segunda-feira, julho 17, 2006

No 1º trimestre de 2006, 575.200 portugueses estavam no desemprego.

A destruição líquida de emprego e o desemprego de longa duração aumentou 16% nesse período.

Apesar de a taxa de desemprego oficial ter diminuído no 1º Trimestre de 2006, a taxa de desemprego corrigida, calculada também com base em dados publicados pelo INE, que está muito mais próxima do desemprego real do que a taxa oficial divulgada pelos media, manteve-se constante – 10,4%, portanto o mesmo valor registado no 4º Trimestre de 2005 – e o número de portugueses desempregados atingia no fim do 1º Trimestre de 2006 o elevado valor de 575.200 segundo o INE. No 1º Trimestre de 2006, verificou-se em Portugal uma destruição líquida de emprego, o que não aconteceu no nosso País em trimestres anteriores. Efectivamente, entre o 4º Trimestre de 2005 e o 1º Trimestre de 2006, a população empregada diminuiu de 5.134.000 para 5.126.800. Por outro lado, também no mesmo período verificou-se uma importante redução do emprego de "Trabalhadores de escolaridade e qualificação elevada" (quadros superiores da Administração Pública e de empresas e especialistas de profissões intelectuais e cientificas), fundamentais para modernização e desenvolvimento do País, que sofreu uma redução de - 47.600. Entre o 4º Trimestre de 2005 e o 1º Trimestre de 2006, o desemprego de longa duração (com mais de 25 meses) continuou a crescer, tendo passado de 112.300 para 130.600, ou seja, teve um aumento significativo de 16,3%%, o que indicia que a exclusão social está a aumentar em Portugal a um ritmo elevado. Em Portugal, como mostra a análise empírica dos últimos 20 anos, a taxa de desemprego só começa a diminuir de uma forma sustentada, quando a taxa de crescimento económico ultrapassa os 2,5%. Como é que o governo pode falar de diminuição sustentada da taxa de desemprego, quando a taxa de crescimento económico ronda 1%, e não se prevêem taxas de crescimento económico elevadas, se se mantiver a actual politica económica centrada na obsessão do défice?
O Instituto Nacional de Estatística (INE) acabou de publicar os dados do desemprego refentes ao 1º Trimestre de 2006. O que efectivamente aconteceu foi que o desemprego oficial diminuiu, mas essa redução foi em grande parte compensada pelo aumento dos "inactivos disponíveis" e pelo crescimento do chamado "subemprego visível", que são desempregados de facto, mantendo-se assim a taxa de desemprego corrigida, que está mais próxima do desemprego real do que a taxa de desemprego oficial (…)
De acordo com o INE, os "Inactivos Disponíveis", que constam do quadro anterior, são pessoas desempregadas, que desejam trabalhar e que estão disponíveis para isso, mas que pelo facto de não terem feito diligências para arranjar emprego nas últimas 4 semanas anteriores ao inquérito do INE, não são consideradas nem no número de desempregados nem no cálculo da taxa oficial de desemprego, embora estejam desempregados. E entre o 4º Trimestre de 2005 e o 1º Trimestre de 2006 o seu número passou de 72.500 para 79.900, ou seja, aumentou em 7.400 segundo o INE.Para além dos desempregados anteriores, existe também o "Subemprego visível", constante também do quadro, que também não é considerado nem no número nem na taxa oficial de desemprego. O "Subemprego visível" inclui todos aqueles que trabalham menos de 15 horas por semana ("biscates" para sobreviver), apenas pelo facto de não encontrarem um emprego com horário completo, apesar de terem declarado que desejam trabalhar mais horas. Efectivamente, estão numa situação de desemprego de facto, e o seu número também aumentou, entre o 4º Trimestre de 2005 e o 1º Trimestre de 2006, em 6.000 pois passou de 59.600 para 65.600 segundo o INE. Se somarmos ao número oficial de desempregados, os "Inactivos Disponíveis " e o "Subemprego visível" obtemos aquilo a que chamamos desemprego corrigido, que é um número que está muito mais próximo do desemprego real do que o desemprego oficial divulgado pelos órgãos de comunicação social. Fazendo os cálculos necessários obtém-se os resultados constantes do quadro anterior, que mostram o seguinte: Entre o 4º Trimestre de 2005 e o 1º Trimestre de 2006, o desemprego oficial diminuiu de 447.300 para 429.700, ou seja, baixou em 17.600. No