As vacas pintadas vão estar em Lisboa este ano. Uma coisa desta envergadura merece um pouco da nossa atenção. É também a possibilidade de reflexão sobre mais um fenómeno globalista, desta vez no mundo das artes plásticas e da estética. A “arte” pública industrializou-se, centenas de “artistas” trabalham como operários colorindo estes modelos em PRFV (poliéster reforçado com fibra de vidro), como crianças que pintam dentro dos contornos as figuras dos livros para colorir, à conquista do mercado mundial e das multidões. Merece bem a pena reflectir sobre este fenómeno, inegável marco da globalização no mundo da arte. Os simulacros da vaca, excentricamente pintados, que este ano vão estar em Lisboa e também em: México City, México (2006), Buenos Aires, Argentina (2006), Madison, Wisconsin (2006), Boston, Massachusetts (2006), Denver, Colorado (2006), São Paulo, Brazil (2006), no continente americano, em Paris, França (2006), Lisboa, Portugal (2006), Edinburgh, Scotland (2006), Moscovo, Rússia (2006), na Europa, depois de terem passado por Portland, Oregon (2005), Harrisburg, Pensilvânia (2004), West Hartford, Connecticut (2003), Atlanta, Geórgia (2003), Las Vegas, Nevada (2002), Santo António, Texas (2002), Houston, Texas (2001), Kansas City, Missouri (2001), Nova York, Nova York (2000), Stamford, Connecticut (2000), West Orange, New Jersey (2000) no continente americano e em Florença, Itália (2005), Barcelona, Espanha (2005), Bucharest, Romenia (2005), Varsóvia, Polónia (2005), Bratislava, Slovakia (2005), Genebra, Suiça (2005), Mónaco (2005), Praga, Republica Checa (2004), Manchester, Inglaterra (2004), Estocolmo, Suécia (2004), Dublin, Irlanda (2003), Bruxelas, Bélgica (2003), Isle of Man (2003), Londres, Inglaterra (2002), Ventspils, Letônia (2002), na Europa e Sydney, Austrália (2002), Tóquio, Japão (2005), Africa do Sul (2004), Auckland, Nova Zelândia (2003) (Africa/Asia/Australia), são o maior fenómeno de todos os tempos da arte de temática “vacum”. Os mais radicais poderão mesmo considerar que este ícone tridimensional seriado em fibra de vidro reforçada com poliéster, colorido por “artistas, presidiários, aficionados do Benfica (no caso português), e outros “curiosos” denotam sobretudo o apagar da memória, numa fútil atitude de objectos levianos, onde Arte, é o que ali está ausente. Dirão mesmo que dada a semelhança de processos de expansão geográfica e social se assemelhar às grandes multinacionais, tem o cunho do poder que não respeita os protocolos ambientais de Quioto, que impõe o lucro com base nos trangénicos, que desenvolve as sementes “terminator”, que tenciona privatizar o acesso à agua em regiões pobres da América Latina, que desencadeia um "ataque preventivo", o mesmo que desencadear uma guerra, o que é considerado crime contra a humanidade desde Nuremberga, que criminaliza tudo o que lhe é adverso e que sobretudo diz que o que faz é para proteger e cuidar do cidadão. Segundo a Wikipedia a CowParade «é uma exibição pública internacional da arte que se caracteriza por acontecer nas principais cidades do mundo. As esculturas em fibra de vidro das vacas são decorados por artistas locais, e distribuídas sobre o centro das cidades, em lugares públicos tais como estações de comboio, avenidas importantes, e parques.
