Selecção das perguntas mas frequentes sobre o desemprego tecnológico e suas respostas de forma resumida.
P - Os computadores eliminam empregos?
R – A simples aquisição de computadores e software por uma empresa não é capaz de provocar redução de pessoal. Mesmo que os computadores sejam conectados entre si e a outras redes externas.
P – Como a tecnologia de informação (TI) pode eliminar empregos?
R – Se for associada às novas técnicas gerenciais, de forma a racionalizar os métodos de trabalho, os sistemas informatizados podem tornar redundantes ou inúteis várias funções burocráticas de controle e gerenciamento.
P – Então a empresa tem de mudar seu modo de trabalhar?
R – Exactamente. As novas tecnologias permitem uma comunicação muito mais eficiente entre a alta administração e os funcionários encarregados de executar as tarefas mais simples. Isso elimina a necessidade de várias funções intermediárias.
P – Isso quer dizer que a tecnologia mais a racionalização significa demissão?
R – Não necessariamente. Para que isso ocorra também é necessário haver um ambiente político propício, de modo que o desemprego seja aceito como efeito natural do desenvolvimento e não traga desgastes a imagem da empresa e a seus produtos e serviços.
P – Então na verdade há três condições para o aparecimento do desemprego tecnológico?
R – Exacto. Tem de haver a tecnologia eficaz, a racionalização dos métodos de trabalho e o ambiente político adequado. Sem esses três elementos, nada acontece.
P – Pode dar exemplos?
R – Sim. Alguns órgãos públicos adquirem computadores e software sofisticados. Mas não mudam seus métodos de trabalho. O resultado é que ninguém vê melhora nos serviços prestados. Outros adoptam a racionalização e a melhora é logo percebida. Por outro lado, como os salários são pagos pelo contribuinte, ninguém é demitido.
P – Em países como EUA e Grã-bretanha, a TI está relacionada com a “exportação de empregos”?
R – Totalmente. Na verdade é a tecnologia de redes de computadores e as telecomunicações baratas e seguras que permitem transferir o trabalho de elaboração de software, análises financeiras, análises contábeis, de diagnósticos por imagens, etc. Também permite o funcionamento de centros de atendimento, de telemarketing e até a administração de fábricas à distância.
P – Esse “outsourcing” não é benéfico para todos?
R – Não. O esquema só é montado para aproveitar os baixos salários dos profissionais de outros países. Se eles subirem, a operação será inútil. Portanto, os únicos que ganham são os empregadores.
P – Em longo prazo, a tecnologia não gera mais empregos do que elimina?
R – Isso acontecia antes, porque toda a cadeia produtiva exigia muitos empregados. O aumento de produtividade fazia os preços caírem, e com isso a demanda aumentava. Para atende-la era preciso contratar mais gente. Isso acabou. A tecnologia pode atender mais demanda sem contratar ninguém.
P – O desemprego tecnológico não é restrito aos países mais ricos?
R – Não. Como vimos, as novas tecnologias não substituem mais os operários braçais e sim os mais especializados e pertencentes à hierarquia média das burocracias das empresas. Portanto seu impacto é mais ou menos uniforme.
P – Quer dizer que os pobres não são afectados?
R – São duramente afectados. O “deslocamento para baixo” de pessoas com alto nível de escolaridade e experiência, provoca uma “inflação” de talentos nos níveis mais baixos do mercado-de-trabalho. Os mais humildes, são empurrados para fora do mercado e vão aumentar o contingente de “excluídos”.
P – A tecnologia fará com que os níveis de desemprego disparem?
R – Num primeiro momento não. O processo é mais gradual. Dos demitidos, muitos aceitarão trabalhar com menor salário, outros em ocupações abaixo de sua qualificação e outros ainda irão trabalhar como autónomos, microempresários, etc.
P – Então o nível de emprego não reflecte o desemprego tecnológico?
R – De fato não. No passado, o operário braçal substituído pela máquina, era imediatamente contado como desempregado. Entre o profissional de classe média e a “sopa dos pobres” a distância é muito maior.
P – Então como o desemprego tecnológico pode ser detectado?
R – Por dois indicadores: O primeiro é a criação de empregos quando surge um surto de crescimento. Se o número de empregos gerados for proporcionalmente menor que o crescimento geral, “alguma coisa” está produzindo riqueza, e não são trabalhadores. O outro é o nível de renda do trabalho. Se a renda cai sem que haja recessão, podemos concluir que muitos trabalhadores estão “se mudando” para empregos inferiores.
