Al-Manar: como Israel estrangulou a voz da Resistência libanesa
A campanha de censura mundial da televisão do Hezbollah iniciou-se em finais de 2003 por iniciativa do Estado-maior das Forças Armadas israelenses. Acusada de difundir programas anti-semitas, Al-Manar, na verdade, nunca foi condenada por tais feitos, mas antes interditada por motivos de ordem pública. Essa campanha, cuja história é aqui relatada e cujos actores escondidos são aqui revelados por Thierry Meyssan, foi explicitamente concebida com o intuito de suprimir a voz da Resistência libanesa antes de o país do Cedro ser atacado e destruído.
Trata-se de um princípio inabalável da propaganda: para que uma mentira pareça verdade, é necessário assegurar que nenhuma voz dissidente a venha a contradizer, depois, convém repeti-la incansavelmente. Foi assim que, antes de lançar a sua ofensiva na Palestina ocupada e no Líbano, invocando legítima defesa, Israel se certificou que Al-Manar – o canal de televisão da Resistência à ocupação do Sul do Líbano, do Golan sírio e da Palestina – não chegaria mais à Europa, às Américas e à Oceania. É provável que muitos actores que participaram nesta operação de censura não tenham medido as suas consequências dramáticas. Mas todos queriam impedir um debate contraditório e favorecer as mentiras israelenses. Então, todos têm responsabilidade nos crimes que tornaram possíveis. Por outro lado, a história desta censura ensina-nos muito sobre os canais e os métodos de influência das Forças Armadas israelenses em França e no mundo. Prelúdio: "Quando queremos matar o nosso cão, dizemos que ele sofre de raiva" Não esqueçamos: Al-Manar é um canal de televisão criado pelo Hezbollah em 1991 e é difundido por satélite desde 2002. Este canal propõe principalmente boletins e magazines de informação consagrados à ocupação militar israelense, entrecortados por algumas emissões de entretenimento. Israel e os Estados Unidos, mas também o Canadá e os Países Baixos consideram o Hezbollah como uma "organização terrorista", ou seja, um inimigo não controlado pelo estado. Ao contrário, a França e os Estados que lhe são próximos mantêm relações cordiais com o Hezbollah, ao ponto de o presidente Jacques Chirac o ter convidado a participar na cimeira da Francofonia e de Bernardette Chirac ter aceitado inaugurar várias das suas obras de caridade. Ainda que Al-Manar seja um meio de comunicação social, ou precisamente, porque é um meio de comunicação social, Al-Manar tornou-se alvo de obsessão para Tel-Aviv e Washington. As hostilidades começaram em 3 de Maio de 2003, quando o secretário de Estado Colin Powell, em visita oficial à Síria, interdita o acesso do Al-Manar à sua conferência de imprensa. [1] Em Outubro do mesmo ano, o departamento de Estado dos Estados Unidos protesta junto dos seus homólogos sírios e libaneses ao saber do anúncio da difusão, por parte do Al-Manar, de uma série intitulada Al Chatat (A Diáspora). Esta apresentava, com efeito, uma versão considerada errónea da criação do Estado de Israel, e de teor anti-semita. [2] Não dando importância a essas acusações, e pressões, o canal começa a difusão da série durante o período do Ramadão, mas as outras televisões árabes recusam-se a emiti-la. [3] Finalmente, na sequência da difusão de um episódio litigioso, Al-Manar retira a série da sua programação. O Middle East & Research Institute (MEMRI) lança então uma campanha internacional de interdição do Al-Manar. O MEMRI é um poderoso lobby, sediado em Washington, que se apresenta como uma iniciativa civil. Mas, na verdade, ele foi fundado em 1998 pelos oficiais de informação das Forças Armadas israelenses, Yotam e Aluma Solnick, sob o comando do coronel Yigal Carmon, e está integrado numa rede de associações neoconservadoras nos Estados Unidos. [4] Na sequência dessa campanha, o Conselho Representativo das Instituições Judias de França (CRIF), constitui em Paris o Conselho Superior do Audiovisual (CSA). O CSA é "uma autoridade administrativa independente" encarregada de regular o sector audiovisual, presidida por Dominique Baudis, antigo representante em França do Carlyle Group, o fundo de investimento comum das famílias Bush e Bin Laden. [5] Aproveitando a sua cerimónia de apresentação de votos à imprensa, Baudis anuncia ter estado com o procurador da República e ter solicitado um encontro com o presidente do directório da Eutelsat, no sentido de determinarem a melhor maneira de impedir a difusão do Al-Manar, que a seu ver, é culpado de incitar à raiva e à violência. [6] Uma semana mais tarde, Israel celebra a sua "Jornada nacional do combate contra o anti-semitismo". [7] Nessa ocasião, o general MosheYaalon declara: "Cerca de 60 anos depois da libertação de Auschwitz, o anti-semitismo continua a ameaçar a vida dos judeus, embora com uma nova cara e novas estratégias". E organiza juntamente com Nathan Sharansky [8] um visionamento de excertos da série do Al-Manar [9] , preparados pelo Estado-maior das Forças Armadas. Sharansky acumula as funções de vice primeiro-ministro de Israel e de conselheiro do presidente dos Estados Unidos, para o qual escreve, por vezes, os discursos. A rádio militar israelense anuncia que Israel encetou diversas acções para interditar Al-Manar na Europa e menciona a iniciativa do CSA, a pedido do CRIF, como o primeiro resultado dessa campanha [10] , declarações confirmadas pelo