenciamento de centenas de milhares de trabalhadores, em investimentos públicos maciços, e depois deste "trabalho" tudo foi entregue à gestão dos privados… Apesar de tudo, será possível lutar contra o que nos traz a lógica do mercado concorrencial, o reforço das desigualdades sociais, a destruição dos serviços públicos, a perturbação do equilíbrio ambiental, a guerra generalizada, o fim do direito das nações à autodeterminação, sem controlar índices económicos, sem uma planificação? A participação necessária dos cidadãos, sem esse mínimo de considerações, ainda tem sentido? Se descartamos estas questões, de que falaremos nós? Se durante décadas o PCF pôde constituir tal ponto de referência, e através dele, uma perspectiva socialista, que até mesmo aqueles que não votavam nele eram alertados pelas suas análises, as suas chamadas de atenção, actualmente, eleitores e militantes não têm, na sua maioria, uma visão clara dos objectivos que se perseguem. Já para não falar do PS e de outros como os Verdes. Em contrapartida, hoje, em todo o planeta, fazem-se experiências, e nós temos obrigação de as conhecer, para podermos participar na construção de uma outra ordem internacional multipolar, respeitadora do direito das nações, e da possibilidade de responder às necessidades da maioria; além disso, muitas relações de cooperação mutuamente vantajosas e relações de solidariedade se esboçam. Não podemos construir uma alternativa antiliberal se ignoramos esse contexto, que é o das lutas e das vontades políticas. Em suma, estamos de facto perante a catástrofe iminente. Existem meios de a conjurar? No que toca às eleições presidenciais de 2007, esqueçam! Salvo em caso de mudanças importantes, estas eleições e as que se seguirão não serão, com certeza, a base de apoio à formação de uma união antiliberal. Na melhor das hipóteses surgirá uma união de circunstância. Mas talvez seja necessário ir até ao fim da catástrofe para que essa união antiliberal nasça de facto. As demoras são graves, a situação não cessa de se degradar, e o povo francês não se resigna. Ele não espera grande coisa destas eleições, e muito provavelmente, verificar-se-á um máximo de abstenções. O que corresponde, no fundo, à tendência contínua do crescimento da abstenção, nomeadamente no caso das eleições presidenciais. Será que as candidaturas "oficiais" do político-mediático, por exemplo, as do duo Sarkozy-Ségolène, conseguirão ir até ao fim? Serão elas torpedeadas pelos seus próprios apoiantes? O carácter irrisório das propostas relativamente à situação que se vive vai sendo medido. Face a uma populização da vida política que cria simultaneamente um fascínio e um vazio abissal, abre-se uma via. Mas essa via tem de visar um objectivo essencial, interrogar-se prioritariamente sobre as condições em que os jovens e as camadas populares encontrarão os meios reais para uma politização, para uma intervenção efectiva na sua situação. A ideia subjacente não é reunirem-se para inventar um programa, pois que o papel das forças políticas é fazer proposições, discuti-las por todo lado e promover dessa forma o militantismo no terreno. Se queremos uma política anti-neoliberal, é necessário que os povos tenham a possibilidade de se expressar e de agir. Tudo o que provoca o afastamento deste objectivo, quaisquer que sejam as intenções afirmadas, não nos pode levar senão para a situação política que tenho vindo a descrever neste texto: o consenso imperialista neoliberal. Perante isto, temos de pensar, analisar, perspectivar, e organizar em função desse objectivo, evitando assim o erro, reproduzido até a nível local, de acreditar que a solução é um grupo de altos dirigentes, em que "especialistas" alternam entre dossiers tecnocráticos e querelas de chefia em torno de "candidaturas".. Doravante, nenhum povo julga as organizações, os dirigentes com base em conformidades ideológicas, mas antes com base na utilidade que estes e estas evidenciam, efectivamente, no que diz respeito aos seus problemas. Que utilidade tem, actualmente, uma união antiliberal para o nosso povo? Ora, tudo isto não é dito para desesperar aqueles que tentam agir, muito pelo contrário, é precisamente para que ajamos todos com o máximo de eficácia quanto àquilo que nos anima: acabar com esse sistema assassino tanto para os seres humanos como para o planeta.
Danielle Bleitrach

http://resistir.info/

Que papel para a nova FINUL?

