sábado, março 18, 2006

A ciência económica numa perspectiva capitalista

O crescimento é encarado de um modo geral como a panaceia para todos os grandes males económicos do mundo moderno. Pobreza? Basta fazer com que a economia cresça isto é, aumente a produção de bens e serviço e estimule os gastos do consumidor e observe a riqueza continuamente a pingar. Não tente redistribuir a riqueza dos ricos para os pobres, porque isto arrefece o crescimento. Desemprego? Aumente a procura por bens e serviços através do abaixamento das taxas de juro sobre empréstimos e do estímulo ao investimento, o qual conduz a mais empregos e a mais crescimento. Super população? Basta promover o crescimento económico e confiar na resultante transição demográfica para reduzir as taxas de nascimento, tal como o fizeram os países industriais durante o século XX. Degradação ambiental? Somente confiar na relação empírica que mostra que prosseguindo o crescimento do produto interno bruto, a poluição a princípio aumenta mas a seguir atinge um máximo e declina.Confiar no crescimento desta maneira poderia ser óptimo se a economia global existisse num vazio, mas isto não acontece. Ela é, antes, um subsistema da biosfera finita que a suporta. Quando a expansão da economia ultrapassa demasiado os limites do ecossistema que a rodeia, começaremos a sacrificar o capital natural tais como a pesca, os minerais e os combustíveis fósseis que é mais valioso do que o capital fabricado pelo homem tais como estradas, fábricas e aparelhos acrescentado pelo crescimento. Teremos então aquilo que podemos chamar crescimento a produzir males mais rapidamente do que bens — tornando-nos mais pobres e não mais ricos. Uma vez ultrapassada a escala óptima, o crescimento torna-se estúpido no curto prazo e de manutenção impossível no longo prazo. A evidência sugere que os EUA podem já ter entrado nessa fase de crescimento invertido.Não é fácil reconhecer e evitar esse crescimento. Um dos problemas é que há beneficiários dele e estes não querem mudar. Além disso, as contabilidades nacionais não registam explicitamente os custos de crescimento, por isso não os vemos claramente. A humanidade precisa fazer a transição para uma economia sustentável — que respeite os limites físicos inerentes ao ecossistema mundial e garanta que este continue a funcionar no futuro. Se não fizermos tal transição, poderemos ser punidos não apenas com crescimento invertido, mas com uma catástrofe ecológica que reduziria sensivelmente o nosso padrão de vida.A maioria dos economistas contemporâneos discorda de que alguns países caminhem nesse rumo. Muitos ignoram a questão da sustentabilidade e confiam que, como já fomos tão longe com crescimento, poderemos continuar assim para todo o sempre. A preocupação com a sustentabilidade, porém, tem longa história, remontando a textos de John Stuart Mill na década de 1840. A abordagem contemporânea baseia-se em estudos realizados nas décadas de 1960 e 1970 por diversos autores. Essa tradição é continuada pelos denominados economistas ecológicos e em certa medida por subdivisões da corrente económica principal chamada economia de recursos e ambiental. De um modo geral, contudo, a tendência dominante, os economistas neoclássicos, considera a sustentabilidade um modismo e defende o crescimento.Mas há factos evidentes e incontestáveis: a biosfera é finita, não cresce, é fechada com excepção do constante afluxo de energia solar e obrigada a funcionar de acordo com as leis da termodinâmica. Qualquer subsistema, como a economia, em algum momento deverá necessariamente cessar de crescer e adaptar-se a um equilíbrio dinâmico, algo semelhante a um estado estacionário. As taxas de nascimento devem ser iguais às de mortalidade, e as de produção de mercadorias devem igualar as de obsolescência.Durante o último meio século a população humana triplicou, e o número de objectos fabricados cresceu muito mais. O total de energia e material necessário para manter e substituir os artefactos humanos na Terra também aumentou enormemente. À medida que o mundo se torna repleto com seres humanos e com os seus objectos, esvazia-se daquilo que continha antes. Na microeconomia, as pessoas e as empresas percebem claramente quando devem cessar a expansão de uma actividade. Quando se expande atinge um ponto em que ocupa o lugar de outros empreendimentos, e essa substituição é contabilizada como custo. As pessoas param no ponto em que o custo marginal é igualado pelo benefício marginal. Ou seja, não vale a pena gastar um euro a mais num gelado quando esse dá menos satisfação do que o equivalente a um euro de outra coisa. A macroeconomia, porém, não dispõe de uma regra análoga que avise a hora de parar. Uma das forças motrizes do crescimento insustentável tem sido o axioma da insaciabilidade: as pessoas serão sempre mais felizes consumindo mais. Entretanto, pesquisas de economistas experimentais e psicólogos levam à rejeição desse axioma. Cada vez mais evidências, como trabalhos recentes da Universidade da Califórnia, sugerem que o crescimento nem sempre incrementa a felicidade nem a utilidade ou o bem-estar. Ao invés disso, a correlação entre o rendimento absoluto e a felicidade é válida apenas até um limiar de suficiência; além desse ponto, apenas o status relativo influencia a auto percepção de felicidade. Como a manutenção de uma economia sustentável repousa numa enorme mudança racional e emocional por parte de técnicos, políticos e eleitores, poderíamos ser tentados a afirmar que tal projecto é impossível. Mas a alternativa a uma economia sustentável, que mantenha permanente crescimento, é bio fisicamente impossível. Ao escolher entre enfrentar uma impossibilidade política e uma impossibilidade biofísica, eu escolheria a primeira opção. E será que a impossibilidade política será assim tão impossível?
http://resistir.info/ecologia/sustentabilidade.html

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