ministro israelense dos Negócios Estrangeiros. Primeiro acto: o argumento anti-semita Em 31 de Janeiro de 2004, o primeiro-ministro francês (UMP) Jean-Pierre Raffarin, convidado para o jantar anual do CRIF, declara ter visionado a cassete de vídeo preparada pelas Forças Armadas israelenses, na companhia da ministra Nicole Guedj, conselheira do GRIF. Ele anuncia ao auditório arrebatado a sua intenção de mudar a legislação de modo a permitir ao CSA e ao Conselho de Estado a interdição administrativa do Al-Manar, sem terem de esperar que o canal fosse julgado ou condenado penalmente. [11] A precipitação do primeiro-ministro só se explica pela sua convicção de que a acusação proferida contra o Al-Manar é excessiva e que a justiça penal não pronunciará nenhuma sanção. Para satisfazer os seus anfitriões, ele opta, então, por introduzir uma lei de excepção. As novas disposições são apressadamente inseridas numa lei sobre os serviços audiovisuais, aprovadas pelas duas câmaras e publicadas no Jornal Oficial, em 10 de Julho. Dois dias depois, o CSA reúne-se com o Conselho de Estado para pronunciar uma interdição administrativa. Interrogado sobre este procedimento, o porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros declara: "Ninguém deverá duvidar da determinação da França na luta contra todas as manifestações de racismo e de anti-semitismo", deixando entrever o que se deve entender por "independência" do CSA. [12] Surpreendidos por esta notícia, o Conselho Nacional do Audiovisual libanês – rapidamente apoiado por toda a classe política libanesa – faz um apelo à França para que seja respeitada a liberdade de expressão. [13] O Conselho libanês chega mesmo a solicitar a todos os meios de comunicação árabes a organização de uma jornada de solidariedade para com o Al-Manar, em 12 de Agosto. [14] Comentado o litígio perante a imprensa, o ministro libanês dos Negócios Estrangeiros, Jean Obeid, sublinha: "Nós não nos queremos intrometer no trabalho da justiça francesa, no entanto, acreditamos que o aspecto político domina este caso (…). De cada vez que se critica uma injustiça histórica cometida por certos israelenses ou judeus, isso é de imediato entendido como uma crítica ao povo judeu ou à sua religião". [15] O Presidente libanês, em pessoa, Émile Lahoud, publica um comunicado solene indicando que: "toda a medida que for aplicada contra o Al-Manar atentará contra os meios de comunicação libaneses e impedi-los-á de manifestarem os seus pontos de vista perante a opinião pública francesa e europeia, que tinha começado a compreender, por meio dos canais de satélite libaneses, a legitimidade da causa árabe e a denúncia das práticas agressivas de Israel". [16] Neste estádio da polémica, torna-se evidente que a selecção de excertos da série, realizada pelo Estado-maior das Forças Armadas israelenses é falaciosa. Retiradas do seu contexto, as cenas parecem "insuportáveis", segundo as palavras de Raffarin. Mas repostas no curso da obra, elas são apenas caricaturais e comparáveis a muitas cenas de séries anglo-saxónicas, excepto que estas últimas não denigrem as populações em causa. O argumento de que esta série lamentável não estava à altura dos restantes programas do Al-Manar é uma desculpa esfarrapada para a interrupção da série. A acusação proferida pelo presidente Lahoud é confirmada por um despacho da AFP no qual se pode ler com mais franqueza: "para além da série, as autoridades francesas acusam também o Al-Manar de fazer a apologia do terrorismo sob a coberta de militância política contra o Estado de Israel. 'Há uma linha editorial geral que favorece imensamente a imagem do mártir que se faz explodir para matar israelenses', explica uma fonte do CSA, juntamente com a difusão complacente das cerimónias fúnebres dos autores de atentados, cantos e clips bélicos" [17] A única e verdadeira questão é a de saber se o público europeu pode ou não ter acesso ao ponto de vista libanês. Para a defesa das autoridades francesas, deve-se, no entanto, observar que imagens concebidas para um público do Próximo Oriente, claramente entendidas por este, podem ser mal interpretadas por um público europeu; podem até contribuir para a exportação de um conflito do Próximo Oriente para a Europa. Mas este tipo de problema não é exclusivo do Al-Manar e está relacionado com todas as imagens produzidas em zonas de conflito. O problema só poderá ser resolvido através da educação dos telespectadores adaptada a um período de mundialização dos canais por satélite. São muito raras as organizações que se mobilizam pela liberdade de expressão, quando esta se aplica aos árabes. A Réseau Voltaire envia uma delegação ao Líbano para apoiar o Al-Manar e encontra o sheik Naïm Qassem, secretário-geral adjunto do Hezbollah. [18] Contra todas as expectativas, o Conselho de Estado, longe de interditar o Al-Manar, contenta-se em exigir que o canal se reorganize em conformidade com a nova lei. O canal Al-Manar entrega, então, um dossier de acordo junto do CSA, que não encontrando nenhum motivo de rejeição se vê obrigado a aceitá-lo [19] , para grande descontentamento do CRIF. A associação sionista protesta lembrando as "promessas do Primeiro-Ministro", mostrando assim a consideração que ela própria tem pela "independência" do CSA e dos juízes administrativos. Com um humor involuntário, o CRIF estigmatiza as "pressões estrangeiras" no