domingo, dezembro 31, 2006

E agora, um momento de fruição 2




Steve Vai - Tender Surrender

Agora que estamos a poucas horas disto tudo mudar para ficar tudo igual...não é grave dedicarmos uns momentos a uma “rendição carinhosa” do mais importante discípulo do mestre Zappa. Vejamos esta perfomance única.

Os Homens e Deus

Quando os homens inventaram Deus, fizeram-no à sua imagem e semelhança, com os defeitos potenciados pelo medo e ignorância, cruel como os tempos rudes da infância da humanidade onde a sobrevivência era dura e dominavam os instintos primários.Não podiam, pois, os trogloditas fazer obra asseada, mas ainda assim criaram deuses que tinham a beleza, a graça e o amor como paradigma. Foi o monoteísmo a inventar o Deus apocalíptico, cruel, vingativo e único, que persegue os homólogos e a combate a concorrência a ferro e o fogo.Foi deste déspota pouco recomendável que se apoderaram os clérigos organizando uma batalha sem tréguas para exercerem o poder e manobrar os crentes. Hoje são legiões de funcionários de Deus que exibem vestes talares, angariam crentes, fanatizam povos e põem a humanidade de joelhos e de rastos.Inventaram a Tora e fizeram plágios para diversificar o produto e terem pretexto para se guerrearem, perseguirem e matarem. Das religiões monoteístas é difícil escolher a pior. Apenas se moderam pela laicidade do Estado e secularização das sociedades.
Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/

Sobre o Anarquismo




Sobre o Anarquismo em 47 segundos

Comemorações...

Paradoxalmente, a comemoração, no passado dia 27 de Janeiro, do 60º aniversário da libertação pelo Exército Vermelho dos últimos prisioneiros de Auschwitz, mobilizou mais os governantes e os media do que a comemoração do 50º aniversário. Terá isso acontecido por haver hoje a consciência de que após o desaparecimento das derradeiras testemunhas da Shoah, e por isso da memória viva do horror, não existirá mais ninguém para certificar de viva voz coisas como estas: «Vi as câmaras de gás exterminar os judeus aos milhares, todos os dias, e os crematórios chegarem ao rubro por reduzirem tantos corpos a cinzas»? Ou ter-se­‑á manifestado nisso a vontade de dar uma resposta firme e maciça ao aumento das violências anti-semitas, em França e em vários outros países europeus?

Desgraçadamente, de boas intenções está o inferno cheio. A cobertura mediática das cerimónias e a multiplicação – mais ainda do que nos aniversários do desembarque aliado na Normandia e da libertação de Paris – de programas especiais de rádio e televisão acabaram por provocar sentimentos contraditórios. Por um lado, uma irresistível empatia para com os derradeiros sobreviventes dos massacres nazis, frágeis silhuetas de octogenários embrulhados em mantas para resistir ao frio intenso de Birkenau; por outro lado, o amargor perante aquele “demasiado cheio e demasiado vazio” duma encenação hollywoodiana, cujos símbolos passaram por cima da mensagem... Como escreveu Jean Baudrillard, «a comemoração opõe-se à memória: faz-se em tempo real e, desse modo, o acontecimento torna-se cada vez menos real e histórico, cada vez mais irreal e mítico...» [1]

Nem os alunos do secundário escaparam a esse fenómeno. A historiadora Annette Wieviorka [2] explicou perfeitamente o «sentimento de saturação» então ocorrido: «Passam a vida a pregar lições de moral, e isso entedia os alunos. Se Auschwitz, em vez disso, for encarado como algo que continua a interrogar-nos, uma tal exasperação desaparece. É preciso deixar de substituir a reflexão pelo moralismo». Acrescentando: «Ficamos de consciência tranquila, quando deveríamos inquietar­‑nos com o mundo que fizemos, um mundo onde muitos jovens vivem em condições deploráveis. Que significado têm as nossas lições sobre a República, a integração ou o anti­‑racismo, quando eles se vêem obrigados a suportar a exclusão e as discriminações associadas às suas origens?» [3].

Reflectir, é esta de facto a grande questão. Ora, numa tal emulação dos canais televisivos, hertzianos e por cabo, onde o melhor andou de permeio com o pior, a emoção, globalmente, preponderou sobre a razão [4]. Que canais convidaram os historiadores a debater o assunto, atribuindo-lhes o tempo necessário? Quais foram os que situaram o genocídio na estratégia do Reich nazi? Quais os que evocaram as outras vítimas desse regime? Quais foram os que se interessaram pela resistência ao nazismo, até nos próprios campos da morte? Quais foram os que situaram o genocídio dos judeus na longa cadeia de genocídios que a história assinala, particularmente no século XX – antes e depois da Shoah, do Camboja ao Ruanda?

Presos aos seus hábitos, alguns comentadores, ao falarem do nazismo, reciclaram com abundância os adjectivos que bem revelam a sua recusa de compreender, referindo-o como “louco”, “incompreensível”, “ininteligível”... Claro que ninguém nega a vertigem que de nós se apodera ao pensarmos nos milhões de homens, mulheres e crianças aniquilados por terem nascido judeus. Mesmo quando o III Reich já fraquejava, sob os ataques do Exército Vermelho e dos anglo-americanos, os esbirros de Adolf Eichmann ainda continuavam a fazer rusgas, detendo, numa ilha grega ou num hospital psiquiátrico do gueto de Veneza, judeus destinados à deportação, sem falar dos húngaros mortos pelo gás no Verão de 1944, quando Paris já começava a respirar o ar da liberdade reconquistada.

Mas deverá essa vertigem impedir-nos de reflectir? Os homens podem compreender aquilo que os homens fizeram. Vítimas dum genocídio sem precedentes – porque, como escreve o historiador alemão Eberhard Jäckel, «nunca antes um Estado decidira e anunciara, sob a autoridade do seu responsável supremo, que um determinado grupo humano devia ser exterminado, se possível na sua totalidade (...), decisão essa que o referido Estado aplicou depois com todos os meios à sua disposição» [5] –, os judeus não foram os únicos alvos do genocídio nazi.

Com efeito, o III Reich, ao tornar-se dono e senhor de uma Alemanha esquecida aquando da “distribuição” das colónias, lançou-se, após a sua vitória fulminante a Oeste, numa cruzada contra o “bolchevismo judaico” destinada a conquistar o seu Lebensraum (espaço vital) na Europa Central e Oriental. O seu objectivo consistia, simultaneamente, em povoar essas terras com “alemães de origem” até então dispersos e em eliminar nesses territórios – por motivos demográficos e raciais – dezenas de milhões de Untermenschen, os sub­‑homens judeus, ciganos, doentes mentais e deficientes, sem esquecer as elites eslavas da Polónia e da União Soviética... O caos assim provocado, em plena fuga para a frente na guerra, contribuiu amplamente para radicalizar o genocídio desde há muito desejado por Hitler. Estas são algumas das pistas, entre muitas outras, com base nas quais os historiadores – tanto israelitas como franceses ou alemães [6] –, apoiados em novos arquivos, continuam a procurar a verdade...

Principais vítimas do extermínio nazi, os judeus, naturalmente, cultivaram a sua própria memória, cuja legitimidade é evidente. Não só têm o direito de gravar para sempre o medonho apogeu das perseguições que ao longo dos séculos marcaram a sua existência na Europa, como isso é também o seu dever. No entanto, supondo que a memória judaica da Shoah possa afastar os perigos que a ameaçam, da instrumentalização à sacralização, a verdade é que por si só ela não poderá proteger-se do esquecimento, o qual representaria uma dupla tragédia: para as vítimas, que seriam assassinadas uma segunda vez; e para toda a humanidade, que esse martírio adverte contra aquilo de que os humanos são capazes. A lembrança do holocausto nazi só se inscreverá a longo prazo na memória colectiva quando a maioria das pessoas se apropriar dos seus ensinamentos. Longe das tiradas líricas ou dos discursos dogmáticos, é urgente associar unicidade e universalidade, ensinamentos judeus e universais.

«Se quisermos extrair uma “lição” do Holocausto», escreve o historiador britânico Ian Kershaw, autor de uma gigantesca biografia de Adolf Hitler [7], «creio ser indispensável admitirmos – embora reconhecendo o seu carácter único na História, no sentido em que não tem precedentes – que o nosso mundo não se encontra definitivamente ao abrigo de atrocidades semelhantes (...). Já não se trata de pretender “explicar” o Holocausto apenas pela história judaica ou pelas relações entre judeus e alemães, trata-se de tentar compreender a patologia dos Estados modernos, de nos interrogarmos a respeito da “civilização”, dessa ligeira camada de verniz que reveste as sociedades industriais avançadas» [8].

Se a rádio e a televisão tivessem falado dessas grandes questões aos alunos do ensino secundário, é bem provável que alguns não se tivessem comportado tão mal como dizem os professores, proferindo palavras escandalosas e manifestando comportamentos indecentes... Mas para isso teria sido necessário confrontá­‑los, não apenas com os horrores do passado, mas também com as graves questões que o genocídio levanta no presente e para o futuro. O conflito de gerações não explica tudo, tal como o “elogio da juventude” não vale mais do que o “elogio da velhice”. Porém, como não nos espantarmos com a surpresa dos docentes perante o comportamento de alguns alunos levados a Auschwitz? Que reacções se poderiam esperar de jovens de 15 anos colocados, por vezes sem a menor preparação, face a face com a barbárie? A pedagogia, tal como a comemoração, alimenta­‑se e renova-se com a história viva.

Segundo um excelente historiador, que infelizmente durante algum tempo de transformou num panfletário sob pseudónimo [9], uma espécie de acne anti-semita torna quase impossível o ensino do genocídio nazi. Mas esta visão simplista não resiste a uma investigação séria [10]. Em todo o caso, o lugar legítimo da Shoah nos programas escolares e nos media contrasta com a pouca importância atribuída aos sofrimentos dos povos colonizados, chegando isso por vezes a suscitar reacções inaceitáveis. Em vez de lhes replicarem com exclusões, porque não tentam os responsáveis fazer-se compreender pelos adolescentes, árabes e não árabes? Aquilo que a França fez na Argélia, de 1830 a 1962, não pode ser classificado como genocídio e não poderá ser comparado com a Shoah. Mas será ilícito sublinhar que tanto num caso como no outro o que acima de tudo está em causa é a ignóbil concepção da superioridade de uma raça relativamente às outras? Será escandaloso afirmar que o genocídio nazi diz respeito aos jovens árabes, tal como a Guerra da Argélia diz respeito aos jovens judeus? Obviamente, não; depressa o poderá verificar quem quer que se desloque regularmente aos bairros onde estes jovens vivem e dialogue com eles.

Perante os isolamentos comunitaristas, as manobras de divisão e as manipulações políticas, há apenas um caminho, escarpado mas seguro, por se alicerçar em valores universais: sair da tribo, subir ao cimo das escarpas e lutar ali em conjunto, contra o esquecimento, contra as violências anti-semitas e racistas. Haverá melhor maneira de comemorar a libertação de Auschwitz? Como se, dizia Jacques Derrida, «o “isso” de “isso nunca mais”» estivesse «não só perto de nós, mas à nossa frente»...

