Sintoma altamente revelador da decadência da classe trabalhadora sob o novo paradigma informacional é a completa perda de identidade de suas organizações mais representativas: os sindicatos.
Ainda estão em nossa lembrança os tempos em que a data de 1º de Maio era esperada com um misto de apreensão e suspeita pelas autoridades. Esquemas de segurança especiais eram montados com vistas a prever possíveis excessos das “classes perigosas”.
Devemos nos lembrar de que: “Maio já foi um mês diferente de qualquer outro. No primeiro dia desse mês as tropas e as polícias ficavam de prontidão, os patrões se preparavam para enfrentar problemas e os trabalhadores não sabiam se no dia 2 teriam emprego, liberdade ou até a vida”. (1)
“Segundo o historiador do movimento operário, Edgar Rodrigues, a primeira tentativa de comemorar o 1º de Maio no Brasil foi em 1894, em São Paulo, por iniciativa do anarquista italiano Artur Campagnoli, iniciativa frustrada pelas prisões desencadeadas pela polícia”. (2)
Nesse 1º de Maio, no entanto, assistimos a um deprimente espectáculo: A completa descaracterização dos sindicatos de trabalhadores e a transformação do “dia do trabalhador” em um absurdo festival de quermesses cujo único objectivo é a promoção de políticos tanto do partido do governo como da oposição.
Duas centrais sindicais se esmeraram em oferecer shows com cantores populares, sorteio de brindes e muitos discursos de figuras políticas completamente dissociadas das classes trabalhadoras. O melhor exemplo do clima de circo e da completa perda do senso de ridículo foi, sem dúvida, o discurso do folclórico presidente da câmara.
Mais absurdo ainda foi o fato de todos os discursos se referirem a críticas às altas taxas de juros – reclamação preferida da classe empresarial – sem qualquer referência ao constante rebaixamento do nível de renda e das condições de trabalho da classe trabalhadora.
O próprio desemprego foi atribuído a “política económica” como se o presidente da república e o ministro da fazenda não pertencessem ao Partido dos Trabalhadores! Reivindicações sobre redução de jornadas de trabalho foram discretamente eliminadas de todos as principais manifestações.
O que estaria acontecendo? Será que os trabalhadores, em sua imensa maioria, estariam tão satisfeitos com seus empregos, as suas remunerações, e as suas perspectivas de futuro a ponto de transformar seu antigo dia de lutas num imenso forro?
Não parece ser esse o caso. Um artigo publicado nesse melancólico “dia do trabalho”, nos oferece outra visão. Ele se intitula: “Para especialistas, sindicato perdeu identidade”. Nele podemos ler:
“Os sindicatos perderam a sua real identidade e correm atrás de um novo foco. Afectados pela reestruturação produtiva e pela globalização, estão mais dependentes do Estado, próximos das empresas, enfraquecidos, desorganizados, com pouca representatividade e ‘repletos de pelegos’. Essa é a análise de 20 especialistas consultados pela Folha [de São Paulo]”.(3)
Seguem-se várias análises e opiniões dos tais “especialistas”. As explicações para a perda de poder e influência dos sindicatos são das mais curiosas. Em resumo seriam:
a) Os sindicatos outrora se limitavam a lutar por reposição das perdas salariais com a inflação. A economia estável os teria deixado sem função.
b) A justiça do trabalho teria se tornado tão abrangente e a legislação tão paternalista, que as lutas sindicais perderam a razão de ser.
O fato de o fenómeno ser mundial, independente do país ser desenvolvido ou não, de sua taxa de crescimento, de suas taxas de juros e câmbio ou de sua legislação trabalhista, não parece abalar a convicção desses senhores.
A maioria simplesmente procura evitar a todo custo enxergar o óbvio: A decadência dos sindicatos é apenas um reflexo da decadência da classe trabalhadora em todo o mundo.
O novo paradigma tecnológico, sob o qual se dá a globalização da economia, reduz de forma drástica a necessidade de mão-de-obra pelas empresas, tornando o trabalhador cada vez mais irrelevante.
A força dos sindicatos se resumia em uma única e temível palavra: Greve. Foi sobre a capacidade dos operários organizados de paralisar as engrenagens da produção capitalista que se construiu todo o edifício do sindicalismo.
Foi o temor às greves – e às possíveis consequências políticas advindas dos confrontos violentos com os operários sindicalizados – o motor da construção dos estados de bem-estar social em toda à parte.
Os sindicatos contemporâneos não perderam sua força porque perderam sua identidade. Perderam sua identidade porque a classe trabalhadora perdeu sua força. Sem a ameaça que as greves representavam, a classe trabalhadora está lentamente sucumbindo à desintegração e a desmobilização.
A “explicação” de que as greves se tornaram desnecessárias devido a um “melhor diálogo” com o patronato é ainda mais absurda. Desses “diálogos” tudo o que se vê é concessões cada vez maiores por parte dos trabalhadores com o único objectivo de conservar pelo menos alguns empregos.
Melancólico e triste 1º de Maio. Injusto destino para a memória dos “Mártires de Chicago” que deram suas vidas pela causa operária.
Ainda estão em nossa lembrança os tempos em que a data de 1º de Maio era esperada com um misto de apreensão e suspeita pelas autoridades. Esquemas de segurança especiais eram montados com vistas a prever possíveis excessos das “classes perigosas”.
