terça-feira, novembro 22, 2005

SOBRE O LAQUES DE PLATÃO

O verdadeiro sujeito do Laques não é a coragem mas a propósito da coragem a educação das crianças, quer dizer a ciência dos estudos e exercícios que mais lhes convém. Melésias e Lisimaco pais de crianças que se encontram na adolescência acompanhados de Nícias e Laques que intervêem a propósito na discussão, abordam Sócrates para lhe pedir conselho sobre os melhores meios de desenvolver as faculdades morais e físicas dos seus filhos. Sócrates mostra-lhes que a vantagem da educação é de fazer nascer a virtude na alma das crianças. É óbvio que para a fazer nascer é necessário possui-la ou pelo menos conhecê-la. A verdadeira questão a resolver não seria outra senão esta: o que éa virtude?* Mas é uma questão tão vasta que Sócrates propõe, em lugar de examinar o que é a virtude em geral, limitar a análise a procurar se se conhece bem uma das suas partes, como é o caso, por exemplo, da coragem.
Laques dá uma primeira definição: a coragem consiste em agarrar-se ao terreno e não fugir perante o inimigo. Mas Sócrates riposta que o homem corajoso pode ceder por táctica em frente ao inimigo; e isto não é mais que uma espécie de coragem. O homem necessita dela na doença, na pobreza, na dor e na má fortuna, na luta contra as suas paixões. Esta definição é por Sócrates tida como falsa. Mas Laques propõe uma outra definição: A coragem é a constância. Sócrates mostra-lhe que a constância sózinha, desprovida de prudência e razão não merece o nome de coragem. A segunda definição de Laques mostra-se muito geral e desta maneira afastada por Sócrates. Entretanto intervém Nícias que define a coragem como a ciência das coisas que são a temer e das que não o são. Mas os médicos que sabem o que é e o que não é a temer para a saúde, os lavradores que sabem do mesmo modo o que diz respeito à agricultura não são por isso homens corajosos. E Sócrates diz mais: admitindo que sejam os adivinhos que prevêm tudo o que há e não há a temer na vida seriam pela mesma ordem de raciocínio os homens mais corajosos; conclusão inadmissível. Mas Sócrates continua dizendo que se a coragem é uma ciência, constitui o conhecimento universal de tudo o que é a temer e a desejar quer dizer de todos os maus e de todos os bens. Ora aplicando a natureza desta ciência ao passado, presente e futuro, não émenos, que o conhecimento absoluto do bem e do mal. Assim o homem que possuisse uma tal ciência não conheceria somente uma parte da virtude - a coragem - mas todas as outras partes, a saber: a sabedoria, a piedade, a justiça. Seria fora da condição humana e ao abrigo de todo o erro o Ser perfeito mas não o homem corajoso. Chegados ao fim do diálogo a coragem não foi ainda correctamente definida pois todas as definições propostas ficam aquém ou além da ideia de coragem.
A última conclusão a tirar é que é difícil conhecer a virtude pois não foi possível ter a ideia correcta duma das suas partes.

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