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[1] Libération, 17 de Fevereiro de 2005.
[2] Autora do excelente Auschwitz, soixante ans après, Robert Laffont, Paris, 2005.
[3] Le Monde, 26 de Janeiro de 2005.
[4] Sem esquecer a obscenidade, como, no dia 25 de Janeiro, este grande título do Le Figaro: “PPDA pousse les portes d’Auschwitz”... [“PPDA abre as portas de Auschwitz”; Patrick Poivre-d’Arvor é apresentador­‑vedeta de um telejornal]
[5] Die Zeit, Hamburgo, 3 de Outubro de 1986.
[6] Ler Les historiens allemands relisent la Shoah, Complexe, Bruxelas, 2002.
[7] Cf. Dominique Vidal, Hitler et le nazisme, Le Monde diplomatique, Dezembro de 2000.
[8] Qu’est-ce que le nazisme? Problèmes et perspectives d’interprétation, Gallimard, col. Folio, Paris, 1997.
[9] Emmanuel Brenner, Les Territoires perdus de la République, Mille et une nuits, Paris, 2002.
[10] Cf. Benoît Falaise, Peut-on encore enseigner la Shoah? [ed. brasileira: Como ensinar o Holocausto hoje na França?],

Dominique Vidal
Le Monde diplomatique
http://www.infoalternativa.org/memoria/memoria006.htm

O Retorno à Estratégia da Desqualificação e Proletarização da Docência

Quando se passa os olhos um pouco mais do que superficialmente pelas obras que abordam o estatuto sócio-profissional dos professores no século XX (António Nóvoa, Áurea Adão, João Barroso, etc), verifica-se uma quase completa unanimidade quanto à caracterização da estratégia desenvolvida pelo Estado Novo desde os anos 30 em relação à docência, e em particular à primária.
Essa estratégia passou pelo esvaziamento académico de grande parte da sua formação inicial (chegaram a estar fechadas 6 anos as Escolas Normais, depois chamadas do Magistério Primário, até serem reformulados os seus planos de estudos), pelo controle ideológico do exercício da função e pela proletarização da classe em termos de remuneração. A contrapartida era um investimento simbólico da retórica salazarista na figura do(a) professor(a), mas a verdade é que os docentes, com excepção dos “titulares” (lá encontramos esse termo malandro) de cadeiras do Ensino Liceal, viram fortemente condicionada a sua remuneração material, sempre em nome da ditadura orçamental e do interesse da Nação.
Por estranho que isso pareça, setenta anos depois, verificamos um movimento do poder político em relação à classe docente, agora como um todo para o ensino não-superior, que tem traços estranhamente (atendendo à diversidade de regimes políticos) semelhantes aos dos primórdios do salazarismo.
Muitas das propostas recentes do Ministério da Educação, apesar de recobertas com o manto do discurso meritocrático e alguns laivos de liberalismo, mais não passam do que formas bastante firmes de controle do acesso à profissão (a ideia das “Provas Públicas” tem uma origem histórica no mesmo período), de limitação da autonomia do seu exercício (há medidas draconianas em termos de redução de direitos onde os paralelismos ultrapassam as coincidências), de um exacerbado centralismo ministerial (a estratégia de contacto directo com os CE’s, sem mediações, é o contrário de uma descentralização) e, por fim mas não por último, de uma investida contra as condições salariais da docência.
Se o corte abrupto do acesso às duas categorias melhor remuneradas da carreira não bastasse, a tentativa de criar a sensação de um excesso de professores que é necessária requalificar e alocar a outras funções também envereda pelo mesmo caminho. Mas o que parece mais chocante é que num cenário que se afirma de excesso de docentes integrados na carreira, se considere necessário abrir a porta para a entrada na função, que não na carreira, de novos docentes para suprimento de carências de diversos tipos com base em vínculos laborais dos mais precários e daqueles que o Estado levou anos a dizer que queria erradicar da Função Pública.
Pois é, os famosos “recibos verdes” parecem estar de volta, com a chancela do ME, para serem aplicados a um lumpenproletariat docente, que assim se vê perfeitamente vulnerabilizado e proletarizado, caso queira ter um lugar de substituição de uma docente grávida, de um docente com uma doença prolongada ou que se ache útil para um qualquer projecto escolar considerado prioritário pelos órgãos de gestão das escolas.
Não deixa de ser curioso que num momento em que se arvora o mérito como argumento, se admita a possibilidade do recrutamento ad hoc, sem qualquer critério objectivo, e que quando se afirma que a estabilidade do corpo docente é um factor essencial para o sucesso dos projectos educativos das escolas se admita que parte do pessoal seja contratado entre aqueles que estão fora da carreira e assim ficarão, enquanto meros “prestadores de serviços”.
Eu percebo os argumentos da chamada “agilização” dos procedimentos para conseguir rapidamente um professor substituto para uma situação de carência ou alguém que possa assegurar um lugar para o qual não existem quadros nas escolas. Não é isso que está em causa.
O que está em causa é que os procedimentos previstos, pela sua precariedade, só serão atractivos mesmo para quem não tenha mesmo mais nenhuma alternativa profissional. Para além de ser mais do que óbvio que se pretende obter mão-de-obra barata e sem perspectivas de qualquer progressão.
E esta é uma estratégia de proletarização do trabalho docente como não se via por estas bandas lusas deste o tempo do outro senhor que também gostava muito de equilibrar orçamentos e falar no interesse de Portugal acima dos interesses individuais, como se o interesse nacional fosse uma abstracção, ou algo monopolizado apenas pelas elites no poder, e não o conjunto coerente de todos os interesses individuais dos cidadãos.
A tutela clama contra o clima de desconfiança com que são recebidas actualmente todas as propostas que apresenta. Mas, vamos lá ser sérios e olhar para o passado recente, que capital de confiança dispõe actualmente o Ministério perante a generalidade dos docentes e dos seus representantes?
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O referendo e a IVG

O referendo que aí vem não se destina a aprovar a IVG, pretende apenas descriminalizar o acto. A eventual vitória do SIM não incentiva ou promove o recurso à IVG, apenas modifica a lei, a fim de evitar que as mulheres sejam empurradas para a clandestinidade do vão de escada, com risco da própria vida e de perseguições policiais.Ninguém encara levianamente um problema cujas repercussões físicas, e psicológicas são especialmente gravosas para quem vive o desespero de uma gravidez indesejada ou impossível.Curiosamente são sempre as portuguesas pobres que se sujeitam ao vexame dos exames ginecológicos impostos, que vêem a sua vida íntima devassada, que suportam a desonra do julgamento e conhecem as agruras do cárcere. As ricas resolvem o problema e os pruridos éticos no intervalo das compras em Badajoz ou Londres.O que está em causa não é a posição ética sobre a interrupção voluntária da gravidez, até às dez semanas, é saber quem renuncia, ou não, à perseguição das mulheres, quem quer vê-las na cadeia, quem pretende juntar ao trauma da IVG a punição da enxovia. O divórcio era proibido há trinta anos, Camilo esteve preso por adultério e, no entanto, as sociedades modernas souberam distinguir o crime do pecado, o direito canónico do Código Penal e separar as convicções pessoais do ordenamento jurídico.No dia do referendo vou votar SIM. Para que o aborto clandestino deixe de ser a chaga actual. Para que se resolva um problema que aflige milhares de mulheres. Para que as pobres não sejam ainda mais infelizes. Para que nenhuma mulher seja presa pela minha incúria em abster-me. Para não sentir vergonha quando souber que a mulher que se ia esvaindo em sangue acabou a fazer a convalescença na prisão.

Carlos Esperança
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PORTUGAL INTEGRA-SE MAIS NO ESPAÇO SCHENGEN

A obsessão pelo controle dos cidadãos é característica do chamado Espaço Schengen. Nele, a electrónica põe-se ao serviço das polícias europeias e para isso foi concebido o Cartão do cidadão , dotado de chip. Poucos países europeus aderiram ao dito cartão, mas aqui essa foi uma das prioridades estratégicas escolhidas pelo governo Sócrates. Trata-se de um negócio de vulto, pois as maiores empresas de informática do mundo estão envolvidas em tal projecto. Seria interessante saber quanto vai custar ele para Portugal e depois comparar esse valor com o benefício de substituir cinco cartões já existentes (BI, contribuinte, Seg. Social, Serv. Nac. de Saúde e de eleitor) por apenas um. Mas, seja comor for, pode-se suspeitar que este benefício seja o engodo destinado a obter a colaboração dos cidadãos sujeitos a controle.

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Olho por olho

A execução de Saddam Hussein acrescenta violência à violência. A vida do ditador era indispensável para que a sua crueldade não passasse à história tão depressa.
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A execução de Saddam

Os ateus repudiam a pena de morte.
A crueldade é apanágio dos crentes.

Carlos Esperança
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Foucauld e Chomsky debatem o poder e o funcionamento das nossas sociedades




Dois importantes pensadores do nosso tempo debatem no vídeo seguinte como a sociedade capitalista funciona e como o poder se exerce e se reproduz, mantendo a dominação social.
Curiosa e importante é a maneira como os dois abordam a questão do poder. Para um o poder está centralizado, para o outro o poder é difuso. Mas ambos questionam a legitmidade desse mesmo poder.

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Educação. Um caminho diferente.

O caminho que eu gostava de ver trilhar a nossa Educação é substancialmente diferente daquele que os nossos governantes têm vindo a modelar.
Não tendo a inocência de pensar que num futuro próximo o rumo mude, aponto aqui algumas das características que gostava de ver assomar no nosso sistema Educativo. Assumo que as opiniões que expresso visam o segmento das escolas básicas dos 2º e 3º ciclos, pois são aquelas que melhor conheço.
Em primeiro lugar penso que só uma sociedade que seja governada com preocupações fundas com a justiça social pode constituir-se como contexto alargado e estruturante de um sistema educativo também ele preocupado com a equidade. Uma divisa "Por uma Escola Pública de Qualidade para Todos" é aquilo que definiria globalmente um sistema educativo preocupado com todos e com a qualidade do serviço público prestado a todos. As leis básicas que temos de que destaco a Constituição da República e a Lei de Bases do sistema Educativo constituem ainda, para já, um fundo legal positivo. Pena que sejam tantas e tão grosseiras as vezes em que são incumpridas na prática, as suas indicações.
Algumas medidas de base, que se constituem como condições necessárias à melhoria da qualidade e equidade da Educação prestada e à possibilidade de permitir um combate efectivo e não virtual ou retórico ao abandono e insucesso escolares:
Do ponto de vista das condições de base salientaria:
-redimensionamento da rede escolar no sentido de :
-construção/reconstrução de escolas dotando-as de infra-estruturas adequadas;
-efectivação em todas as escolas do horário normal;
-escolas de dimensão humana (não mais de 500 alunos);
-turmas não ultrapassando 20 alunos;
-dotação de recursos humanos (professores, auxiliares e outros) adequados
em qualidade e quantidade;
(subentendo acabar com a treta dos "ajuntamentos")
-gratuitidade da frequência escolar, das refeições, assim como dos materiais escolares para todos os alunos;
-reforço das medidas de apoio social escolar para os alunos carecidos;
-dotação de equipas de serviços de apoio educativo e assistentes sociais nas escolas;
-reforço dos apoios educativos suplementares aos alunos em dificuldade;
-actividades extracurriculares facultativas para além do horário normal.
Do ponto de vista dos resultados educativos a conseguir com os alunos salientaria:
-Revisão dos programas disciplinares, com a participação efectiva dos professores e com uma preocupação grande com:
- a sua exequibilidade, apontando para níveis de exigência adequados (mínimos e de
desenvolvimento) a obter em cada ano do respectivo currículo em cada disciplina;
- a sua articulação interdisciplinares existente ao nível dos próprios programas;
-Diminuição do número de "falsas" disciplinas que diminuem a carga lectiva de algumas disciplinas para valores pedagogicamente incomportáveis;
-Disponibilização em larga escala de materiais pedagógicos e de avaliação aos professores, usando, designadamente, a internet e centros de recursos;
-Realização de provas globais nos finais de cada ciclo de ensino, com características adaptadas a cada uma das disciplinas a avaliar e que conjuntamente com a avaliação contínua possa fazer um juízo efectivo e fiável dos conhecimentos e competências adquiridos pelos alunos;
-Todos os alunos diagnosticados em risco pela não aquisição dos conhecimentos e competências mínimos num determinado período, serão efectivamente alvo de um plano de recuperação, que incluirá todas as medidas previstas como necessárias;
-A repetência estará reservada para os alunos que comprovadamente não se esforcem no estudo, apesar de todos os apoios que lhe sejam concedidos;
-Para os alunos que tenham grandes dificuldades de aprendizagem apesar dos apoios concedidos serão feitas as adaptações curriculares necessárias, evitando-se sempre que possivel a figura da reprovação. (Assumindo que as condições de ensino dos professores e de aprendizagem dos alunos, atrás expostas, permitem este apoio efectivo aos alunos);
-Avaliação das escolas e de todos os seus órgãos de funcionamento dentro de prazos temporais adequados, no sentido de realçar pontos fortes e apontar pontos fracos a melhorar;
-Avaliação dos profissionais que trabalham na escola, com relevo para os professores, num sentido de melhorar as suas competências, num sentido eminentemente formativo. Os professores devem ter claros os seus deveres profissionais que configuram o seu conteúdo funcional. Não se pretende com a avaliação, principalmente, diferenciar professores, mas contribuir para a melhoria de todos e, concomitantemente, da Educação nas escolas. A avaliação dos professores deveria desenvolver-se na sequência dos processos formativos atrás mencionados, onde foram detectados pontos fortes a desenvolver e pontos menos fortes ou fracos a melhorar. Professores com incumprimentos dos seus deveres profissionais, devidamente comprovados, deverão ser punidos. Professores com práticas excepcionalmente positivas deverão ser premiados, por exemplo, com progressão mais rápida na carreira, acesso a licenças sabáticas, etc. A profissão de professor é horizontal por natureza, impôr-lhe artificialmente categorias diferenciadas é contribuir para criar um ambiente desfavorável à colaboração verdadeira nas escolas;
-A colegialidade real deve ser incentivada de forma a que a partilha, a colaboração, e o trabalho de equipa sejam uma realidade nas escolas.
-Aperfeiçoamento do sistema de Formação Continua dos professores num sentido que a subordine às reais necessidades e dificuldades das escolas e dos professores.
Para que tudo isto se pudesse efectivar era necessário, com carácter urgente, um investimento grande na Educação. Investimento efectivo e não retórico. Há várias destas medidas que exigem bastante dinheiro. Provavelmente o orçamento per capita para a educação em Portugal teria de se aproximar bastante do orçamento respectivo finlandês. Afinal seria normal: eles são os nossos ídolos nessa área. Para obter os meios financeiros necessários vejo a necessidade de fazer uma grande reforma fiscal. Há muitos portugueses e empresas a funcionar em Portugal, muito lucrativas, que pagam poucos ou nenhuns impostos. Tal não pode continuar. O dinheiro que foge com os benefícios fiscais, a fuga ao fisco e a economia paralela atinge níveis descomunais. Uma parte dela, repito, uma parte dela, seria necessária para financiar não só a Educação mas também a Saúde pública dos portugueses. Nos últimos tempos a tónica tem sido posta na poupança nas despesas públicas. A parte dos rendimentos do trabalho, cada vez menores em relação aos rendimentos do capital, têm sido taxados sem hipótese de fuga. Sem deixar de ser rigoroso com a despesa pública é mais que tempo de olhar para as receitas possiveis no privado. Haja verdadeira coragem política.
http://edutica.blogspot.com/

Vítimas do clericalismo contemporâneo(2): Itália

Em Itália, o juiz Luigi Tosti foi condenado, em dezembro de 2005, a uma pena de prisão (suspensa) de sete meses, e à suspensão de funções durante um ano, sem remuneração. O seu crime? Ter-se recusado a presidir a uma audiência numa sala de tribunal decorada com um crucifixo. Um ano depois, o Conselho Superior de Magistratura afirma que, considerada a laicidade do Estado italiano, o acto «criminoso» do juiz Tosti foi plenamente justificado pela Constituição italiana (que revoga a circular fascista que mandara colocar os crucifixos).