dossier. [20] Em conformidade com os acordos internacionais, ainda que proveniente do CSA francês, a autorização de difusão aplica-se a toda a União Europeia. Segundo acto: o argumento da perturbação da ordem pública O antigo primeiro-ministro socialista Laurent Fabius é convidado para o Fórum da Rádio J, uma estação criada pelo Fundo Social Judeu unificado e domiciliado nas instalações do CRIF. Durante o seu tempo de antena, ele declara-se "chocado" e indignado com a "dupla linguagem" do governo de Raffarin, mostrando a seu turno a sua alta concepção de "independência" do CSA. [21] Colérico, o CRIF publica um novo comunicado: "A decisão do CSA em estabelecer acordos com o canal de televisão do Hezbollah, Al-Manar, equivale a uma autorização oficial, dada pela França, à propaganda anti-semita. Se o Comité interministerial de luta contra o anti-semitismo ainda tem um sentido, nunca a sua convocatória foi tão urgente. Gostaríamos de conhecer a posição do Presidente da República sobre a situação criada pelo CSA." [22] O Partido Socialista não descansa, e qualifica Al-Manar de "instrumento de propaganda ao serviço do terrorismo e do anti-semitismo". [23] O seu primeiro secretário, François Hollande, escreve ao CSA: "Como foram capazes de imaginar que o canal do Hezbollah, que difunde ciclicamente, durante horas, clips incitando as crianças à raiva e ao martírio, pudessem reconsiderar por completo programas concebidos para substituir uma fraseologia incompatível com os valores que fundam a União Europeia?" [24] Enquanto isso, o Centro Simon Wiesenthal, com o seu notório sentido de medida, afirmava: "O CSA e os outros oficiais que acordaram ao Hezbollah uma nova licença para matar (…) serão tidos por co-responsáveis de todas as consequências violentas que poderão daí resultar." [25] O porta-voz do Partido Socialista, Julien Dray, insinua que a decisão do CSA poderá ter sido tomada no quadro de uma negociação relativa à libertação de reféns franceses no Iraque; uma apetecível amálgama rapidamente retomada por toda a imprensa. [26] Este murmúrio teve os seus efeitos. Em 30 de Novembro, o CSA reúne-se com o Conselho de Estado por causa da nova lei e por ter permitido que se difundissem declarações que perturbaram a ordem pública, e ainda por ter tido falta de honestidade no tratamento da informação. O canal tinha citado, com efeito, durante uma revista de imprensa, um artigo em que se afirmava: "Temos assistido, durante os últimos anos, a tentativas sionistas de transmitir doenças perigosas, tais como a SIDA, através de exportações para os países árabes. Esse inimigo não terá qualquer escrúpulo em cometer actos que atentem a saúde dos cidadãos árabes e muçulmanos". [27] Interpelando o ministro da Comunicação da Assembleia Nacional, o deputado Rudy Salles, presidente do grupo de amizade parlamentar França-Israel, retoma o argumento da perturbação da ordem pública: "Esse canal transmitiria em árabe, mas também em francês. Imaginem o efeito que poderiam produzir, nas nossas cidades e subúrbios, essas mensagens de ódio e violência contra os judeus". Ao que o ministro responde que tendo a Assembleia adoptado uma nova lei, ela tinha de ser aplicada com severidade. [28] Mas temendo o desgaste do Conselho de Estado ao deixar-se convencer da interdição de um canal de televisão por este ter realizado uma revista de imprensa, o grupo UMP na Assembleia Nacional propõe de imediato o endurecimento da nova lei. [29] No decorrer de uma outra sessão de questões ao governo, o deputado UMP, Pierre Lellouche, presidente da Assembleia Parlamentar da NATO, interpela, por seu turno, o ministro da Comunicação nestes termos: "O canal Al-Manar pertence ao grupo terrorista do Hezbollah, que esteve na origem dos atentados da rua de Rennes e das Galeries Lafayette em Paris, em 1985 e 1986, e que raptou diversos cidadãos franceses, nomeadamente Jean-Paul Kaufmann e Marcel Fontaine. Esse canal difunde quotidianamente apelos à morte de judeus de Israel e, subsidiariamente, de cristãos. Há um ano atrás, ele difundiu em França uma série intitulada Al-Shatat, Diáspora em francês, que, retomando a propaganda nazi do "Protocolo dos sábios de Sião", mostrava o conluio judeu mundial ilustrado pela degolação de uma criança cristã, cujo sangue servia para fabricar bolos ázimos para a Páscoa judia. Esta série conduziu o presidente do CSA, Baudis, a reunir a justiça e o procurador da República no mês de Janeiro passado. Desde essa data, nenhuma notícia dessa queixa (…). Porque é que nos vemos hoje chegados ao ponto de fazer acordos com um canal de televisão terrorista?" [30] Uma intervenção que fez sensação em vez de respeitar a honestidade de informação. Com efeito, nenhum inquérito judicial ligou alguma vez os atentados de 1985 e 1986 ao Hezbollah; Jean-Paul Kaufman e Marcel Fontaine foram detidos pela Jihad islâmica; Al-Manar não apela à morte dos judeus e dos cristãos, mas antes à luta contra a ocupação militar e a Colaboração; a série Diáspora não se inspira no Protocolo dos sábios de Sião; quanto à queixa do CSA, isso não foi senão uma chamada de atenção ao procurador da República, o qual tinha aberto uma instrução confiada ao juiz Emmanuelle Ducos que não encontrou motivo suficiente para a sua prossecução. Pouco importa, incitado pelos socialistas e pelo UMP, o ministro Renaud Donnedieu de Vabres exclama: "Se são necessários