Devemos nos lembrar de que: “Maio já foi um mês diferente de qualquer outro. No primeiro dia desse mês as tropas e as polícias ficavam de prontidão, os patrões se preparavam para enfrentar problemas e os trabalhadores não sabiam se no dia 2 teriam emprego, liberdade ou até a vida”. (1)
“Segundo o historiador do movimento operário, Edgar Rodrigues, a primeira tentativa de comemorar o 1º de Maio no Brasil foi em 1894, em São Paulo, por iniciativa do anarquista italiano Artur Campagnoli, iniciativa frustrada pelas prisões desencadeadas pela polícia”. (2)
Nesse 1º de Maio, no entanto, assistimos a um deprimente espectáculo: A completa descaracterização dos sindicatos de trabalhadores e a transformação do “dia do trabalhador” em um absurdo festival de quermesses cujo único objectivo é a promoção de políticos tanto do partido do governo como da oposição.
Duas centrais sindicais se esmeraram em oferecer shows com cantores populares, sorteio de brindes e muitos discursos de figuras políticas completamente dissociadas das classes trabalhadoras. O melhor exemplo do clima de circo e da completa perda do senso de ridículo foi, sem dúvida, o discurso do folclórico presidente da câmara.
Mais absurdo ainda foi o fato de todos os discursos se referirem a críticas às altas taxas de juros – reclamação preferida da classe empresarial – sem qualquer referência ao constante rebaixamento do nível de renda e das condições de trabalho da classe trabalhadora.
O próprio desemprego foi atribuído a “política económica” como se o presidente da república e o ministro da fazenda não pertencessem ao Partido dos Trabalhadores! Reivindicações sobre redução de jornadas de trabalho foram discretamente eliminadas de todos as principais manifestações.
O que estaria acontecendo? Será que os trabalhadores, em sua imensa maioria, estariam tão satisfeitos com seus empregos, as suas remunerações, e as suas perspectivas de futuro a ponto de transformar seu antigo dia de lutas num imenso forro?
Não parece ser esse o caso. Um artigo publicado nesse melancólico “dia do trabalho”, nos oferece outra visão. Ele se intitula: “Para especialistas, sindicato perdeu identidade”. Nele podemos ler:
“Os sindicatos perderam a sua real identidade e correm atrás de um novo foco. Afectados pela reestruturação produtiva e pela globalização, estão mais dependentes do Estado, próximos das empresas, enfraquecidos, desorganizados, com pouca representatividade e ‘repletos de pelegos’. Essa é a análise de 20 especialistas consultados pela Folha [de São Paulo]”.(3)
Seguem-se várias análises e opiniões dos tais “especialistas”. As explicações para a perda de poder e influência dos sindicatos são das mais curiosas. Em resumo seriam:
a) Os sindicatos outrora se limitavam a lutar por reposição das perdas salariais com a inflação. A economia estável os teria deixado sem função.
b) A justiça do trabalho teria se tornado tão abrangente e a legislação tão paternalista, que as lutas sindicais perderam a razão de ser.
O fato de o fenómeno ser mundial, independente do país ser desenvolvido ou não, de sua taxa de crescimento, de suas taxas de juros e câmbio ou de sua legislação trabalhista, não parece abalar a convicção desses senhores.
A maioria simplesmente procura evitar a todo custo enxergar o óbvio: A decadência dos sindicatos é apenas um reflexo da decadência da classe trabalhadora em todo o mundo.
O novo paradigma tecnológico, sob o qual se dá a globalização da economia, reduz de forma drástica a necessidade de mão-de-obra pelas empresas, tornando o trabalhador cada vez mais irrelevante.
A força dos sindicatos se resumia em uma única e temível palavra: Greve. Foi sobre a capacidade dos operários organizados de paralisar as engrenagens da produção capitalista que se construiu todo o edifício do sindicalismo.
Foi o temor às greves – e às possíveis consequências políticas advindas dos confrontos violentos com os operários sindicalizados – o motor da construção dos estados de bem-estar social em toda à parte.
Os sindicatos contemporâneos não perderam sua força porque perderam sua identidade. Perderam sua identidade porque a classe trabalhadora perdeu sua força. Sem a ameaça que as greves representavam, a classe trabalhadora está lentamente sucumbindo à desintegração e a desmobilização.
A “explicação” de que as greves se tornaram desnecessárias devido a um “melhor diálogo” com o patronato é ainda mais absurda. Desses “diálogos” tudo o que se vê é concessões cada vez maiores por parte dos trabalhadores com o único objectivo de conservar pelo menos alguns empregos.
Melancólico e triste 1º de Maio. Injusto destino para a memória dos “Mártires de Chicago” que deram suas vidas pela causa operária.
Notas:
(1) “As Origens Trágicas e Esquecidas do Primeiro de Maio” - Jorge E. Silva - Membro do Centro de Estudos Cultura e Cidadania - Florianópolis (CECCA)
(2) Idem.
(3) ”Para especialistas, sindicato perdeu identidade” - Fátima FernandesClaudia Rolli – Folha de S.Paulo – 1/5/2005.
(1) “As Origens Trágicas e Esquecidas do Primeiro de Maio” - Jorge E. Silva - Membro do Centro de Estudos Cultura e Cidadania - Florianópolis (CECCA)
(2) Idem.
(3) ”Para especialistas, sindicato perdeu identidade” - Fátima FernandesClaudia Rolli – Folha de S.Paulo – 1/5/2005.
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br
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