Ouçamos o comentário deste juiz livre pensador: «se a motivação do Conselho Superior de Magistratura me reconforta e reconcilia com a Justiça italiana, não me reconforta de todo constatar que o único juiz que teve, em Itália, a coragem e a determinação de se recusar a pisar a seus pés a Constituição e de defender os direitos à liberdade religiosa e à não-discriminação religiosa de todos os cidadãos italianos e, em particular, dos não católicos e dos não crentes, tenha sido condenado, como um criminoso, a sete meses de prisão e tenha sido afastado da Magistratura com ignomínia».

Embora esta resolução páre os procedimentos disciplinares, não tem consequências sobre os procedimentos judiciais. Para defender a sua liberdade de consciência (e a de todos nós...), o juiz Tosti poderá ter que levar o seu caso até ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

Ricardo Alves
http://www.ateismo.net/diario/

Vítimas do clericalismo contemporâneo(1): Espanha

Os professores da escola Hilarion Gimeno, de Saragoça, construíram um saite na inter-rede para combater a «manipulação jornalística» e as «mentiras» transmitidas pela imprensa clerical (em Portugal, o Público reproduziu unicamente as «informações» do lado cristão da polémica). Insistem em repor a verdade sobre a «não celebração» do «festival de natal»: não estava previsto no plano de activividades anual; não tem nada que ver com religião; o local não oferece condições de segurança e o ano passado houve pais que não conseguiram entrar (exiguidade das instalações); foram os encarregados de educação que votaram contra a realização de uma festa alternativa ou de troca de prendas... Protestam ainda contra o aproveitamento político-mediático da situação, e testemunham que se celebrou o natal nas aulas(!). Reafirmam que nunca invocaram o laicismo, mas apenas «razões pedagógicas». Nada disto interessará aos colaboradores do Público que tomaram como verdadeiras pseudo-informações deliberadamente parciais e incompletas.

A directora da escola de Las Lagunas, em Mijas (Málaga), será levada a tribunal por ter retirado de uma sala de aula um presépio de cartolina. É acusada de «maus tratos psíquicos e ofensa ao sentimento religioso», e foi pedida contra ela uma «ordem de afastamento», para que não se possa aproximar de algum «crente de menor idade»(!). A Junta da Andaluzia apoia a professora, e argumenta que o presépio se encontrava «num local desadequado» sem «consulta nem autorização» do conselho escolar. As religiões, como sabemos, jamais ofenderam seja quem for: nem os ateus, nem as mulheres, nem as minorias sexuais...
Ricardo Alves
http://www.ateismo.net/diario/

Nem + nem - revolucionários que os tempos que correm...

Sob o pano de fundo da crise, o Estado, o patronato português, as multinacionais aqui instaladas, isto e aquilo, têm conseguido impor um medo crescente nos locais de trabalho, utilizando a precariedade e o desemprego para enfraquecer e destruir as resistências dos trabalhadores, numa reinvenção da velhinha exploração.Não é um problema apenas desta ou daquela empresa ou região - para poder estar assim, à disposição do capital, o medo tem de estar em todo o lado. A perseguição aos imigrantes, a privatização da saúde, os despejos nos bairros pobres, a violência policial, as prisões lotadas, a condenação de mulheres que abortaram ou a redução da escola à aprendizagem do trabalho, da disciplina e da competitividade, são algumas das suas faces visíveis. Em todas as suas formas, o medo é fundamental na constituição de uma força de trabalho domesticada e barata e que se contente com o seu direito a ser explorada.Da parte que nos toca, as derrotas acumuladas e os recuos constantes têm tornado as exigências e reivindicações cada vez mais “dialogantes e responsáveis” até ao ponto de deixarem de ser exigências ou reivindicações e passarem a ser uma oportunidade para o paternalismo empresarial/governamental estender a mão ao oportunismo sindical, em torno da miragem de “mais e melhor emprego de qualidade”.O isolamento e legalismo das lutas, as derrotas perante uma correlação de forças altamente desfavorável, a insuficiente solidariedade que as envolve, são outros tantos sintomas do medo e outras tantas causas para o estado a que isto chegou.Ricos e poderosos tratam dos seus negócios à bruta enquanto as estratégias de luta se tornam cada vez mais defensivas e expectantes.Passar o medo para o campo do adversário exige abandonar a defesa e passar ao ataque. Contra o presente estado de coisas, toda a inteligência será pouca.Inteligência para comunicar e organizar, bloquear e sabotar, ferir o poder dos poderosos. Inteligência que nos deve relembrar outros tempos, convocados pelo simbolismo da data.Não tenhamos dúvidas: quando, no confronto com o poder, ignorando os apelos ao realismo, ao espírito de sacrifício e à passividade, tudo aquilo que realmente importa foi conquistado à bruta.
http://precariedaderevolucionaria.blogspot.com/

sábado, dezembro 30, 2006

Morte de Saddam?

Com certeza repararam que as imagens sobre o enforcamento de Saddam Hussein não incluíam a execução. Foi uma medida infeliz das autoridades do Iraque pois como consequência surgiram várias hipóteses de que realmente sucedeu e que se quis esconder.Escolhi para divulgar, três hipóteses que são aceites como as mais credíveis :1ª - Muito popular entre os sunitas: " Pouco antes da execução surgiu um homem de roupas brancas das qual saiam raios de luz que iluminava toda a sala. Eu sou Maomé e este homem que querem enforcar é meu descendente! Aquele que entre vós que ainda não participou num atentado que execute o Saddam! Os homens começaram a resmungar entre si, ainda descrentes, fincando o pé na sala de execução. Foi então que Maomé escreveu com uma caneta na parede os nomes das pessoas e as datas dos atentados e assim foram saindo um a um da sala. Tendo saído todos Maomé pegou em Saddam e voou em direcção ao céu. " Embora o mundo ocidental possa estranhar esta versão, Maomé é muito popular nesta região onde aparece frequentemente em festas onde costuma transformar vinho em sumo de laranja.2ª - Esta versão já é mais popular no mundo ocidental onde as pessoas são ávidas consumidoras de filmes de fantasia: " conta-se que Saddam mesmo antes de ser executado fez um último pedido à sua fada madrinha. Minha fada madrinha, eu prometo não matar mais ninguém se me colocares no corpo de outro ditador totalmente sem escrúpulos . Apenas mandarei espancar, corromperei, ou disponibilizarei os serviços de prostitutas como medidas menos legais. Nisto, um monte de estrelinhas reluzentes envolvem o corpo de Saddam !Pinto da Costa seria executado às 3 horas da manhã. Saddam está-se a ambientar muito bem às suas novas funções. Ninguém notou qualquer diferença. " Adeptos do F.C.Porto poderão ficar revoltados com esta versão mas ninguém sabe que vida levaria Saddam se ele fosse Português. Talvez ele fosse uma versão mais soft de ditador maléfico.3ª - A última versão é de que Saddam morreu mas ninguém parece acreditar nisso.

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Notícias frescas

No próximo ano, os portugueses vão pagar mais pela electricidade, transportes públicos, taxas moderadoras na saúde, combustíveis e tabaco. E agora as más notícias ...O líder do tribunal, o juiz Aref Abdul Razzaq al Shahin , disse durante uma entrevista colectiva hoje em Bagdad que a sentença de morte contra Saddam deverá ser executada no prazo de 30 dias.No entanto isto não é nada que perturbe Sadam já que ele pediu como ultimo desejo ver o último episódio de morangos com açúcar o que lhe dará pelo menos mais uns sessenta anos extra.O primeiro-ministro, José Sócrates, sustentou esta segunda-feira que Portugal está a melhorar «passo a passo».Aparentemente Sócrates teve que dar esta notícia pois ninguém se tinha apercebido disto.As pessoas que fizeram o anuncio "Eu fiz as contas" do BPI fizeram outro anuncio agora pelo BES.No anuncio está escrito em baixo das caras deles: "O quê? Eu disse que fiz as contas? O que eu queria dizer é que eu não sei fazer contas, sou apenas um artista!"A competição é tramada!Alberto João Jardim pediu a que todos, sejam eles quem forem, que se juntem a ele para deitarem o actual governo abaixo. Marques Mendes e Francisco Louçã encabeçam este movimento. O fantasma de Staline e o próprio Satan juntam-se depois do referendo.Ramos Horta enviou uma mensagem de felicitações para Bin Laden . Confrontado com facto de não se conhecer a morada de Bin Laden disse: Eu sei que o exercito dos Estados Unidos desconhecem onde está Bin Laden por isso utilizei os serviço dos CTT portugueses, é apenas necessário colocar o nome da pessoa e eles entregam.
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O estranho programa do Governo Sócrates...

Como julgamos da maior actualidade e pertinência transcrevemos aqui o estranho programa do actual Governo sob a forma de «Contos de Natal do XVII Governo Constitucional» que retiramos da sua fonte original:
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“Perdi os professores, mas ganhei a população”
Ministra da Educação
“Perdi os militares, mas ganhei um F-16 em segunda mão” (por manter o bico calado nos voos da CIA). Ministro da Defesa
“Perdi o dossier dos voos secretos da CIA, mas ganhei um convite para visitar a quinta do Bush”Ministro dos Negócios Estrangeiros
“Perdi o Rivoli, mas ganhei bilhetes para o fim-de-ano na Casa da Música”
Ministra da Cultura
“Perdi o processo Apito Dourado, mas ganhei a Carolina Salgado”
Ministro da Justiça
“Perdi a população, mas ganhei um apartamento na Quinta do Lago”
Ministro das Finanças
“Perdi a confiança dos eleitores, mas ganhei uma conta na Suíça”
Ministro da Economia
“Perdi o respeito das forças policiais, mas ganhei um novo sistema de alarme para o meu gabinete”
Ministro da Administração Interna
“Perdi os subsídios, mas ganhei um jipe novinho em folha para passear na Zambujeira do Mar”
Ministro da Agricultura
“Perdi cinco quilos, mas ganhei ao Carmona Rodrigues na II Meia Maratona de Lisboa”Primeiro-Ministro
“Perdi tudo, mas ganhei o meu ‘príncipe"
Floribella

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Quem teve a ideia

“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um individuo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outronúmero e outra vontade de
Acreditar que daqui para frente… tudo vai ser diferente …!”
Carlos Drummond de Andrade

O insondável enigma de Teodósio Letrinhas: um diligente bibliotecário de Lisboa

Desde o final da primavera que todos os meses, na última quinta-feira, o bibliotecário Teodósio Letrinhas, senta-se à mesa para jantar e comunica à família num tom grave: «Lamento, mas a partir do próximo mês não tenho outra opção senão trabalhar aos sábados. São ordes!...», diz Teodósio, seguro e assertivo. Contudo mês após mês este terrível vaticínio não se cumpre. Teodósio regressa a casa todas as sextas-feiras e não sai para o trabalho no sábado seguinte. Um folhetim que já vai para seis meses. Deolinda, a fiel esposa de Teodósio anda triste e desconfiada. Acha-se cada vez mais gorda e está convencida que o seu marido, uma pessoa por natureza cumpridora e zelosa tanto no trabalho como nas obrigações familiares, tem um caso amoroso em projecto que nunca mais se consuma.

