sexta-feira, junho 09, 2006

Pai e Filho americanos

Um dia destes, numa casa americana... -
Pai, por que o nosso país invadiu o Iraque?
- perguntou Billy, de 8 anos -
Lá tinha armas de destruição em massa
- Mas a TV disse que os inspectores não acharam nada.
- Os iraquianos esconderam. E o nosso governo sabe que invasões funcionam mais que inspecções.
- Se tinha tais armas, por que não usaram quando atacamos?
- Para que ninguém soubesse que eles têm armas. Preferem morrer a defender-se.
- Como é que um povo pode preferir morrer a defender-se?
- A cultura deles é diferente. Preferem morrer e ir logo para junto de Alá.
E lembre-se que Saddam Hussein era um cruel ditador.
- Como cruel?
- Torturava e matava gente.
- Como na China Comunista?
- A China é diferente, o seu povo trabalha para as nossas empresas, reduzindo os custos de produção e aumentando nossos lucros.
- Mas a China não é comunista?
- É. - E os comunistas não são maus?
- Só os comunistas da Coreia do Norte e de Cuba, que prendem e torturam gente.
- Como fazemos em Bagdad?
- É diferente. Nós prendemos e torturamos em defesa dos direitos humanos e da liberdade.
- Foi o que fizemos no Afeganistão?
- Lá foi por causa do Osama Bin Laden
- Ele é afegão?
- Não, é saudita.
- Como 15 dos 19 sequestradores suicidas do 11 de Setembro?
- Sim.
- E por que não invadimos a Arábia Saudita?
- Porque o governo de lá é nosso amigo.
- Como era Saddam em 1980, ao combater o Irão?
- Sim, quem combate nosso inimigo é nosso amigo.
- E porque temos inimigos?
- Porque muitos povos têm inveja do nosso progresso.
- Mas, pai, inveja não é problema do invejado?
- O invejoso de hoje pode ser o terrorista de amanhã.
- O que é um terrorista? - É uma pessoa que não pensa como nós pensamos.
- Mas não defendemos a liberdade de opinião?
- Só a que não vai contra a nossa opinião.
- O Iraque atacou-nos?
- Não, mas agora fazemos guerras preventivas, evitamos o mal antes que a semente dele caia na terra.
- Nós é que produzimos as armas empregadas nas guerras?
- Boa parte delas, pois a guerra favorece a nossa economia.
- Quer dizer que ficamos ricos com a morte de outros povos?
- É a lógica de mercado.
- Mas, pai, uma vida humana não vale mais que um míssil? Não foi isso que você me ensinou? - Teoricamente sim, mas na prática não é bem assim. Para o mercado, só tem valor a vida que está dentro dele, a do consumidor.
- E as outras vidas?
- Filho, nada em excesso é bom. Muito vento causa furacão, muita água, enchente, muitas bocas, fome.
- Quer dizer que nós matamos como o Saddam e o Talibã matavam?
- Nós matamos a favor da liberdade; eles, contra.
- Inclusive crianças como eu?
- Você não é como elas. Não temos culpa de os nossos inimigos terem filhos.
- Deus aprova isso?
- Sim, nosso presidente fala directamente com ele.
- Como assim?
- Ele escuta a voz divina em sua cabeça. Deus o elegeu para fazer a guerra do bem contra o mal.
- Mas Deus e Alá não são a mesma pessoa?
- Billy, chega de perguntas. E, por favor, não confundas o nosso Deus com o deles!

anónimo

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