sábado, março 31, 2007

A For Anarchy

Qual encerramento compulsivo...

Se eu tivesse o poder de decisão, colocava Carmona Rodrigues na Universidade Independente. Quem conseguiu segurar a Câmara de Lisboa naquelas condições, consegue recuperar a UNI e abrir pólos por todo o mundo.
Também podia ser Maria José Nogueira Pinto, que aparentemente está com tempo livre, mas penso que já houve violência suficiente.
http://www.lobi-do-cha.blogspot.com/

Naked City Once Upon A Time In America (Ennio Morricone)

RUMSFELD PROCESSADO NA ALEMANHA

Em cima da mesa do promotor federal alemão, em Karlsruhe, está um dossier de 384 páginas. É uma acusação por crimes de guerra contra o ex-secretário da Defesa dos EUA Donald Rumsfeld e 13 dos seus cúmplices. Dentre eles estão Alberto Gonzales, actual procurador geral dos EUA, o director da CIA George Tenet e o general Ricardo S. Sanchez que de Junho/2003 a Junho/2004 comandou as forças que invadiram o Iraque.
De acordo com o documento, cuidadosamente preparado pelo advogando berlinense Wolfgang Kaleck, eles violaram o direito internacional e a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura. O processo baseia-se no Código de Crimes contra o Direito Internacional, o qual está em vigor na Alemanha desde 2002. De acordo com este código, o promotor chefe alemão tem o direito de levar a juízo indivíduos acusados de genocídio, crimes contra a humanidade ou crimes de guerra, pouco importando a localização do acusado ou do queixoso, o lugar onde os crimes foram executados ou a nacionalidade dos envolvidos. A iniciativa está a embaraçar as submissas autoridades alemãs.
Ver a notícia em Der Spiegel .

http://resistir.info/

Vangelis Sauvage et Beau

O Debate

Mal vi o malfadado cartaz no PNR, logo na noite em que o colocaram, e deparei com aquela fronha horripilante, ainda por cima com aquela pose de alto como se fosse uma espécie de Mussolini de segunda categoria, lembrei-me logo daqueles dias de delírio mediático que se seguiram à iniciativa do casamento da Teresa e da Lena.

Nessa ocasião fui convidado pela «TV Record» para, disseram-me, um debate sobre o tema do casamento homossexual.
Concordei sem qualquer problema. Afinal sempre foi minha opinião que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é precisamente um dos temas que mais esclarecimentos exige que sejam prestados à maioria das pessoas.
Para além disso, estava absolutamente seguro que não era com certeza o bispo da IURD que ia moderar o debate que me ia convencer a passar a pagar dízimo a uma igreja.

E lá compareci pontualmente, num estúdio improvisado nas caves do antigo cinema Império, para um debate em directo que me asseguraram que seria visto por uma audiência de muitos milhões de pessoas em vários países.
Qual não foi o meu espanto quando me apresentaram o meu oponente de debate: precisamente este Le Pen de imitação rasca, o inefável José Pinto Coelho, líder do tal Partido Nacional Renovador, ou PNR.

Confesso que na altura ainda pensei em desistir do debate. A própria presença daquele bicharoco imundo ali mesmo ao pé me causava náuseas.
Mas o meu compromisso anterior e o alinhamento televisivo da estação a contar com isso, lá me fizeram ficar.
E ainda bem que fiquei, pois acabei por me divertir imenso, e ainda acabei o debate a rir-me como um perdido à custa do desgraçado.

Ao fim de meia dúzia de minutos percebi logo qual era o problema do indivíduo:
Pois, se logo a abrir as hostilidades, ainda que sob a capa de uma mal disfarçada cordialidade televisiva, o indizível José Pinto Coelho fez logo questão de declarar, a mim e à malta da IURD que anda ali à volta, que era um fervoroso e empedernido católico, logo nos primeiros minutos de debate me apercebi também que o indivíduo em questão não fazia a mínima ideia da tremenda injustiça que o seu Deus lhe tinha feito, e como tão imensamente o tinha prejudicado no dia da distribuição da inteligência pelos animais deste planeta.

E pimba:
Peguei-lhe nos preconceitos homofóbicos e nos seus próprios chavões, lidos talvez no «Mein Kampf» e decorados de discursos mussolínicos colados com cuspo aqui e ali naquele pequeno cérebro injustiçado pela Natureza, decompus-lhe em bocadinhos a noção legal de casamento e num instantinho pu-lo a ouvir-se a dizer a si próprio em directo na televisão que afinal, «mas só nesse caso», era a favor do casamento homossexual.

Mas depois, de repente, surpreendia-se a si próprio, abria muito os olhos e quando lá se apercebia de que o que tinha acabado de dizer não fazia sentido com a formatação que tinha encasquetada no disco rígido, arrependia-se de tudo o que tinha dito.
Às vezes até parecia que lhe faltava o ar. Corava muito, voltava atrás e dizia que não tinha dito nada daquilo.
E lá começava eu, cheio de paciência, a explicar-lhe e a repetir-lhe tudo outra vez, com o sorriso mais cínico que conseguia esboçar e sempre a falar-lhe muito devagarinho e pausadamente, com o tom mais paternalista e propositadamente irritante que consegui arranjar na altura, tal e qual como se estivesse a falar com um débil mental.
E lá o punha outra vez a ouvir-se a si próprio a dizer que afinal sempre concordava com o casamento homossexual, mas só com a condição de que os seus diversos componentes jurídicos fossem contratados não todos de uma vez, como num casamento «normal», mas... em dias diferentes...

Acho que não gostou muito da piada (ou então não a percebeu) quando, a terminar o debate, eu lhe disse assim como que em jeito de remate final:
- Em suma, se alguma conclusão podemos retirar deste debate é que o senhor afinal é a favor do casamento homossexual, mas desde que seja... em leasing!

Enfim! Foi como tirar o doce a uma criança!

A certa altura do debate não sei se tive medo ou se, pelo contrário, (tenho de aqui o confessar humildemente) tive até alguma esperança de que aquele pobre desprezado e injustiçado filho de um Deus menor, fosse beneficiado por um golpe de gloriosa misericórdia da Mãe Natureza que de repente o fizesse cair para o lado com uma oportuna síncope cardíaca quando, depois de me dizer com aquele ar artificialmente altivo que se opunha terminantemente a que em Portugal vivessem pretos, indianos, chineses «e até mesmo judeus», eu lhe perguntei calmamente:

- E o senhor tem a certeza que esses seus dois nomes «Pinto» e «Coelho» não significam que o senhor é cristão-novo?...

Moral da História, e assim como em jeito mistura de conselho e de misericordioso pedido a quem passar pelos lados do Marquês de Pombal e se deparar com o cartaz do Partido Nacional Renovador e com as estampadas fuças do seu prestimoso presidente:

Por favor, não fiquem a pensar que o Sr. José Pinto Coelho é assim um imbecil qualquer; que é um vulgar cretino homofóbico; que é um idiota xenófobo e racista; que é um estúpido débil mental; que é um estupor com as ideias deformadas por preconceitos que nem ele próprio consegue explicar; que é tão parvo e ignorante que nem sequer se apercebe do que ele próprio diz e defende.

Não!
Ele não é nada disso!
Tenham só pena.
Tenham muita pena dele, coitado...


Luis Grave Rodrigues
http://www.rprecision.blogspot.com/

Embirração de Estimação

Pode parecer que é um qualquer tipo de embirração especial por Daniel Sampaio e eu confesso que parcialmente o é. As razões são diversas e já antes as expliquei. O passado fim de semana, voltei a ter motivo para me encrespar, embora só ontem tenha acabado por ter tempo para ler devidamente a prosa. Em peça na Pública agora sobre a violência doméstica, DS alinhava com natural à vontade um quinteto de medidas que devem ser colocadas em prática contra este mal social e conclui com a seguinte recomendação:
A inclusão do tema da violência em todas as escolas, numa política geral de Educação para a Saúde, felizmente já recomendada pelo Ministério da Educação.
Felizmente, é bem verdade, mais que não seja porque a dita recomendação emana de um documento produzido sob os auspícios do próprio Daniel Sampaio. Penso que só a modéstia o terá impedido de referir esse dado de sublime importância. O do ME afinal fazer, bem, o que DSampaio especialista recomenda e DSampaio opinador valida com convicção.
http://educar.wordpress.com/

Paquistão - Rapto da dona de um bordel

Alunas da madrassa raptaram a dona de um bordel em Islamabad.

Que as boas almas de Islamabad queiram fugir da prostituição é um direito, quiçá uma obrigação, que faz as delícias de Alá e o regozijo dos mullahs.

A origem da prostituição confunde-se com a história da própria humanidade e não deixa de ser humilhante a venda do corpo, mas há infâmias maiores e crimes mais hediondos, a começar pelo rapto de pessoas e o exercício de cárcere privado.

O constrangimento social e o estímulo do clero levaram as tresloucadas alunas de uma madrassa, em puro zelo beato, à prática de vários crimes: invasão do domicílio, rapto, encarceramento e coacção física e psíquica da dona de um bordel e de duas familiares, estribadas na legitimidade do Corão e no incentivo dos próceres islâmicos.

A prisão das devotas provocou manifestações das colegas, encorajadas pelo director da escola corânica, enquanto os vizinhos, com maior terror dos talibãs do que de Maomé, ficaram «felizes e cantaram em glória de Alá».

Regressa o fundamentalismo que, como sempre, não se limita a condicionar a vida dos crentes mas a exigir, a todos, o comportamento que julgam inspirado por Deus.

No Paquistão, os talibãs estão na origem de incêndios em clubes de vídeo e na proibição de música e televisão. Os barbeiros foram proibidos de cortar barbas e as mulheres são obrigadas a usar burka, sob a ameaça de morte.

No Ocidente, que julgávamos civilizado, uma onda fundamentalista procura reconduzir a sociedade à Idade Média. O criacionismo é a arma com que, dos EUA à Europa, os prosélitos pretendem opor-se ao progresso e à investigação científica.

Há muito dinheiro investido na estratégia beata. A distribuição de um Atlas criacionista é a prova disso. É preciso estar atento.

Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/

Anarchism History

Entre silêncio e mito

A IKEA não se encontra cotada em Bolsa. Assim sendo, a empresa tem evoluído envolta num emaranhado jurídico que não passa pelo crivo de quem quer que seja. É impossível saber quem é proprietário do conceito IKEA, obter o detalhe das contas, um balanço consolidado, conhecer os activos e os investimentos da sociedade… A Stichting Ingka Foundation, na Holanda, detém nominalmente a sociedade anónima Ingka Holding, a qual agrupa todas as empresas da IKEA. Mas existe, sobretudo, a Inter IKEA Systems, que detém o “conceito ikeano”, tutelada pela Inter IKEA (Waterloo, Bélgica). Dominando a marca, a estrutura assegura assim a sua perenidade. Controla a imagem, os nomes, as normas que fazem com que uma IKEA chinesa em nada se distinga de uma IKEA americana ou kuwaitiana.

Quem dirige a inter IKEA Systems? E, por conseguinte, quem possui o conceito e os direitos de licença? Formalmente, é impossível dizer. Stellan Björk, um jornalista sueco que investigou o sistema, refere: «segundo se sabe, a Inter Ikea Systems pertence a diversas fundações e sociedades offshore, algumas das quais têm a sua sede nas Caraíbas» [1]. Dito de outra forma, nada se sabe… Mas a família Kamprad não deve andar muito longe.

Esta armação opaca ilustra bem a “transparência” de geometria variável de que se faz valer a empresa. Durante a sua campanha sobre a IKEA, a Oxfam Lojas do Mundo pediu autorização para “traçar” cinco produtos escolhidos conjuntamente com a direcção internacional. Um ano mais tarde, e apesar numerosos contactos, a resposta ainda não surgiu. No seu diálogo com a organização não governamental (ONG) belga, a IKEA nunca responde por escrito.

Como mencionado anteriormente [2], as auditorias “independentes” são na verdade realizadas por empresas que não estão autorizadas a fornecer quaisquer informações sobre as suas constatações e comentá las na praça pública. E quando, em Maio de 1998, foi assinado um acordo-quadro entre a multinacional e a International Federation of Building and Wood Workers (IFBWW) [3], ele comprometeu este sindicato, no caso de entorses sociais, a prevenir… a multinacional. Esta «estudará o caso e proporá medidas apropriadas» [4]. Nada passa para o exterior. Sempre na lógica de fechamento, nenhum empregado, na Bélgica, pôde responder às nossas questões. Não podem falar à imprensa.