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A sociedade prepara os crimes

"A sociedade prepara os crimes e os indivíduos limitam-se a executá-los"

Quételet (matemático, estatístico e astrónomo belga)

E agora, um momento de fruição




Só há três músicos capazes de tocar o “Movimento Perpétuo”. O Carlos Paredes obviamente, que é o seu criador, mas que infelizmente já morreu. O Frank Zappa que me confidenciou no outro dia que já se tinha esquecido. E o Gonçalo Pereira que ao tocar o tema numa guitarra eléctrica teve que reformular toda a arte da execução musical. Enjoy um momento único.

Labirinto palestiniano

Rumo ao abismo. Confusamente, sentimos que os sofrimentos dos palestinianos, as solidariedades cada vez mais audaciosas que esse tormento suscita no Médio Oriente e as violentas reacções de defesa de Israel podem levar o mundo para o abismo. O confronto directo entre duas populações, a israelita e a palestiniana, que com razão ou sem ela mutuamente se temem, não pode continuar. Porque este medo “justifica”, por um lado, uma escalada na repressão, e, por outro, o recurso à violência de alguns grupos radicais.

Em cada um dos campos, confirmam-no as sondagens, a maioria dos cidadãos aspira à paz. Mas em cada um deles aumentam também os ódios e os extremismos. Em ambos os lados se fala doravante de “guerra até à morte” e de “destruição total”.

No Verão passado, a não derrota das milícias do Hezbollah libanês face às tropas israelitas e a não vitória das forças norte-americanas no Iraque face aos insurrectos deram novas esperanças a grupos palestinianos que voltam a crer nas possibilidades duma “guerra popular prolongada”. Depois de terem capturado o cabo Gilad Shalit, no passado dia 25 de junho (que ainda detêm), estes grupos multiplicam os disparos de rockets contra Sderot e Ashkelon. Em seis anos, foram mortas seis pessoas. Durante esse mesmo período, a repressão nos Territórios Ocupados causou 4500 mortos.

Mas a ameaça dos rockets atiça o desejo de vingança entre certos israelitas. A facção dos “duros” que está no poder, encorajada pela passividade internacional, parece ter carta branca para punir sem limites as populações palestinianas.

Desde há cinco meses, mais de quatrocentas pessoas, metade das quais civis, foram abatidas pelas forças israelitas, que já nada parece conseguir deter. Os militares nem sequer hesitaram em abater, no dia 3 de Novembro, mulheres desarmadas em Beit Hanun. A mesma cidade onde, cinco dias depois, vinte civis, entre os quais várias crianças, foram mortos por obuses israelitas.

Este crime – resultado de um “incidente”, segundo as autoridades israelitas – emocionou as opiniões públicas no mundo inteiro. E levou a Assembleia Geral das Nações Unidas, sob o impulso da França, a adoptar (por 156 votos contra 7) uma resolução reclamando o fim das operações militares israelitas em Gaza e a cessação de todos os actos de violência.

Estamos bem longe disso. Recentemente, o governo de Ehud Olmert não hesitou em integrar – apesar da corajosa demissão do ministro da Cultura, o trabalhista Ophir Pines-Paz –, com o estatuto de vice-primeiro­‑ministro e a responsabilidade da pasta das “Ameaças Estratégicas”, Avigdor Lieberman, chefe do partido extremista Israel Beytenu (Israel, Nosso Lar), cujos aderentes são sobretudo emigrantes oriundos da ex­‑União Soviética, frequentemente acusados de xenofobia.

A integração de Avigdor Lieberman num governo desorientado e tentado por um emprego desordenado da força é um perigo para toda a região. Em primeiro lugar, para Israel e as suas populações, coisa que não foi suficientemente sublinhada pelos grandes órgãos de comunicação social europeus, habitualmente mais prontos a denunciar a entrada de outros extremistas em governos da União.

Mais lúcidos, alguns jornais israelitas, como o diário Haaretz, lançaram de imediato uma advertência: «Escolber o dirigente mais irresponsável e menos moderado para ocupar as funções de ministro das Ameaças Estratégicas é em si mesmo uma ameaça estratégica. A falta de moderação de Avigdor Lieberman e as suas declarações intempestivas – só comparáveis às do presidente do Irão – podem provocar um desastre em toda a região» [1].

O politólogo israelita Zeev Sternhell, historiador do fascismo europeu, foi claríssimo: a seu ver, Lieberman é talvez «o mais perigoso político da história de Israel», por representar uma «mistura de nacionalismo, autoritarismo e mentalidade ditatorial» [2].

O contexto, paradoxalmente, agrava este risco. A recente derrota eleitoral de George W. Bush e a constatação do insucesso militar no Iraque poderão inflectir a política dos Estados Unidos nesta zona do mundo. Parecem esboçar­‑se desde já alguns contactos com a Síria (apesar das acusações que pesam sobre Damasco após o recente assassinato do ministro libanês Pierre Gemayel). E até com Teerão, cuja ajuda pode revelar­‑se decisiva se Washington quiser sair-se bem na sua retirada do atoleiro iraquiano. Na Palestina, por fim, a perspectiva dum governo de união nacional parece estar agora mais próxima.

Nada disso convém, em Israel, aos que – como Lieberman e seus adeptos – continuam a apostar no afrontamento e na supremacia da força. Não é de excluir um gesto irresponsável destes últimos. Eles sentem bem ter-se vindo a impor, na diplomacia internacional, a seguinte evidência: não haverá paz nenhuma nesta região enquanto os palestinianos não saírem do seu labirinto.

[1] Haaretz, Telavive, 24 de outubro de 2006.
[2] The Scotsman, Edimburgo, 23 de Outubro de 2006.
Ignacio Ramonet
Le Monde diplomatique
http://www.infoalternativa.org/autores/ramonet/ramonet100.htm

Vamos agora acusar os cúmplices de Saddam

Comecemos por George Bush pai, o patrocinador de Saddam, e não esqueçamos aqueles jornalistas que repetiram as mentiras de Bush filho e de Blair que justificaram a invasão do Iraque.

Num julgamento espectáculo cujo clímax teatral foi claramente aprazado para promover George W. Bush nas eleições intercalares americanas, Saddam Hussein foi condenado e sentenciado à forca. Baboseiras acerca do “fim de uma era” e de “um novo começo para o Iraque” foram promovidas pelos habituais falsos contabilistas morais, os quais não pronunciaram nem uma palavra acerca de levar os cúmplices do tirano à justiça. Porque é que estes cúmplices não estão a ser acusados pela sua ajuda e incitamento a crimes contra a humanidade? Porque é que George Bush pai não está a ser acusado?

Em 1992, uma investigação do Congresso descobriu que Bush como presidente havia ordenado um encobrimento para esconder o seu apoio secreto a Saddam e os embarques ilegais de armas enviados para o Iraque através de países terceiros. A tecnologia de mísseis foi despachada para a África do Sul e o Chile, e então “vendida” ao Iraque, enquanto os registos do Departamento de Comércio dos EUA eram falsificados. O congressista Henry Gonzalez, presidente do Comité Bancário da Câmara de Representantes, afirmou: «[Descobrimos que] Bush e os seus conselheiros financiaram, equiparam e socorreram o monstro...»

Porque é que Douglas Hurd não está a ser acusado? Em 1981, como ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã­‑Bretanha, Hurd viajou a Bagdade para vender a Saddam um sistema de mísseis da British Aerospace e para “celebrar” o aniversário da sangrenta ascensão de Saddam ao poder. Porque é que o seu antigo colega de gabinete, Tony Newton, não está a ser acusado? Como secretário do Comércio de Thatcher, Newton, um mês depois de Saddam gasear 5000 curdos em Halabja (notícia que o Foreign Office tentou suprimir), ofereceu ao assassino em massa 340 milhões de libras em créditos à exportação.

Porque é que Donald Rumsfeld não está a ser acusado? Em Dezembro de 1983, Rumsfeld estava em Bagdade para assinalar a aprovação dos EUA à agressão do Iraque ao Irão. Rumsfeld voltou a Bagdade em 24 de Março de 1984, o dia em que as Nações Unidas relataram que o Iraque havia utilizado gás mostarda combinado com um agente de nervos contra soldados iranianos. Rumsfeld nada disse. Um relatório posterior do Senado documentou a transferência dos ingredientes de armas biológicas de uma companhia em Maryland, licenciada pelo Departamento do Comércio e aprovada pelo Departamento de Estado.

Porque é que Madeleine Albright não está a ser acusada? Como secretária de Estado do presidente Clinton, Albright impôs um embargo implacável ao Iraque que provocou meio milhão de “mortes em excesso” de crianças com menos de cinco anos. Ao ser questionada na televisão se as mortes das crianças foram um preço que valeu a pena pagar, ela respondeu: «Nós pensamos que o preço valeu a pena».

Porque é que Peter Hain não está a ser acusado? Em 2001, como ministro do Foreign Office, Hain descreveu como «gratuita» a sugestão de que ele, juntamente com outros políticos britânicos que apoiaram sem rodeios o bloqueio mortífero do Iraque, poderiam ser levados ao Tribunal Criminal Internacional. Um relatório para o secretário­‑geral da ONU de uma autoridade mundial em direito internacional descreve o embargo ao Iraque na década de 1990 como «inequivocamente ilegal sob as leis de direitos humanos existentes», um crime que «poderia levantar questões sob a Convenção do Genocídio». Efectivamente, dois anteriores responsáveis da missão humanitária da ONU no Iraque, ambos assistentes do secretário-geral, demitiram-se porque o embargo era de facto genocida. A partir de Julho de 2002, fornecimentos humanitários no valor de mais de 5 mil milhões de dólares, aprovados pelo Comité de Sanções da ONU e pagos pelo Iraque, foram bloqueados pela administração Bush, apoiada pelo governo de Blair e Hain. Isto incluiu produtos relativos a alimentação, saúde, água e higiene.

Acima de tudo, porque é que Blair e Bush filho não estão a ser acusados do «supremo crime de guerra», para citar os juízes de Nuremberga e, mais recentemente, o principal promotor público americano — isto é, a agressão não provocada contra um país indefeso?

E porque é que aqueles que difundiram e ampliaram a propaganda que levou a tão épico sofrimento não estão a ser acusados? O New York Times relatou como factos fabricações fornecidas ao seu repórter por exilados iraquianos. Isto deu credibilidade às mentiras da Casa Branca, e sem dúvida ajudou a preparar a opinião pública para apoiar a invasão. Aqui, a BBC quase celebrou a invasão com o seu homem na Downing Street a congratular Blair por estar «conclusivamente certo» na sua afirmação de que ele e Bush «seriam capazes de tomar Bagdade sem um banho de sangre». A invasão, segundo estimativa confiável, provocou 655.000 “mortes em excesso”, preponderantemente de civis.

Se nenhuma destas pessoas importantes são chamadas a prestar contas, há claramente justiça apenas para as vítimas dos “monstros” reconhecidos.

Será isso justiça real ou falsa?
Falsa.
John Pilger
http://infoalternativa.org/autores/pilger/pilger058.htm

Quem são os anarquistas?