O bloqueio imposto por Israel sobre os portos e aeroportos libaneses prossegue. Pretexto: interditar toda a chegada de armas para o Hezbollah. É preciso dizer que este bloqueio, tão pouco discutido pelas grandes potências (assim como, aliás, todas as violações da resolução 1701 cometidas pelas tropas israelenses), tem como fim real a desestabilização completa da economia libanesa que já bate asas após a agressão de Julho. Com efeito, as primeiras estimativas falam de perdas na agricultura que se elevam a uns 500 mil dólares, aos quais se acrescenta a destruição de fábricas de toda espécie (inclusive fábricas frigoríficas), de camiões e de camiões frigoríficos... Sem esquecer as pontes cortadas e as estradas esventradas que, mesmo se os cultivos não tivessem sido queimados, tornam impossível todo transporte entre as diferentes regiões. A isto acrescenta-se também um mil milhões de dólares de perdas directas provocadas pelo encerramento dos portos e a impossibilidade para os comerciantes de importar alguns géneros de primeira necessidade sem passar pelos portos e aeroportos acreditados por Israel na região. Durante este período, as discussões chegam ao auge quanto à formação das tropas internacionais que viriam somar-se àquelas da FINUL [1] já presentes no sul e que não tinham podido, aquando da última agressão israelense, proteger a população da aldeia de Marwahine (24 mortos, dos quais 12 crianças de menos de 11 anos), assim como suas antecessoras foram incapazes de faze-lo em relação aos habitantes de Cana, aquando das "Vinhas da ira" em 1996. Informam-nos que os europeus formariam a metade do novo contingente internacional, ou seja, 7000 a 7500 soldados, e que eles teriam a possibilidade de se defender contra possíveis agressões. Entretanto, nem o secretário-geral das Nações Unidas nem os chefes de Estado da União Europeia não dizem uma palavra quanto aos agressores eventuais e se Israel pode encontrar-se entre eles. O novo entusiasmo que os levou a participar da FINUL, depois de durante muito tempo estarem com a boca calada, é sobretudo o resultado directo da passagem de Tsippi Levni, ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, entre eles. Passemos e sejamos crédulos pensando que a nova decisão, firme e rápida, não foi tomada para agradar os israelenses e às vozes que eles podem fazer agitar num campo ou noutro em período eleitoral. Não pensemos tão pouco porque alguns pensam poder desarmar o Hezbollah, contrariamente às declarações do secretário-geral das Nações Unidas que precisam que isto cabe unicamente ao governo libanês, assim como a supervisão das fronteiras libanesas com a Síria. Sejamos crédulos, porque queremos, como diz o provérbio, "comer das uvas, não matar o guarda-campestre". Queremos a aplicação da resolução 1701, apesar de sermos muito reticentes quanto à ambiguidade que a envolve. Queremos que a ONU esteja presente, não para dar sempre garantias ao agressor (Israel, no caso), mas sobretudo ao eterno agredido, o Líbano, que, desde 1948, vê os seus territórios mordidos, suas águas bombadas, suas crianças mortas e suas cidades e aldeias destruídas. Pensamos que seria possível aos Estados europeus que aceitaram vir ao Líbano cumprir bem esta "missão", mesmo sem a presença de malasianos e outros. Não serão eles, somados aos soldados libaneses actualmente presentes ao sul do rio Litani, da ordem dos 23 mil em relação a uma população de 300 mil, dadas as destruições de cidades inteiras (tais como Bint-Jbeil, a nova Varsóvia, com suas 6200 casas transformadas em ruínas)? Isto daria a cada soldado menos de catorze habitantes a proteger no imediato e uma trintena um ano mais tarde, ou seja, aproximadamente o número de crianças de Marwahine que pereceram diante do posto permanente da FINUL situado a alguns passos da sua aldeia.

[1] Força de Intervenção das Nações Unidas no Líbano.
Marie Nassif-Debs
http://resistir.info/