Em contrapartida, quando os seus erros vêem a luz do dia, a IKEA comunica, imensamente. De acordo com um esquema, sempre idêntico: a empresa reconhece o erro, minimiza o caso, reage e apresenta “soluções”.

Desde a década de 1990, e em resposta aos ataques das organizações ambientais sobre a madeira, a IKEA estabeleceu laços com o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e a Greenpeace. Quando é acusada de fazer trabalhar crianças, parcerias com a UNICEF e Save the Children são imaginadas. Sem fazer julgamentos prévios quanto à pertinência destes projectos, pode-se ainda assim fazer duas constatações: a política de IKEA em matéria ambiental e social é exclusivamente reactiva. Não se trata de compromissos “filantrópicos” (para quem ainda acredita neles), mas de salvar os negócios. Depois, essas colaborações nada garantem. Nenhuma das ONG “parceiras” controla a produção. Nenhuma delas efectua visitas aos fornecedores.

Nesta lógica de comunicação, a forma como a IKEA geriu o “maior fiasco” do fundador Ingvar Kamprad é particularmente reveladora. Em 1994, um jornal sueco preparava-se para revelar nove anos de amizade (entre 1941 e 1950) entre o patrão da IKEA, então jovem, e um líder sueco de extrema direita. Entre a espada e a parede, Kamprad admite o, recusando em seguida todas as ideias fascistas e racistas, verte uma lágrima na televisão sueca, envia a todos os colaboradores uma carta afirmando que «esta amizade era a coisa mais estúpida por que tinha passado na sua vida». Na sua biografia autorizada, acusa sem contenção o seu pai anti semita, antes de concluir: «Perguntei me frequentemente quando poderia finalmente um velho esperar ver absolvidos os seus pecados de juventude. Será um crime ter sido criado por uma avó e um pai alemães?» Revisitando o erro de um adulto de 24 anos, falando de «erro de juventude», de «desvarios políticos de criança e de adolescente», e de «miúdo» [5], desculpando-se abundantemente, Kamprad corresponde na perfeição à estratégia de comunicação IKEA. Ocupando o terreno da crítica, a multinacional monopoliza todas as versões do discurso sobre a empresa. Ainda que reinterpretando os factos…

De certa forma, esta revelação sobre o passado de Kamprad terá reforçado, ao extremo, uma imagem que a IKEA pretende dar do seu fundador. A de um ser sensível, acima de tudo susceptível de aperfeiçoamento e próximo do “povo”. E os episódios comoventes. Dos primeiros fósforos vendidos pela criança de 5 anos às “avarezas” do velho milionário que compara os preços dos postais, a comunicação da IKEA e do próprio Kamprad criou um personagem tremenda, impondo a mais ínfima economia ao mais modesto trabalhador da empresa. Estas histórias deleitam os meios de comunicação social. Ingvar trata por tu o pessoal, Ingvar conduz um velho automóvel, Ingvar espera pelo fecho do mercado para comprar legumes mais baratos, Ingvar viaja em classe económica para estar próximo do povo…

Acontece que o povo nunca teve dois Porsches aos 30 anos, não possui uma vinha de dezassete hectares, nem tem uma casa de quatrocentos e trinta e cinco metros quadrados na Suíça. Será realmente um eremita, este milionário? Pouco importam estas incoerências entre o discurso e a prática: muitos meios de comunicação social amam o mito IKEA.

Um exemplo entre outros: a entrevista que Kamprad concedeu em Março de 2006 ao programa “pardonnez moi” (à medida da IKEA…) da televisão suíça francófona. O jornalista não parece poupar o milionário no seu fentre a-frente. A célebre “parcimónia” é longamente tratada, ou mesmo estigmatizada («Viaja em classe económica? É necessário escrever nas duas faces do papel? Conduziu durante muito tempo um velho Volvo desconjuntado? Compra os vegetais no fim do mercado?»). O jornalista fala abertamente do passado nazi. Em suma, a entrevista quer-se cortês, mas directa. Missão cumprida? Em mais de dezoito minutos, nem uma questão sobre as cláusulas ambientais, as condições sociais e sindicais dos noventa mil empregados da IKEA e as centenas de milhares de trabalhadores nas empresas subcontratadas.

A agenda das perguntas foi dirigida pelo gigante do mobiliário. Sem impor nada. Autocriticando se, revelando falhas menores, a IKEA quer monopolizar todos os discursos sobre si, dos que a põem em causa aos que lhe tecem louvores. E prevenir simultaneamente qualquer derrapagem mediática deplorável para a empresa.

[1] Oliver Burkeman, “L’empire d’Almhult vous veut du bien”, dossier “IKEA: la secte mondiale du kit”, Courrier International, n.° 722, Paris, 2-8 de Setembro de 2004.
[2] Olivier Bailly, Jean-Marc Caudron e Denis Lambert, IKEA na Índia: emprego desmontável, Le Monde diplomatique, Dezembro 2006.
[3] Tornou-se desde então a Building and Wood Workers’ International (BWI).
[4] Revised agreement between Ikea and the IFBWW, Dezembro de 2001.
[5] Bertil Torekull, Un design, un destin. La saga Ikea, Michel Lafon, Paris, 2000.
Olivier Bailly, Jean-Marc Caudron e Denis Lambert
Le Monde diplomatique
http://www.infoalternativa.org/mundo/mundo221.htm

Antony & The Johnsons Mysteries of Love

Livros e ministério da educação

"Ministério da Educação" não rima com "livros". Os livros, na mentalidade do ministério, são "redutores" e, além disso, elitistas. Acho que nunca nenhum técnico ministerial algum dia lhe ocorreu que a qualidade do ensino passa pela qualidade dos livros que se estudam. Tudo são actividades lúdicas, tudo são competências, tudo é muito complicado e muito pimba e muito “eduquês”. Aposta-se na Internet e nos CD-ROMs, na idioteira da expressão "novas tecnologias" e em formação a metro para os professores aprenderem a fazer brincadeiras nas bibliotecas e para saberem mandar e-emails.

O mais simples de tudo — pôr os professores e estudantes a estudar por bons livros, promover a edição de bons livros para professores e estudantes — é coisa que não lembra aos originais pedagogos que mandam no ministério. É caso para dizer que com cães destes mais vale ir à caça com gatos.

Imagine-se como seriam as coisas se desde há 20 anos o Ministério da Educação se tivesse limitado a fazer a gestão das colocações dos professores e a mandar pintar paredes e mudar sanitas partidas, sem fazer qualquer intervenção no ensino propriamente dito — sem mexer nos programas, nos manuais, no desenho curricular, em nada que diga respeito ao ensino propriamente dito. Está a imaginar? Óptimo. Agora pergunte-se isto: seria possível estarmos hoje pior do que estamos? Eu não tenho dúvidas de que estaríamos pelo menos, na pior das hipóteses, na mesma. Mas quero crer que estaríamos bem melhor, pois no nosso país, os muitos professores de alto profissionalismo — e que estudam por bons livros, sobretudo estrangeiros — têm de lutar contra o ministério da educação para fazer um bom trabalho. Se os pedagogos do ministério estivessem quietos, tudo andaria sobre rodas. Nomeadamente porque os muitos professores de excelência que temos por esse país fora teriam mais tempo para estudar por bons livros estrangeiros e assim preparar aulas de excelência, em vez de andarem afogados em nova legislação todas as semanas, novos programas, novos manuais, novas brincadeiras na biblioteca, novas disciplinas de fantasia.
Desidério Murcho
http://dererummundi.blogspot.com/

É melhor não ligar

Aproveito este momento para um desaforo. Gostava de falar um pouco sobre o atendimento ao público que se faz por telefone.
Ontem, por volta da meia-noite e trinta, fiquei sem luz. Sem luz é a expressão popular para simplificar algo tão técnico como falha geral de energia. Sem luz e sem televisão eu aguentava, mas o meu computador entrou em modo de economia e começou a trabalhar só com a bateria. Bateria que é, de resto, uma bela merda.
Quinze minutos depois da falha, decidi ligar para a EDP. Do outro lado, uma senhora simpática iniciou o diálogo com uma longa frase feita. Podia ter lido um romance, durante a apresentação da senhora.
Eu, mais fraquinho na lábia e surpreendido com a chegada do momento em que finalmente podia dizer qualquer coisinha, lá comentei que tinha ficado sem luz. A senhora, com a arrogância de quem pensa “pois, era estranho era se tivesses ficado sem água e estivesses a ligar para aqui”, solta o já célebre: e eu estou a falar com… "José Pedro" – digo-lhe eu como quem apaga um cigarro no chão.
Já a tratar-me pelo nome e antevendo o início de uma grande amizade, pede-me um número de qualquer coisa ou, em alternativa, outro de coisa qualquer. Auxilia-me dizendo que estes números se encontram no campo superior direito da factura. Tudo isto antes de me dar mais alguns segundos de protagonismo, para lhe explicar que não tinha nenhuma factura comigo e que me recusava a ir à procura. Não por ser antipático, mas a luz ajuda a procurar facturas.
Comecei a perceber que estava a falar com uma mulher paga para fazer de máquina, quando me pedem para aguardar uns segundos e passados nem dois (foi quase imediato) me dizem: Senhor José Pedro, muito obrigado por ter aguardado.
Aguardado? Mais tempo esperei eu que a senhora conseguisse concluir a primeira frase do telefonema e na altura ninguém me agradeceu.
Algum especialista em atendimento ao público disse às telefonistas que tinham de agradecer sempre que pediam para aguardar e as telefonistas agradecem sempre que pedem para aguardar. Numa repetição tão exasperante como esta que acabo de fazer.
O drama chegaria, porém, só quando a senhora me disse que não havia nenhuma indicação de avaria e perguntou se eu queria que ela mandasse vir um técnico às oito da manhã. Às oito da manhã, só se fosse para o técnico me dar banho. Com luz ou sem luz, a essa hora tenho de estar a pensar em trabalhar um bocadinho, que a publicidade no blogue não chega para comprar lenha, quanto mais para me preocupar com a luz.
Expliquei-lhe então que suspeitava que a avaria fosse na rua e que a electricidade devia regressar dentro de pouco tempo, pelo que não se justificava qualquer assistência técnica. Foi então que ela me disse: por isso mesmo é que eu estou a perguntar ao senhor se quer que o técnico vá aí. Parecia que a senhora me estava a bater com um pau. Por isso mesmo? Por eu suspeitar que a avaria fosse na rua e que a electricidade devia regressar dentro de pouco tempo, pelo que não se justificava qualquer assistência técnica, é que ela me perguntava se eu queria que o técnico viesse cá?
Tenho de confessar que comecei a ficar confuso. Tive de lhe dizer expressamente que não, sem mais explicações. Afinal de contas, estava a falar com uma máquina.
Mais interessante foi, sensivelmente a meio da conversa, quando a senhora me perguntou se tinha verificado o quadro, como se eu tivesse nascido ontem ou a electricidade tivesse chegado agora à minha aldeia. Ainda que compreenda a pergunta, eu ofendo-me com estas coisas. Deu-me vontade de dizer que não, que tinha logo entrado em pânico, chamado os bombeiros e a sociedade protectora dos animais. Então não era de ter inferido logicamente que eu já tinha visto o quadro?
Para além de serem máquinas, enfiam-lhes o software para estúpidos, dando origem a diálogos absurdos. A electricidade voltou quarenta minutos depois do telefonema, como eu previra. Fiquei com vontade de voltar a ligar, mas temi qualquer coisa como “então e agora que a luz voltou, já quer que lhe envie um técnico para resolver o problema da falta de luz?”.
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Vangelis Islands of the Orient

O Pesadelo dos Ateus II: A Manteiga de Amendoim

Como se não tivesse já bastado o «Argumento da Banana», foi encontrado um novo argumento que descredibiliza e destrói por completo a teoria da evolução e que uma vez mais demonstra inequivocamente que tudo o que existe no Universo resulta da criação e é obra de Deus.
Um novo argumento que é não só uma prova definitiva e absolutamente irrefutável para a existência de Deus, mas que é também um novo e autêntico pesadelo para os ateus.
Desta vez é o «Argumento da Manteiga de Amendoim»!

Absolutamente arrasador!






Luis Grave Rodrigues

Educar Porquê e Para Quê?