O que é a organização política Federação Anarquista?
Filmado em França no ano de 2000
Duração: 35m 40s

Algumas citações no Solstício de Inverno

«God? He doesn’t exist, the bastard!»- Bertrand Russell
«Acreditar em Deus é desprezar todos os mistérios do mundo e todos os desafios à nossa inteligência.
Simplesmente desliga-se a mente e diz-se: foi Deus que o fez».- Carl Sagan«A fé é a grande escapatória, a grande desculpa para se fugir à necessidade de pensar e avaliar as evidências. A fé é acreditar “apesar de”, e até talvez precisamente “por causa”, da falta de provas».- Richard Dawkins«Com ou sem religião teremos sempre boas pessoas a fazer coisas boas e más pessoas a fazer coisas más. Mas para termos boas pessoas a fazer coisas más, para isso é preciso uma religião».- Steven Weinberg«Eu sou contra a religião porque ela nos ensina a contentarmo-nos com a nossa incompreensão do mundo»- Richard Dawkins«Eu não tento imaginar um Deus pessoal; para mim é suficiente contemplar em admiração a estrutura do mundo na medida em que os nossos inadequados sentidos nos permitirem apreciá-lo».- Albert Einstein«A ideia de Deus sempre me foi completamente estranha e parece-me até muito ingénua»- Albert Einstein«Talvez haja fadas no fundo do jardim. Não há provas disso, mas como também não podemos provar que não as há, deveremos então ser agnósticos no que respeita a fadas?».- Richard Dawkins«Se por Deus se entender um conjunto de leis da física que regem o Universo, então esse Deus claramente existe. Mas esse Deus é emocionalmente insatisfatório... não faz muito sentido rezar à lei da gravidade»- Carl Sagan«Penso que na discussão dos problemas da natureza deveríamos começar não pelas escrituras, mas antes pelas experiências e demonstrações».- Galileo Galilei«Penso que nenhuma forma de religião deveria ser ensinada nas escolas públicas»- Thomas Edison«A maior parte das pessoas pensa que é preciso Deus para explicar a existência do mundo e especialmente a existência da vida. Estão erradas, embora a educação que recebem não lhes permita aperceberem-se disso».- Richard Dawkins«Eu não acredito na imortalidade do homem; e considero que a ética é um conceito exclusivamente humano e não diz respeito nem depende de qualquer autoridade sobrenatural».- Albert Einstein«Se as pessoas são boas porque temem uma punição ou porque esperam uma recompensa, então somos todos, de facto, uma espécie lamentável».- Albert Einstein«Sempre que a moralidade se basear na teologia, sempre que a razão estiver dependente de uma autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e infames podem ser estabelecidas e justificadas»- Ludwig Feuerbach«Quando as pessoas não aprendem os instrumentos para julgarem por si próprias e seguem unicamente as suas esperanças, então estão semeadas as sementes para a sua manipulação política»- Stephen Jay Gould«Se foi algum espírito que criou o Universo, então foi um espírito muito malévolo».- Quentin Smith«Qualquer das grandes religiões da actualidade é, no sentido Darwiniano, uma vencedora na sua luta entre as culturas; de facto, nenhuma delas floresceu por tolerar as suas rivais».- Edward O. Wilson.«Podemos citar centenas de referências que demonstram que o Deus bíblico é um tirano sanguinário; mas basta alguém encontrar duas ou três passagens que digam que Deus é amor, para nos acusarem de fazer citações fora do contexto».- Dan Barker«Pensar que Deus vai acorrer em auxílio de alguém e vai violar as leis da natureza para o ajudar, é o cúmulo da arrogância»- Dan Barker«Acredito que muitas pessoas se afastam daquilo que está estabelecido como religião simplesmente pelas suas implicações morais e intelectuais»- John Dewey«É às religiões que se deve esta inédita disparidade entre o homem e a mulher»- Taslima Nasrin «Toda a concepção de Deus é derivada dos antigos despotismos orientais. É uma concepção inteiramente indigna de homens livres. Quando vemos na igreja pessoas a menosprezarem-se a si próprias e a dizerem que são miseráveis pecadores e tudo o mais, isso parece-me desprezível e indigno de criaturas humanas que se respeitem».- Bertrand Russell«A ideia de Deus é um conceito antropológico que eu não consigo levar a sério»- Albert Einstein«Eu não preciso do conceito de Deus para explicar o mundo em que vivo»- Salman Rushdie«Vocês acreditam num livro que fala de feiticeiros, bruxas, demónios, paus que se transformam em cobras, animais que falam, comida que cai do céu, pessoas que caminham sobre a água e toda a espécie de histórias mágicas absurdas e primitivas e depois vêm dizer que nós é que precisamos de ajuda?»- Dan Barker«O que eu fiz foi demonstrar que é possível determinar pelas leis da ciência o modo como o Universo começou. Neste caso, não é necessário apelar a Deus para explicar como começou o Universo. Se isto não prova que Deus não existe, pelo menos prova que Deus não é preciso para nada»- Stephen Hawking«Um assunção generalizada, e que a maior parte das pessoas da nossa sociedade aceitam, é que a fé religiosa é especialmente vulnerável à ofensa e deve ser protegida por uma parede de respeito incrivelmente espessa; um respeito tal, que é até diferente daquele que as pessoas devem umas às outras».- Richard Dawkins«Acusam-me repetidamente de blasfémia. Mas o que é facto é que eu não posso ser condenado por um crime contra uma vítima inexistente».- Dan Barker«O ridículo é a única arma que pode ser usada contra proposições ininteligíveis»- Thomas Jefferson«Deus não passa de uma infame chantagem de medo, de um amesquinhamento ignóbil e indigno de quem tem um mínimo de respeito por si próprio, não é mais do que uma desculpa cobarde de quem não tem a coragem e a dignidade suficientes para olhar a morte de frente e para, antes, aproveitar e desfrutar em liberdade cada um dos momentos que a vida nos proporciona».
- LGR

Luis Grave Rodrigues
http://www.rprecision.blogspot.com/

Uma Questão de Liderança

Um tema que tem sido recorrente em algum discurso sobre a necessidade de mudança educacional e de transformação da gestão e organização das Escolas é o da Liderança. Afirma-se a necessidade de lideranças fortes, dinâmicas, com projectos e capacidade de os implementar, mobilizando para isso os necessários recursos e vontades.
Na prática, o que isto tem significado na retórica ministerial é que uma liderança forte é uma liderança que implementa as políticas ditadas a partir da 5 de Outubro de forma eficaz e acrítica, sem qualquer conceder qualquer grau de reflexão ou autonomia aos docentes. E nada se define sobre o que se entende por Liderança, sendo que este conceito está longe de ser consensual nas diversas abordagens que sobre ele existem na área educativa.
Mas, a questão colocada nos termos acima formulados tanto pode ser aceite de forma pacífica como dar origem a observações irónicas do tipo “pois, o Hitler tinha todas essas qualidade e…”.
Ora o que a mim me interessa na questão da liderança não é necessariamente aquilo que a define, mas aquilo que lhe dá corpo e substância, ou seja a natureza do projecto e o tipo de meios usados para o implementar.
Uma liderança forte só porque é forte não tem interesse. A uma liderança dinâmica só porque é dinâmica aplica-se o mesmo. Tal como a mudança apenas pela mudança, já vimos o que tem dado ao longo destes anos. Mais importante do que tudo isso é existir um rumo e esse rumo ser claro e justo nos objectivos, digno e transparente nas estratégias e leal no recrutamento e mobilização das vontades.
Mais do que uma liderança forte, interessa saber ao serviço do que está essa liderança, qual é o seu projecto em concreto e como pretende levá-lo à prática. E isso, se está provavelmente no espírito de alguma literatura na área da Educação, não me parece encontrar-se nas aspirações da actual tutela, que apenas pretende lideranças locais fortes, mas ligadas através de uma fidelidade feudo-vassálica ao topo da pirâmide. Um pouco como na tropa, claro, para lançar mão de uma imagem tão usada durante o ano de 2006.
http://educar.wordpress.com/

A verdadeira guerra dos cristãos

As companhias italianas de televisão RAI e Mediaset foram multadas em 100 000 euros, por comentários «blasfemos» feitos por participantes no programa «Big Brother».Comentário: a laicidade significa liberdade religiosa para quem tem religião, e liberdade de expressão para quem a quer criticar. Não somos livres se não podemos dizer o que pensamos.
Uma clínica madrilena onde se fazem IVG´s foi apedrejada e pichada com frases como «aborto é assassinato». No dia 28 de dezembro do ano passado, passara-se quase o mesmo, numa data que os cristãos acreditam estar relacionada com o mito do Herodes genocida.Comentário: será que, para os cristãos, a propriedade alheia não tem que ser respeitada se lá se passar algo que as suas autoridades eclesiais não aprovem?
Existe um saite espanhol (http://www.hostia.org/) dedicado a promover o uso da palavra hóstia «de uma forma que não magoe as outras pessoas». O grupo que o promove gasta 1 500 euros por mês em publicidade para defender o uso religiosamente correcto da palavrinha.Comentário: não será isto patrulhamento da linguagem? Em bom espanhol diz-se «me cago en la hostia»... querem multar quem blasfema?
Ricardo Alves
http://www.ateismo.net/diario/

ONU: a década de Annan

Kofi Annan, o sétimo secretário-geral das Nações Unidas, enfrentou durante a sua gestão circunstâncias contrastadas. Em boa medida, o ganês deve a sua chegada ao cargo, em Janeiro de 1997, ao governo de Bill Clinton, e pode atribuir à administração de George W. Bush as enormes dificuldades que enfrentou no seu segundo período.

Nos seus primeiros cinco anos, o diplomata ganês empenhou-se numa reforma sobretudo administrativa da ONU, reforçou as acções orientadas para impulsionar o desenvolvimento das nações mais pobres e envolveu o organismo em temas inadiáveis como a luta contra a SIDA, as preocupações ambientais, a promoção dos direitos humanos, a defesa de grupos vulneráveis e descriminados, a participação de organismos da sociedade civil na tomada de decisões e a necessária humanização das regras implacáveis e predadoras que regem a globalização em curso.

Em 2000, Annan apresentou o relatório Nós os povos: a função das Nações Unidas no século XXI, que instava os estados a comprometerem-se no combate à pobreza e à desigualdade, no fortalecimento da educação, na contenção do HIV, na protecção do meio ambiente e na erradicação da violência. O documento foi a base da chamada Declaração do Milénio, aprovada pelos chefes de Estado e de governo na cimeira que teve lugar na sede da ONU em Setembro daquele ano. Esse primeiro período esperançoso e auspicioso do diplomata ganês saldou­‑se por um Prémio Nobel (Novembro de 2001) partilhado entre ele e o organismo internacional que encabeçou nesta década.

Nessa altura, no entanto, o ambiente mundial foi transtornado pelos atentados do 11 de Setembro daquele ano contra as Torres Gémeas de Nova Iorque e o edifício do Pentágono, em Washington, e pela reacção militarista e autoritária de um governo conservador que tinha visto passar os seus primeiros nove meses na mediocridade e na falta de ideias: os atentados do 11-S deram à administração de Bush a oportunidade inigualável de transformar num projecto de dominação mundial as fantasias da ultra­‑direita estadunidense, e umas semanas mais tarde a aviação das barras e estrelas bombardeava um país que já estava destruído por uma sucessão de guerras, o Afeganistão, e os assessores presidenciais impunham severas restrições às liberdades e às garantias individuais a um Congresso acabrunhado pelo seu próprio vazio conceptual e pela dimensão dos atentados.

O mundo mudou para uma circunstância de horror e a Organização das Nações Unidas teve de assistir, com plena impotência, à invasão ilegal e injustificada do Iraque por forças estadunidenses e inglesas. A margem de manobra do organismo multilateral e do seu principal funcionário viu-se gravemente diminuída, a agenda mundial passou dos temas ambientais e do desenvolvimento para uma guerra delirante, impulsionada por Washington e Londres, contra um inimigo fantasmagórico e ubíquo, e a legalidade internacional foi sistematicamente quebrada pela principal potência política, militar, económica, tecnológica e diplomática do planeta, cujo presidente começou a ver na ONU mais um estorvo que um instrumento capaz de dar paz e estabilidade ao mundo.

Para cúmulo, a inveterada corrupção no próprio seio da organização, amplamente documentada desde 1969 pelo diplomata uruguaio Nelson Iríñiz Casas, manteve-se e, inclusivamente, aumentou durante a gestão de Kofi Annan, e chegou a graus escandalosamente próximos do secretário-geral: o seu próprio filho, Kojo, viu­‑se envolvido no outorgamento de contratos irregulares no contexto do Programa Petróleo por Alimentos, que permitia ao Iraque abastecer-se de produtos de primeira necessidade sem violar as sanções que lhe foram impostas após a primeira guerra do Golfo Pérsico (1991). O governo Bush e as direitas internacionais decidiram explorar o tema a fundo para debilitar ainda mais a já minguada autoridade de Annan e questionar a própria utilidade do organismo internacional.

A aguda hostilidade da Casa Branca contra a ONU manifestou-se com toda a clareza quando o atrabiliário e incontinente John Bolton, que em repetidas ocasiões tinha argumentado, entre outras maravilhas, que as Nações Unidas «na realidade não existem», foi designado representante dos Estados Unidos naquele organismo.

