De um estudo mais desenvolvido e aprofundado da realidade social portuguesa, muito resumido e simplificado no que ficou para trás, podem-se extrair importantes conclusões e ensinamentos, sintetizadas aqui sem grande fundamentação para além daquilo que já foi dito:1) A sociedade portuguesa apresenta-se, em termos de classe, fortemente polarizada. Num pólo, a classe operária, a que se agregam os assalariados, os explorados. No outro pólo, a burguesia monopolista, uma ínfima minoria que comanda o sistema de exploração, que aglutina o conjunto das camadas superiores da burguesia, mais os seus auxiliares directos. No meio, as camadas intermédias não assalariadas, que englobam a pequena-burguesia e as camadas inferiores da burguesia.2) A sociedade portuguesa acentuou ainda mais a sua polarização. Em termos globais aproximados, o conjunto da classe operária e das camadas intermédias assalariadas aumentou, entre 1991 e 2001, o seu peso na população activa de 75% para 80%. A burguesia e seus auxiliares directos, sem o pequeno patronato, aumentou de 1,9% para 2,5%. As camadas intermédias não assalariadas diminuíram de 21% para 16% (a diferença da soma em relação aos 100% deve-se fundamentalmente a situações real ou estatisticamente indefinidas, incluindo os efectivos das forças armadas, consideradas à parte pela sua especificidade).
O crescimento do conjunto da classe operária e demais assalariados, por um lado, e das camadas superiores da burguesia e seus auxiliares directos, por outro; a diminuição relativa e absoluta das camadas intermédias não assalariadas; o esvaziamento da pequena-burguesia; o nivelamento pela situação material média da classe operária de largas camadas de assalariados intermédios; a diminuição do trabalho familiar na agricultura; a concentração da propriedade agrícola; a concentração do volume de negócios nas grandes empresas; são indícios seguros de que a sociedade portuguesa acentuou a polarização social.3) A grande burguesia reforçou a sua influência, poder e domínio sobre a economia e o conjunto da sociedade. Testemunham nesse sentido a crescente dependência e vulnerabilidade do pequeno e médio patronato, a continuada descapitalização e falência de pequenas empresas, o aumento da superfície agrícola das sociedades rurais, a crescente concentração do volume de negócios nas grandes empresas, o reforço da acumulação e centralização de capital, o poder de monopólio dos grandes grupos económicos e financeiros, a enorme concentração da propriedade dos media em meia dúzia de grupos privados, a alternância no governo de partidos que actuam fundamentalmente como seus dignatários políticos.4) Ao mesmo tempo, agrava-se o conflito entre a burguesia monopolista e as outras fracções da burguesia e o conjunto da sociedade.5) A burguesia monopolista aprofunda a sua integração, em posições de subalternidade e dependência, com o grande capital transnacional, que a utiliza frequentemente como cavalo de Tróia para se introduzir no mercado português, processo particularmente nítido na privatização das grandes empresas públicas.6) Decorre das duas anteriores que a luta contra a burguesia monopolista, conduzida pela classe operária, é simultaneamente uma luta pela independência e soberania nacionais, susceptível de mobilizar uma vasta frente social, incluindo sectores da média burguesia.7) A evolução da situação económica e social desde os inícios dos anos 90 confirmou a instabilidade social da pequena-burguesia, que importa ter presente na acção e alianças políticas da classe operária.8) O sector social de maior crescimento, que tenderá a prosseguir, foi o das camadas intermédias assalariadas, que aumentaram meio milhão nos dez anos de intervalo dos censos.9) A disputa pelos partidos democráticos da representação política destas camadas intermédias assalariadas será um factor determinante das respectivas influências sociais e expressões eleitorais. De que partidos se tornarem os representantes, ou pelo menos os melhores interlocutores, políticos destas camadas dependerá bastante a saída anti-monopolista ou o prosseguimento do bloqueio neoliberal da situação nacional.10) A classe operária em Portugal apresenta-se, à entrada deste novo século, numerosa mas menos representada no conjunto dos assalariados, mais diversificada étnica e nacionalmente, mais precarizada laboralmente, sem alterações significativas na sua composição de género, mais