Caracterizam frequentemente a arte gráfica e os aspectos da cultura local e também a vida na cidade e outros temas relevantes. Após a exposição na cidade, a qual dura muitos meses, as vacas são leiloadas e os rendimentos revertem para a caridade. Há algumas variações da forma, mas as 3 formas mais comuns da vaca foram criadas por Pascal Knapp, escultor nascido na Suíça que foi encarregado de criar especificamente as vacas para a série de eventos das CowParade.». Manifestação de uma cultura globalista que procura uniformizar as identidades locais para gerir e mercantilizar em proveito próprio, também o fenómeno artístico. O estatuto do artista, fica neste contexto reduzido, e substituído por qualquer pessoa ou grupo que decore estes pré-fabricados com motivos excêntricos ou alusivos ao seu clube de futebol, instituição, etc.. O que ganha o ensino artístico, a memória das pessoas e os próprios artistas com estas realizações? Para todo este mega evento, simulacro do “vacum” parodiado, um artista apenas é notado, Pascal Knapp, autor dos três principais modelos, equivalentes a três bonequinhos dos tradicionais livros de colorir. Mas se agora são notadas na nossa capital, estas “vacas” já infestam a Europa de lés a lés, colocadas em tudo quanto é sítio, das grandes cidades, bermas de estrada, sapatarias, lojas de moda, talhos, estações de serviço, etc., é a moda da vaca pintada que conquistou a cultura do mundo. É uma epidemia de simulacros do martirizado animal. Depois vem as réplicas em formatos reduzidos, de vários tamanhos, para os coleccionadores de bugiganga gastarem o seu dinheiro. Está tudo industrializado e propriedade de grandes corporações. O mundo mudou, o quadro de mentalidades mudou, a arte e o estatuto do artista, com este modelo de arte pública, distancia-se já bastante do que foi o séc. XX. Nenhuma qualidade estética interessante, nenhuma referência coerente, nenhum interesse memorial encontramos inscritos naquelas frivolidades, a não ser a constatação óbvia da profunda crise humanista que se instalou e que arrasta também a arte para uma profunda crise. Este ícone tridimensional da vaca para colorir, está muito distante da qualidade escultórica e memorial das estátuas bovinas que encontramos em algumas cidades europeias, como a vaca de Leeuwarden designada por onze muder, o excelente conjunto que compõe a fonte dos pastores em Siegen, os touros ibéricos como o de Pamplona ou aquele que compõe o monumento ao campino em Vila Franca de Xira. O que resta dos milhares de decorações pictóricas diferentes desta forma é a ideia de vaca, uma marca subliminar ligada ao hambúrguer e ao bife, que se tornaram na dieta diária de milhões de pessoas. Um modelo alimentar que nada tem que ver com as formas locais de alimentação, derivadas da cultura, tradição e recursos das populações nos diversos lugares geográficos. Assim, a Cow Parade publicita subliminarmente o consumo de carne de vaca, cujos interesses só podem ser o das grandes explorações do Texas, da Irlanda e de outros locais em prejuízo dos pequenos criadores. É um fenómeno de rancheiros e cowboys que se instalou no mundo. Torna-se a vaca como suporte de decorações vistosas, com o objectivo de motivar emoções afectivas e oculta-se na totalidade como são criadas em série, com rações contendo grande quantidade de produtos químicos e OGM, abate-se em série de forma desumana os animais e processam-se de modo a virem embalados os pedaços para os mercados. É uma fabricação de grandes indústrias. Muitos hindus se abstêm completamente de carne. Principalmente a de origem bovina, dado que a vaca é um animal sagrado, mas não há impedimento ao uso do leite e dos laticínios em geral. No entanto algumas castas inferiores podem comer carne de búfalo. Atualmente, o consumo da carne de vaca está ganhando alguma adesão na Índia, por influência da cultura global. A carne de vaca também é rejeitada pelos mais velhos em Taiwan. A razão para isso está na crença de que seja errado comer um animal tão útil na agricultura. Na cultura global em formação, a base alimentar é carne de vaca. Daí a arte global se iniciar pela representação deste animal. Aí está o principal alvo deste ícone, o estômago, a primeira das três necessidades básicas freudianas (fome, sede e sexo). Não sou contra comer carne de vaca, eu próprio como vaca uma a duas vezes ao ano, portanto não é uma observação vegetarianista. Ademais não esqueci uma frase de Jean Cocteau “não há venenos, há doses”. Neste caso estamos perante uma overdose de vacas de plástico com pretexto artístico vanguardista. Não poderá esta enormíssima quantidade de exemplares e realizações maciças envenenar a consciência de muitos consumidores de obra plástica urbana? Estamos perante mais um ataque à diversidade e uma uniformização das consciências em torno de significados alheios à natureza e a leituras coerentes do real. É a massificação do pueril, e a deslocação dos significados e dos afectos para o nonsense do insignificante, frívolo, vão e leviano. Sendo a Europa, a seguir à América Central o continente com mais realizações Cowparade, é caso para referir o arrefecimento de programas e propostas estéticas