meios jurídicos suplementares [para interditar Al-Manar], o primeiro-ministro e o governo encarregar-se-ão de os propor". [31] Aquando do debate transmitido pela France 3, o vice-presidente da Réseau Voltaire, Issa El-Ayoubi, contesta perante Pierre Lellouche e sugere que seja pronunciada uma sanção penal a propósito da série, se houver razão para isso, mas que não se aplique uma sanção colectiva de modo arbitrário a toda a programação do canal. Mas a hora do debate expira e o moderador põe termo à discussão. [32] Já mais ninguém esconde que o objectivo é interditar Al-Manar para o impedir de difundir os seus boletins de informação, que se votará não importa que lei for e que se encontrará não importa que pretexto for para que isso aconteça. O presidente do CSA, Dominique Baudis, deixa de preservar a ficção da sua independência e dirige-se para o gabinete do primeiro-ministro, para acordarem juntos uma solução. [33] Á saída dessa reunião, Jean-Pierre Raffarin anuncia a sua intenção de relançar o processo legislativo passando pela União Europeia [34] e "aconselha" o CSA a rescindir sine die o seu acordo com o Al-Manar, [35] , suscitando de imediato as felicitações do ministro israelense dos Negócios Estrangeiros. [36] Na sequência destes acontecimentos, o primeiro-ministro recebe uma delegação do American Jewish Committee (AJC), uma poderosa organização neoconservadora norte-americana, da qual faz parte Sharansky, e que trabalha em estreita colaboração com o CRIF. Em conjunto, eles coordenam uma estratégia… europeia. Num comunicado, o AJC felicita Raffarin e precisa: "O Al-Manar e outros canais que difundam mensagens anti-semitas, anti-americanas e anti-ocidentais, não terão lugar numa Europa que promove a tolerância, o pluralismo e a paz". [37] Para aplicar o golpe de misericórdia, é desencadeado um terceiro apelo do Conselho de Estado, desta vez, por parte do CRIF por causa da nova lei. [38] Uma emoção viva abala o mundo árabe. Manifestações e colóquios no Líbano e no Egipto. Intervenções políticas de todas as frentes, até ao secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa. [39] O Conselho Nacional libanês do Audiovisual anuncia medidas recíprocas, ou seja, suprimirá ele também os privilégios acordados aos meios de comunicação franceses no Líbano, caso o Al-Manar seja interditado em França. [40] Em definitivo, a ordem de interdição do Conselho de Estado é anunciado no dia 13 de Dezembro de 2004. O canal é interditado, mas não devido ao anti-semitismo imaginário. "Ele não teria sido excluído, caso a reiteração das emissões abertamente contrárias às disposições do artigo 15 da lei de 30 de Setembro de 1986 [protecção da infância e da adolescência] não causassem incidentes nefastos na salvaguarda da ordem pública". Noutros termos, o canal é censurado porque as informações que difunde são susceptíveis de revoltar jovens que perturbariam a ordem pública com os seus actos. [41] O ministro israelense dos Negócios Estrangeiros exulta: "Só nos podemos alegrar com a medida tomada contra esse canal que difunde discursos de ódio feroz contra os judeus, os cristãos e os países ocidentais." [42] Com todas as ambiguidades a que já nos habituou, a Associação Repórteres sem Fronteiras (RSF) desaprova o método empregado contra o Al-Manar para o acusar de difundir "declarações anti-semitas inaceitáveis". [43] Posteriormente, ficámos a saber como a NED/CIA financia essa associação que se diz defensora da liberdade de imprensa. [44] Tecnicamente, para que a Eutelsat cessasse de difundir o canal Al-Manar na Europa, teria sido necessário cortar simultaneamente Sharjah TV, Quatar TV, Saudi Arabian TV, Kuwait Space Channel, Jamahirya Satellite Channel, Sudan TV, Oman TV, e a Egyptian Satellite Channel. Preocupado em não fazer sofrer aos outros o peso da censura de que era vítima, o Al-Manar desiste e rescinde os seus contratos. [45] Contudo, o canal permanece acessível através da Internet e via ArabSat 2B a 30.5 graus Este, Badr 3 a 26 graus Este e NileSat 102 a 7 graus Oeste. Para tornar pública essa decisão, o Ministério da Comunicação francês organiza uma campanha denominada "Viver juntos". As instituições culturais e os meios audiovisuais públicos transmitem mensagens explicando que "o ódio e a intolerância não têm direito de cidadania", e que por essa razão o Al-Manar foi interditado. Para edificação dos jovens revoltados, o canal Arte volta a difundir a série Holocausto. [46] Durante esse tempo, o presidente do UMP, Nicolas Sarkozy, começa uma tournée triunfal em Israel, onde se encontra com Ariel Sharon e com numerosos outros responsáveis políticos, e elogia-se a si mesmo, e ao seu partido, por terem tido um papel central na censura da voz do Hezbollah. [47] Terceiro acto: a generalização da censura Enquanto a classe dirigente francesa batalhava para fabricar um quadro jurídico que lhe permitisse censurar o Al-Manar, um processo idêntico se desenrolava na Austrália por iniciativa do deputado trabalhista Robert Ray. Este tinha já conseguido a interdição do satélite TARBS. A pedido do primeiro-ministro israelense Ariel Sharon, uma célula de coordenação é criada em Washington com o objectivo de estender a censura ao mundo inteiro: a Coalition Against Terrorist Media (CATM). Esta fica sediada nas instalações da Foudation for the Defense of Democracies, uma poderosa organização sionista. [48] A