Nada de esperanças que isto não é texto de profundo ensaio, com a fórmula dourada que finalmente desvendará qualquer Graal até agora oculto a gente bem mais desempoeirada e diplomada do que eu. São apenas alinhavos.
O fenómeno educativo, sob esta ou aquela fórmula organizacional, mantém uma essência quase imutável de há muitos milhares de anos para cá, a qual me parece ser bastante simples e que passa por duas vertentes essenciais:
• A transmissão geracional (e também horizontal no caso de novas experiências bem sucedidas) de saberes, que por comodidade definiremos como “técnicos”, indispensáveis para a sobrevivência da espécie, para além do que seja “instinto” ou conhecimento “inato” (sei que esta última questão não é pacífica, mas esqueçam isso por agora…). No fundo começou em questões tão elementares como a melhor forma de obter alimentos sem apanhar valentes problemas gastro-intestinais a cada refeição, de fugir de animais de porte e hábitos menos amistosos, de observação dos astros para determinar a época do ano e tudo por aí abaixo. No fundo, a preparação para o Trabalho.
• A transmissão, também naturalmente geracional, de um conjunto de elementos “ideológicos”, a que de início designamos como “míticos”, sobre a origem e identidade do grupo em que os indivíduos nasceram e foram criados. É o aspecto da Educação que visa socializar o indivíduo nos hábitos, tradições e projectos do grupo alargado a que pertence ou a que é suposto pertencer. E é por aqui que passa o nascimento do que de forma assumidamente simplista eu designarei como Cultura.
Desde há não sei quantos anos antes de Cristo, Marx e Zarastrusta, o fenómeno educativo passou por aqui, apenas se tendo transformado progressivamente a forma como se processou, deslocando-se gradualmente da “família” para a “sociedade” e finalmente para o “Estado”. De início a transmissão de saberes e competências, sendo restrita para os nossos padrões e porque envolvia umpequeno número de indivíduos, era possível no ambiente de um grupo reduzido. Com o crescimento dos grupos humanos, a complexificação das relações e funções no seu seio, a Educação foi-se deslocando progressivamente para uma esfera “especializada”.
Seria entediante tentar demonstrar como isso se processou desde o tempo das civilizações anteriores à escrita até ao advento das sociedades industriais que conhecemos há 200 anos. Interessa apenas reter que, para mim, a Educação sempre permaneceu condicionada por dois factores que são a necessidade de assegurar a sobrevivência e daí a preparação para o mundo do Trabalho e a necessidade de criação de um sedimento social ou identidade para os grupos humanos e daí a exigência de transmissão do que, num sentido algo restrito, poderemos considerar Cultura.
Após períodos em que as duas variantes do fenómeno educativo se afastaram (caso da Idade Média) e se mantiveram de acordo com lógicas fragmentárias localizadas e regionalizadas, o conflito entre estas duas tendências agudizou-se quando o Estado decidiu erguer sistemas de ensino de massas, nacionais, visando a homogeneização da formação dos cidadãos e foi necessário conjugar uma preparação “técnica” com uma formação “humanista” nos currículos.
Há 200 anos que se discute o peso e a importância relativa de cada uma destas componentes nos currículos, o momento em que os indivíduos devem ser introduzidos em diversas das matérias ligadas a cada uma delas, quando é necessário optar por uma ou outra, etc, etc, etc.
Muito do que se discute de forma recorrente, não sendo estéril ou desnecessário, não passa da consequência de algo que acho por demais evidente: a Educação não pode fugir muito a nenhuma dessas duas suas facetas.
Desligar a Educação da formação para o mundo do trabalho - alegando que isso é reduzir os indivíduos a peças incaracterísticas de um sistema que as usa de forma descartável ou a meres seres-máquina, quais antigos homo faber - é atractivo para certas tendências de pensamento, mas é claramente algo distópico mais do que utópico. Queria ver depois o ar de certos defensosres do puro humanismo educativo se quando o computador avariasse e a net fosse abaixo e não existissem simpáticos trabalhadores competentes para colocar tudo a funcionar de novo… É uma caricatura, mas válida.
Mas desligar a Educação da sua componente mais teórica, humanista, cultural, whatever, seja em nome da não transmissão de um sistema de valores homogeneizadores que anula a capacidade crítica indidividual ou em nome da denecessidade de tal formação para o mundo tecnológico contemporâneo, é dar um passo em relação ao abismo da atomização da sociedade e para a destruição de quaisquer laços de coesão social (nacional ou outra).
Qualquer das atitudes está errada por ser edutora. A Educação precisa de manter essas duas perspectivas, para o bem de todos nós, individualmente e como grupo mais ou menos alargado. O equilíbrio é instável, por vezes existem balanceamentos qu fazem pender demasiado a balança para um dos lados, mas mais tarde ou mais cedo dá-se um necessário reequilíbrio.
Quanto ao aspecto ideológico da Educação, queria deixar aqui apenas um pensamento simples: em nenhum momento a Educação não foi uma transmissão de conhecimentos com um enquadramento ideológico qualquer. Platão não era um mestre neutro, ele transmitia os seus valores com os seus ensinamentos, sendo que a sua mensagem era fortemente política. Numa oficina medieval, a aprendizagem técnica de um aprendiz de ferreiro ou tecelão ia acompanhada de todo um leque de pressupostos sobre a organização da sociedade envolvente. Mesmo numa qualquer idílica sociedade nómada perdida nos confins de uma selva imaginária, a transmissão de conhecimentos faz-se sempre com base em pressupostos que correspondem a um aparato ideológico mais ou menos complexo.
É inútil procurar no passado ou futuro uma sociedade em que a Educação seja completamente desideologizada - pois mesmo o apelo à neutralidade é uma forma de ideologia como o meu amigo António sempre me afirma quando discutimos a Esciola Pública. Isso seria negar quase por completo a sua natureza.
O problema é que há quem, talvez por deficiente formação ou por uma educação amputada ou distorcida, pense que é possível educar sem que alguma ideologia esteja envolvida ou que o essencial passa por uma transmissão de meros saberes técnicos.
Sei que estamos a atravessar um período em que esta visão cinzenta da Educação parece predominar. O conhecimento da História (talvez por isso seja, com a Filosofia, cada vez mas mal amada pelos transitórios senhores dos tempos) ajuda-nos, porém, a saber que é uma fase passageira como tantas outras que pareceram nos seus tempos bem mais dramáticas. Isto não é um apelo à resignação. Pelo contrário, é um encorajamento à resistência e à acção para acelerar a modificação deste estado de coisas. Mas sem ilusões quanto ao facto da Educação poder vir a ser algum dia “pura”. Isso seria o pior de tudo.
É pela sua impureza que a Educação se constitui como instrumento essencial de Progresso e não meramente de Conservação. A pérola nasce de um simples grão de areia.
http://educar.wordpress.com/

A Milu no seu melhor

(Atenção aos mais sensíveis: muito violento!)
Um obrigado especial a http://asinistraministra.blogspot.com/





Antony and the Johnsons My Lady Story

Em cartaz

Ainda que isto possa parecer confuso, a verdadeira liberdade é o Partido Nacional Renovador poder colocar um cartaz contra a política de imigração, no Marquês de Pombal. Por mais ignóbil que seja a mensagem.
Como defensor incondicional da liberdade, aceito o cartaz do PNR como aceito que um deputado português tenha sugerido algumas virtudes no regime da Coreia do Norte. São imbecilidades que se dizem e propagandeiam, mal ou bem, em liberdade.
Por isso acho inaceitável que se proíba constitucionalmente a palermice do fascismo. Na minha concepção de liberdade, deve poder ser fascista quem quer ser fascista, como deve poder ser comunista quem quer ser comunista. Não é a liberdade que convida a radicalismos. A proibição é que é o maior afrodisíaco dos pobres de espírito e a clandestinidade uma permanente motivação.
http://www.lobi-do-cha.blogspot.com/

Vangelis the race against time

Já está na net a devassa da PIDE à vida de Torga

Devassa da PIDE à vida de Torga - Jornal «Público»


A Torre do Tombo colocou na Internet, como Documento do Mês, o processo que a polícia política do Estado Novo reuniu, ao longo de 40 anos, sobre o médico, escritor e opositor ao regime de Salazar. É um processo de minuciosa devassa. Por Sérgio C. Andrade

Miguel Torga e a PIDE - A Repressão e os Escritores no Estado Novo (com apresentação do próprio Reis Torgal e prefácio de Clara Rocha, filha de Torga). O livro abre uma colecção que posteriormente dará a conhecer outros trabalhos, também produzidos no CEIS 20, sobre processos semelhantes a este, como os de Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro e Fernando Namora.
Uma vigilância obsessiva
Para Renato Nunes, o aspecto mais relevante do processo de Torga é ele documentar "o interesse quase obsessivo da PIDE pelos vários domínios da vida do escritor", e lembra "as violências sistemáticas da correspondência, o registo das suas viagens, dos encontros com amigos, até os rendimentos da sua actividade como médico". Uma vida devassada até à intimidade.


O próprio escritor se referiu à violência dessa devassa no comentário que escreveu no seu Diário XII (1975), quando teve conhecimento do processo: "Vista através daquele registo laborioso e tenaz de gusanos inexoráveis, a minha vida era a própria imagem da desolação. Descarnada de qualquer substância anímica, mais objectivamente exacta do que a biografia que porventura aflora à
1907
Adolfo Correia da Rocha nasce a 12 de Agosto, em S. Martinho de Anta, Sabrosa

1920
Viaja para o Brasil, onde trabalha, durante cinco anos, com um tio na sua fazenda de Minas Gerais

1928
Publica o seu primeiro livro, Ansiedade (poesia); termina o curso do liceu, em apenas três anos

1931
Inicia a actividade de contestação à ditadura do Estado Novo

1932
Começa a escrever o Diário

1933
Termina o curso de Medicina na Universidade de Coimbra; regressa à terra natal, onde começa a exercer medicina

1934
Publica A Terceira Voz, primeira edição com o pseudónimo Miguel Torga

1936
Funda a revista Manifesto, com Albano Nogueira; entre os colaboradores estão Victorino Nemésio, Paulo Quintela, Bento de Jesus Caraça e Fernando Lopes-Graça

1938
É confrontado, pela primeira vez, com a censura, que exige a identificação do director, editor e proprietário da Manifesto - a revista só dura cinco números

1937
Atravessa a Espanha, em plena guerra civil, numa viagem em que passará também por França, Bélgica e Itália; dá conta das impressões que lhe causou o conflito no país vizinho em livros como O Quarto Dia da Criação do Mundo (que publica dois anos depois) e, mais tarde, nos Diários, Novos Contos da Montanha e Alguns Poemas

1939
É preso em Leiria, a 2 de Dezembro, na sequência da publicação de O Quarto Dia da Criação do Mundo, que é apreendido - passa dois meses nas prisões do Limoeiro e do Aljube

1940
Escreve, no Aljube, o poema de resistência Ariane; é libertado a 2 de Fevereiro (descreve a experiência da prisão em O Quinto Dia da Criação do Mundo); casa-se, civilmente, a 27 de Julho, com a belga Andrée Crabbé Rocha, fixando residência em Coimbra, no

n.º 32 da Casa da Beira; abre consultório na Rua da Portagem, n.º 45

1941
Edita o primeiro volume do Diário

1942
Publica Os Contos da Montanha, que é apreendido em Coimbra, o mesmo acontecendo ao poema dramático Sinfonia

1947
Integra a Comissão de Auxílio ao Dr. Mário Soares, na sequência da deportação deste para São Tomé e Príncipe; é demitido do Serviço de Saúde da Casa dos Pescadores da Figueira da Foz; Andrée Crabbé Rocha é expulsa da Faculdade de Letras de Lisboa, onde era professora assistente

1949
Solidariza-se com o médico Fernando Vale (amigo e futuro fundador do PS), que tinha sido demitido da Delegação de Saúde de Arganil, por ter apoiado a candidatura do general Norton de Matos; é testemunha de defesa de Vale em 1958, aquando da campanha de Humberto Delgado, que também apoia

1950
É-lhe levantada a proibição da saída do país, reiniciando viagens a Espanha e a outros países da Europa; publica Cântico do Homem