Assim, por circunstâncias que em boa medida foram alheias à sua vontade, o ganês deixa, no final do seu mandato, uma instituição internacional debilitada, diminuída, paralisada no processo de reformas internas, com um Conselho de Segurança alicerçado na sua condição anti-democrática de origem e com uma agenda desvirtuada. Hoje em dia, a ONU, em vez de coordenar os esforços mundiais para o desenvolvimento, a protecção ambiental e os direitos humanos, e em lugar de empreender iniciativas contra a fome, a desigualdade e a falta de educação e saúde de que padece a maior parte da população, vê-se reduzida a administrar os saldos da catástrofe mundial provocada pelo projecto estadunidense de dominação planetária.
Editorial
La Jornada
http://www.infoalternativa.org/mundo/mundo204.htm

Diálogo inter-religioso

Como já referi diversas vezes, as bases para a revolução intelectual no Ocidente situam-se na Espanha do século XII, à época ainda um importante centro da ciência árabe, e entre os seus principais mentores encontra-se o cordobês Averrois. De facto, o califado de Córdoba estabeleceu na Andaluzia uma sociedade cosmopolita, elegante e educada - com uma comunidade judaica muito importante de que se destaca um dos seus mais prestigiados filósofos, Maimonides (1135-1204)- em que se privilegiava a ciência e a difusão de conhecimento. Nomeadamente recordo que a biblioteca de Córdoba, fundada em 965, constituiu a terceira biblioteca do mundo islâmico. E foi a semente para a recuperação da ciência proscrita e para o despertar da Europa das longas trevas intelectuais impostas pelo cristianismo.
De facto, o contacto com esta civilização cultural e cientificamente muito mais avançada imposto pela Reconquista aos incultos cristãos, não obstante os denodados esforços inquisitoriais da Igreja da Roma, propiciou o Renascimento e o despertar da Europa da longa noite de milénio e meio de obscurantismo.Córdoba foi berço de intelectuais que marcaram a História - para além dos referidos Averrois e Maimonides, Séneca, Abraham Cohen de Herrera e Marcus Annaeus Lucanus ou Lucan, que Dante no seu Inferno coloca ao lado de Virgílio, Homero, Horácio e Ovídio - e era a maior cidade do mundo no início do segundo milénio. O seu monumento mais importante - numa cidade de que o geógrafo Ibn Hawkal em 948 gabava as suas mais de 1000 mesquitas e 600 banhos públicos - era sem dúvida a Mezquita ou a mesquita Aljama (em tempos a terceira maior mesquita do mundo) cuja construção se iniciou no século VIII e foi transformada num templo cristão, a catedral de Córdoba, quando em 1236 o rei Fernando III de Castela conquista esta cidade aos mouros.Em 2004, durante o papado de João Paulo II, um grupo de muçulmanos espanhóis enviou uma petição ao Vaticano para que, num gesto simbólico de reconciliação entre as duas religiões, fosse possível aos muçulmanos locais rezar na actual Catedral. Apesar dos esforços muçulmanos, o Vaticano na altura rejeitou o pedido através do arcebispo Michael Fitzgerald, então presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso.A Junta Islâmica espanhola resolveu repetir o pedido ao novo papa, solicitando a Bento XVI que os muçulmanos pudessem compartilhar com os cristãos as orações na Catedral para «despertar as consciências» de ambas as confissões religiosas e «enterrar confrontos passados».Mais uma vez o pedido foi negado, desta vez pela voz de Juan José Asenjo, bispo de Córdoba, que afirmou que «esta partilha não contribui para a convivência pacífica dos diferentes credos».Afinal parece que é apenas em questões mediáticas que são necessários «diálogo inter-religioso genuíno» e «gestos concretos de reconciliação». Ou apenas quando é necessário apaziguar embaixadores muçulmanos irados com Paleólogos sortidos - Paleólogo significa «da razão antiga», um excelente cognome para Ratzinger - se fala em ser «imperativo que cristãos e muçulmanos trabalhem em conjunto».Excluindo, claro, o «monólogo inter-religioso genuíno» a que corresponde uma união em causas comuns - como sejam a condenação da laicidade, do reconhecimento dos direitos da mulher e de homossexuais!
Palmira F. da Silva
http://www.ateismo.net/diario/

Estudo Acompanhado não é também trabalho extraordinário?

Começam a ser conhecidas decisões dos tribunais dando razão aos docentes que consideravam terem de receber horas extraordinárias pelas aulas de substituição dadas.Parece-me óbvio que um docente, após cumprir o seu tempo lectivo estipulado com turma, não pode dar mais aulas a não ser em regime extraordinário.A loucura das aulas de substituição passou a ter contornos de surrealismo e, portanto, dentro do autismo governamental e do seguidismo cego dos órgãos de gestão, cometem-se muitas arbitrariedades por esse país fora a coberto da paranóia tecnocrata aministrativo-quantitativa que invadiu o ensino em Portugal.Outro exemplo é o chamado “Estudo Acompanhado”, uma artimanha ministerial para obrigar os professores do 1º ciclo a permanecer mais duas horas com a sua turma. Para além das 25 horas lectivas, os docentes ficam mais duas, sob a justificação que o estudo acompanhado não é actividade curricular. Assim, os professores têm mais duas horas para preparar, para gerir pedagogicamente e para estarem com a sua turma, mas não as ganham. Esta medida tem por base uma ideia muito triste, especialmente quando vem da nossa tutela, e que é a de se pensar que os docentes do 1º ciclo andam muito folgados e que não interessa passarem mais duas horas a entreter a sua turma. Não se pensa nos custos que isso tem no desgaste brutal dos professores, nem no que isso representa para os alunos, que têm as horas para aprender a sério a as outras para estarem entretidos e desta vez é o seu professor que entra na dança. O estatuto e o respeito pelos professores sofre mais esta machadada, entre tantas que tem levado.Este desrespeito não deveria se tolerado. O professor é o centro da actividade educativa. Deve merecer respeito, deve ser preservado, deve ter os meios para manter a disciplina, para que os seus alunos entendam quem ali está e o que isso significa. Da maneira como as coisas estão penso que é hora dos docentes do 1º Ciclo processarem o ME e exigirem o pagamento dessas duas horas como horas extraordinárias. Não tanto pelo dinheiro, mas acima de tudo, pela falta de respeito.
http://escolaescola.blogspot.com/

60% das notícias sobre política são induzidas por fontes profissionais, indica estudo

Mais de 60 por cento das notícias sobre política dos quatro maiores diários portugueses são induzidas por fontes profissionais, revela um estudo recentemente apresentado na Universidade do Porto.

O estudo, correspondente à tese de mestrado do docente da Universidade do Porto Vasco Ribeiro, indica que apenas 28 por cento das notícias das secções de política são resultado de iniciativa dos jornalistas, enquanto nas 11 por cento restantes não foi possível identificar quem motivou a cobertura noticiosa.

Vasco Ribeiro, que foi assessor de comunicação do ex-presidente da Câmara do Porto Nuno Cardoso e do candidato socialista à mesma autarquia Francisco Assis, analisou as secções de política do Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Correio da Manhã e Público em semanas interpoladas de quatro anos: 1990, 1995, 2000 e 2005.

O investigador concluiu que cerca de 60 por cento do noticiário político é dominado pelas fontes do Governo e dos partidos representados na Assembleia da República, dando os jornais analisados a mesma visibilidade às forças políticas no poder e na oposição.

«Prova-se, assim, que os quatro grandes diários portugueses tratam com equidade jornalística os dois grandes pesos da balança política: poder e oposição, embora esta última esteja dividida em vários partidos», salienta Vasco Ribeiro.

O agora director de comunicação da Reitoria da Universidade do Porto concluiu também que «os jornalistas portugueses são cuidadosos e comedidos no que concerne aos graus de confidencialidade utilizados na construção de notícias», dado que 80 por cento do noticiário político impresso tem fonte atribuída.

Diário de Notícias e Público «são os que mais recorrem a fontes anónimas», o que, para o investigador, significa que estes dois jornais «de referência» são os que mais «procuram fugir à informação intencionalmente colocada no espaço público».

Estes dois diários são também os que apresentam maior índice de cobertura noticiosa por iniciativa própria, evidenciando «menor predisposição para o “jornalismo de secretária”, que consiste na recepção passiva da informação proveniente das fontes profissionais».

Vasco Ribeiro concluiu ainda que mais de 90 por cento dos «fornecedores» de informação identificados são fontes oficiais, registando-se um «exíguo protagonismo» do cidadão anónimo, enquanto fonte, no noticiário político dos quatro diários.

«A população praticamente só é alvo de exposição mediática durante as campanhas eleitorais e por motivos pouco lisonjeiros», afirma, salientando que, tal como na televisão, os cidadãos anónimos surgem na imprensa «tão­‑só para ornamentar e ritmar as notícias».

Outro dado resultante do estudo é a «incapacidade do consumidor das notícias de detectar a intervenção dos técnicos de comunicação e relações públicas na construção das mesmas», porque «só em 1,3 por cento do total das notícias analisadas foram identificadas fontes profissionais de informação».

«É fácil imaginar, a partir do que conhecemos do funcionamento das redacções e dos dados obtidos nesta investigação, que, quando prepara a agenda para o dia seguinte, o editor rodeia-se de uma imensa pilha de notas de imprensa, comunicados, convites e dossiês que chegam, sofisticadamente, aos jornais», refere Vasco Ribeiro.

O investigador realça que «a assessoria de imprensa tem vindo, progressivamente, a apurar as suas técnicas e ferramentas de trabalho», cruzando-se com áreas como o marketing, gestão, multimédia, audiometria, linguística e o próprio jornalismo, tornando mais eficazes as estratégias de persuasão.
Lusa; retirado de RTP
http://infoalternativa.org/midia/midia058.htm

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Chips espiões

«Imagine um mundo sem privacidade. Um mundo no qual todas e cada uma das suas compras é supervisionada e registada numa base de dados e cada um dos seus pertences está numerado. Onde uma pessoa, a vários estados de distância, ou talvez noutro país, tem um registo de tudo o que você comprou, de tudo o que possui, das peças de vestuário no seu armário, de cada par de sapatos» (Katherine Albrecht e Liz McIntyre em Chips espías, Grupo Nelson, 2006).

É o mundo RFID (identificação por radiofrequência, nas siglas em inglês). Provavelmente nunca ouviu falar de tal coisa, mas é como uma praga que se estende por todas as indústrias que têm relação com a vida quotidiana de qualquer um de nós. Trata-se de pequenos chips electrónicos cuja informação é lida à distância e substituem, dentre outras coisas, os códigos de barras para ler preços. Estão em livros, máquinas de barbear, sapatos, peças de vestuário, medicamentos, comida empacotada, para mencionar objectos de uso doméstico. No seu trabalho pode haver muitos mais objectos com etiquetas RFID, como computadores, impressores, caixas de papel e outros artigos de escritório. Existem cartões de crédito e de compra que usam este sistema.

A maior diferença destes chips em relação ao código de barras é que a informação pode ser detectada à distância, desde poucos metros até quilómetros (dependendo do tipo de chip), e pode ser lida através da sua roupa, do seu porta­‑moedas, carteira, mochila ou maleta. Se a compra do objectivo etiquetado for feita com cartão, a etiqueta “personaliza-se” e fica identificada com o comprador. A generalização deste sistema provocará um aumento da exposição a radiofrequências, com impactos sobre a saúde.

Existem também versões do sistema RFID para implantes em humanos, como o VeriChip. O México foi o primeiro país onde foi usado: em 2004 foi colocado um chip diminuto (menor do que um grão de arroz) em 18 agentes da Procuradoria Geral da República (PGR), supostamente para identificá-los quando tenham contacto com documentos confidenciais. O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, declarou que se poderiam implantar estes chips nos cidadãos colombianos que quisessem ir trabalhar para os Estados Unidos, para que o governo desse país possa controlar onde se encontram.

Foram denunciadas falhas graves na segurança que estes chips pretendem ter. Já foram clonados inclusive chips implantados em humanos, permitindo a estranhos o acesso à informação. Comprovou-se que a informação dos cartões de crédito que usam este sistema podem ser roubadas mais facilmente que as de fita magnética. Isto não impede que a adopção desta tecnologia avance a passos gigantes, porque estão em jogo interesses muito fortes, tanto comerciais como governamentais.

As etiquetas RFID não são novas. Existem há anos, mas a sua utilização era limitada pelo seu preço e tamanho. Com a miniaturização e a baixa de preço (actualmente custam 20 pesos cada uma, mas prevê-se que chegarão aos 2 pesos), empresas transnacionais como a Benetton e a Gillette-Procter & Gamble começaram a utilizá-los, inclusive directamente no produto que chega ao consumidor. Mas o ponto de ruptura desta indústria chegou quando a Wal-Mart exigiu aos seus 100 maiores fornecedores que a partir de Janeiro de 2005 implementassem esta tecnologia ao nível das entregas em armazém (em paletes ou caixas), caso contrário já não lhes compraria os seus produtos. Vários outros grandes supermercados, como Tesco e Kroger, também a usam.

Para as grandes empresas significa uma automatização dos sistemas de compras, distribuição e vendas que elimina grande parte dos trabalhadores que antes controlavam estes processos, ao mesmo tempo que lhes permite fazer o seguimento dos consumidores, suas preferências, zonas onde se encontram, etc., aumentando as suas possibilidades de manipulação do consumo. Actualmente a tecnologia está a expandir-se e o objectivo das empresas é chegar a colocá-la em cada produto que o consumidor adquire, tal como o fez a Gillette com as máquinas de barbear Mach3.