Uma nova fase na crise de Timor Leste

A fuga em massa da cadeia de Becora de Dili abriu uma nova fase na crise de Timor Leste. Em 30 de Agosto, Alfredo Reinado, uma figura chave da rebelião que deitou abaixo o governo de Alkatiri, escapou pelo portão juntamente com mais 56 prisioneiros. Até isto acontecer, o pequeno e esgotado país parecia estar a estabilizar lentamente, depois de um conjunto de ataques internos e pressões australianas terem derrubado o governo acossado do primeiro-ministro Mari Alkatiri. Reinado, que tem três 'X' tatuados na nuca à semelhança da personagem machista do cinema Xander Cage, apelou a uma revolução de "poder popular". Este apelo tem naturalmente uma certa aceitação numa população que enfrenta uma miséria prolongada, em que grande parte dela continua a viver em campos de refugiados. Outro rebelde, Vicente da Conceição, ou "Railos", fugiu para as montanhas ocidentais uns dias antes para evitar ser preso. Na mesma altura em que Reinado desapareceu, a multi-cultural TV [1] da SBS da Austrália passou um documentário criticando grandes buracos na história que nos serviram sobre a queda de Alkatiri: A crise começou com a rebelião das forças de segurança, seguida por violência de grupos organizados. A causa profunda foi a pobreza, mas os principais media australianos culparam logo o primeiro-ministro Alkatiri, cujo verdadeiro crime era ter feito frente a Canberra nas negociações sobre o petróleo e o gás. Depois descobriram o "carismático" Reinado. Este chefiou um grupo armado revoltoso que entrou em confronto com os militares, mas que afirmou estar a agir em auto defesa. Depois o programa da TV Four Corners acusou Alkatiri de organizar um esquadrão de morte contra os seus opositores. Railos declarou que tinha sido ele a chefiar este esquadrão da morte. As acusações condenatórias forçaram à demissão de Alkatiri, após semanas de resistência. Agora os jornalistas do Dateline, David O'Shea e John Martinkus desmontaram toda esta narrativa. E estes tipos são credíveis. O'Shea esteve com Reinado nas montanhas quando ele combateu contra os militares pela primeira vez e depois quando aceitou ser preso. Martinkus tem feito a cobertura de Timor Leste nos últimos dez anos. O'Shea e Martinkus demonstraram que foi Reinado quem atacou primeiro os militares (O'Shea viu-o) e que Railos, acusado de organizar o esquadrão de morte para Alkatiri, esteve na verdade a combater ao lado das pessoas que supostamente devia "matar". Curiosamente Railos deu a volta na tomada de posse do susbtituto de Alkatiri, Ramos Horta, e tem sido visto em casa do Presidente Gusmão, outro opositor de Alkatiri. [2] A versão estabelecida, cozinhada para legitimar o derrube do primeiro-ministro, está cheia de buracos. Em seu lugar começam a aparecer outros padrões. Fazendo parte da campanha contra Alkatiri, o político da oposição Fernando Araújo afirmou que a sua família tinha sido ameaçada. Talvez fosse verdade – Timor Leste é hoje um lugar violento e caótico. O Partido Democrático ajudou a coordenar as manifestações anti-Alkatiri – isto só por si podia ser apenas a democracia a funcionar, embora com alguma ajuda das tropas australianas... mas vejam quem foi que também ajudou. Um deles foi Rui Lopes, que O'Shea e Martinkus dizem que "ficou rico através da sua estreita ligação com Kopassus, as conhecidas Forças Especiais Indonésias". Outro foi Nemécio de Carvalho, antigo líder de uma das piores milícias que aterrorizaram os timorenses em 1999. Uma outra força que pressionou a queda de Alkatiri foi a hierarquia da Igreja, e não foi só a rezar. "Fontes fidedignas no alto comando do exército disseram à Dateline que foram aconselhados pessoalmente por dois padres a expulsar Alkatiri". Mas há mais: No final de 2005, o chefe das forças armadas, brigadeiro-general Taur Matan Ruak, e o tenente-coronel Falur Rate Kaek foram abordados por dois líderes timorenses acompanhados de dois estrangeiros em duas ocasiões diversas. Os quatro também pediram ao exército, ou FFDTL, para derrubar o primeiro-ministro Alkatiri.' Aqui os testemunhos são pouco claros. Os estrangeiros eram americanos ou australianos? Ninguém tem a certeza. Alkatiri não pode provar que houve uma conspiração generalizada contra ele. Diz apenas: "Não há provas. Mas o único primeiro-ministro do mundo que na verdade me 'aconselhou', cito, a