documentação dessa fundação não deixa dúvidas sobre a finalidade dessa campanha: trata-se de embargar a voz do Hezbollah na perspectiva de uma intervenção militar no Líbano. E entre os responsáveis da fundação, encontram-se os autores do plano de ataque ao Líbano, como por exemplo, Richard Perle. [49] Até aí, os franceses e os australianos não saberiam, talvez, que crimes estavam a preparar, mas a partir daí nenhum mais os ignorou. Transformado em estafeta do Estado-maior das Forças Armadas israelenses, o governo francês põe em marcha a estratégia acordada com a American Jewish Committee: ele introduz a questão da censura deste tipo de canais na ordem do dia do Conselho de Ministros Europeus. [50] O dossier é entregue à comissária europeia encarregada da Sociedade de Informação e dos Media, Viviane Reding. Esta irá trabalhar em colaboração com o gabinete de Bruxelas que o antigo presidente checo, Vaclav Havel, abriu para a Foundation for the Defense of Democracies. Nos Estados Unidos, o Departamento de Estado inscreve o canal de televisão na sua lista de "organizações terroristas". [51] Este é o primeiro meio de comunicação social a ser assim qualificado e, a menos que se considere que as notícias do Al-Manar são "verdadeiras bombas", não compreendemos o que isso poderá querer dizer. Seja como for, a Intelsat e a Globecast (uma filial da France-Télécom) deixam de difundir o canal Al-Manar na América do Norte. [52] Para o antigo Primeiro-Ministro libanês Salim El-Hoss, os Estados Unidos manipularam todo este caso para interditarem a expressão de um ponto de vista na Europa e na América. "Washington qualifica de "terrorismo" o direito à resistência contra a ocupação israelense, e de "legítima defesa" o terrorismo israelense e a usurpação por Israel de uma terra que pertence a um outro povo", comenta El-Hoss. [53] Em resposta, a maioria das operadoras libanesas por cabo deixam de transmitir o canal francês TV5. Em Julho de 2005, é a vez do ministro da Indústria e do Comércio espanhol de retirar o sinal do Al-Manar do satélite público Hispasat dirigido à América Latina. Depois, o Centro Simon Wiesenthal intervém junto do governo francês para que a Globast (outra filial da France-Télécom) corte o seu sinal dirigido à Ásia. Em Março de 2006, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos congela os capitais das sociedades aliadas ao Al-Manar nos bancos norte-americanos. Quarto acto: a eliminação física Em 12 de Julho de 2006, o Hezbollah captura os soldados israelenses durante uma disputa na zona das quintas de Chaaba. Esse território é reconhecido como libanês pela comunidade internacional, mas ocupado por Israel que o considera sírio. Este incidente serve de pretexto a uma vasta ofensiva militar contra o Líbano. Desde o início das operações, em 14 de Julho, que a aviação israelense bombardeia os estúdios do Al-Manar em Beirute para apagar de vez a voz do Hezbollah. [54] O raid faz três feridos graves. No entanto, a Resistência libanesa continua a emitir em diferido e intermitentemente a partir de locais mantidos secretos. [55] O secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah consegue assim dirigir-se aos seus concidadãos e dar notícias da guerra. Para terminar, as Forças israelenses bombardeiam, em 22 de Julho, todas as estações de difusão de todos os canais do país, para se certificarem que nenhuma substitui o sinal do Al-Manar [56] , mas ainda assim Arabsat continua a emitir. Por outro lado, Al-Manar continua a ser visível através do seu sítio na Internet. Como medida de precaução, o Hezbollah utiliza um servidor na Índia. Mas, servindo-se de uma prerrogativa governamental, o governo indiano preocupado em não comprometer o seu recente contrato nuclear com os Estados Unidos, desconectou o sítio a fim de "preservar as boas relações com um Estado amigo". O sítio, todavia, ressurgiu [durante algum tempo] em http://www.islamicdigest.net/almanar/start.php Para compreender o que se passa no Líbano e na Palestina ocupada, o mundo tem de se contentar com a informação das grandes agências noticiosas submetidas à censura militar israelense. [57] Os esforços desenvolvidos, desde há três anos, por Israel para matar Al-Manar são proporcionais aos crimes que quer esconder.
Notas [1] "La TV du Hezbollah indésirable au point presse de Powell", Reuters, 3 mai 2003. [2] "Un documentaire de la TV du Hezbollah accusé d'antisémitisme" par Karim Marouni, Reuters, 29 octobre 2003. [3] "Un feuilleton d'Al-Manar TV accusé d'antisémitisme", Le Monde, 6 décembre 2003. [4] " Les marionnettistes de Washington " par Thierry Meyssan, Voltaire, 13 novembre 2002. [5] " Le Carlyle Group, une affaire d'initiés ", Voltaire, 9 février 2004. [6] "Le CSA veut empêcher la diffusion d'Al Manar.", Reuters, et "CSA - M.Baudis dénonce la diffusion par satellite de "propos intolérables"", AFP, 20 janvier 2004. [7] A "Jornada nacional do combate contra o anti-semitismo" foi fixada pelo governo israelense para 27 de Janeiro, data do aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz. [8] "Natan Sharansky, idéologue de la démocratisation forcée" , Voltaire, 24 février 2005. [9] "Israël dénonce une résurgence de l'antisémitisme" par Marius Schattner, AFP, 27 janvier 2004. Le montage vidéo de l'état-major a servi de base à la publication en avril 2004 du DVD Beacon of Hatred: Inside Hizballah's Al-Manar Television