quarta-feira, junho 21, 2006

A decadência salarial da classe trabalhadora

Já nos acostumamos ao novo dogma estabelecido pelas estatísticas sobre economia no mundo inteiro. Independentemente do crescimento da economia, da taxa de cambio, da balança de pagamentos, a renda do trabalhador sempre cai.
É um fato que intriga os economistas ortodoxos e exige explicações das mais mirabolantes. Independentemente do desempenho, do aquecimento ou desaceleração da atividade econômica, da balança de pagamentos, da taxa de cambio e outros indicadores, a renda do trabalho sempre cai.
Isso pode ser conferido em países desenvolvidos como os EUA ou “em desenvolvimento” como o Brasil, passando por países europeus e asiáticos. Mas isso só é surpresa para quem não entende os mecanismos da economia global em sua intimidade.
O novo paradigma tecnológico e gerencial é totalmente voltado para o aumento da taxa de lucro por meio da redução constante dos custos de mão-de-obra. Isso é feito pela substituição sistemática dos empregados com maiores salários por soluções que envolvam tecnologia de informação.
Em português claro, trata-se de substituir os gerentes por redes de computadores. Como a robotização e a mecanização generalizada já esgotaram seu potencial de eliminação de empregos nas linhas de produção, volta-se agora para os empregados de “colarinho branco”.
De fato, temos na revista Veja, um interessante quadro explicativo de como se dá o empobrecimento da classe trabalhadora. O quadro se intitula “Menos salário para a classe média” e se baseia em dados do IBGE e do Ministério do Trabalho. O texto explicativo é:
“Um levantamento mostra como a substituição de funcionários levada a cabo pelas empresas nos últimos dez anos, atingiu principalmente os profissionais com curso superior e nível de gerência. Ou seja, aqueles que costumam ser os chefes de família de classe média”.(*)
Segue-se uma tabela que apresenta “A mordida no salário”, vamos aos números: “Entre um funcionário demitido e outro contratado, o salário diminui em:”
24% para gerentes
22,5% para os que têm faculdade
17,5% para os que têm o segundo grau completo
12% para os que cursaram, no máximo, até a oitava série.
Podemos concluir que apesar das quedas de salário serem generalizadas, seu efeito é muito mais prejudicial para as pessoas com maior grau de escolaridade e/ou experiência de trabalho. Em termos de um mercado de trabalho tradicional isso deveria ser um contra-senso.
Mas se considerarmos que as novas tecnologias de informação e os novos métodos gerenciais têm por objetivo eliminar exatamente essa mão-de-obra, não é surpresa nenhuma que esses resultados se mostrem nas estatísticas.
Isso ajuda a compreender melhor as razões da decadência da classe trabalhadora e desmistifica o problema do desemprego estrutural como resultado de uma suposta falta de qualificação da população para as novas realidades do mercado.
A classe trabalhadora está condenada, onde não há desemprego em massa, há o achatamento brutal dos salários. O maior nível de estudos ou o acúmulo de experiência profissional, não são de forma alguma antídoto para esse processo irreversível.

Está na hora de pensar nesse assunto mais a sério...

http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/

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