demitir-me, foi o primeiro-ministro da Austrália". Parece que à medida que avançam as investigações sobre os acontecimentos dos últimos meses, as únicas personagens que aparecem como culpados são Reinado e Railos. Mário Carrascalão, outro político da ala direita, queixou-se de que "Railos sente-se frustrado. Forneceu informações para ajudar a resolver o problema e agora querem prendê-lo". [3] Canberra acabou por obter o que queria quando José Ramos Horta substituiu Alkatiri. Horta é um paladino do neoliberalismo e dos investidores estrangeiros: declarou há pouco tempo que "a Austrália não pode estar sempre a ser filantrópica em tudo o que faz por Timor Leste". Isto a respeito dos depósitos de petróleo e gás situados entre os dois países, sobre os quais a Austrália tem sido totalmente impiedosa nas negociações. Mas, a partir da fuga da prisão, de que parece terem uma parte da culpa – supostamente deviam estar a guardar o exterior da cadeia – as forças australianas começaram a sofrer uma pressão política maior. Em Julho o antigo ministro do interior Rogério Lobato acusou-as de infringirem os direitos humanos quando lhe apreenderam carregamentos de armamento, dizendo que elas tinham utilizado a força e não tinham nenhum mandato. Em 28 de Agosto, o chefe da academia da polícia de Timor Leste, Júlio Hornai disse ao jornal The Age que os polícias australianos o tinham obrigado a despir a farda em público. Em 22 de Agosto atiradores de pedras feriram sete polícias australianos, e no início de Setembro, uma multidão agrediu polícias australianos após um confronto de rua. Até a primeira dama pró-australiana, Kirsty Sword Gusmão, diz que os australianos estão afastados da população e "têm muito pouco conhecimento local". [4] Entretanto, desmoronou-se a tentativa já antiga das Nações Unidas para encobrir os abusos sexuais feitos pelo seu pessoal civil e à paisana em Timor Leste. A verdade veio ao de cima. [5] Dado o crescente desagrado com a presença estrangeira, dado que a Fretilin ainda se mantém a organização política mais forte do país, e dada a fuga de Reinado e Railos para as montanhas com espingardas e manifestos, com 100 mil pessoas em campos de refugiados, também se exerce alguma pressão sobre Horta para ser mais do que um fantoche do imperialismo. Esta pressão tomou forma naquilo que um importante correspondente sediado em Nova Iorque chamou de "tom agressivo anti-australiano" e até de "crítica venenosa" na reacção à fuga da cadeia. Relacionadas com isto, embora de forma imprecisa, estão as exigências para que as forças australianas se submetam ao controlo das Nações Unidas. [6] O que falta é um significativo movimento político de esquerda que oriente as raízes do conflito. Sem ele, o descontentamento popular pode ser canalizado para apoiar Reinado, ou a ala direita, ou grupos perigosos como os 30 mil fortes grupos de artes marciais que pululam em Timor Leste. É verdade que para algumas pessoas as coisas estão melhor com Horta. "Os homens de negócios dizem que agora as autorizações são emitidas em horas e não em dias, os contentores movimentam-se mais rapidamente nos portos e a corrupção parece estar contida". [7] O governo está a esforçar-se para ir ao encontro das necessidades do capital. Entretanto, 100 mil deslocados continuam a viver em tendas, e está a chegar a estação chuvosa que vai transformar tudo num verdadeiro inferno.
Notas [1] Transcrição da SBS Dateline, "East Timor - Downfall of a Prime Minister," 30 August 2006. This is the source for everything not otherwise footnoted. Available at news.sbs.com.au/dateline/ . [2] Parece que o gabinete do presidente também pagou a conta de um hotel a Reinado a primeira vez que ele fugiu. Mark Dodd, "Claim That President Paid Major's Hotel Bill," The Australian, 12 September 2006. [3] Lindsay Murdoch, "Timor Faces New Rebellion," The Age, 2 September 2006. [4] John Stapleton, "Forces Must Know the People," The Australian, 4 September 2006. [5] Ver Lindsay Murdoch, "UN Acts to Stamp Out Sex Abuse by Staff in East Timor," The Age, 30 August 2006. [6] David Nason, "Venom Threatens Separate Mission," The Australian, 4 September 2006. Como sugerem as acusações dos abusos, as Nações Unidas não são obrigatoriamente uma melhoria. [7] Murdoch, "Timor Faces New Rebellion."
Tom O'Lincoln
http://resistir.info/