No México, a distribuidora de produtos farmacêuticos Maypo, segunda abastecedora de medicamentos para o sector da saúde, está a colocar chips RFID em cada medicamento que vende para o Seguro Popular e outros programas de saúde pública.

Além das suas aplicações comerciais, são significativas as aplicações de RFID na vigilância com fins políticos, policiais, inclusive repressivos e carcerários. A proliferação dos sistemas de identificação RFID (actualmente discute-se ou instrumenta-se a sua aplicação em passaportes, bilhetes, cartões de identificação, transportes, imigrantes, detidos, polícias, vigilantes, etc.) implicará um aumento das distâncias a que se podem ler e da quantidade de “estações” para a sua leitura. Uma das aplicações vendidas no México insere um chip entre a sola e o salto dos sapatos no processo de fabricação, tornando impossível ver o chip à vista desarmada, mas permitindo a quem puder ler esta informação conhecer o paradeiro do seu dono em qualquer lugar em que se encontre.

Já é possível fazer este tipo de seguimento através dos telefones celulares, que de facto funcionam como GPS (sistema de posicionamento geográfico por satélite). Tal como os RFID, a maioria dos utilizadores não o sabe. À semelhança de outras novas tecnologias, a sua aceitação depende de a maioria das pessoas não saber realmente o que implicam. E isto, apesar de tanta vigilância, é cada vez mais difícil.
Silvia Ribeiro
La Jornada
http://www.infoalternativa.org/autores/sribeiro/sribeiro008.htm