coerentes, e a notada falta de criatividade dos responsáveis pela cultura europeia nas instituições. É isto que abre as portas da Europa a estes fenómenos culturais de qualidade duvidosa, em muito maior quantidade que na Africa ou na Ásia, em período de crise de fenómenos bem mais interessantes como as “capitais europeias da cultura” e outras realizações afins. E no caso português? Mais uma vez, somos notados no mudo. Somo bons, estamos muito internacionalizados. Depois do Euro 2004 estamos na rota dos noticiários internacionais, Rock in Rio, Rali Lisboa – Dakar, Cow Parade, visita do Bill Gates e em Setembro vamos ter em Lisboa os 300 altos-quadros e dirigentes das multinacionais mais ricas , vão debater sedes de negócio. Lisboa quer ficar no mapa destas multinacionais. Ficarão muito contentes por encontrar a cidade cheia de bonecos/vacas pintados. A publicidade online ao evento vacum mostra os hotéis disponíveis, ao mesmo tempo que divulga actividades para dinamizar o evento: « Vacas do Cow Parade já estão a ser criadas». As vacas que irão ser exibidas em vários locais da capital durante a iniciativa Cow Parade, de 14 de Maio até finais de Agosto, começaram ontem a ser decoradas e pintadas nas antigas instalações do Metropolitano de Lisboa, em Sete Rios, tranformadas numa enorme galeria de arte. No «Atelier de Pintura ao Vivo», artistas de diversas várias localidades portuguesas estão a pintar 74 das 100 vacas escolhidas, num «espectáculo» aberto ao público de terça-feira a domingo, entre as 15 e as 22 horas. Além das vacas que estão a ser decoradas aqui, outras 12 começaram a ser enfeitadas em 12 centros comerciais espalhados pelo país e pelas regiões autónomas, e outra no Estabelecimento Prisional de Aveiro. As restantes 11 vacas vão ser pintadas pelos artistas seleccionados nos seus próprios ateliers de pintura. ”Democratizar a arte, aproximando-a do público” é um dos objectivos do Cow Parade, segundo a organização da iniciativa, que irá apresentar exemplares como a Chococow, Vaca MUUuuóvel, Vacamões, Vaca Portuguesa, Portucow e Cow-Mões, entre muitas outras.» . Até os nomes das vacas são ridículos. Só mesmo para débeis mentais. Temos pois elementos suficientes para reflectir sobre a Cowparade como marco importante nas mudanças do mundo e dos seus reflexos na arte. As coisas estão mesmo a mudar, e temos que estar preparados para a mudança. Mas temos que saber para o que queremos mudar - se para pessoas conscientes ou para débeis mentais. Haverá forma de combater esta praga?
Caracterizam frequentemente a arte gráfica e os aspectos da cultura local e também a vida na cidade e outros temas relevantes. Após a exposição na cidade, a qual dura muitos meses, as vacas são leiloadas e os rendimentos revertem para a caridade. Há algumas variações da forma, mas as 3 formas mais comuns da vaca foram criadas por Pascal Knapp, escultor nascido na Suíça que foi encarregado de criar especificamente as vacas para a série de eventos das CowParade.». Manifestação de uma cultura globalista que procura uniformizar as identidades locais para gerir e mercantilizar em proveito próprio, também o fenómeno artístico. O estatuto do artista, fica neste contexto reduzido, e substituído por qualquer pessoa ou grupo que decore estes pré-fabricados com motivos excêntricos ou alusivos ao seu clube de futebol, instituição, etc.. O que ganha o ensino artístico, a memória das pessoas e os próprios artistas com estas realizações? Para todo este mega evento, simulacro do “vacum” parodiado, um artista apenas é notado, Pascal Knapp, autor dos três principais modelos, equivalentes a três bonequinhos dos tradicionais livros de colorir. Mas se agora são notadas na nossa capital, estas “vacas” já infestam a Europa de lés a lés, colocadas em tudo quanto é sítio, das grandes cidades, bermas de estrada, sapatarias, lojas de moda, talhos, estações de serviço, etc., é a moda da vaca pintada que conquistou a cultura do mundo. É uma epidemia de simulacros do martirizado animal. Depois vem as réplicas em formatos reduzidos, de vários tamanhos, para os coleccionadores de bugiganga gastarem o seu dinheiro. Está tudo industrializado e propriedade de grandes corporações. O mundo mudou, o quadro de mentalidades mudou, a arte e o estatuto do artista, com este modelo de arte pública, distancia-se já bastante do que foi o séc. XX. Nenhuma qualidade estética interessante, nenhuma referência coerente, nenhum interesse memorial encontramos inscritos naquelas frivolidades, a não ser a constatação óbvia da profunda crise humanista que se instalou e que arrasta também a arte para uma profunda crise. Este ícone tridimensional da vaca para colorir, está muito distante da qualidade escultórica e memorial das estátuas bovinas que encontramos em algumas cidades europeias, como a vaca de Leeuwarden designada por onze muder, o excelente conjunto que compõe a fonte dos pastores em Siegen, os touros ibéricos como o de Pamplona ou aquele que compõe o monumento ao campino em Vila Franca de Xira. O que resta dos milhares de decorações pictóricas diferentes desta forma é a ideia de vaca, uma marca subliminar ligada ao hambúrguer e ao bife, que se tornaram na dieta