Guerra civil e revolução social na Espanha

A resposta dada ao levantamento militar de 17 de Julho de 1936 não foi uniforme em toda a Espanha por parte das forças sociopolíticas que recusavam o golpe. A discussão desta problemática é bem analisada no livro Rivoluzione e Controrivoluzione in Catalogna, de Carlos Semprun Maura (Ed. Antistato, 1976, 326 pp.) Na «Introdução» diz-nos que «a Catalunha constituía em 1936 uma das zonas industriais mais importantes da Península Ibérica» e nota que «o nacionalismo como expressão política assume a forma de uma resistência da burguesia industrial e comercial catalã contra o mau serviço centralizador do governo de Madrid e contra a política retrógrada dos latifundiários». E sublinha como característica: «Na Catalunha a opressão política e cultural não acompanha a ?colonização? económica. A Catalunha industrial, sobretudo no fim do século XIX e até 1936, receberá um afluxo maciço de trabalhadores imigrantes originários de regiões pobres, em particular de Aragão, de Múrcia e de Valência.» Com todas estas forças em acção, compreende-se que a resultante fosse sempre diferente do que cada uma defendia. Ainda por cima, como diz Semprun Maura, «a classe operária catalã era na sua imensa maioria defensora das ideias libertárias. A Catalunha era um ?bastião? da CNT-FAI. E toda a gente sabe que os anarquistas e anarco-sindicalistas espanhóis, catalães ou guatemaltecos, são ferozmente hostis ao Estado, à ideia de nação, e no que diz respeito à Catalunha eram concretamente hostis ao nacionalismo catalão, que consideravam burguês e reaccionário, tal como eram hostis ao centralismo do Estado espanhol. (...) Os anarquistas defendiam o princípio de uma federação livre de comunas e regiões que superasse concretamente e no sentido revolucionário os problemas nacionais». Precisamente por isso é que, em face da forma enérgica que os golpistas utilizam, o governo de Madrid e a Frente Popular são tíbios e hesitantes, mas na Catalunha as coisas fiam mais fino. Apercebendo-se do perigo, o presidente do governo catalão, a Generalitat, Luis Companys, tinha proposto à CNT, no dia 16 de Julho, «um encontro para estudarem em comum os meios para se oporem ao perigo fascista». A CNT e a FAI reuniram-se e «perante a ameaça fascista defenderam a posição segundo a qual era indispensável ou pelo menos desejável estabelecer uma colaboração estreita com todas as forças liberais, progressistas e proletárias decididas a enfrentar o inimigo». Assim se formou o Comité de Ligação com o governo catalão. O comité queria armas, mas o governo não as queria dar e não deu. De maneira que quando chegou a hora tiveram de as ir buscar onde elas estavam. E foi esta acção exemplar que pôs em xeque o Exército golpista em Barcelona e em toda a Catalunha até 20 de Julho. Mas os golpistas conseguiram separar geograficamente a Espanha republicana. O Estado espanhol ficou estilhaçado. Estão criadas as condições para que a oposição aos golpistas comece a fracturar-se. De facto, aqueles que sabiam com Proudhon e Bakunine que a sociedade que se queria construir tinha de ser fundamentada «na acção espontânea das associações livres, à margem de toda a regulamentação governamental e de toda a protecção do Estado» tentaram aproveitar essa ausência de poder de Estado para realizar o associativismo colectivista. E havia os outros que tentavam erguer um poder a partir das cinzas do Estado. Por isso se torna incompreensível a maneira como Garcia Oliver, militante da CNT, pôs o problema. Vejamos: Companys, a 20 de Julho, depois de terminada a batalha de Barcelona, convocou uma delegação de anarquistas à sede do governo catalão e disse-lhe: «Vocês venceram e tudo está em vosso poder. Se não tiverem necessidade de mim, se não me quiserem como presidente da Catalunha, digam-mo já e eu não serei mais do que um soldado na luta antifascista. Mas se pensarem que eu posso ser útil... contem comigo...» Os delegados da CNT-FAI quiseram consultar a organização e no plenário do comité regional Garcia Oliver equaciona a questão da seguinte maneira: «É preciso escolher entre o comunismo libertário, que significava a ditadura anarquista, e a democracia, que significava a colaboração.» Semprun Maura comenta: «Estranho mas significativo modo de pôr o problema: contrariamente a todas as ideias expressas em toneladas de artigos e discursos, o comunismo libertário torna-se, no momento da verdade, uma ditadura ?anarquista? e a CNT e a FAI tornam-se organizações ?políticas? que teriam nesta hipótese exercido sozinhas o ?poder?.» Garcia Oliver concluiu: «Nada de comunismo libertário. Primeiro esmagar o inimigo onde quer que ele se encontre.» E foi assim que se formou o Comité Central das Milícias Antifascistas da Catalunha, que seria durante a sua breve existência (23 de Julho a 3 de Outubro de 1936), como diz Semprun Maura, «um apêndice importante da Generalitat e uma espécie de comité coordenador dos estados-maiores das organizações antifascistas». Na verdade, no comité tanto estava representado o Partido Socialista Unificado da Catalunha, que era membro da Internacional Comunista, como estava o Partido Operário de Unificação Marxista, extremamente crítico dessa Internacional. Semprun Maura comenta: «Com efeito, se os membros da CNT-FAI e do POUM pensam que defendem a revolução colaborando com a Generalitat, os dirigentes do PSUC, por seu lado, estão firmemente decididos a apoiar a Generalitat ?contra? a revolução.» A ambiguidade que existia no comité atingirá todo o seu esplendor a 26 de Setembro com a entrada da CNT-FAI e do POUM para o governo catalão. O que o presidente da Generalitat pretende é normalizar tudo aquilo que ele considera serem os órgãos legítimos do poder. Daí uma série de decretos que visam tanto a dissolução do Comité das Milícias como a suspensão de todos os comités locais fundados na Catalunha, a restituição de algumas armas ou a militarização das milícias. O decreto que visa desarmar os operários e os camponeses dá oito dias para a entrega das armas e sublinha: «Passado este prazo, todos os que conservarem tais armas serão considerados fascistas e julgados com o rigor que a sua conduta merece.» Claro que, como diz Semprun Maura, «a CNT-FAI