envelhecida, mais mas muito insuficientemente qualificada, menos concentrada, mais heterogénea, com diminuição ligeira do peso dos seus efectivos industriais e diminuição substancial, a caminho de se tornar residual, do peso dos seus efectivos agrícolas e das pescas na população activa.11) Aumenta a complexidade da composição da classe operária. Agravam-se, nalguns casos, contradições no seu interior, que dificultam a sua coesão e unidade, a formação da consciência de classe e a acção colectiva.12) A classe operária não esgotou o seu potencial revolucionário. Mantém uma fortíssima presença numérica no seio da sociedade, de que é, ainda hoje, o principal destacamento. Mas o seu peso, em última instância, para além da sua expressão quantitativa, deve ser avaliado pelo seu papel decisivo na produção de riqueza, pelo seu confronto objectivo com o mecanismo constitutivo da acumulação capitalista – a extracção de mais-valia –, e pela sua intervenção na luta social e política.13) A inserção das mulheres na vida activa progride, mas desigualmente. De 1991 a 2001, a percentagem de mulheres manteve-se praticamente constante na classe operária, cerca de 33%; aumentou bastante, aproximadamente de 57% para 61%, nas camadas intermédias assalariadas; manteve-se praticamente constante nas camadas intermédias não assalariadas, cerca de 35%; e aumentou muito na burguesia, sem o pequeno patronato e incluindo os auxiliares directos, aproximadamente de 19% para 28% (mas o aumento, ainda significativo, teria sido menor se excluíssemos os auxiliares). O pequeno patronato reforça a crescente presença das mulheres na burguesia activa. Na população inactiva, a percentagem de mulheres desceu, globalmente, de 60% para 58% (de 65%, nos inactivos com 12 ou mais anos em 1991, para 62%, nos com 15 ou mais anos em 2001).14) Reforça-se a importância da aliança da classe operária com os intelectuais e outras camadas intermédias. O envelhecimento do campesinato, o seu cada vez mais reduzido número, contrastando com o cada vez mais elevado número dos efectivos das camadas intermédias assalariadas, contrastando também com o crescimento da intelectualidade, cada vez mais assalariada, não põe em causa o sistema das alianças da classe operária, mas obriga necessariamente a reequacionar os pesos das suas componentes. Emblemático e significativo, há actualmente em Portugal mais estudantes do ensino superior que camponeses recenseados na população activa.Neste artigo preocupámo-nos essencialmente com a análise da pertença objectiva de classe. Esta deve ser complementada com a análise dos mecanismos que promovem ou dificultam a formação da consciência de classe. Para que possamos, como lutadores da causa socialista, intervir à altura das nossas responsabilidades no exigente e exaltante processo de transformação da sociedade.
http://pimentanegra.blogspot.com/
O crescimento do conjunto da classe operária e demais assalariados, por um lado, e das camadas superiores da burguesia e seus auxiliares directos, por outro; a diminuição relativa e absoluta das camadas intermédias não assalariadas; o esvaziamento da pequena-burguesia; o nivelamento pela situação material média da classe operária de largas camadas de assalariados intermédios; a diminuição do trabalho familiar na agricultura; a concentração da propriedade agrícola; a concentração do volume de negócios nas grandes empresas; são indícios seguros de que a sociedade portuguesa acentuou a polarização social.3) A grande burguesia reforçou a sua influência, poder e domínio sobre a economia e o conjunto da sociedade. Testemunham nesse sentido a crescente dependência e vulnerabilidade do pequeno e médio patronato, a continuada descapitalização e falência de pequenas empresas, o aumento da superfície agrícola das sociedades rurais, a crescente concentração do volume de negócios nas grandes empresas, o reforço da acumulação e centralização de capital, o poder de monopólio dos grandes grupos económicos e financeiros, a enorme concentração da propriedade dos media em meia dúzia de grupos privados, a alternância no governo de partidos que actuam fundamentalmente como seus dignatários políticos.4) Ao mesmo tempo, agrava-se o conflito entre a burguesia monopolista e as outras fracções da burguesia e o conjunto da sociedade.5) A burguesia monopolista aprofunda a sua integração, em posições de subalternidade e dependência, com o grande