Biocombustíveis: Biodevastação, fome e falsos créditos de carbono

A avidez da Europa pelos biocombustíveis está a provocar a desflorestação e a subida dos preços dos alimentos, exacerbada por um falso sistema de contabilidade que atribui méritos de redução das emissões de CO2 às nações que desperdiçam o CO2. Torna-se necessário um esquema de certificação obrigatória dos biocombustíveis para proteger os ecossistemas florestais mais sensíveis, para estabilizar o clima e para salvaguardar a protecção da nossa alimentação.
Os biocombustíveis não são obrigatoriamente neutros em carbono nem sustentáveis Os biocombustíveis são combustíveis derivados de plantas e incluem a biomassa queimada directamente, principalmente o biodiesel a partir das oleaginosas, e o bioetanol de cereais, seivas, ervas ou madeira fermentados [1] ( Biofuels for Oil Addicts , SIS 30). Os biocombustíveis têm sido propagandeados e considerados erradamente como 'neutros em carbono', não contribuindo para o efeito de estufa da atmosfera; quando são queimados, o dióxido de carbono que as plantas absorvem quando se desenvolvem nos campos é devolvido à atmosfera. Ignoram-se assim os custos das emissões de CO2 e da energia de fertilizantes e pesticidas utilizados para melhorar as colheitas, dos utensílios agrícolas, do processamento e refinação, das refinarias, do transporte e das infra-estruturas para transporte e distribuição. Os custos extra da energia e das emissões de carbono podem ser bastante significativos principalmente se os biocombustíveis forem feitos num país e exportados para outro, ou pior ainda, se as matérias-primas como as oleaginosas, forem produzidas num país e vierem a ser refinadas noutro. O que é muito provável acontecer, se continuarem as tendências actuais. Procura crescente dos biocombustíveis A procura de biocombustíveis tem vindo a aumentar à medida que o mundo começa a ter falta de combustíveis fósseis. Os preços do petróleo e do gás dispararam nos últimos anos, enquanto que a pressão para reduzir as emissões de CO2 a fim de reduzir o aquecimento global [1] aponta cada vez mais para que os biocombustíveis sejam uma das principais soluções. George W. Bush propôs os biocombustíveis para curar a dependência do país em relação ao petróleo [1] . Foi acenada uma "visão de mil milhões de toneladas" [2] para disponibilizar 1,3 mil milhões de toneladas de biomassa seca para a indústria dos biocombustíveis em meados deste século, que fornecerão 30 por cento da utilização de combustíveis dos EUA, se tudo correr bem, como seja um aumento de cinquenta por cento das colheitas. Tony Blair inaugurou no fim de Junho de 2006 [3] a Biofuels Corporation, plc, a primeira instalação de processamento de biocombustível, de 250 000 toneladas, no Reino Unido que vai utilizar óleo de castor e óleo de palma importados assim como óleo de semente de colza de produção interna para fabricar biocombustível. Mas o Reino Unido mantém-se muito atrás de outros países da União Europeia na utilização de biocombustíveis. Directiva de biocombustíveis da União Europeia lidera a indústria nos países do Terceiro Mundo Em Maio de 2003 a União Europeia adoptou uma Directiva de Biocombustíveis para promover o uso de biocombustíveis nos transportes, com uma previsão de 5,75 por cento de quota de mercado em 2010, a atingir os 8 por cento em 2015 [4]. Não é provável que estas metas sejam alcançadas segundo as actuais projecções. A quota de mercado para a UE dos 25 está em 1,4 por cento; a Áustria vai à frente com 2,5 por cento, enquanto que a quota do Reino Unido é de apenas 0,2 por cento. A Comissão Europeia vai fazer um relatório da evolução antes do fim de 2006; publicou um documento para consulta pública, consulta que terminou em Julho de 2006. Entre as questões consideradas estava a necessidade de um esquema de certificação dos biocombustíveis com base em padrões de sustentabilidade. Os países da UE já estão a cultivar plantas para bioenergia, em especial a colza e há incentivos e reduções fiscais para os biocombustíveis em dez ou mais países [5]. É provável que as terras agrícolas 'reservadas' com o fim de proteger e conservar a biodiversidade sejam de novo utilizadas, agora para culturas energéticas [6]. ( Biodiesel Boom in Europe? SIS30). Um relatório publicado em 2002 pelo grupo CONCAWE – a associação europeia das companhias petrolíferas para o ambiente, saúde e segurança na refinação e na distribuição – avaliou que, se os 5,6 milhões de hectares de reservas na UE dos 15 fossem todos cultivados intensivamente com plantas energéticas, pouparíamos apenas 1,3 a 1,5 por cento das emissões de transportes rodoviários, ou seja, cerca de 0,3 por cento do total de emissões desses 15 países [7]. Estas e outras estimativas igualmente pessimistas [8] estão a alimentar o crescimento das indústrias de biocombustíveis nos países do Terceiro Mundo, onde, dizem-nos agora, há muito solo "livre" para o cultivo da bioenergia. O sol brilha mais durante todo o ano, portanto as colheitas crescem mais depressa. Rendem mais e a mão-de-obra é mais barata. Mas, no caso dos geneticamente modificados (GM), dizem-nos que não há terras suficientes, e que precisamos de cereais GM para aumentar a produção e alimentar o mundo. Até aqui, a produção das searas de GM ainda não aumentou significativamente, e os GM são esmagadoramente rejeitados em todo o mundo, principalmente nos países africanos para onde os alimentos e as rações GM estão a ser escoados como "ajuda alimentar" [9] As companhias biotécnicas já estão a anunciar as culturas GM como culturas energéticas e esperam assim menos regulamentações e uma maior aceitação pública, visto que não virão a ser usadas como alimentos ou rações. Mas isso faz com que o nosso ecossistema e as culturas alimentares fiquem amplamente expostas à contaminação das culturas GM que estão longe de ser seguras [10] . ( Making the World GM-Free & Sustainable ). O Centro de Investigação de Energia do Reino Unido, que é formado por membros de todos os conselhos de investigação do governo, já incluiu a "percepção pública e utilização de tecnologias GM para a bioenergia" no seu "Short term Research Challenge" (Concurso de Investigação a curto prazo) [11]. Desflorestação, extinção de espécies e aumento do preço dos alimentos Os biocombustíveis são más notícias, em especial para os países pobres do Terceiro Mundo. As culturas energéticas ocupam terra valiosa que podia ser utilizada para cultivo de alimentos, e a segurança alimentar está a transformar-se numa questão escaldante. A produção mundial de cereais diminuiu em seis dos últimos sete anos, colocando as reservas ao mais baixo nível de há mais de trinta anos [12] . O esgotamento crónico de aquíferos nos maiores celeiros mundiais, a seca e as temperaturas altas estão a fazer pagar o seu preço e prestes a prejudicar ainda mais a produção alimentar. A pressão sobre o solo feita pelas culturas alimentares e energéticas acelerarão certamente a desflorestação e a extinção das espécies e, simultaneamente, provocarão aumentos nos preços dos alimentos em todo o mundo, atingindo mais fortemente os países mais pobres, com maiores carências alimentares. Não há terras que cheguem para as culturas energéticas Os cálculos baseados no melhor dos cenários de produções irrealistas de grandes colheitas e de alto aproveitamento de biocombustíveis, desde o seu processamento até à utilização final, acabam por exigir 121 por cento de toda a terra arável dos Estados Unidos para produzir biomassa suficiente para substituir o consumo anual dos combustíveis fósseis [1]. O próprio relatório técnico da UE publicado em 2004 mostra que a meta de 5,75 por cento de substituição dos combustíveis fósseis por biocombustível exigirá pelo menos 14 a 19 por cento de terra arável para culturas energéticas [8]. Não restará nenhuma terra reservada para proteger a biodiversidade natural, que na UE é de apenas 12 por cento da terra agrícola. Dados por satélite revelam que 40 por cento do solo do planeta já estão a ser utilizados para a agricultura [13], de cereais ou de pastagens. Não há solo que chegue para o cultivo de alimentos, quanto mais para as culturas energéticas. Aceleração da desflorestação no Brasil, na Malásia e na Indonésia As florestas tropicais são os mais ricos armazéns de carbono e os mais eficazes esgotos de carbono do mundo. As estimativas atingem os 418 t C/ha (toneladas de carbono por hectare) para a quantidade de carbono existente, e a 5 a 10 t C/ha cativado por ano, em que quarenta por cento é carbono orgânico no solo [14] . ( Sustainable Food System for Sustainable Development , SIS27). A quantidade de carbono existente nas florestas antigas será sempre maior e, segundo um estudo recente no sudeste da China, só nos 20 centímetros da superfície do solo dessas florestas antigas, o carbono orgânico do solo aumentou em média a um ritmo de 0,62 t C/ha por ano entre 1979 e 2003 [15]. Quando as florestas tropicais são deitadas abaixo a um ritmo de mais de 14 mil hectares por ano, libetam-se umas 5,8 toneladas de carbono para a atmosfera, das quais só uma pequena parte será retida de novo nas plantações. A pressão adicional sobre o solo por parte das culturas energéticas acarretará uma maior desflorestação e uma maior aceleração do aquecimento global e da extinção de espécies. Até agora já foram limpas enormes extensões da floresta do Amazonas no Brasil para o cultivo da soja destinada a alimentar a indústria da carne. Se se acrescentar a exigência do biodiesel da soja pode-se provocar a morte de toda a floresta. Simultaneamente, as plantações da cana-de-açúcar que alimentam a enorme indústria do bioetanol do país também estão a invadir o Amazonas, mas incidem sobretudo na floresta atlântica e no Cerrado, um ecossistema de savana de grande variedade, dois terços da qual já estão destruídos ou degradados [16] (Biofuels Republic Brazil, nesta série). A pressão sobre as florestas na Malásia e na Indonésia ainda é mais devastadora. Um Relatório dos Amigos da Terra, The Oil for Ape Scandal [17] revela que, entre 1985 e 2000, o desenvolvimento das plantações de óleo de palma provocou cerca de 87 por cento de desflorestação na Malásia. Em Sumatra e em Bornéu, desapareceram 4 milhões de hectares de florestas a favor do cultivo da palma; e está prevista a limpeza de mais 6 milhões de hectares na Malásia e 16,5 milhões de hectares na Indonésia. O óleo de palma é agora chamado o "diesel da desflorestação" [18], porque se prevê um aumento dramático da produção do óleo de palma na Indonésia e na Malásia com a febre dos biocombustíveis. Já se utiliza amplamente na indústria alimentar e cosmética o óleo de palma, que substituiu a soja como primeiro óleo comestível mundial. E como os preços do petróleo e do gás subiram até aos píncaros, o óleo de palma está a ocupar o lugar de principal cultura energética. Com produções de 5 toneladas (ou 6 000 litros) de óleo bruto por hectare por ano, o óleo de palma produz muito mais do que qualquer outra cultura oleaginosa [19]; por exemplo, a soja e o milho geram apenas 446 e 172 litros por hectare por ano. Prevê-se que a produção actual global de óleo de palma de mais de 28 milhões de toneladas por ano duplique em 2020 [18]. A Malásia, o maior produtor e exportador mundial de óleo de palma, está a tornar obrigatório que, em 2008, o diesel venha a conter cinco por cento de óleo de palma, enquanto que a Indonésia planeia reduzir para metade o seu consumo nacional de petróleo em 2025, através da sua substituição por biocombustíveis. A Malásia e a Indonésia anunciaram um compromisso conjunto de produzirem, cada uma, 6 milhões de toneladas de óleo bruto de palma por ano para alimentar a produção dos biocombustíveis. Subidas do preço dos alimentos que são desviados para os biocombustíveis A procura de biocombustíveis transformou as culturas alimentares tradicionais em culturas 'bioenergéticas'. Os alimentos e a energia entram agora em competição pela mesma 'matéria prima', o que se traduz num aumento substancial dos preços dos alimentos, muito acima do preço do petróleo e do gás natural que normalmente entram na produção alimentar. Em 2006, cerca de 60 por cento do total do óleo de colza produzido na UE destinou-se ao fabrico de biodiesel [20]. O preço do óleo de colza subiu 45 por cento em 2005, e depois mais 30 por cento até atingir cerca de 800 dólares por tonelada. O gigante alimentar Unilever prevê outro aumento do preço de cerca de 200 euros por tonelada para o próximo ano devido a uma procura adicional de biodiesel. Calcula-se que o custo adicional total do biodiesel para os fabricantes alimentares venha a aproximar-se dos mil euros em 2007. Os preços dos cereais dispararam. Os preços do milho americano aumentaram mais de 50 por cento desde Setembro de 2006, e atingiram agora o preço mais alto em 10 anos de 4,77 dólares por bushel [2] . A procura americana do bioetanol fez desviar o milho da exportação, deixando desesperados os compradores de milho da Ásia [21]. Os preços mundiais do trigo também atingiram o preço mais alto em 10 anos, de 300 dólares por tonelada, em Outubro de 2006 [22], por entre os receios de uma crise de abastecimento nos próximos 12 meses se se verificar outro ano decepcionante da produção global [23]. Outra preocupação é que se venha a criar uma procura crescente de biocombustíveis a partir de outras culturas, como o trigo, o milho e a soja. Outras preocupações ambientais As culturas energéticas esgotam os minerais do solo e reduzem a fertilidade do solo, especialmente a longo prazo, tornando o solo impróprio para as culturas alimentares. Os desperdícios do processamento de todos os biocombustíveis têm significativos impactos negativos no ambiente, que ainda precisam de ser adequadamente avaliados e tidos em consideração. Embora alguns biodiesels possam ser mais limpos do que o diesel, há outros que não o são (ver abaixo). A queima do bioetanol gera agentes mutagénicos e carcinogénicos e aumenta os níveis de ozono na atmosfera [24] ( Ethanol from Cellulose Biomass Not Sustainable nor Environmentally Benign , SIS30). Equilíbrio de energia e poupança de carbono desfavoráveis no seu conjunto Os biocombustíveis são classificados, quanto à energia e ao carbono, de formas muito diversas e que não são inteiramente transparentes. Vou usar como definição de balanço energético as unidades de energia de biocombustível produzidas por cada unidade de energia consumida à partida; e como definição de poupança de carbono, a percentagem de emissões de gases com efeito de estufa poupadas por se produzir e utilizar o biocombustível em vez de produzir e utilizar a mesma quantidade de energia de combustível fóssil. Os biocombustíveis apresentam geralmente um balanço energético pequeno ou negativo numa análise sobre um ciclo de vida, na verdade, quase sempre um balanço negativo se se fizerem as contas bem feitas [1], o que significa que a energia do biocombustível é menor do que o total da energia gasta em produzi-lo. É provável que a poupança de carbono seja igualmente desfavorável se se incluírem todos os custos. Actualmente, a maior parte dos estudos energéticos que apresentam um equilíbrio de energia positivo inclui o conteúdo da energia dos subprodutos, tais como o resíduo de sêmea que sobra depois de ser extraído o óleo, e que pode ser utilizado para alimentação dos animais (embora, regra geral, nunca seja utilizado como tal) [7], mas esquece-se de incluir os investimentos em infra-estruturas, tais como os custos em energia e em carbono das instalações de refinaria, e as estradas e armazéns necessários para transporte e distribuição e, evidentemente, os custos de exportação para outro país. Nenhum desses estudos inclui os impactos ambientais [6]. No único caso analisado por investigadores no Flemish Institute for Technological Research, patrocinado pelo Gabinete Belga de Assuntos Científicos, Técnicos e Culturais e da Comissão Europeia, chegou-se à conclusão que [25] "o biodiesel provoca mais problemas de saúde e ambientais porque cria uma poluição mais pulverizada, liberta mais poluentes que promovem a formação de ozono, geram mais desperdício e provocam maior eutroficação". [3] No Quadro 1 apresenta-se uma compilação das estimativas de equilíbrio de energia e de poupança em carbono. Calcula-se que o bioetanol da cana-de-açúcar no Brasil tem um equilíbrio de energia de uns incríveis 8,3 em média, e mais de 10,2 nos melhores casos; muito à frente de qualquer outro biodiesel, principalmente dos que são produzidos em regiões temperadas, cujas estimativas vão desde 2,2 até a menos de 1, um equilibro de energia negativo. A poupança de carbono do bioetanol da cana-de-açúcar brasileira entre 85 e 90 por cento, também é de longe maior do que qualquer outro biocombustível, que varia entre apenas 50 por cento a -30 por cento, i.e., a produção e utilização do biocombustível concorre com mais 30 por cento de emissões de gases com efeito de estufa do que a energia equivalente em combustíveis fósseis. Salvo duas excepções, todas as estimativas incluem a energia nos subprodutos e excluem os custos de infra-estruturas. Nenhuma delas inclui prejuízos ambientais ou esgotamento do solo, ou custos de exportação para outro país. Como se pode ver, com a possível excepção do bioetanol da cana-de-açúcar brasileira, nenhuma das fontes bioenergéticas tem um retorno suficientemente bom para os investimentos em energia e emissões de carbono, mesmo com os melhores disfarces. Quando forem feitas contas realistas, podem todas elas vir a dar um equilíbrio de energia e uma poupança de carbono negativos.
Há características que contribuem para o relativo êxito do bioetanol da cana-de-açúcar. Para além da produtiva taxa de crescimento das culturas no Brasil tropical, a produção envolve um ciclo fechado, em que a energia para a refinaria e processo de destilação provém da queima dos resíduos da cana-de-açúcar; portanto não são necessários combustíveis fósseis. A refinação e a destilação são grandes consumidoras de energia, em especial para o bioetanol. O grande saldo positivo de energia ficaria substancialmente reduzido se fossem incluídos os custos de infra-estruturas e de exportação, embora pudesse continuar a ser positivo. Mas mesmo com um resultado positivo em energia e carbono, há sérias dúvidas de que o bioetanol da cana-de-açúcar seja sustentável (Biofuels Republic Brazil, nesta série). Entre as principais preocupações estão os impactos ecológicos e sociais, incluindo a segurança alimentar, que são especialmente importantes num país em que os direitos humanos e o direito à terra são muito problemáticos. Há muitas contas falsas que inflacionam as poupanças de carbono. Por exemplo, não foi tida em consideração a enorme libertação de carbono do solo orgânico provocada pela cultura intensiva da cana-de-açúcar que substitui florestas e terras de pastagem [32] nem o facto de que as florestas naturais, se fossem regeneradas, poupariam mais 7 toneladas de dióxido de carbono por hectare por ano do que o bioetanol poupa num hectare de cana-de-açúcar 33]. E esta não é a única forma de falsear a contabilização. Os falsos créditos do carbono no biodiesel de Jatrofa no sul de África De acordo com as regras internacionais, nenhum dos gases com efeito de estufa ligados à produção de biocombustíveis será atribuído ao sector dos transportes. As emissões decorrentes da produção do biocombustível serão levadas à conta das emissões da agricultura e indústria e/ou sector energético. Do mesmo modo, todas as emissões provenientes do cultivo e refinação nos países do Terceiro Mundo, serão levadas à conta das emissões desses países, portanto um país, como o Reino Unido, que importe o biocombustível pode utilizá-lo para melhorar a sua quota de gases com efeitos de estufa. Isto permite que as nações importadoras ricas possam reduzir parte das suas emissões e reclamar os louros por fazê-lo ao abrigo do Acordo de Quioto [33]. Foi assim que surgiram as plantações de árvores Jatrofa no Malawi e na Zâmbia. A Jatrofa é uma planta resistente à seca que exige pouca ou nenhuma utilização de pesticidas ou fertilizantes. As sementes de Jatrofa podem ser colhidas três vezes por ano, e os subprodutos podem ser utilizados para fabricar sabão e até medicamentos. A refinação é feita na África do Sul. Muitos agricultores mudaram do tabaco para a Jatrofa, o que se considera ser uma coisa boa, visto que o tabaco é uma cultura muito agressiva para o ambiente. Até agora, há 200 000 hectares de Jatrofa no Malawi e 15 000 hectares na Zâmbia, quase todos sob um arrendamento formal ou acordos com a companhia D1-Oils, com sede no Reino Unido. O sul da África é uma das regiões mais vulneráveis do mundo à mudança climatérica. Todos os modelos climatéricos prevêem que a região (não incluindo a maior parte da África do Sul, o Lesoto e a Suazilândia) virá a ser muito mais quente e mais seca, com secas mais frequentes e mais rigorosas, intercaladas por inundações mais graves. Isto pode provocar enormes perdas de colheitas e o colapso da produção alimentar. Cerca de 80 por cento da população da Zâmbia depende da biomassa para todas ou para a maioria das suas necessidades energéticas, e só 12 por cento têm acesso à electricidade. No Malawi, 90 por cento da produção básica de energia provêm da biomassa, ou seja, da lenha e do carvão. A maioria dos rurais dependem da queima da lenha, muitas vezes em fogões pouco eficientes, que provocam grande poluição e são uma das principais causas de doenças e mortes. As mulheres e as raparigas são as mais afectadas. As plantações de Jatrofa podem ter graves impactos na protecção dos alimentos e da energia da região, principalmente se se expandirem. Até agora, ainda não se fez qualquer análise do ciclo de vida nem qualquer estudo de sustentabilidade do biocombustível da Jatrofa. Necessidade agora de uma auditoria transparente do ciclo de vida, da avaliação do impacto ambiental e de um esquema de certificação obrigatória. É bastante óbvio que os biocombustíveis actualmente têm origem em formas muito diferentes, em que a maioria não é neutra em carbono. Há a necessidade agora de um estudo transparente do ciclo de vida de energia e de emissões de carbono e de outros critérios de sustentabilidade que englobem os impactos sobre a saúde, o ambiente e o bem-estar social. Muita gente reclama um esquema de certificação obrigatória baseado em critérios claros de sustentabilidade que salvaguardem os ecossistemas florestais mais sensíveis assim como a fertilidade a longo prazo das nossas terras e do nosso solo. Estes critérios também deviam garantir a soberania alimentar (o direito à segurança no abastecimento dos alimentos preferidos pela população) e os correspondentes direitos à terra e ao trabalho para todos. Temos muitas alternativas renováveis e sustentáveis aos actuais biocombustíveis como se descreve no Relatório Energético do ISIS [34] ( Which Energy? ). Propusemos reunir estas opções numa 'Quinta de Sonho 2' [35] sem desperdícios de alimentos nem de energia ( Dream Farm 2 - Story So Far , SiS 31). Uma das tecnologias nucleares utilizada é a digestão anaeróbica, que transforma os desperdícios (e poluentes ambientais) em nutrientes de culturas e pastagens e em energia sob a forma de biogás, composto em 60 por cento ou mais por metano, que pode ser utilizado tanto para alimentar carros como para produzir electricidade. Estimei que se todos os desperdícios biológicos e do gado na Grã-Bretanha fossem tratados com digestores anaeróbicos obter-se-ia mais de metade do combustível de transporte do país [36] ( How to be Fuel and Food Rich under Climate Change , SiS 31). É verdade que os veículos precisam de um motor diferente, mas já existem carros desses no mercado, e os carros alimentados a biogás de metano têm descargas tão limpas que foram eleitos como os carros ambientais do ano em 2005. O mais significativo de tudo é que a 'Quinta de Sonho 2' funciona totalmente sem combustíveis fósseis. Conforme diz Robert Ulanowicz, professor de teoria da ecologia, "Aposto que as pessoas ficarão surpreendidas com a rapidez com que podem baixar os níveis de dióxido de carbono na atmosfera se deixássemos de queimar combustíveis fósseis".
Notas da tradutora (1) Ver Aquecimento global: uma impostura científica , de Marcel Leroux [2} Bushel – unidade de medida usada nas bolsas de futuros americanas para grãos e frutas (35,2 litros). (3) Eutroficação – enriquecimento de um ecossistema com nutrientes químicos, normalmente compostos contendo nitrogénio ou fósforo.
Mae-Wan Ho
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