1953
Muda de residência, em Coimbra, para a Rua Fernando Pessoa, n.º 3

1954
Viaja até ao Brasil, onde participa como convidado no Congresso de Escritores de São Paulo; recusa o Prémio Almeida Garrett que lhe tinha sido atribuído pelo Ateneu Comercial do Porto, mas desloca-se ao Porto para justificar a recusa e pede que o dinheiro seja utilizado na publicação de jovens poetas

1955
Nasce a filha, Clara

1958
Participa na campanha de Humberto Delgado

1959
Publica o 8.º volume do Diário, que será apreendido pela PIDE em Fevereiro do ano seguinte; o caso mobiliza acções de protesto e de solidariedade por parte de figuras dos meios intelectuais tais como Urbano Tavares Rodrigues, Jaime Cortesão, Artur Portela Filho, Victor Direito e Raul Rego

1960
É proposto, com Aquilino Ribeiro, como candidato ao Prémio Nobel da Literatura; a sua candidatura é subscrita pelo professor francês (Universidade de Montpellier) Jean-Baptiste Aquarone; a PIDE e os responsáveis políticos do Estado Novo acompanham a polémica em volta desta dupla candidatura



1965
Subscreve um protesto endereçado ao ministro da Educação contra a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores depois da atribuição do seu prémio a Luandino Vieira

1967
Intervém no colóquio internacional comemorativo do centenário da abolição da pena de morte em Portugal, em Coimbra

1969
Recusa o Grande Prémio Nacional de Literatura, por ser entregue pelo regime; subscreve o manifesto Dos Escritores ao País, pela restituição da liberdade, contra a máquina repressora do regime, contra as prisões políticas...; participa no II Congresso Republicano em Aveiro

1973
Faz uma viagem a Angola e Moçambique, seguida pela PIDE

1974
A Revolução do 25 de Abril não lhe granjeia grandes euforias. Escreve no Diário XII: "Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares. Foram eles que, durante os últimos macerados cinquenta anos pátrios, nos prenderam, nos censuraram, nos apreenderam e asseguraram com as baionetas o poder à tirania. Quem poderá esquecê-lo? Mas pronto: de qualquer maneira é um passo. Oxalá não seja duradoiramente de parada". Participa no 1.º comício do PS em Coimbra (1 de Junho) e Sabrosa (30 de Junho), sempre como independente

1976
Participa em comício de apoio a Ramalho Eanes em Coimbra

1978
Nova candidatura ao Nobel, recebendo o apoio do escritor premiado no ano anterior, o espanhol Vicente Aleixandre

1983
Encontra-se com o presidente moçambicano Samora Machel na visita deste a Portugal; a sua admiração pelo líder moçambicano está expressa no Diário

1985
Opõe-se à entrada de Portugal para a Comunidade Europeia

1987
Visita Macau e Goa e manifesta preocupação pela perda das marcas da lusitanidade

1988
Diz, em entrevista ao jornal Libération (11 de Fevereiro): "Quis sempre manter-me um homem independente. Sentimentalmente, sou socialista, mas, no fundo, permaneço um anarquista. Um rebelde."

1989
É distinguido com o Prémio Camões, na primeira edição



1992
Prémio Vida Literária da APE e Personalidade do Ano pela Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal

1993
Comenta no Diário XVI a libertação de Nelson Mandela, a reunificação alemã, a guerra do Golfo, os massacres em Timor e a prisão de Xanana Gusmão, a cimeira Clinton-Ieltsin...

1995
Morre em Coimbra, a 17 de Janeiro


Fontes: Fotobiografia, por Clara Rocha (Publicações Dom Quixote), e site do IPLB - Instituto Português do Livro e das Bibliotecas
a Quando um diligente funcionário da Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) informava os seus superiores, em Julho de 1947, que Adolfo Correia Rocha, "conhecido literariamente por Miguel Torga", era "anti-situacionista, de ideias avançadas, mas moralmente nada consta", o escritor transmontano era já uma figura bem referenciada pelo aparelho policial do Estado Novo.
Na viragem para a década de 40, Torga tinha já vivido a sua experiência de prisão nas cadeias salazaristas, na sequência da publicação, e posterior apreensão, do seu livro O Quarto Dia da Criação do Mundo, considerado pela PIDE como "uma publicação obscena e de propaganda comunista".
Esta ficha de informação (do processo n.º 11.803) é uma das primeiras dos quatro volumes que constituem o extenso dossier de Miguel Torga na PIDE (e que inclui também os documentos da sua antecessora, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, que existiu entre 1933-45), que está arquivado no Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (IAN/TT). É este espólio, já tratado, que a Torre do Tombo disponibiliza agora na Internet (http://www.iantt.pt/) como Documento do Mês de Abril, no âmbito desta iniciativa lançada pela instituição em Maio.
O pretexto para o lançamento on-line do processo da PIDE é o centenário do nascimento de Miguel Torga (1907-1995), que está a ser evocado por todo o país. Neste contexto, uma exposição com os referidos documentos vai ser também apresentada em Outubro na Delegação Regional de Cultura do Norte, em Vila Real.


"Decidimos não ficar à espera da abertura desta exposição. Temos obrigação de tornar a informação disponível", justifica o director do IAN/TT, Silvestre Lacerda, notando que a circunstância do centenário tem motivado "muita procura de informação sobre o escritor", principalmente por parte de estudantes e investigadores de instituições, como as Universidades de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e de Coimbra.
Um desses investigadores é Renato Nunes, que há pouco tempo terminou um estudo precisamente sobre o processo de Torga na PIDE, no âmbito de um seminário orientado por Luís Reis Torgal, no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS 20), da Universidade de Coimbra. O estudo vai ser editado pela editora Minerva, de Coimbra, com o título Miguel Torga e a PIDE - A Repressão e os Escritores no Estado Novo (com apresentação do próprio Reis Torgal e prefácio de Clara Rocha, filha de Torga). O livro abre uma colecção que posteriormente dará a conhecer outros trabalhos, também produzidos no CEIS 20, sobre processos semelhantes a este, como os de Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro e Fernando Namora.
Uma vigilância obsessiva
Para Renato Nunes, o aspecto mais relevante do processo de Torga é ele documentar "o interesse quase obsessivo da PIDE pelos vários domínios da vida do escritor", e lembra "as violências sistemáticas da correspondência, o registo das suas viagens, dos encontros com amigos, até os rendimentos da sua actividade como médico". Uma vida devassada até à intimidade.
O próprio escritor se referiu à violência dessa devassa no comentário que escreveu no seu Diário XII (1975), quando teve conhecimento do processo: "Vista através daquele registo laborioso e tenaz de gusanos inexoráveis, a minha vida era a própria imagem da desolação. Descarnada de qualquer substância anímica, mais objectivamente exacta do que a biografia que porventura aflora à tona do que escrevi, parecia o relato de uma autópsia" (ver caixa).


O processo de Torga na PIDE reúne quatro centenas e meia de documentos, muitos deles com informação repetida, o que mostra a "descoordenação que caracterizou também o funcionamento da PIDE", realça Renato Nunes. Mas é importante não esquecer que o escritor foi igualmente seguido e investigado pela Comissão de Censura - num processo que está também na Torre do Tombo, mas ainda não foi tratado.
Nos arquivos da PIDE - que o IAN/TT mantém "com a ordem original, seguindo as regras do arquivismo", explica Silvestre Lacerda -, o dossier Torga não tem a dimensão política dos de outros vultos da literatura portuguesa do século XX, como Aquilino Ribeiro. Mas ele tem, como nos casos deste e dos outros escritores, "um interesse particular, por se tratar de uma figura que não esteve ligada ao Partido Comunista", diz Luís Reis Torgal. "Sabemos que os escritores do PC foram os mais perseguidos - é um dado histórico", lembra o historiador. Mas o estudo e a divulgação daquilo que a PIDE fez a Torga, Aquilino, Namora e Ferreira de Castro, que se destacaram pela luta em favor da democracia e da liberdade sem enquadramento partidário, "mostram-nos o carácter repressivo e totalitário do regime", que não só visava os comunistas como os outros democratas, acrescenta Reis Torgal. "A PIDE vigiava tudo, e isso é a marca mais relevante do fascismo do regime de Salazar", conclui.
Era um marginal
Também António Arnault, ex-ministro socialista que privou de perto com Torga, destaca o carácter individualista e não-alinhado do médico-escritor. "Era um marginal, e isso deu-lhe um certo estatuto de independência", que fez com que, depois do episódio em 1939/40, ele não voltasse a ser preso, diz Arnault, notando, no entanto, que "ele tinha consciência de que estava a ser vigiado". Renato Nunes lembra, a propósito, que o escritor foi por várias vezes detido e interpelado pela PIDE a pretexto dos livros que ia publicando, em edições de autor, "sem os sujeitar ao visto prévio da censura". Aconteceu assim, por exemplo, com a publicação do oitavo volume do Diário, em 1959.


Sobre a iniciativa agora lançada pelo IAN/TT, Reis Torgal considera-a "interessante", mas não deixa de lamentar que ela não tenha sido "conjugada" com o CEIS 20, nomeadamente, por exemplo, com o timing da publicação do livro de Renato Nunes, que, assim, poderá perder algo do seu ineditismo. E realça a importância da investigação deste jovem historiador, naquele que é "o primeiro estudo de caso" sobre um escritor. "Talvez a libertação do processo na Internet venha a chamar a atenção para o livro", admite o professor da Universidade de Coimbra.
oitavo volume do Diário, em 1959.
Sobre a iniciativa agora lançada pelo IAN/TT, Reis Torgal considera-a "interessante", mas não deixa de lamentar que ela não tenha sido "conjugada" com o CEIS 20, nomeadamente, por exemplo, com o timing da publicação do livro de Renato Nunes, que, assim, poderá perder algo do seu ineditismo. E realça a importância da investigação deste jovem historiador, naquele que é "o primeiro estudo de caso" sobre um escritor. "Talvez a libertação

carlos_esperanca
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Paris 1968 - 2006 Manifestations

JP2 estabeceu-se no ramo dos milagres (2)

Religiosa francesa curada por João Paulo II dá a cara
http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_all.asp?noticiaid=44584&seccaoid=4&tipoid=57
A religiosa francesa curada da Doença de Parkinson, alegadamente por intercessão de João Paulo II, vai promover amanhã uma conferência de imprensa na localidade francesa de Aix-en-Provence (Bouches-du-Rhône), juntamente com o Bispo local, D. Claude Feidt.
Comentário: Em vida não foi capaz de curar-se. Depois de morto JP2 faz curas para fora.
E há quem leve a ICAR a sério!!!

Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/

Aspirantes a Titular, Volver!

Embora ainda não tenha visto se saiu em DR, aqui está a versão aprovada em Conselho de Ministros do diploma que vai regulamentar o primeiro concurso para professor titular.
Análise mais detalhada, mesmo em período de interrupção lectiva, só lá mais para diante que outros valores se vão levantando.
Mas confesso desde já que o preâmbulo, como de costume, começa logo por me irritar com aquela habitual camada de retórica hipócrita auto-justificativa, disfarçando os abusos com a desculpa recorrente da salvação do mundo e arredores.
Como detalhe, descubro agora que, afinal, os licenciados em História e docentes do 1º grupo do 2º CEB concorrem pelo departamento de Línguas como durante algum tempo esteve previsto mas pelo das Ciências Sociais e Humanas (na 4ª versão já existia esta distinção). Afinal é possível que alguém no ME tenha finalmente percebido como são formados os grupos disciplinares e como é feito o seu recrutamento. Mesmo se a solução tenha os seus problemas…
http://educar.wordpress.com/

sexta-feira, março 30, 2007

Al Jazeera vai ter provedor do terrorista

A estação Árabe quer aumentar a credibilidade junto dos espectadores, consciente que a maioria da sua audiência são terroristas que gostam de acompanhar e festejar os seus feitos a partir de imagens emitidas pela canal. Apesar de ser o programa mais visto da Al Jazeera, a Tertúlia da Jihad, programa tablóide que fala de boatos e da vida privada de terroristas, tem sido alvo de queixas de muitos profissionais do terrorismo. Um dos mais consagrados terroristas vai processar um dos colaboradores da Tertúlia por este ter levantado a hipótese de a sua mulher estar grávida. “Falhei o meu atentado porque essa notícia baralhou a minha vida pessoal. Há tempos esse programa já tinha apresentado uma lista confidencial sobre futuros atentados. Os Americanos assistiram ao programa e tivemos de cancelar as datas”, afirmou o manilha de espadas.
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Antony and the Johnsons You Are My Sister

Estamos na era de procriação do jaguar!