et d'un livret de retranscription par le The Washington Institute for Near East Policy. [10] "Israël veut l'interdiction de diffusion de la TV du Hezbollah en Europe", AFP, 30 janvier 2004. [11] "Le gouvernement va interdire les chaînes par satellite diffusant des programmes antisémites", Associated Press, 31 janvier 2004. [12] Declaração à imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, 28 de Julho de 2004. [13] "Soutien de l'audiovisuel libanais à la TV du Hezbollah poursuivie en France", AFP, 30 juillet 2004. [14] "Journée de solidarité le 12 août avec la TV du Hezbollah", AFP, 2 août 2004. [15] "L'interdiction de la TV du Hezbollah en France est "politique" (ministre)", AFP, 5 août 2004. [16] Comunicado da presidência do Líbano, 12 de Agosto de 2004. [17] "Al-Manar, chaîne ennemie d'Israël qui verse aussi dans l'antisémitisme", AFP, 20 août 2004. [18] " CSA: le censeur supérieur de l'audiovisuel ", Voltaire, 20 août 2004. [19] "Le CSA aurait décidé d'autoriser Al Manar (presse)", AFP, 18 novembre 2004. [20] "Feu vert à Al Manar: le Crif dénonce des "pressions" étrangères", AFP, 22 novembre 2004. [21] "France/Al Manar-Fabius demande des explications au gouvernement", Reuters, 21 novembre 2004. [22] "Al-Manar: déclaration du Président du CRIF Roger Cukierman", CRIF, 23 novembre 2004. [23] "Le PS "s'indigne" du feu vert accordé par le CSA à la TV Al Manar", AFP, 23 novembre 2004. [24] "Al Manar: M.Hollande demande des éclaircissements au CSA", AFP, 26 novembre 2004. [25] "Protestations de plusieurs associations au feu vert donné à Al Manar", AFP, 23 novembre 2004. [26] Por exemplo, "Bienvenue sur Al-Manar, chaîne judéophobe", Libération, 26 de Novembro de 2004. [27] "Al Manar: le Conseil met la chaîne en demeure et saisit le Conseil d'État", Comunicado 568 do CSA, 30 de Novembro de 2004. [28] Assembleia nacional, 23 de Novembro de 2004. [29] "Affaire Al-Manar: les députés UMP souhaitent renforcer la législation", Associated Press, 30 novembre 2004. [30] Assembleia nacional, segunda sessão do dia 30 de Novembro de 2004. [31] Ibid. [32] Paradoxalmente, este moderador será objecto de uma condenação penal por ter passado no ecrã declarações racistas relativas a Dieudonné. Contudo ele não cessa as suas funções e ninguém manda interditar o canal público. [33] "Le président du CSA à Matignon ce mercredi à la suite de l'affaire Al Manar", AFP, 1er décembre 2004. [34] "Images racistes: Raffarin veut renforcer le dispositif législatif", AFP, 1er décembre 2004. [35] "Al-Manar/Raffarin - La convention avec le CSA sera résiliée", Reuters, 2 décembre 2004. Ver também a resposta de Jean-Pierre Raffarin a uma questão oral do senador Ladislas Poniatowski, Sénat, 2 décembre 2004. [36] "Israël félicite Paris pour la résiliation de la convention avec Al-Manar", AFP, 2 décembre 2004. [37] "Le Comité juif américain félicite le premier ministre français d'avoir suspendu la chaîne TV du Hezbollah", PR Newswire, 3 décembre 2004. [38] "CRIF - Al Manar: Le Conseil d'Etat à nouveau saisi", News Press, 6 décembre 2004. [39] "Manifestations de solidarité tous azimuts avec Al-Manar", AFP, 6 décembre 2004. [40] "Al-Manar: Beyrouth menace les médias français de mesures réciproques", AFP, 10 décembre 2004. [41] Ordenança do juiz dos recursos de 31 de Dezembro de 2004, Conselho de Estado nº 274757. [42] "Israël se félicite de l'interdiction de la diffusion d'Al-Manar", AFP, 13 décembre 2004. [43] "Pour RSF, la méthode employée pour interdire Al Manar n'est pas la bonne", AFP, 14 décembre 2004. [44] " Quand Reporters Sans Frontières couvre la CIA " par Thierry Meyssan et " Le financement de Reporters sans frontières par la NED/CIA " par Diana Barahona et Jeb Sprague, Voltaire, 25 avril 2005 et 7 août 2006. [45] "En mettant fin à ses émissions, Al Manar calme le jeu", AFP, 14 décembre 2004. [46] "Audiovisuel et culture mobilisés pour promouvoir la tolérance", AFP, 15 décembre 2004. [47] "Reçu en Israël en homme d'Etat, M.Sarkozy s'est posé en héraut de la lutte contre l'antisémitisme", Le Monde, 17 septembre. [48] " Les trucages de la Foundation for the Defense of Democracies ", Voltaire, 2 février 2005. [49] " Les néo-conservateurs et la politique du "chaos constructeur" " par Thierry Meyssan, Voltaire, 25 juillet 2006. [50] "Al Manar: Paris souhaite que la question soit abordée au niveau européen", AFP, 14 décembre 2004. [51] "USA - Al Manar dans le collimateur du département d'Etat" et "USA-El Manar rangée parmi les "organisations terroristes"", Reuters, 17 décembre 2004. [52] "Globecast retire Al Manar de son offre satellitaire aux Etats-Unis", AFP, 18 décembre 2004. [53] "Le Liban fustige les mesures de Washington et Paris contre Al-Manar", AFP, 18 décembre 2004. [54] "La télévision du Hezbollah touchée par un raid israélien (Hezbollah)" et "Raid israélien contre la télévision du Hezbollah: 3 blessés (Hezbollah)", AFP, 13 juillet 2006. [55] "Al-Manar, la télévision du Hezbollah qui ne veut pas se taire", AFP, 31 juillet 2006; "La télévision du Hezbollah émet toujours", Le Figaro, 1er août 2006; "Al-Manar, la voix du Hezbollah qui fait écran à Israël" par Jean-Pierre Perrin, Libération, 4 août 2006. [56] "Israël impose la loi du silence au Libanais", AFP, 22 juillet 2006. [57] " Les agences de presse occidentales victimes consentantes de la censure militaire israélienne ", Voltaire, 18 juillet 2006.