e o POUM, representados no governo catalão, aceitam e aprovam estas medidas». O que impressiona é que até o evolucionário Engels já tinha escrito em 1891 na «Introdução» à Guerra Civil em França de Marx (de 1871): «A dominação das classes possuidoras ? grandes proprietários fundiários e capitalistas ? encontrar-se-ia constantemente ameaçada enquanto os operários parisienses permanecessem em armas. O primeiro gesto de Thiers foi desarmá-los.» Tudo isto prenunciava afrontamentos na zona do antifascismo. Seria apenas uma questão de tempo se se observasse os processos revolucionários de outros países, especialmente na Rússia, na Itália e na Alemanha. A Internacional Comunista tinha sofrido uma derrota em toda a linha na Alemanha em 1933 com a célebre versão do social-fascismo. E por isso viu-se obrigada a fazer uma viragem de 180 graus, defendendo as frentes populares e as democracias burguesas. A situação em Espanha é apanhada nesta onda. Daí que a União Soviética, com a sua «ajuda desinteressada do grande povo irmão», defina bem o que lhe interessa e as condições extremamente restritivas da ajuda. O foco é o Partido Comunista. E é dele que irradia toda a força que visa aniquilar as correntes revolucionárias que não cabem no ínfimo espaço da Internacional. Tratava-se de acabar de «uma vez por todas com as tentativas dos sindicatos e dos comités de porem em prática o socialismo», como disse Jesus Hernandez, em Maio de 1937, citado por Semprun Maura, que conclui o capítulo «A URSS e a Espanha» com as palavras de Dolores Ibarruri no discurso de 25 de Maio de 1937: «É a revolução democrática burguesa, que noutros países, como a França, já foi feita há mais de um século, que se realiza hoje no nosso país e nós, comunistas, somos os combatentes de vanguarda nesta luta contra as forças que representam o obscurantismo dos tempos passados. (...) Nestas horas históricas, o Partido Comunista, fiel aos seus princípios revolucionários, respeitador da vontade do povo, alinha ao lado do governo, que é a expressão desta vontade, ao lado da república, ao lado da democracia.» Nem o Partido Comunista de Espanha nem o Partido Socialista Unificado da Catalunha estavam interessados nas colectivizações ou nas milícias. E disseram-no abertamente na primeira semana de Maio de 1937. Semprun Maura cita o Pravda de 17 de Dezembro de 1936: «Na Catalunha a eliminação dos trotskistas e dos anarco-sindicalistas já começou e será conduzida com a mesma energia com que foi na Rússia.» O aviso estava dado. Bastava uma fagulha para fazer explodir o barril de pólvora. E ela apareceu. A Central Telefónica de Barcelona encontrava-se sob a administração dos dois sindicatos da CNT e da UGT e um representante do Conselho da Generalitat. No dia 3 de Maio, camiões de guardas de assalto, sob o comando de Rodríguez Sala, comissário da Ordem Pública de Barcelona e membro do PSUC, chegam à Central, precipitam-se para o seu interior, desarmam os milicianos de guarda e começam o assalto aos vários andares. Só que os empregados e os milicianos presentes, alarmados pela insólita confusão, agarram nas armas e opõem aos polícias uma violenta resistência. Os assaltantes acabam por se retirar. O plano de assalto foi um fiasco. Mas a notícia correu célere. Era um momento decisivo para a revolução ? dum lado estavam as forças públicas (da ordem, PSUC), doutro as forças populares (CNT-FAI, POUM). A 4 de Maio a batalha assanha-se e inflama-se. O número de mortes e de feridos sobe em catadupa. A luta foge ao controlo das organizações. A CNT e a UGT lançam apelos para o cessar-fogo. Federica Montseny e Garcia Oliver apoiam este apelo. Rafael Vidiella, membro do PSUC e do governo catalão, pede aos trabalhadores que deponham as armas e que se estabeleça um cessar-fogo. Estava tudo contra as massas enraivecidas. A 5 de Maio o governo catalão demite-se em bloco. A CNT volta a propor uma trégua. Os Amigos de Durruti ainda tentam a formação duma junta revolucionária, que integraria o POUM, mas, de acordo com Semprun Maura, tanto a sua actividade como este apelo «foram denunciados pelo Comité Regional da CNT como provocações e acabariam por ser expulsos da CNT mais tarde». O dia 5 de Maio foi para Semprun Maura «sem dúvida o ponto culminante da batalha». O secretário-geral da UGT, Antonio Sesé, que fazia parte do elenco do novo governo, foi assassinado. O PSUC acusou os anarquistas. Neste mesmo dia os corpos dos anarquistas Berneri e Barbieri foram encontrados crivados de balas. Nos dias 6 e 7 de Maio, os Amigos de Durruti desobedecem ao apelo do Comité Regional da CNT. A luta continuava, mas os objectivos já estavam desfocados. Quinhentos mortos e milhares de feridos depois, «a rádio anunciava que o governo de Valência [governo central], vista a gravidade da situação, tinha decidido ocupar-se do restabelecimento da ordem pública na Catalunha». A coluna da guarda de assalto vai prendendo os militantes da CNT-FAI e pondo as suas sedes a saque. Os militantes anarquistas são enviados para «destino desconhecido» com os pés e as mãos atados. Os seus cadáveres serão encontrados nos arredores de Tarragona, nas bermas das estradas. No dia 8 de Maio, o Comité Regional da CNT diz que «o incidente que lançou Barcelona no luto terminou» e acrescenta: «Desejamos por isso oferecer novamente a nossa colaboração ao governo da Generalitat e ao novo delegado da Ordem Pública enviado pelo governo central.» No dia 12 de Maio, aparece uma nota na imprensa onde se diz: «O governo catalão dominou a revolta com os seus próprios meios.» Segundo Semprun Maura, deste governo fazia parte um elemento da CNT, Valerio Mas. Victor Serge, em La Révolution Prolétarienne, de 25 de Junho de 1937, fala da prisão de quarenta dos principais militantes do POUM e da ilegalização do partido e pergunta: «O que é que resta da democracia espanhola para os operários?» A entrada da CNT-FAI e do POUM para o governo ajudou a restaurar o poder do Estado enquanto a guerra ia devorando a revolução. No fim de contas comprovou-se mais uma vez: o poder corrompe os homens. Como Semprun Maura titula o último capítulo ? a contra-revolução triunfa.
Júlio Palma
http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=109112&cidade=1