Há quem separe anarquismo social de anarquismo como estilo de vida. Há os colectivistas e os individualistas; os revolucionários e os pacifistas. Há os rebeldes, insurgentes. A anarquia não se restringe a um conceito ou a uma contra-conduta. A contundente Emma Goldman alertou que na anarquia a sociedade está a serviço do homem e que esta se funda nas energias liberadas do indivíduo e na associação voluntária dos indivíduos libertados.

Os anarquistas compõem movimentos, sem reivindicar no seu interior um espaço delimitado ou o papel de hegemonia. Não sendo membros de partidos políticos, tão-pouco pretendem capturar os movimentos tornando-os reféns de uma organização. Sabem que os movimentos sociais libertários se refazem constantemente e que as pessoas, por não serem semelhantes, se modificam em velocidades e intensidades diferentes.


O movimento anarquista inventa mundos!

O anarquista corre riscos! Ele não é o alvo exclusivo das policias, forças armadas, direito penal, de inimigos medonhos e adversários que se renovam no interior da sociedade. Ele transgride por existir, por não se deixar capturar, por ser o anúncio do diferente que não será pacificado em nenhuma uniformidade. O anarquista não busca a certeza na autoridade superior, chame-se ela partido político, organização não-governamental, grupo de pressão, ou uma abstrata cooperação de singularidades; o anarquista não aceita a representação e recusa-se a representar! Os anarquistas associam-se livremente para experimentar liberdades, lidar com a supressão do insuportável e ultrapassar as paralisantes polémicas.

A potencialidade das liberdades depende dos costumes livres, da diversidade de realizações anárquicas, libertas de afinidades restritas à mesma ideologia, enfim de uma cultura amistosa desvencilhada dos castigos e voltada para objetos definidos. Depende do meu poder para existir; das minhas relações para permanecer inventando vidas. O fim da propriedade privada, estatal ou mista não depende de negociações, revoluções, mediações democráticas, mas de associações e suas actuações. A anarquia é social até mesmo quando pretende dissolver a sociedade; ela tem diversos estilos de vida.


As singularidades anarquistas não cooperam, mas associam-se federativamente.

Pessoas livres, pessoas associadas, associações de associações existem libertariamente quando evitam os modelos, actuam na sua época, e não abdicam das memórias das lutas, da história que se faz no momento. Não lidam mais com fronteiras. Questionam os iluminados, os proprietários de consciências esclarecedoras, os que declaram amar a humanidade e perpetuar a solidariedade na miséria. Pessoas libertárias, únicas, actuam nos limiares, na supressão de fronteiras, na ausência de universalidades, na amizade entre anarquistas preservando a coexistência na diferença, no combate à miséria material e intelectual. O anarquista liberta-se antes de libertar. Esta tem sido a sua história.

A história dimensionou as inquietações libertárias de Etienne de la Boétie e de Willian Godwin na Anarquia de Proudhon e no anarquismo bakunista. Este se desvencilhou da catequese de Sergei Nietcháiev e abriu-se em formação histórica com Kropotkin, em movimento interminável com Malatesta, no combate estratégico no interior da revolução russa com os makhnovistas. Inventou e revirou a Revolução Espanhola, os combates sindicais pelas Américas e avançou para o oriente. Surpreendeu os historiadores que tinham decretado a sua morte mostrando a sua jovial existência e transformou os esquerdistas socialistas arrependidos em académicos da anarquia social. Começou novamente a lidar com inquietações libertárias derivadas do Maio de 1968, percorrendo o seu eterno retorno e abalando a crença no social.

A anarquia não é um modelo, fórmula, efeito determinista ou produto da sequência linear da história. A anarquia é pessoal, associativa e é social. Não existe fora ou apartada da sociedade. Contudo, isso não quer dizer que ela tenha a tarefa de criar a nova sociedade. Neste caminho, substituir propriedade e Estado por posse e Sociedade, torna-se apenas uma inversão de termos. O anarquista restrito a condutas e contra-condutas acaba apanhado na rede das blindagens, nos pluralismos actuais da sociedade de controle, na globalização e nas alternativas à globalização, e acaba conformado na retórica de apóstolos da teoria da jaula!

Contra jaulas e aprisionamentos em teorias, independências, identidades, condutas, espaços e existências que tal experimentar abolir o castigo em si próprio, seguir pensamentos próprios? Não há estilo de vida que não seja social, mas há muito social sem estilo (fluxo onde se alojam os parasitas, os chupins, os ilustres camaleões).

Estamos na era de procriação do jaguar!
http://www.nu-sol.org/hypomnemata/hypomnemata82.html
http://pimentanegra.blogspot.com/

Nick Drake Northern Sky

Betão Armado e Esforçado: 18 (escrita), 17 (oral)?

Desculpem-me lá o regresso ao tema do percurso académico do nosso primeiro, mas caramba que achei graça ao nome desta disciplina que terá sido concluída por JSócrates na Universidade Independente de acordo com peça do Correio da Manhã de há uns dias.
Perdoem-me a ignorância e o não completamente escondido sorriso, mas aquilo é uma cadeira anual do curso? Não é gozo?
Agora mais a sério eu gostaria apenas de sublinhar que a mistura entre a discussão sobre as habilitações do nosso primeiro - já escrevi e repito que não acho indispensável ou vagamente necessário que um PM seja licenciado ou doutorado - e o estado em que se encontra a Independente, a contas com um possível encerramento pode ser explosiva, não sabendo eu onde cairão todos os estilhaços.
Entretanto, recordam-se certas curiosas afinidades electivas e interrogo-me sobre quem terá sido o júri das provas orais.
http://educar.wordpress.com/

Paris Uprising May 1968

Sobre a laicidade

A laicidade é um factor apaziguador das diferenças culturais que o clero se esforça por converter em divergências.

Não é legítimo agredir crentes. Devem, sim, ser protegidos deles próprios e defendidos em nome da liberdade religiosa, mas a defesa e a protecção exigem que o proselitismo seja contido em margens que não degenere em conflito.

A ICAR, como religião monoteísta, não deseja a liberdade religiosa mas a imposição da catequese obrigatória. Já não é apenas a demência islâmica que põe em risco os direitos, liberdades e garantias que as democracias defendem. As Igrejas cristãs estão a assimilar o desvario islâmico e querem regressar às origens perdidas com a Revolução Francesa.

Não é a moral religiosa que perturba, o que não se tolera é a imposição clerical aos que rejeitam a fé.

A apostasia é um dos mais sagrados direitos humanos. É preciso proclamar o direito de defender hoje o contrário daquilo em que se acreditava ontem e, eventualmente, voltar a acreditar amanhã, sob pena de destruir a liberdade religiosa.

Os padres querem que o pecado seja crime e a apostasia punível com pena máxima, mas desiludam-se os parasitas da fé. Enquanto houver cidadãos que renunciem à humilhação de andar de joelhos, Deus é a nódoa que não mancha todas as consciências, um estorvo que não elimina a liberdade, a excrescência que não corrompe toda a humanidade.

Basta que a semente da descrença alimente a independência do pensamento e a coragem da resistência se sobreponha à violência da repressão, para que os homens permaneçam livres e dignos.

A opressão precisa de carrascos. Quando a democracia avança, a fé recua e os algozes ficam frágeis. Também por isso a defesa da civilização exige o combate pela liberdade.

Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/

Timor - Protectorado do Vaticano?

Ramos-Horta promete orçamentar apoio à Igreja

http://dn.sapo.pt/2007/03/25/internacional
/ramoshorta_promete_orcamentar_apoio_.html

Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/

Atendimento telefónico de multinacionais feito em delegações indianas está organizado segundo o sistema de castas

As empresas estão a ter muitas dificuldades em conciliar o modelo de trabalho ocidental com o sistema social da Índia. Segundo os últimos relatórios, os níveis de satisfação dos clientes têm descido de forma assustadora, tendo chegado, por pouco, a atingir o grau de insatisfação dos clientes da TV Cabo. Segundo os especialistas, o problema é que quem atende os telefones são os Dalits, das castas mais baixas, que como manda o sistema de castas, terão de ser analfabetos, prejudicando a qualidade do trabalho. Os coordenadores dos Call Centers são os Dasya, casta superior que estão habituados a infringir violência sexual, maltratar e assassinar os indivíduos das castas mais baixas. “Antes da hora de almoço já não temos nenhum operador vivo e somos obrigados a almoçar às 3 da tarde porque temos de entrevistar novos candidatos”, afirmou um director de uma empresa.
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Naked City Super Stupid (George Clinton)

Censuras

"Não há pior censura nos países democráticos, como se lhes chama, do que a económica"

Costa-Gravas

Vangelis Blade Runner

Ota vez

Para o Governo, toda esta discussão sobre o novo aeroporto é excelente. Em primeiro lugar, bem podem os portugueses falar a vida toda, que a obra vai parar onde os governantes quiserem, independentemente da mais eloquente sabedoria popular.
Depois, enquanto o país está entretido com o novo aeroporto, dá espaço para o Governo trabalhar em sossego e sem as habituais perturbações.
Marques Mendes, que andava aos papéis, vira-se agora para a Ota como se não houvesse mais nada no mundo. A restante oposição, na dúvida, faz o mesmo.
Novo aeroporto, algazarra na Universidade Independente, crise no CDS e eventualmente um ou outro caso de rapto de crianças, são a receita quase ideal para um Governo de maioria absoluta que sempre demonstrou interesse em governar às escondidas. Se eu fosse o Talvez Engenheiro Sócrates, reunia o Conselho de Ministros todos os dias e mandava o Parlamento trabalhar por turnos. Era uma limpeza.
http://www.lobi-do-cha.blogspot.com/

The Situationists, May 1968

Porque decidi candidatar-me à nacionalidade americana

No passado domingo, numa entrevista à SICNotícias, Mário Soares, galhofeiro, afirmou ser evidente para qualquer um que os governos europeus teriam necessariamente que saber e autorizar, desde o início, o trânsito de prisioneiros do Médio Oriente para Guantanamo feito pelos americanos, uma vez que tão longa viagem exigiria escalas.
Até aqui nada de novo. Mário Soares tem toda a razão. Só um completo imbecil não teria isto como certo. Mas repare-se no que se seguiu.
Perante o (genuíno?) ar chocado da entrevistadora, Soares tranquiliza-a: mas deixe estar, tudo isto se há-de saber, os próprios americanos virão a esclarecer tudo, é que o sistema deles obriga à clarificação das coisas (o que escrevi não é uma transcrição fiel, mas anda muito perto).
Mas porque é que os governos europeus aceitaram... articula a jornalista.
Porque inicialmente houve uma atitude de subserviência da Europa frente aos americanos, enfim..., justifica o antigo presidente de todos os portugueses.
A entrevistadora, ainda incrédula (pelas "novidades"? pela "gaffe"? pelo descaramento?), interroga-o: e, mas então, e o Parlamento Europeu?!
Bem, responde o ex-deputado europeu, com ar prazenteiro, o Parlamento faz o seu papel: após a denúncia, investiga. E lá vai fazendo o seu trabalho.
Mas isso não é..., insiste, estarrecida, a rapariga.
É, é horrível, é, diz Soares, rindo.
Mas..., articula ainda a mocita.
É horrível, sim, é!! Mas o que é que quer que eu lhe diga?
Preciso de justificar o título deste post?
http://www.directoaoassunto.blogspot.com/

Padre com pressa de encontrar Deus

O Código da Estrada não faz parte da Concordata


Pope asked to slow speeding priest

LISBON, Portugal (Reuters) -- A Portuguese group campaigning for safe roads has asked the Vatican to ensure that a priest who owns a souped-up Ford Fiesta "resist the temptations of speed."
Father Antonio Rodrigues, Portugal's only owner of a 150-horse-power Ford Fiesta 2000 ST, has boasted of his car's rapid acceleration to 210 kilometers (130 miles) per hour and "thanked God" for never being fined, the Association of Motorist Citizens said in a letter to the Pope.
"I am no speed freak," daily Correio de Manha quoted Rodrigues as saying on Monday. "I have a car that I like but I drive with prudence."
The association's letter, which was published on its Web site (www.aca-m.org), cited the priest as saying he uses the car to take youngsters for spins and to zip around to "arrive on time to the three parish churches."
"We ask Your Holiness to help this unfortunate priest to ponder the gravity of his acts and the immodesty of his words and to resist the temptations of speed and boasting," the letter to the Pope said.
http://www.cnn.com/2007/WORLD/europe/
03/26/speeding.priest.reut/index.html

Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/

Nico Femme Fatale

Estudo arrasa integração europeia de Portugal

Portugal continua entre os países da UE onde a distribuição da riqueza é mais desigual. O grupo social mais rico aufere seis vezes e meia mais do que o mais pobre.
Uns vivem muito bem e outros no limiar da pobreza.