Thierry Meyssan
http://resistir.info/
A campanha de censura mundial da televisão do Hezbollah iniciou-se em finais de 2003 por iniciativa do Estado-maior das Forças Armadas israelenses. Acusada de difundir programas anti-semitas, Al-Manar, na verdade, nunca foi condenada por tais feitos, mas antes interditada por motivos de ordem pública. Essa campanha, cuja história é aqui relatada e cujos actores escondidos são aqui revelados por Thierry Meyssan, foi explicitamente concebida com o intuito de suprimir a voz da Resistência libanesa antes de o país do Cedro ser atacado e destruído.
Trata-se de um princípio inabalável da propaganda: para que uma mentira pareça verdade, é necessário assegurar que nenhuma voz dissidente a venha a contradizer, depois, convém repeti-la incansavelmente. Foi assim que, antes de lançar a sua ofensiva na Palestina ocupada e no Líbano, invocando legítima defesa, Israel se certificou que Al-Manar – o canal de televisão da Resistência à ocupação do Sul do Líbano, do Golan sírio e da Palestina – não chegaria mais à Europa, às Américas e à Oceania. É provável que muitos actores que participaram nesta operação de censura não tenham medido as suas consequências dramáticas. Mas todos queriam impedir um debate contraditório e favorecer as mentiras israelenses. Então, todos têm responsabilidade nos crimes que tornaram possíveis. Por outro lado, a história desta censura ensina-nos muito sobre os canais e os métodos de influência das Forças Armadas israelenses em França e no mundo. Prelúdio: "Quando queremos matar o nosso cão, dizemos que ele sofre de raiva" Não esqueçamos: Al-Manar é um canal de televisão criado pelo Hezbollah em 1991 e é difundido por satélite desde 2002. Este canal propõe principalmente boletins e magazines de informação consagrados à ocupação militar israelense, entrecortados por algumas emissões de entretenimento. Israel e os Estados Unidos, mas também o Canadá e os Países Baixos consideram o Hezbollah como uma "organização terrorista", ou seja, um inimigo não controlado pelo estado. Ao contrário, a França e os Estados que lhe são próximos mantêm relações cordiais com o Hezbollah, ao ponto de o presidente Jacques Chirac o ter convidado a participar na cimeira da Francofonia e de Bernardette Chirac ter aceitado inaugurar várias das suas obras de caridade. Ainda que Al-Manar seja um meio de comunicação social, ou precisamente, porque é um meio de comunicação social, Al-Manar tornou-se alvo de obsessão para Tel-Aviv e Washington. As hostilidades começaram em 3 de Maio de 2003, quando o secretário de Estado Colin Powell, em visita oficial à Síria, interdita o acesso do Al-Manar à sua conferência de imprensa. [1] Em Outubro do mesmo ano, o departamento de Estado dos Estados Unidos protesta junto dos seus homólogos sírios e libaneses ao saber do anúncio da difusão, por parte do Al-Manar, de uma série intitulada Al Chatat (A Diáspora). Esta apresentava, com efeito, uma versão considerada errónea da criação do Estado de Israel, e de teor anti-semita. [2] Não dando importância a essas acusações, e pressões, o canal começa a difusão da série durante o período do Ramadão, mas as outras televisões árabes recusam-se a emiti-la. [3] Finalmente, na sequência da difusão de um episódio litigioso, Al-Manar retira a série da sua programação. O Middle East & Research Institute (MEMRI) lança então uma campanha internacional de interdição do Al-Manar. O MEMRI é um poderoso lobby, sediado em Washington, que se apresenta como uma iniciativa civil. Mas, na verdade, ele foi fundado em 1998 pelos oficiais de informação das Forças Armadas israelenses, Yotam e Aluma Solnick, sob o comando do coronel Yigal Carmon, e está integrado numa rede de associações neoconservadoras nos Estados Unidos. [4] Na sequência dessa campanha, o Conselho Representativo das Instituições Judias de França (CRIF), constitui em Paris o Conselho Superior do Audiovisual (CSA). O CSA é "uma autoridade administrativa independente" encarregada de regular o sector audiovisual, presidida por Dominique Baudis, antigo representante em França do Carlyle Group, o fundo de investimento comum das famílias Bush e Bin Laden. [5] Aproveitando a sua cerimónia de apresentação de votos à imprensa, Baudis anuncia ter estado com o procurador da República e ter solicitado um encontro com o presidente do directório da Eutelsat, no sentido de determinarem a melhor maneira de impedir a difusão do Al-Manar, que a seu ver, é culpado de incitar à raiva e à violência. [6] Uma semana mais tarde, Israel celebra a sua "Jornada nacional do combate contra o anti-semitismo". [7] Nessa ocasião, o general MosheYaalon declara: "Cerca de 60 anos depois da libertação de Auschwitz, o anti-semitismo continua a ameaçar a vida dos judeus, embora com uma nova cara e novas estratégias". E organiza juntamente com Nathan Sharansky [8] um visionamento de excertos da série do Al-Manar [9] , preparados pelo Estado-maior das Forças Armadas. Sharansky acumula as funções de vice primeiro-ministro de Israel e de conselheiro do presidente dos Estados Unidos, para o qual escreve, por vezes, os discursos. A rádio militar israelense anuncia que Israel encetou diversas acções para interditar Al-Manar na Europa e menciona a iniciativa do CSA, a pedido do CRIF, como o primeiro resultado dessa campanha [10] , declarações confirmadas pelo ministro israelense dos Negócios Estrangeiros. Primeiro acto: o argumento anti-semita Em 31 de Janeiro de 2004, o primeiro-ministro francês (UMP) Jean-Pierre