entanto, o desemprego corrigido que inclui os "inactivos disponíveis" e o "subemprego visível" passou, segundo o próprio INE, de 579.400 para 575.200, ou seja, baixou apenas em 4.200. Por outro lado, embora a taxa de desemprego oficial tenha baixado, entre o 4º Trimestre de 2005 e o 1º Trimestre de 2006, de 8% para 7,7%, no entanto a taxa de desemprego corrigida no 1º Trimestre de 2006 atingiu 10,4%, ou seja, o mesmo valor que o registado no 4º Trimestre de 2005, como mostram também os dados do quadro I. DESTRUIÇÃO LÍQUIDA DE EMPREGO NO 1º TRIMESTRE DE 2006 Contrariamente ao que se tinha verificado nos trimestres anteriores constantes do quadro seguinte, no 1º Trimestre de 2006 verificou uma diminuição liquida de emprego, ou seja, o número de empregados no fim do 1º Trimestre de 2006 era inferior ao número de empregados existentes no no fim do 4º Trimestre de 2005 (…)
Assim, entre o 4º Trimestre de 2001 e o 4º Trimestre de 2005, a população empregada aumentou em 127.100, pois passou de 5.006.900 para 5.134.000. No entanto, no 1º Trimestre de 2006 diminuiu em 7.200 pois passou, entre o 4ºTrimestre de 2005 e 1º Trimestre de 2006, de 5.134.000 para 5.126.500. Por outro lado, entre o 4º Trimestre de 2001 e o 4º Trimestre de 2005, o emprego de "trabalhadores de escolaridade e qualificação elevada", que inclui os quadros superiores e dirigentes da Administração Pública e de empresas, os especialistas das profissões intelectuais e cientificas, e os técnicos e profissionais de nível intermédio, tinha aumentado em 262.800, pois passaram de 1.061.600 para 1.324.100. No entanto, no 1º Trimestre de 2006 o emprego destes grupos profissionais vital para a modernização e desenvolvimento do País reduziu-se em 33.200 pois, entre o 4ºTrimestre de 2005 e o 1º Trimestre de 2006, passou de 1.324.400 para 1.291.200. O emprego que cresceu no 1º Trimestre de 2006 foi o dos "trabalhadores de escolaridade e qualificação média " (+14.200 postos de trabalho) e o dos "Trabalhadores de baixa escolaridade e qualificação de banda estreita" (+14.600 postos de trabalho). DESEMPREGO DE LONGA DURAÇÃO CRESCEU 16% NO 1º TRIMESTRE DE 2006 Embora o desemprego oficial tenha diminuído, o desemprego de longa duração continuou a crescer no 1º Trimestre de 2006, e a um ritmo significativo (…)
Entre o 4º Trimestre de 2001 e o 1º Trimestre de 2006, o desemprego oficial aumentou 103%, pois passou de 211.100 para 428.800, mas o desemprego de longa duração ( com mais de 25 meses de duração) cresceu, no mesmo período, em 257,8%, ou seja, 2,5 vezes mais do que o desemprego total. Mesmo no 1º Trimestre de 2006, e apesar da campanha mediática sobre a diminuição da taxa de desemprego, entre o 4º Trimestre de 2005 e o 1º Trimestre de 2006, o desemprego de longa duração (com mais de 25 meses) aumentou 16,3% como os mostram os dados do INE constantes do quadro III. Por essa razão, a percentagem que os trabalhadores que estão já desempregados há mais de 25 meses representam em relação a todos os desempregados passou, entre o 4º Trimestre de 2001 e o 1º Trimestre de 2006, de 17,5% do total de desempregados para 30,5%. ALGUMAS CONCLUSÕES SOBRE O DESEMPREGO EM PORTUGAL Como mostra o gráfico seguinte existe uma correlação negativa (inversa) entre taxa de desemprego e taxa de variação do PIB, ou seja, quando a taxa de crescimento económico aumenta, a taxa de desemprego diminui; e, inversamente, quando a taxa de crescimento económico diminuiu a taxa de desemprego aumenta. E não existem "habilidades" que possam subverter tal correlação.
Como mostra a análise empírica dos últimos 20 anos (…) como se reconhece no próprio "Livro Verde sobre as Relações Laborais" do Ministério do Trabalho e Solidariedade Social (pág. 51), em Portugal a taxa de desemprego só começa a diminuir de uma forma sustentada quando a taxa de crescimento económico ultrapassa os 2,5%. Como é que o governo pode dizer que a taxa de desemprego começou a diminuir de uma forma sustentada quando a taxa de crescimento económico ronda 1% ao ano e não se prevê que nos próximos anos, se se mantiver a actual politica económica e financeira centrada na obsessão do défice, possa atingir taxas de crescimento económico elevadas?
Eugénio Rosa
http://resistir.info/

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