Nos últimos seis anos "Portugal enfrentou grandes dificuldades. A situação económica deteriorou-se e as perspectivas continuam a ser negras". Esta é a análise feita por José Magone - director do Departamento de Política e Estudos Internacionais, da Universidade de Hull, Reino Unido -, num estudo publicado na na revista "Nação e Defesa" sobre a integração de Portugal na União Europeia (UE).Neste número dedicado aos 20 anos da entrada de Portugal na CEE, Magone refere que, como um garrafa, a pretensão de um Portugal europeu "está ainda metade vazio".



Pese embora as reformas na educação, os problemas continuam a ensombrar este sector e o mesmo se passa na Justiça e no sistema de saúde", refere. O docente acentua que estes três sectores são cruciais para a legitimidade da acção política, já que a apreciação dos sucessivos governos depende de terem sido capazes de criar mais igualdade social. E a avaliação é negativa.

“Portugal continua entre os países da UE onde a distribuição da riqueza é mais desigual", diz. O grupo social mais rico aufere seis vezes e meia mais do que o mais pobre. Uns vivem muito bem e outros no limiar da pobreza. "O que é acentuado pelos baixos níveis de ensino, de má saúde e exclusão social", explica.


O estudo prossegue de forma crítica. Diz que "um obstáculo à superação da pobreza é a falta de qualificações", sendo Portugal "o país com mais baixos níveis de qualificações, afectando a qualidade da economia, assente no trabalho intensivo e não nas novas tecnologias".


Um dos maiores problemas no ensino é a desistência no secundário. A principal razão é a frágil condição financeira da maioria das famílias. Muitos jovens abandonam a escola porque têm de trabalhar". Uma política governamental de apoio às famílias carenciadas poderia provavelmente ajudar a melhorar" esta realidade, afirma


Também "o sistema de Justiça continua muito ineficiente. Muitos recursos têm sido investidos, no número de juízes e no apoio judiciário, mas a noção dos portugueses sobre a actuação da Justiça é profundamente negativa."


Alguns aspectos a reter

Depois da reforma de 1988, "Portugal foi muito entusiasta" na aplicação dos fundos comunitários em infra-estruturas. No Quadro Comunitário de Apoio (2000-2006) 48,6% dos fundos, o equivalente a 42 biliões de euros, foram canalizados para Portugal 29,1% para o Estado e 22,3% para o sector privado


A elite política esteve muito preocupada em receber fundos, mas não em mudar a cultura empresarial do país. Segundo José Magone, os projectos de desenvolvimento regional também foram insuficientes, além da falta de envolvimento da sociedade civil. Os projectos tendem a a ser concretizados pela Administração Pública e os processos de consulta ainda estão muito no início".


Existe em Portugal um problema de centralização. "Portugal continua a ser, a par da Grécia, um dos países mais centralizadores da UE". Além disso, Magone afirma que os países do Leste europeu foram muito mais rápidos a descentralizar estruturas



"O domínio das duas maiores cidades - Lisboa e Porto -não conduz a uma organização territorial, mais democrática e civicamente activa.Pelo contrário, limita as possibilidades de decisão das regiões". Magone aborda ainda, neste artigo, o "anacronismo", de 75% dos cerca de 750 mil funcionários públicos continuarem colocados em Lisboa e no Porto.

Texto transcrito do Jornal de Notícias de hoje
http://pimentanegra.blogspot.com/

Vangelis COLOMBIA UN CIELO POR DESCUBRIR

O Imperialismo Americano e o seu Domínio sobre a Ásia

Refutando o Mito de que a China se esteja a tornar num super-poder económico

Quem irá dominar a Ásia? A longo prazo a resposta é certa e clara – o povo da Ásia vai dominar a Ásia. No entanto, a curto prazo, antes de essa verdade se tornar uma realidade, nós necessitamos de analisar a actual situação económica, política, e militar na Ásia de forma a planear a nossa estratégia. Para compreender claramente a situação actual, precisamos em primeiro lugar de desfazer alguns mitos; essa será a primeira parte da minha apresentação de hoje. A segunda parte será sobre os interesses do imperialismo norte-americano na Ásia e a sua estratégia para manter uma hegemonia económica, política, e militar na região. Na conclusão, avaliarei a real ameaça do militarismo americano e porque é que nós, o povo, teremos de, e iremos, prevalecer no fim.


I. Refutando os Mitos

Primeiro Mito: A China está a tornar-se num super-poder que irá em breve ultrapassar os Estados Unidos, e a China tem um poderio militar capaz de desafiar a dominação dos EUA sobre a Ásia.

Nos anos recentes, os Estados Unidos projectaram uma imagem da China de um poder económico em crescimento que possui capacidade militar para ameaçar o já longo domínio dos EUA na Ásia. Esta afirmação é usada para justificar o recente reforço militar dos Estados Unidos e os seus esforços para fortalecer a sua cooperação militar com os seus aliados e outros regimes amigos nesta região, como uma estratégia para conter a China.

Apesar do facto de os Estados Unidos estarem a perder a guerra no Iraque, Condoleezza Rice, a Secretária de Estado norte-americana, tem viajado bastante, fazendo palestras e mantendo os outros países alinhados para mostrar que os Estados Unidos mantêm a sua hegemonia mundial. Um artigo de 2005 do jornal ‘Singapore Business Times’ intitulado ‘Condi Talks Down to Europe, Asia’ [A Condoleeza está a falar para a Europa, Ásia] afirma:

“A senhora Rice desdenhou os europeus por considerar que o levantamento do embargo de armas à China – um acto, explicou ela, que pode ameaçar a delicada balança militar do Leste da Ásia, com os EUA a considerarem-se como os pacificadores da área e veriam com maus olhos uma interferência europeia. ‘Foram os Estados Unidos, não a Europa, que defenderam o Pacífico’. Depois, ela apresentou aos chineses a necessidade de pressionarem os norte-coreanos, e disse a jornalistas que a China pode ter “uma influência positiva na região”, acrescentando, no entanto, que também se podia tornar o maior problema da região.” (Antiwar.com, 31 de Março de 2005, reeditado pelo Singapore Business Times, 2005)

As declarações de Rice indicam que a administração Bush tem intenção de renovar a sua atenção na Ásia, depois do lamaçal do Médio Oriente, e colocar em prática um plano para conter a China.

A China representa realmente uma séria ameaça ao domínio dos EUA sobre a Ásia?

Apesar do rápido crescimento do PIB da China na última década e meia, o PIB da China ainda é apenas um décimo do dos Estados Unidos da América. Para além disso, a China desenvolveu um tipo de capitalismo que tem estado dependente de investimento estrangeiro e de mercados estrangeiros, como motor para o seu crescimento. No final de 2005, Bai Jing-fu, o vice-presidente de um Centro de Investigação no Conselho de Estado [1], escreveu um documento que mostrava muitos dos problemas enfrentados pela economia chinesa. Um problema era a excessiva dependência chinesa de mercados externos como fonte do crescimento do seu PIB. De acordo com Bai, 5.7% (ou 60%) dos 9.7% da taxa de crescimento do PIB eram devidos a um aumento da procura no mercado externo [2]. Não só o crescimento da economia da China tem estado tão ligado ao crescimento das suas exportações, como cerca de 60% dessas exportações vêm de investimentos directos de multinacionais estrangeiras. Isto mostra a dependência do desenvolvimento chinês do monopólio internacional do capital.

Para além disso, os Estados Unidos têm sido um dos maiores mercados da China. No entanto, devido aos grandes défices comerciais que os EUA têm relativamente à China e a muitos outros países, os EUA não pagaram muitas das suas importações. (O total de importações norte-americanas é aproximadamente o dobro das suas exportações.) Em vez disso, os Estados Unidos da América têm vindo a dar Títulos da Dívida Pública como certificados de dívida. Dito de forma mais clara, significa que a China tem tido de fazer continuamente empréstimos de dinheiro americano para que os Estados Unidos possam comprar os seus produtos. Com a dívida norte-americana ao mundo a já ter uma duração de mais de vintes anos, o senso comum diz-nos que isso não pode continuar durante muito mais tempo. Para além disso, a China, que ainda é um país pobre, necessita do seu capital para o seu próprio desenvolvimento, pois o uso do seu capital de exportação como forma de sustentar o crescimento do PIB, não pode ser considerada uma estratégia de desenvolvimento sustentável e viável. Desde a reforma capitalista da China, e especialmente desde a década de 1990, o monopólio global do capital tem explorado a mão-de-obra barata, exaurido os seus recursos naturais e poluído o seu ambiente. Os EUA também sugaram grandes quantidades de capital da China, onde dezenas de milhões de pessoas ainda não vêm resolvidas as suas necessidades básicas. Como é que alguém pode esperar que a China ultrapasse economicamente os Estados Unidos quando a sua economia está tão controlada por essas poderosas multinacionais – a maioria delas sedeadas nos Estados Unidos?

Apesar de ser verdade que o orçamento militar da China cresceu com taxas de dois dígitos nos últimos 17 anos consecutivos, e a China tem vindo a modernizar o seu equipamento militar ao comprar armamento moderno à Rússia, a China não tem a capacidade de desafiar militarmente os Estados Unidos. De acordo com informações publicadas no Relatório de Poder e Interesses, do Departamento de Defesa dos EUA, estima-se que a China tenha mais de 3000 aviões de combate, mas apenas 100 deles são modernos, comprados recentemente à Rússia. O mesmo relatório diz que os Estados Unidos têm actualmente mais de 3000 aviões, todos modernos. Para além disso, a frota norte-americana, composta por 12 grandes porta-aviões, não tem precedentes no seu poderio. Em conjunto com a sua espantosa superioridade militar em todas as categorias, os EUA estão também a modernizar o seu equipamento num ritmo mais elevado do que a China ou qualquer outro país do mundo. O Instituto Internacional de Pesquisa da Paz, de Estocolmo, concluiu que a China gasta anualmente 40 mil milhões de dólares [30,3 mil milhões de euros] em actualizações do seu equipamento militar, mas os Estados Unidos gastam dez vezes esse valor – um total de 400 mil milhões de dólares [303,3 mil milhões de euros]. O Relatório de Poder e Interesses afirma, “…uma taxa tão inacreditável de despesas dos Estados Unidos irá garantir que a China terá uma extrema dificuldade em competir no poderio militar.” Continua dizendo, “À China também falta indústria de ponta para desenvolver novas tecnologias próprias, o que explica que tenha comprado o seu equipamento militar mais moderno à Rússia. Os Estados Unidos, por outro lado, estão na linha da frente da nova tecnologia militar.” (Relatório de Poder e Interesses, 8 de Setembro, 2003)

Acima de tudo, depois da queda da antiga União Soviética e da deterioração do arsenal nuclear da Rússia, os Estados Unidos monopolizam agora o sistema nuclear ofensivo. Um recente artigo da revista ‘Foreign Affairs’ [Negócios Estrangeiros], “O Surgimento da Primazia Nuclear dos EUA”, afirma: “Os Estados Unidos estão no limiar de alcançarem a primazia nuclear. Provavelmente, em breve será possível aos Estados Unidos, destruir os arsenais de longo alcance da Rússia e da China num ataque inicial.” A supremacia nuclear significa, de acordo com os autores, que os EUA têm uma tríada nuclear que inclui bombas estratégicas, mísseis balísticos intercontinentais e submarinos com capacidade de lançar mísseis balísticos, e têm a capacidade de destruir todas as forças nucleares de um adversário nuclear com um primeiro ataque. A magnitude da tríada significa que se nada for feito, […] a Rússia e a China – e o resto do mundo – irão viver na sombra de uma supremacia nuclear norte-americana nos anos vindouros.” (Lieber and Press, 43-44)

Assim sendo, como veremos a seguir, apesar da China ter expandido a sua influência política e económica na Ásia, e mesmo fora da Ásia, e até certo ponto começou a desafiar os interesses económicos dos Estados Unidos, não há maneira de a China poder ultrapassar economicamente os Estados Unidos, ou de os ameaçar militarmente. No entanto, os Estados Unidos vão continuar a usar a ‘ameaça chinesa’ para justificar a sua expansão militar nesta região.