quinta-feira, setembro 28, 2006

Poesia matemática

Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela a dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs -
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas senoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E se casaram e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Freqüentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fração
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era expúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.


Millor Fernandes

A Nestlé solicitou uma reunião com o Papa

A Nestlé solicitou uma reunião com o Papa no Vaticano.
Após receber a benção do mesmo, o representante cochichou:
Vossa Santidade, nós temos uma oferta. A Nestlé está disposta a doar 50
milhões à Igreja se Vossa Santidade mudar a frase da oração Pai Nosso, de "o
pão nosso de cada dia nos dai hoje" para "o café nosso de cada dia nos dai
hoje".
O Papa responde:
Isto é impossível. A oração é a palavra do Senhor e não pode ser mudada.
Bem, diz o homem, nós já prevíamos sua relutância e, por isso, nós
aumentamos a oferta para 100 milhões. Tudo o que pedimos é que se mude a
frase de pão para café.
Novamente o Papa responde: Isto, meu filho, é impossível. A prece é a
palavra de Deus e não pode ser mudada. Finalmente, o homem da Nestlé diz:
Vossa Santidade, nós da Nestlé respeitamos vossa fé, mas nós temos uma
oferta final: doaremos 500 milhões para a Igreja Católica, simplesmente
se a frase "o pão nosso de cada dia" for mudada para "o café nosso de cada
dia". Por favor, pense nisso.
E o homem retirou-se.
No dia seguinte, o Papa convoca o Colégio dos Cardeais e diz:
Tenho 2 notícias para dar: uma má e a outra boa. A boa notícia é que a Igreja
vai receber uma doação de 500 milhões.
E a má notícia, Santidade? pergunta um dos cardeais.
Responde o Papa: Nós vamos rescindir o contrato com a Panrico.

Conselhos uteis... dos putos

"Se gostavas de ter um cão, começa por pedir um cavalo."
Luís, 13 anos

"Nunca te metas com uma miúda que já te bateu uma vez."
Pedro, 9 anos

"Se a tua mãe esteve a discutir com o teu pai, não a deixes pentear-te."
Sara, 12 anos

"Se quiseres dar banho a um gato, prepara-te para tomares um também."
João, 10 anos

"Nunca se deve confiar num cão para guardar a nossa comida."
Gonçalo, 11 anos

"Nunca entre numa corrida com os atacadores desapertados."
André, 12 anos

"Quantos mais erros faço mais esperta fico."
Inês, 8 anos

"Há muitas coisas que a gente sabe e que as notas não dizem."
Rita, 10 anos

"Quando as coisas estão escritas em letras pequenas é porque são importantes."
Diogo, 10 anos

"Ainda bem que não temos tudo o que desejamos."
Filipa, 12 anos

As dores do pós-colonialismo

O Brasil parece finalmente estar a passar do período da pós-independência para o período pós-colonial. A entrada neste último período dá-se pela constatação de que o colonialismo, longe de ter terminado com a independência, continuou sob outras formas, mas sempre em coerência com o seu princípio matricial: o racismo como uma forma de hierarquia social não intencional porque assente na desigualdade natural das raças. Esta constatação pública é o primeiro passo para se iniciar a viragem descolonial, mas esta só ocorrerá se o racismo for confrontado por uma vontade política desracializante firme e sustentável. A construção dessa vontade política é um processo complexo, mas tem a seu favor convenções internacionais e, sobretudo, a força política dos movimentos sociais protagonizados pelas vítimas inconformadas da discriminação racial. Para ser irreversível, a viragem descolonial tem de ocorrer no Estado e na sociedade, no espaço público e no espaço privado, no trabalho e no lazer, na educação e na saúde.

A modernidade ocidental foi simultaneamente um processo europeu, dotado de mecanismos poderosos, como a liberdade, igualdade, secularização, inovação científica, direito internacional e progresso; e um processo extra­‑europeu, dotado de mecanismos não menos poderosos, como o colonialismo, racismo, genocídio, escravatura, destruição cultural, impunidade, não-ética da guerra. Um não existiria sem o outro. Por terem sido concedidas aos descendentes dos colonos europeus e não aos povos originários ou aos para aqui trazidos pela escravatura (com excepção do Haiti), as independências latino-americanas legitimaram o novo poder por via dos mecanismos do processo europeu para poderem continuar a exercê-lo por via dos mecanismos do processo extra europeu. Assim se naturalizou um sistema de poder, até hoje em vigor, que, sem contradição aparente, afirma a liberdade e a igualdade e pratica a opressão e a desigualdade.

Assentes neste sistema de poder, os ideais republicanos da democracia e da igualdade constituem uma hipocrisia sistémica. Só quem pertence à raça dominante tem o direito (e a arrogância) de dizer que a raça não existe ou que a identidade étnica é uma invenção. O máximo de consciência possível desta democracia hipócrita é diluir a discriminação racial na discriminação social. Admite que os negros e os indígenas são discriminados porque são pobres para não ter de admitir que eles são pobres porque são negros e indígenas. Uma democracia de muito baixa intensidade. A sua crise final começa no momento em que as vítimas da discriminação se organizam para lutar contra a ideologia que os declara ausentes e as práticas que os oprimem enquanto presenças desvalorizadas. Os agentes destas lutas distinguem-se dos seus antecessores por duas razões. Em primeiro lugar, empenham-se na luta simultânea pela igualdade e pelo reconhecimento da diferença. Reivindicam o direito de ser iguais quando a diferença os inferioriza e o direito de ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza. Em segundo lugar, apostam em soluções institucionais dentro e fora do Estado para que o reconhecimento dos dois princípios seja efectivo. Daí a luta pelos projectos de Lei de Cotas e do Estatuto da Igualdade Racial. O alto valor democrático destes projectos de lei reside na ideia de que o reconhecimento da existência do racismo só é legítimo quando visa a eliminação do racismo. É o único antídoto eficaz contra os que têm o poder de desconhecer ou negar o racismo para o continuarem a praticar impunemente.