capital transnacional, que a utiliza frequentemente como cavalo de Tróia para se introduzir no mercado português, processo particularmente nítido na privatização das grandes empresas públicas.6) Decorre das duas anteriores que a luta contra a burguesia monopolista, conduzida pela classe operária, é simultaneamente uma luta pela independência e soberania nacionais, susceptível de mobilizar uma vasta frente social, incluindo sectores da média burguesia.7) A evolução da situação económica e social desde os inícios dos anos 90 confirmou a instabilidade social da pequena-burguesia, que importa ter presente na acção e alianças políticas da classe operária.8) O sector social de maior crescimento, que tenderá a prosseguir, foi o das camadas intermédias assalariadas, que aumentaram meio milhão nos dez anos de intervalo dos censos.9) A disputa pelos partidos democráticos da representação política destas camadas intermédias assalariadas será um factor determinante das respectivas influências sociais e expressões eleitorais. De que partidos se tornarem os representantes, ou pelo menos os melhores interlocutores, políticos destas camadas dependerá bastante a saída anti-monopolista ou o prosseguimento do bloqueio neoliberal da situação nacional.10) A classe operária em Portugal apresenta-se, à entrada deste novo século, numerosa mas menos representada no conjunto dos assalariados, mais diversificada étnica e nacionalmente, mais precarizada laboralmente, sem alterações significativas na sua composição de género, mais envelhecida, mais mas muito insuficientemente qualificada, menos concentrada, mais heterogénea, com diminuição ligeira do peso dos seus efectivos industriais e diminuição substancial, a caminho de se tornar residual, do peso dos seus efectivos agrícolas e das pescas na população activa.11) Aumenta a complexidade da composição da classe operária. Agravam-se, nalguns casos, contradições no seu interior, que dificultam a sua coesão e unidade, a formação da consciência de classe e a acção colectiva.12) A classe operária não esgotou o seu potencial revolucionário. Mantém uma fortíssima presença numérica no seio da sociedade, de que é, ainda hoje, o principal destacamento. Mas o seu peso, em última instância, para além da sua expressão quantitativa, deve ser avaliado pelo seu papel decisivo na produção de riqueza, pelo seu confronto objectivo com o mecanismo constitutivo da acumulação capitalista – a extracção de mais-valia –, e pela sua intervenção na luta social e política.13) A inserção das mulheres na vida activa progride, mas desigualmente. De 1991 a 2001, a percentagem de mulheres manteve-se praticamente constante na classe operária, cerca de 33%; aumentou bastante, aproximadamente de 57% para 61%, nas camadas intermédias assalariadas; manteve-se praticamente constante nas camadas intermédias não assalariadas, cerca de 35%; e aumentou muito na burguesia, sem o pequeno patronato e incluindo os auxiliares directos, aproximadamente de 19% para 28% (mas o aumento, ainda significativo, teria sido menor se excluíssemos os auxiliares). O pequeno patronato reforça a crescente presença das mulheres na burguesia activa. Na população inactiva, a percentagem de mulheres desceu, globalmente, de 60% para 58% (de 65%, nos inactivos com 12 ou mais anos em 1991, para 62%, nos com 15 ou mais anos em 2001).14) Reforça-se a importância da aliança da classe operária com os intelectuais e outras camadas intermédias. O envelhecimento do campesinato, o seu cada vez mais reduzido número, contrastando com o cada vez mais elevado número dos efectivos das camadas intermédias assalariadas, contrastando também com o crescimento da intelectualidade, cada vez mais assalariada, não põe em causa o sistema das alianças da classe operária, mas obriga necessariamente a reequacionar os pesos das suas componentes. Emblemático e significativo, há actualmente em Portugal mais estudantes do ensino superior que camponeses recenseados na população activa.Neste artigo preocupámo-nos essencialmente com a análise da pertença objectiva de classe. Esta deve ser complementada com a análise dos mecanismos que promovem ou dificultam a formação da consciência de classe. Para que possamos, como lutadores da causa socialista, intervir à altura das nossas responsabilidades no exigente e exaltante processo de transformação da sociedade.
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