Segundo Mito: A China, como um super-poder, irá servir para contrabalançar os Estados Unidos e defender os interesses dos países do Terceiro Mundo e dos seus povos.

A China tem-se comportado como um poder benevolente, afirmando que os seus negócios económicos com os países do Terceiro Mundo se baseiam no mútuo benefício. O que os actuais líderes chineses fazem no estrangeiro é o mesmo que fazem no seu país; fingem que a China ainda é um país socialista e que as suas políticas se baseiam em princípios socialistas. No passado, a política externa da chinesa, como um país socialista, era baseada nos cinco princípios de mútuo benefício e respeito mútuo. A China foi capaz de defender esses princípios porque o desenvolvimento económico socialista não dependia de uma expansão externa. Para além disso, durante o período socialista, a China condenou a sua longa história de domínio imperial sobre os seus vizinhos.

No entanto, desde que a China iniciou a sua reforma capitalista, há uns vinte anos atrás, a relação económica entre a China e outros países passou de uma de mútuo benefício para uma que permita as necessidades chinesas de um rápido crescimento do PIB. Sendo um grande país e uma economia capitalista com crescimento rápido, a China tem de competir pelos recursos naturais, por oportunidades de exportar capital, e por mercados para exportar os seus produtos. Como a China adoptou uma estratégia de crescimento e desenvolvimento capitalista com base na exportação, as suas necessidades de energia e matérias-primas expandiram a um ritmo elevado. Ao usar as exportações como fonte do seu crescimento económico, também tem de competir furiosamente por mercados onde possa vender os seus produtos. Desde os anos 1990, com a aceleração da taxa de crescimento, o consumo de petróleo aumentou 100%, de 1990 até 2001 [3]. Em 2005, o consumo de petróleo da China já tinha ultrapassado o do Japão, tornando-se o segundo maior consumidor de petróleo do mundo, logo a seguir aos Estados Unidos. Até 1992 a China ainda era um país exportador de petróleo, mas a meio dessa década as suas importações de petróleo aumentaram em face da sua taxa de crescimento de exportações superior a 20%. As importações dessa matéria-prima duplicaram em apenas cinco anos, de 1998 a 2003, e aumentaram mais 40% na primeira metade de 2004 (Time Asia, 18 de Outubro, 2004). Em 2005 a China consumiu 300 milhões de toneladas de crude, 123 milhões das quais foram importadas.

De acordo com alguns especialistas, com a actual taxa de consumo, as reservas conhecidas de petróleo da China irão extinguir-se em 14 anos, empurrando a China a iniciar uma procura frenética por petróleo em todo o mundo. De acordo com o relatório da ‘Time Asia’, a China assinou, ou pretende assinar, acordos sobre petróleo/gás com vários países, de forma a manter um fornecimento estável de petróleo e evitar assim comprar tudo a preços mais altos no mercado aberto. Estes países incluem a Indonésia, o Uzbequistão e outros estados ricos em energia na Ásia Central ou mesmo países geograficamente distantes como o Sudão, Equador e Colômbia. Na sua busca por petróleo, a China entrou inevitavelmente em competição com os Estados Unidos e o Japão, e também com a Coreia do Sul e Índia, cujas economias também estão dependentes da importação de petróleo. A China também já vincou a sua intenção de investir na exploração e desenvolvimento noutros países que terão reservas de petróleo. No entanto, ao fazer isso, poderá também entrar em disputas territoriais com outros países. Num caso recente a Corporação Nacional Chinesa de Petróleo Costeiro fez uma parceria com a Companhia Nacional Filipina de Petróleo, para a exploração de petróleo perto das Ilhas Spratly no Mar do Sul da China. A soberania das Ilhas Spratly é, no entanto, disputada há muito pelo Vietname, China, Filipinas e Malásia.

As acções chinesas são como as de um país capitalista em expansão, na sua busca por recursos naturais, oportunidades de investimento e por mercados para vender os seus produtos. Para além de petróleo e outras fontes de energia, a China também importa muitos outros recursos naturais; por exemplo, a China é o maior importador de cobre e também importa grandes quantidades de ferro e madeira de países em vias de desenvolvimento – da Ásia à América Latina e África.

A expansão chinesa no sudeste asiático começou depois da crise asiática de 1997, e sendo um recém-chegado à região, tem estado atarefado com assinaturas de acordos de investimento e de comércio com muitos desses países. No encontro anual de 2004 da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) na capital do Laos, os membros assinaram um acordo de livre comércio com a China, representando uma relação comercial mais próxima. Quer as barreiras tarifárias quer as não tarifárias serão diminuídas neste acordo comercial a 10+1=11. É a maior área do mundo de livre comércio, abrangendo 1,8 mil milhões de pessoas, e possibilitou à China ainda mais oportunidade de expansão de laços comerciais e de investimento com os dez países da ASEAN. Para além do Acordo de Livre Comércio China-ASEAN, a China também tem estado a negociar acordos bilaterais de comércio e económicos com estados do sudeste asiático. No final de 2006, o total negociado entre o sudeste asiático e a China irá provavelmente atingir os 130 mil milhões de dólares [quase 98 mil milhões de euros], que fica próximo dos 150 mil milhões de dólares [quase 113 mil milhões de euros] de comércio entre os EUA e a ASEAN em 2005 (Kurlantzick).

De acordo com notícias de BBC, o comércio entre a China e nações africanas aumentou 39% durante os primeiros 10 meses de 2005 (BBC News, Janeiro de 2006). Em Novembro de 2006, a China organizou um fórum de grande escala em Beijing e assinou 16 acordos comerciais e de investimento no valor de 1,9 mil milhões de dólares [perto de 1,4 mil milhões euros] [4] (Reuters Foundation, Alert Net, 30 de Novembro, 2006). A forte procura chinesa de importação de recursos naturais foi devida ao tremendo volume de produtos manufacturados que exportou nos anos mais recentes. A China está em competição directa com os grandes poderes imperialistas – os EUA, o Japão, e a União Europeia, na aquisição desses recursos naturais.

É verdade que a China expandiu e vai continuar a expandir os seus interesses e influência na Ásia e noutras partes do mundo, causando um aumento de alarmes e fortes reacções dos EUA e do Japão. No entanto, no final de 2004 o investimento acumulado de companhias chinesas na ASEAN foi de apenas 1,17 mil milhões de dólares [cerca de 879 milhões de euros] [5], o que fica atrás dos 85,4 mil milhões de dólares [cerca de 64 mil milhões de euros] investidos pelos EUA nesta região. De acordo com agência noticiosa oficial chinesa, a Xinhua, a China é agora o quarto parceiro comercial da ASEAN, depois dos Estados Unidos, Japão e União Europeia. No entanto, quase 60% das exportações da China para a ASEAN em 2005 foram feitas por multinacionais estrangeiras a operar na China, e grande parte dessas mesmas multinacionais também controlam as exportações da ASEAN para a China. Assim sendo, efectivamente, as relações comerciais mais próximas entre a China e os países do sudeste asiático apenas facilitam o comércio intra-companhia entre as multinacionais globais.

Depois de encetada a reforma capitalista e especialmente desde os anos 1990, a China, como país, tem sido explorada pelos grandes poderes imperialistas. Os muito poucos poderosos na China uniram os seus interesses aos interesses do monopólio global do capital, e em conjunto eles exploraram os trabalhadores e camponeses chineses e esta exploração atingiu níveis insuportáveis hoje em dia. No entanto, a China, como país, também se porta bastante como outros países imperialistas – só que é um país imperialista de um nível muito inferior. Na sua procura por petróleo e recursos naturais, por oportunidades de investimento, e por mercados, a China assinou acordos comerciais, pactos de investimento, e outros tipos de cooperação económica – nenhum deles é ou pode ser baseado em mútuos benefícios. Nós não podemos contar com a China para defender os interesses dos países oprimidos e dos seus povos.