diária de milhões de pessoas. Um modelo alimentar que nada tem que ver com as formas locais de alimentação, derivadas da cultura, tradição e recursos das populações nos diversos lugares geográficos. Assim, a Cow Parade publicita subliminarmente o consumo de carne de vaca, cujos interesses só podem ser o das grandes explorações do Texas, da Irlanda e de outros locais em prejuízo dos pequenos criadores. É um fenómeno de rancheiros e cowboys que se instalou no mundo. Torna-se a vaca como suporte de decorações vistosas, com o objectivo de motivar emoções afectivas e oculta-se na totalidade como são criadas em série, com rações contendo grande quantidade de produtos químicos e OGM, abate-se em série de forma desumana os animais e processam-se de modo a virem embalados os pedaços para os mercados. É uma fabricação de grandes indústrias. Muitos hindus se abstêm completamente de carne. Principalmente a de origem bovina, dado que a vaca é um animal sagrado, mas não há impedimento ao uso do leite e dos laticínios em geral. No entanto algumas castas inferiores podem comer carne de búfalo. Atualmente, o consumo da carne de vaca está ganhando alguma adesão na Índia, por influência da cultura global. A carne de vaca também é rejeitada pelos mais velhos em Taiwan. A razão para isso está na crença de que seja errado comer um animal tão útil na agricultura. Na cultura global em formação, a base alimentar é carne de vaca. Daí a arte global se iniciar pela representação deste animal. Aí está o principal alvo deste ícone, o estômago, a primeira das três necessidades básicas freudianas (fome, sede e sexo). Não sou contra comer carne de vaca, eu próprio como vaca uma a duas vezes ao ano, portanto não é uma observação vegetarianista. Ademais não esqueci uma frase de Jean Cocteau “não há venenos, há doses”. Neste caso estamos perante uma overdose de vacas de plástico com pretexto artístico vanguardista. Não poderá esta enormíssima quantidade de exemplares e realizações maciças envenenar a consciência de muitos consumidores de obra plástica urbana? Estamos perante mais um ataque à diversidade e uma uniformização das consciências em torno de significados alheios à natureza e a leituras coerentes do real. É a massificação do pueril, e a deslocação dos significados e dos afectos para o nonsense do insignificante, frívolo, vão e leviano. Sendo a Europa, a seguir à América Central o continente com mais realizações Cowparade, é caso para referir o arrefecimento de programas e propostas estéticas coerentes, e a notada falta de criatividade dos responsáveis pela cultura europeia nas instituições. É isto que abre as portas da Europa a estes fenómenos culturais de qualidade duvidosa, em muito maior quantidade que na Africa ou na Ásia, em período de crise de fenómenos bem mais interessantes como as “capitais europeias da cultura” e outras realizações afins. E no caso português? Mais uma vez, somos notados no mudo. Somo bons, estamos muito internacionalizados. Depois do Euro 2004 estamos na rota dos noticiários internacionais, Rock in Rio, Rali Lisboa – Dakar, Cow Parade, visita do Bill Gates e em Setembro vamos ter em Lisboa os 300 altos-quadros e dirigentes das multinacionais mais ricas , vão debater sedes de negócio. Lisboa quer ficar no mapa destas multinacionais. Ficarão muito contentes por encontrar a cidade cheia de bonecos/vacas pintados. A publicidade online ao evento vacum mostra os hotéis disponíveis, ao mesmo tempo que divulga actividades para dinamizar o evento: « Vacas do Cow Parade já estão a ser criadas». As vacas que irão ser exibidas em vários locais da capital durante a iniciativa Cow Parade, de 14 de Maio até finais de Agosto, começaram ontem a ser decoradas e pintadas nas antigas instalações do Metropolitano de Lisboa, em Sete Rios, tranformadas numa enorme galeria de arte. No «Atelier de Pintura ao Vivo», artistas de diversas várias localidades portuguesas estão a pintar 74 das 100 vacas escolhidas, num «espectáculo» aberto ao público de terça-feira a domingo, entre as 15 e as 22 horas. Além das vacas que estão a ser decoradas aqui, outras 12 começaram a ser enfeitadas em 12 centros comerciais espalhados pelo país e pelas regiões autónomas, e outra no Estabelecimento Prisional de Aveiro. As restantes 11 vacas vão ser pintadas pelos artistas seleccionados nos seus próprios ateliers de pintura. ”Democratizar a arte, aproximando-a do público” é um dos objectivos do Cow Parade, segundo a organização da iniciativa, que irá apresentar exemplares como a Chococow, Vaca MUUuuóvel, Vacamões, Vaca Portuguesa, Portucow e Cow-Mões, entre muitas outras.» . Até os nomes das vacas são ridículos. Só mesmo para débeis mentais. Temos pois elementos suficientes para reflectir sobre a Cowparade como marco importante nas mudanças do mundo e dos seus reflexos na arte. As coisas estão mesmo a mudar, e temos que estar preparados para a mudança. Mas temos que saber para o que queremos mudar - se para pessoas conscientes ou para débeis mentais. Haverá forma de combater esta praga?
j. filipe vieira
http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=75669&cidade=1
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