P – Estamos vivendo uma terceira revolução industrial?
R – Sim, mas não apenas industrial. A nova revolução tecnológica abrange todos os sectores da economia e até mesmo de nossa vida particular. Isso faz muita diferença porque as teorias baseadas em “revoluções industriais” ficam limitadas nesse caso.
P – Mas as inovações não surgiram nas indústrias?
R – De facto não. As máquinas já existentes é que foram adaptadas para poderem ser controladas por computadores. O aumento da produtividade se deve a maior “inteligência” das linhas de montagem e não a máquinas mais possantes.
P – Por que se diz que a nova revolução é informacional?
R – Porque esta baseada no aumento vertiginoso da capacidade de armazenamento e de processamento de informações. Devemos lembrar que um robô é um conjunto mecânico controlado por um computador, e que esse é essencialmente uma máquina de processar informações. A maioria das inovações tecnológicas em todas as outras áreas, está ligada a introdução de processadores de informações digitais.
P – Então quer dizer que a tecnologia é ruim para a humanidade?
R – De modo algum. A tecnologia é tão culpada pelo desemprego tecnológico quanto às espadas pelas guerras. O emprego é uma relação humana e portanto a questão é política.
P – Por que não ouvimos os políticos abordarem esse assunto em suas campanhas?
R – Em geral, os políticos preferem evitar os assuntos que não entendem ou problemas que não possam resolver. Preferem uma abordagem superficial. Assim falam apenas em crescimento económico como panaceia para todos os males.
P – E os economistas e intelectuais?
R – O problema do desemprego tecnológico desafia a economia clássica tanto quando as ideias derivadas do marxismo. Em resumo, as ideias e sistemas de pensamentos tradicionais estão superados pelos novos factos.
P – Será que tudo isso não é um pouco de ficção científica?
R – Na verdade, para termos problemas, não é necessário que todas as actividades humanas sejam substituídas por robôs com aparência humana, como nos filmes de SiFi. Basta que os novos sistemas substituam uma percentagem razoável de trabalho humano, para que um forte desequilíbrio entre capital e trabalho, se estabeleça.
P – Mas os seres humanos não serão sempre necessários?
R – É claro que sim. A questão é saber quantos. Quantos cientistas brilhantes, arquitectos geniais, designers, compositores, artistas plásticos, empreendedores super criativos e outras pessoas assim seriam necessárias no futuro?
P – Quer dizer que os robôs e computadores podem substituir o homem?
R – Sim. Porque o que estamos considerando não é o lado afectivo e complexo, que torna cada ser individual e único. Em torno de 99% do trabalho humano consiste em executar tarefas repetitivas e previsíveis, tomar decisões com base em directrizes pré-estabelecidas e agir segundo critérios racionais. Isso as máquinas podem fazer.
P – Um país socialista estaria livre do desemprego estrutural?
R – Não. O problema tem relação com o modo de produção capitalista. Nele, o direito à renda está vinculado somente a duas coisa: Ao capital e ao trabalho. A URSS por exemplo era baseada no “capitalismo de estado”, e portanto o resultado é o mesmo.
P – O capitalismo em si pode superar o desemprego tecnológico?
R – Não. Se cada empresa tiver como meta uma redução de custos via redução de mão-de-obra, o próprio mercado acabará sendo comprometido. Simplesmente não haverá renda suficiente para comprar o que for produzido.
P – Já existem sinais desse perigo?
R – Sim. O vigor da actual recuperação da economia americana já está sendo posto em dúvida, exactamente pela falta de renda da classe média e dos trabalhadores em geral. Vários analistas financeiros já estão apontando isso.
P – O que poderá acontecer então? Uma grande quebra como em 1929?
R – Não. Uma grande quebra não seria o caso. As acções das empresas apenas iriam caindo de forma regular e constante. A economia mundial entraria num longo período de estagnação. Problemas conjunturais como os derivados do clima ou oscilações no preço do petróleo irão piorando as condições de vida. As tensões sociais iriam aumentando cada dia mais, algo muito parecido com o que precedeu o colapso da URSS.
P – As grandes corporações são responsáveis pelo desemprego tecnológico?
R – Não. As empresas simplesmente seguem a sua função natural que é a de produzir bens e serviços ao menor custo possível de forma a obter lucros. Se não usarem toda tecnologia disponível, irão acabar por sair do mercado.
P – Os governos não poderiam resolver o problema?