II. Imperialismo dos EUA e a sua hegemonia na Ásia
Os Estados Unidos derrotaram o Japão durante a 2ª Guerra Mundial e como consequência ganharam o domínio da Ásia. Durante a Guerra Fria os Estados Unidos mantiveram o seu domínio sobre a Ásia através de guerras de agressão, primeiro na Coreia e depois no Vietname. A hegemonia dos EUA no mundo está intimamente ligada ao seu domínio sobre a Ásia.
Em 1998, o almirante Joseph W. Prueher, na altura o Comandente-em-Chefe do Comando Norte-Americano do Pacífico, falou perante uma audiência de estudantes na Universidade Fudan, em Xangai. O assunto era ‘A segurança da Ásia-Pacífico e da China’. Prueher disse que os Estados Unidos têm responsabilidade na região que se estende desde a costa da América do Norte até à costa leste de África – uma região que inclui 43 nações. Ele também disse, “Como uma nação do Pacífico, os interesses económicos, políticos e militares dos EUA no Pacífico são diversos e duradouros. Estes interesses guiam o nosso envolvimento permanente e activo na região…” O almirante assegurou que o comércio dos EUA com esta região somava mais de 500 mil milhões de dólares [375 mil milhões de euros] por ano, o que representa aproximadamente 35% do total do comércio dos EUA e o dobro do comércio que os EUA têm com a Europa. Para além disso, ele disse ainda que a Ásia era militarmente importante para os EUA, e cinco dos sete tratados de defesa mútua dos EUA são com países da Ásia-Pacífico. O almirante também quis assegurar à audiência que “os Estados Unidos têm visto o seu domínio sobre a Ásia como permanente e não iriam deixar que alguém o desafiasse.”
Desde o colapso da antiga União Soviética, os Estados Unidos tornaram-se a única super-potência, e têm feito tudo o que está ao seu alcance para manter essa hegemonia. Em 1992, o Plano Guia da Defesa (PGD) foi delineado sob a supervisão de Paul Wolfowitz, que recentemente se tornou o Presidente do Banco Mundial e na altura era Secretário da Defesa de Dick Cheney. O PGD estabelecia a estratégia dos Estados Unidos para manter a sua hegemonia militar em três grandes áreas. Primeira, os EUA prosseguirão uma política que previna que qualquer estado consiga desenvolver capacidades militares equivalentes ou superiores às suas. Segunda, os EUA levarão a cabo ataques preventivos contra estados que desenvolvam novas capacidades militares que possam eventualmente colocar em perigo os Estados Unidos e os seus amigos ou aliados. Estes ataques preventivos são para efectuar antes de haver uma ameaça iminente. A última parte do PGD insiste que os oficiais dos EUA e pessoal militar estão imunes a processos colocados por tribunais internacionais de crimes de guerra (Excertos do PGD, New York Times, 10 de Março, 1992; Monthly Review, Janeiro de 2006). Este esboço quase final do PGD foi passado à imprensa e causou fortes reacções dos aliados dos EUA, porque ele avisava que quer a Alemanha quer o Japão, como potenciais potências militares, poderiam um dia igualar os EUA, e enfatizava que nunca lhes poderia ser permitido fazerem esse desafio.
O PGD não foi aprovado como estratégia militar oficial dos EUA, mas os EUA continuam a encontrar formas de vincar o seu super-poder solitário na era pós Guerra Fria. Durante a campanha de 2000, Condoleezza Rice, como conselheira de George W. Bush [6], escreveu um artigo na revista ‘Foreign Affairs’. O artigo pode-se resumir assim:
Sem uma ameaça soviética, a América encontrou uma extrema dificuldade em definir o seu ‘interesse nacional’. A política externa numa administração do Partido Republicano deve recentrar o país nas suas prioridades chave: construção de um exército capaz de assegurar o poderio americano, enfrentar os regimes desalinhados, e controlar Beijing e Moscovo. Acima de tudo, o próximo presidente tem de estar confortável com o papel especial da América como líder mundial.
Neste artigo Rice explicou que a China poderia desenvolver-se e tornar-se uma potencial ameaça ao domínio dos EUA sobre a Ásia e que os EUA deveriam implementar políticas para conter a China. Depois de George W. Bush ser Presidente, em 2000, e Rice ser a sua Conselheira de Segurança Nacional, ela e outros membros do gabinete passaram a trabalhar na ‘construção de um exército capaz de assegurar o poderio americano’, incluindo uma estratégia para conter a China. Depois, o ataque terrorista aos EUA a 11 de Setembro de 2001 desviou a atenção da administração Bush, que consequentemente declarou uma guerra global ao terrorismo, guerra universal, unilateral, e longa (alguns dizem que como a atenção de Rice estava focada na Ásia, ela não viu os sinais óbvios do ataque iminente). Quando Bush anunciou a sua guerra ao terrorismo, ele indicou o Iraque, Irão, Coreia do Norte, como países que compunham um ‘Eixo do Mal’. Os países do chamado ‘Eixo do Mal’ eram os que Rice apelidava de ‘regimes desalinhados’. Desde logo com a invasão e ocupação do Afeganistão e Iraque, os EUA têm sido capazes de usar os ataques de 11 de Setembro e a sua guerra ao terrorismo para justificar a expansão do militarismo norte-americano por todo o mundo, e marcam qualquer estado soberano que escolhem como alvos do anti-terrorismo.
Após as eleições de 2000, a Casa Branca estava ocupada com as ideias chave que ajudaram a construir o Plano Guia da Defesa de1992; o ataque terrorista de 2001 deu a oportunidade de levar a cabo os principais projectos do PGD. As invasões norte-americanas do Afeganistão em 2001 e do Iraque em 2003 seguiram a linha traçada no PGD de 1992, incluindo os ataques ‘preventivos’ a nações soberanas. Nem o Afeganistão nem o Iraque tinham capacidade militar para desafiar a superioridade militar dos EUA. No entanto, os EUA conseguiram usar a sua hegemonia para perpetuar o mito das “armas de destruição em massa” como uma justificação bem sucedida. Estas invasões, no entanto, criam um precedente importante que revela que os Estados Unidos não vão hesitar em agir unilateralmente com a sua superioridade militar em qualquer país, se entenderem que os seus interesses estão a ser ou podem vir a ser ameaçados de qualquer forma.
Para conseguir aquilo a que o Pentágono chamou ‘Shock and Awe’ [Choque e Horror], os EUA invadiram o Iraque bombardeando em primeiro lugar o país e as suas infraestruturas para mostrar o espantoso poderio militar norte-americano. Durante as duas primeiras semanas da invasão, não se tratou de uma guerra entre duas parte; o Iraque estava indefeso contra as armas de destruição em massa usadas pelos EUA. Agora, a três anos de distância e depois da morte de dezenas de milhares de civis iraquianos, até Tony Blair teve de admitir recentemente que a invasão do Iraque foi um falhanço total.
A Guerra do Iraque colocou a administração Bush na defensiva; não tem saída que não obrigue a admitir a derrota. Como já mencionado, Rice tem viajado por todo o mundo para provar que o império não é nada vulnerável. Ela também conseguiu que a administração Bush focasse a sua atenção na Ásia e reafirmou a estratégia norte-americana de se empenhar num esforço coordenado e sistemático de contenção da China, para evitar que expanda o seu poder e influência. Em Fevereiro de 2006, o Departamento de Defesa dos EUA emitiu o seu Relatório Quadrienal da Defesa. Este relatório nomeou a China, de entre os grandes poderes e os emergentes como tendo o maior potencial para competir militarmente com os Estados Unidos. Depois deste relatório, no início de Março, o Comandante-em-Chefe do Comando Norte-Americano Do Pacífio, almirante William Fallon, testemunhou perante o Comité dos Serviços Armados do Senado e disse que o Relatório Quadrienal da Defesa definiu a estratégia da defesa e a sua postura militar para os próximos 20 anos: ter uma ‘maior’ presença militar no Oceano Pacífico. Mais, os EUA estão a planear fomentar a integração militar com aliados nessa região, de forma a dissuadir os grandes poderes e os poderes emergentes (TMC Net News, 7 de Março, 2006). Isto mostra que os EUA pretendem apontar a China como uma ameaça militar de modo a desenvolverem a sua expansão militar na Ásia, apesar da China não ter nenhuma capacidade militar para se tornar uma ameaça.
A mesma notícia da TMC Net também referia que os Estados Unidos planeiam expandir a sua cooperação militar bilateral com o Japão, e também alargar essa cooperação militar bilateral a um acordo trilateral que inclua a Coreia do Sul. O Japão, claro está, tem sido o mais fiel aliado dos Estados Unidos desde o fim da 2ª Guerra Mundial; o Japão tem confiado nos Estados Unidos para garantir a sua segurança, porque a Constituição japonesa, feita durante a ocupação norte-americana, proíbe o Japão de formar umas forças armadas próprias, para além de uma pequena força de defesa nacional. No entanto, as condições que rodeiam essas restrições têm mudado rapidamente. A função da Força de Auto-Defesa (FAD) japonesa foi redefinida nos últimos anos, com Junichiro Koizumi como Primeiro-Ministro. No seu testemunho, Fallon disse que Koizumi tem demonstrado uma “liderança excepcional” e conduziu as FAD a uma “mudança significativa”. As mudanças incluem o envio de tropas terrestres para o Iraque e ajudar os EUA na sua guerra no Afeganistão, reabastecendo navios até ao Oceano Índico. O almirante Fallon afirmou ainda que o Japão e os Estados Unidos da América acordaram em Outubro de 2005 a criação de operações conjuntas e integradas entre as FAD e as forças militares norte-americanas. Esta integração inclui “equipamento de espionagem, redes de comunicação, sistemas de informação, defesas anti-míssil, guerra submarina, e capacidade anti-minas.” Fallon disse ainda, “Estas acções mostram claramente a vontade e a capacidade do governo do Japão de usar as FAD regionalmente e globalmente, apoiando acções de segurança e operações humanitárias” (TMC Net News, 7 de Março, 2006).
Entretanto, a Coreia do Sul e os Estados Unidos já acordaram, no início de 2006, a chamada ‘flexibilidade estratégica’ em operações militares. O próximo passo é os EUA expandirem as suas integrações militares como o Japão para incluírem a Coreia do Sul numa cooperação trilateral, para que as forças armadas dos EUA que estão na Coreia do Sul possam fazer missões fora da Península Coreana (TMC Net News, 7 de Março, 2006).
Para além da expansão da presença dos EUA na Ásia, a estratégia norte-americana de contenção da China também inclui a criação de alianças com países do Sul da Ásia em geral e com a Índia em particular. Em declarações perante o Sub-Comité da Ásia e Pacífico do Gabinete de Relações Internacionais [nos EUA] em Junho de 2005, Dana Robert Dillon, uma analista política do Centro de Estudos da Ásia, da Fundação Heritage, disse, “Uma das mudanças mais apelativas trazidas com o fim da Guerra Fria é o próspero relacionamento dos EUA com o milhar e meio de milhões de pessoas do Sul da Ásia.” De acordo com Dillon, a Índia é a “maior oportunidade sub-aproveitada da política externa da América.” Ele acrescentou ainda que os Estados Unidos e a Índia partilham duas grandes preocupações: o terrorismo e a emergência da China como uma potência mundial. Deste modo, Dillon sugeriu ao Sub-Comité que como parte da sua estratégia global de conter a crescente influência da China, os Estados Unidos deveriam ajudar a Índia a desenvolver a sua competitividade económica e a sua capacidade militar.
Dillon acrescentou que a renovada cooperação na defesa entre os EUA e a Índia foi o desenvolvimento mais positivo [7]. Agora, os Estados Unidos restauraram toda a cooperação convencional ‘sem contrapartidas’ com a Índia. Os EUA também iniciaram uma cooperação com a Índia relativa ao uso civil do poder nuclear, sob os auspícios do programa Próximos Passos da Parceria Estratégica. Dillon disse também que os Estados Unidos devem continuar a ajudar a Índia a tornar-se um parceiro estratégico amigável e ajudar a Índia a “obter um dissuasor que iniba o aventureirismo chinês na região.”
O imperialismo dos EUA vê o seu domínio sobre a Ásia como um direito seu e não permite que nenhuma outra nação o desafie. Em nome da liberdade e da democracia, os EUA protegem os seus interesses económicos e o poderio militar. Os EUA vêm a Ásia como uma importante parte do seu vasto império, e o seu domínio sobre a Ásia está intimamente ligado à sua hegemonia global. Não tenhamos ilusões que o imperialismo dos EUA se pode de algum modo reformar e modificar. Ele irá comportar-se sempre da forma mais selvagem e bárbara.

III. A Ameaça Real do Militarismo Americano
Depois do final da 2ª Guerra Mundial, os EUA vieram para dominar a Ásia e lançaram duas grandes guerras de agressão na nossa região. Tanto a Guerra da Coreia como a do Vietname foram parte da estratégia global de contenção do comunismo. Em nome da luta contra o comunismo, os EUA usaram a força bruta nas duas guerras de agressão e causaram a morte de milhões de pessoas e uma tremenda destruição à Ásia. O povo heróico da Coreia e do Vietname deu luta à agressão e venceu. Solidariamente, a China ajudou ambos os países a ganharem as suas guerras de libertação.
Os povos da Ásia sofreram guerras de agressão, não apenas nas últimas décadas sob o domínio dos Estados Unidos, mas nos últimos séculos mesmo. Remonta aos dias coloniais. Os poderes ocidentais competiram por um pedaço da Ásia – Inglaterra, França, Alemanha, Espanha, Portugal, Holanda, Estados Unidos da América e outras potências mais pequenas do ocidente, todas embarcaram numa divisão da Ásia para a colonizar, e depois seguiram-se os esforços do Japão para tornar toda a Ásia como parte do seu império. O Japão invadiu a China e outros países asiáticos anos antes de provocar a entrada dos EUA na guerra. Mas as pessoas vulgares na Ásia, incluindo as pessoas japonesas, são como as pessoas de outro lado qualquer no mundo. Elas querem viver em paz, e estão cansadas de todas as guerras que lhes são impostas.
Nós estamos agora no início do século XXI. Por um lado, com o aprofundamento da crise económica capitalista, os poderes imperiais irão competir entre eles com mais vigor, por recursos, oportunidades de investimento, e por mercados. Por outro lado, os EUA expandiram as suas forças militares na Ásia, apontando a China como uma potencial ameaça. A possibilidade de uma outra guerra na Ásia é real, mais uma vez. Nós, é claro, estamos bem familiarizados com o verdadeiro poder destrutivo da máquina militar norte-americana para matar pessoas e destruir países. Ninguém pode subestimar o real poder das armas de destruição maciça que os EUA possuem, e a vontade de as usar sobre pessoas inocentes. Nós, o povo, temos de fazer tudo para evitar que a guerra aconteça. A solidariedade internacional de pessoas amantes da paz é a única forma de derrotar a guerra e pilhagem imperialistas. No entanto, nós também sabemos que apesar de os EUA poderem vir a lançar uma guerra contra a vontade do povo, não poderá nunca conquistar um país através do uso de armas de destruição em massa. Os EUA não conseguiram conquistar o povo da Coreia, nem o povo do Vietname, tal como não consegue conquistar o povo do Iraque. O poder militar, por muito forte que seja, nunca pode conquistar o desejo do povo de ser livre e o seu amor pela paz. O poderio militar dos Estados Unidos, embora seja um verdadeiro e perigoso tigre, é também um tigre de papel, e não terá outra saída que não seja a rendição perante o verdadeiro poder do povo.
Apresentação feita pela Prof. Pao-yu Ching na Conferência Internacional da Rede de Investigação da Ásia-Pacífico sobre “Militarismo dos EUA & ‘guerra ao terrorismo’ na Região da Ásia-Pacífico”, que decorreu em Cebu, Filipinas, em Dezembro de 2006.

Referênciass
[1] Forney, Mathew, China's Quest for Oil, Asian Times, 18 de Outubro, 2004
[2] Dillon, Dana Robert, Senior Policy Analyst, Asian Studies Center, The Heritage Foundation, Hearing on: "The United States and South Asia," Testimony before the House International Relations Subcommittee on Asia and the Pacific, 14 de Junho, 2005
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[5] Marquardt, Erich, Power and Interest News Report, 8 de Setembro, 2003
[6] Prueher, Joseph W., Command in Chief, US Pacific Command, "Asia-Pacific Security and China, a U. S. Pacific Command Perspective, Remarks prepared for delivery at Fudan University, Shanghai, China, 13 de Novembro, 1998.
[7] Rice, Condoleezza, "Campaign 2000: Promoting the National Interest," Foreign Affairs, Janeiro/Fevereiro 2000
http://investigandoonovoimperialismo.blogs.sapo.pt/15565.html