Estes projectos de lei, se aprovados e aplicados, darão ao Brasil uma nova autoridade moral e um novo protagonismo político no plano internacional. No plano interno, será possível a construção de uma coesão social sem a enorme sombra do silêncio dos excluídos. Para que tal ocorra, os movimentos sociais não podem confiar demasiado na vontade dos governantes, dado que eles são produtos do sistema de poder que naturalizou a discriminação racial. Para que eles sintam a vontade de se descolonizarem é necessário pressioná-los e mostrar-lhes que o seu futuro colonial tem os dias contados. Esta pressão não pode ser obra exclusiva do movimento negro e do movimento indígena. É necessário que o MST, os movimentos de direitos humanos, sindicais, feministas, ecológicos se juntem à luta, no entendimento de que, no momento presente, a luta pelas cotas e pela igualdade racial condensa, de modo privilegiado, as contradições de que nascem todas as outras lutas em que estão envolvidos.
Boaventura de Sousa Santos
http://infoalternativa.org/autores/bss/bss048.htm

As sombras da romãzeira

«O bispo e o céptico ficaram por um instante parados, encarando-se. Eles um dia pertenceram à mesma civilização que desapareceu, mas o universo de cada um tinha sido separado por um mar invisível.»

Ler um livro do Quinteto Islâmico de Tariq Ali exige dedicação exclusiva. Um ritual delicado de preparação, de limpeza de todos os preconceitos e leituras superficiais, para embarcar rumo aos séculos com o pensamento arremessado nas ondas da civilização islâmica. Não há como não se envolver e aprender a história alinhavada com a envolvente ficção do escritor paquistanês.

As sombras da romãzeira é a projecção silenciosa dos séculos em que os muçulmanos dominaram o sul da Espanha, região conhecida por Andaluz, e semearam a sua cultura deixando marcas indeléveis na terra.

Logo no prólogo, somos aquecidos com a grande fogueira de livros escritos em árabe, comandada pelo cardeal Ximenes de Cisneros, confessor da rainha Isabel, a Católica, em Dezembro de 1499, representando a quebra do acordo de rendição firmado em 1492 que assegurava a liberdade de culto para a maioria muçulmana. Numa única noite, tratados de teologia, manuais de medicina e astronomia, livros de poesia, exemplares do Alcorão queimam junto aos séculos de conhecimento.

«Sobre o borralho de uma tragédia, espreita a sombra de outra.»

A aldeia de Al-Hudail, nas proximidades de Granada, é o cenário para o encontro das fortes personagens e a reflexão aprofundada dos medos, das conversões, do cepticismo e da resistência. A fidelidade ao islamismo demonstrada pelo patriarca Omar bin Abdala, seus filhos e pelos aldeões; a conversão de alguns parentes próximos estimuladas pelo cardeal Miguel, tio de Omar, muçulmano convertido e bispo de Córdoba, e o cepticismo do místico al-Zindiq são confrontados num momento histórico único que culminou com a expulsão dos muçulmanos de Granada.

Ximenes de Cisneros era o «primeiro arcebispo de Espanha a ser realmente celibatário», «um padre que vivia de acordo com o que pregava» e, entretanto, foi o instrumento vital para as arbitrariedades cometidas pela Inquisição contra os muçulmanos e judeus em Granada, porque ele sabia o poder das ideias e as consequências da fogueira de livros árabes.

«Para que serve a vida sem os nossos livros de conhecimento?»

As figuras esculpidas dos mouros e cristãos no tabuleiro de xadrez do pequeno Yazid bin Omar é a metáfora perfeita para o período sangrento e cruel que seguiu a instauração da Inquisição Espanhola e a intolerância religiosa que culminou no crime contra séculos de cultura e arte. Mas Tariq Ali não é maniqueísta e apresenta as tantas perspectivas sem conter as culpas, como na fala do céptico al-Zindiq: «Nós achávamos que os velhos tempos podiam acabar em toda a parte, mas nunca em Garnata. Tínhamos certeza de que o reino do islão sobreviveria em al-Andaluz, mas subestimamos a nossa capacidade de autodestruição. Aqueles dias nunca mais voltarão, sabe porquê? Porque os defensores da fé brigavam entre si, matavam­‑se e mostraram que não conseguiam unir­‑se contra os cristãos. Até ser tarde demais.»

A coragem do filho Zuair bin Omar e o seu amadurecimento não são suficientes para poupar a sua família da tragédia. As paixões quando carregam estandartes religiosos jamais se aproximam da razão e sempre culminam em actos brutais que sangram a humanidade e jamais serão perdoados.

A morte de mulheres e crianças é justificada pelo temor do capitão exteriorizado para os soldados após a chacina na aldeia de Al-Hudail: «Eu não disse hoje cedo que o ódio dos sobreviventes é o veneno que pode destruir­‑nos?»

As sombras da romãzeira é um romance imprescindível para conhecer a história islâmica e da reconquista cristã durante o reinado dos reis católicos de Espanha, compreender o presente tão propagado nos veículos mediáticos e criar perspectivas para o futuro com a valorização de séculos de cultura islâmica e da sua influência no ocidente.
Helena Sut
http://www.infoalternativa.org/cultura/livro015.htm