R – Não. Porque com a globalização os governos nacionais se tornaram impotentes para dirigir a economia de seus próprios países. As actividades económicas agora funcionam em redes globais e por isso são imunes as regulamentações dos governos.
P – Quer dizer que agora as multinacionais governam o mundo?
R – Também não. Na verdade mesmo as maiores corporações só podem exercer certo controle temporário sobre os mercados onde actuam. A economia e as finanças mundiais agora se organizam em redes, como a Internet, e por isso são praticamente ingovernáveis.
P – Os trabalhadores poderiam se revoltar e desencadear uma revolução como no passado?
R – De jeito nenhum. Isso só teria sentido se a economia ainda pudesse ser controlada pelo Estado. Então dominando o Estado, dominariam as forças económicas. Isso não existe mais. O poder político em muitos países já está nas mãos de partidos de esquerda, e nada mudou.
P – Então não há nada a fazer? Os ricos ficarão mais ricos e é só?
R – Há sim. Só que o novo desafio está na economia e não na política. Os trabalhadores devem lutar pela posse dos conhecimentos tecnológicos, que são a verdadeira fonte de poder da empresa capitalista da “nova economia”.
P – É possível “expropriar” os conhecimentos dos ricos?
R – Sim. É o que os hackers, por exemplo, fazem. Colocar um conhecimento vital ao alcance de todos é muito mais revolucionário do que gritar slogans contra os EUA, a ALCA ou o FMI. Os que fazem isso só estão perdendo tempo, e desviando o povo da verdadeira luta.
P – Mas e as patentes e direitos autorais?
R – Os capitalistas não geram conhecimento, apenas o compram e usam. Só que actualmente esse conhecimento se torna obsoleto com muita rapidez. Portanto basta que se impeça que os novos conhecimentos sejam apropriados apenas pelas empresas capitalistas.
P – Como se pode fazer isso?
R – Os trabalhadores que geram o conhecimento devem ser consciencializados de que é do seu interesse se juntar a cooperativas e outras organizações baseadas em economia solidária. Em pouco tempo, a tecnologia que é propriedade dos capitalistas perderá seu valor.
P – O capitalista então desapareceria?
R – Não. O capital assim como os empreendedores, são vitais para a produção e o aumento da riqueza. O que desaparecerá será o mecanismo pelo qual os frutos da tecnologia são concentrados apenas em poucas mãos.
P – Como isso é possível?
R – A economia solidária não é incompatível com o capitalismo e nem com o livre mercado. A diferença está em que ao usar a tecnologia, mesmo para reduzir a necessidade de mão-de-obra, uma cooperativa não “exclui” os trabalhadores do processo. Ou seja, o trabalhador pode ficar sem ter o que fazer, mas como é sócio do negócio, não fica sem seus rendimentos. Pode até mesmo vê-los aumentar.
P – Como uma cooperativa poderia manter trabalhadores sem fazer nada e ainda ganhando um bom salário?
R – Da mesma maneira que a empresa capitalista sustenta vários accionistas que jamais trabalharam em suas instalações. Na cooperativa, o empregado passa a ser também patrão e portanto não precisa trabalhar, exactamente como o capitalista rico.
P – Mas para se criar uma cooperativa lucrativa não é necessário capital?
R - É claro que sim. E por isso o capital continua a ter um papel fundamental. Se o projecto de uma cooperativa for viável, o crédito logo aparecerá, exactamente como nos empreendimentos capitalistas.
P – Cooperativas não são apenas para pessoas pobres e sem talento?
R – Actualmente sim. Isso porque as pessoas mais capazes e talentosas preferem buscar emprego nas empresas capitalistas, onde o emprego, salário e benefícios eram garantidos por muito tempo. Às vezes pela vida toda. Mas agora não é mais assim.
P – O que mudou de fato para os mais capazes? Por que se disporiam a compartilhar seus talentos com os outros?
R – Antes, um estudante brilhante poderia esperar ser contratado por uma grande empresa, trabalhar duro alguns anos, ser promovido para um cargo burocrático onde ficaria por vários anos, e depois se aposentar. Agora, após um curto período de máximo desempenho, ele é descartado. Os mais jovens logo perceberão isso e tenderão a procurar pela segurança oferecida pelas cooperativas, ao invés dos ganhos rápidos mas incertos, obtidos com a venda de seus talentos a um capitalista.
P – Os empregos um dia irão acabar de fato?
R – Sim. Irá levar ainda muito tempo, mas esse dia chegará. E nesse caso, é bom que todos os trabalhadores já tenham virado patrões, não é mesmo?
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/
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