Raffarin, convidado para o jantar anual do CRIF, declara ter visionado a cassete de vídeo preparada pelas Forças Armadas israelenses, na companhia da ministra Nicole Guedj, conselheira do GRIF. Ele anuncia ao auditório arrebatado a sua intenção de mudar a legislação de modo a permitir ao CSA e ao Conselho de Estado a interdição administrativa do Al-Manar, sem terem de esperar que o canal fosse julgado ou condenado penalmente. [11] A precipitação do primeiro-ministro só se explica pela sua convicção de que a acusação proferida contra o Al-Manar é excessiva e que a justiça penal não pronunciará nenhuma sanção. Para satisfazer os seus anfitriões, ele opta, então, por introduzir uma lei de excepção. As novas disposições são apressadamente inseridas numa lei sobre os serviços audiovisuais, aprovadas pelas duas câmaras e publicadas no Jornal Oficial, em 10 de Julho. Dois dias depois, o CSA reúne-se com o Conselho de Estado para pronunciar uma interdição administrativa. Interrogado sobre este procedimento, o porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros declara: "Ninguém deverá duvidar da determinação da França na luta contra todas as manifestações de racismo e de anti-semitismo", deixando entrever o que se deve entender por "independência" do CSA. [12] Surpreendidos por esta notícia, o Conselho Nacional do Audiovisual libanês – rapidamente apoiado por toda a classe política libanesa – faz um apelo à França para que seja respeitada a liberdade de expressão. [13] O Conselho libanês chega mesmo a solicitar a todos os meios de comunicação árabes a organização de uma jornada de solidariedade para com o Al-Manar, em 12 de Agosto. [14] Comentado o litígio perante a imprensa, o ministro libanês dos Negócios Estrangeiros, Jean Obeid, sublinha: "Nós não nos queremos intrometer no trabalho da justiça francesa, no entanto, acreditamos que o aspecto político domina este caso (…). De cada vez que se critica uma injustiça histórica cometida por certos israelenses ou judeus, isso é de imediato entendido como uma crítica ao povo judeu ou à sua religião". [15] O Presidente libanês, em pessoa, Émile Lahoud, publica um comunicado solene indicando que: "toda a medida que for aplicada contra o Al-Manar atentará contra os meios de comunicação libaneses e impedi-los-á de manifestarem os seus pontos de vista perante a opinião pública francesa e europeia, que tinha começado a compreender, por meio dos canais de satélite libaneses, a legitimidade da causa árabe e a denúncia das práticas agressivas de Israel". [16] Neste estádio da polémica, torna-se evidente que a selecção de excertos da série, realizada pelo Estado-maior das Forças Armadas israelenses é falaciosa. Retiradas do seu contexto, as cenas parecem "insuportáveis", segundo as palavras de Raffarin. Mas repostas no curso da obra, elas são apenas caricaturais e comparáveis a muitas cenas de séries anglo-saxónicas, excepto que estas últimas não denigrem as populações em causa. O argumento de que esta série lamentável não estava à altura dos restantes programas do Al-Manar é uma desculpa esfarrapada para a interrupção da série. A acusação proferida pelo presidente Lahoud é confirmada por um despacho da AFP no qual se pode ler com mais franqueza: "para além da série, as autoridades francesas acusam também o Al-Manar de fazer a apologia do terrorismo sob a coberta de militância política contra o Estado de Israel. 'Há uma linha editorial geral que favorece imensamente a imagem do mártir que se faz explodir para matar israelenses', explica uma fonte do CSA, juntamente com a difusão complacente das cerimónias fúnebres dos autores de atentados, cantos e clips bélicos" [17] A única e verdadeira questão é a de saber se o público europeu pode ou não ter acesso ao ponto de vista libanês. Para a defesa das autoridades francesas, deve-se, no entanto, observar que imagens concebidas para um público do Próximo Oriente, claramente entendidas por este, podem ser mal interpretadas por um público europeu; podem até contribuir para a exportação de um conflito do Próximo Oriente para a Europa. Mas este tipo de problema não é exclusivo do Al-Manar e está relacionado com todas as imagens produzidas em zonas de conflito. O problema só poderá ser resolvido através da educação dos telespectadores adaptada a um período de mundialização dos canais por satélite. São muito raras as organizações que se mobilizam pela liberdade de expressão, quando esta se aplica aos árabes. A Réseau Voltaire envia uma delegação ao Líbano para apoiar o Al-Manar e encontra o sheik Naïm Qassem, secretário-geral adjunto do Hezbollah. [18] Contra todas as expectativas, o Conselho de Estado, longe de interditar o Al-Manar, contenta-se em exigir que o canal se reorganize em conformidade com a nova lei. O canal Al-Manar entrega, então, um dossier de acordo junto do CSA, que não encontrando nenhum motivo de rejeição se vê obrigado a aceitá-lo [19] , para grande descontentamento do CRIF. A associação sionista protesta lembrando as "promessas do Primeiro-Ministro", mostrando assim a consideração que ela própria tem pela "independência" do CSA e dos juízes administrativos. Com um humor involuntário, o CRIF estigmatiza as "pressões estrangeiras" no dossier. [20] Em conformidade com os acordos internacionais, ainda que proveniente do CSA francês, a autorização de difusão aplica-se a toda a União Europeia. Segundo acto: o argumento da perturbação da ordem pública O antigo primeiro-ministro socialista Laurent Fabius é convidado para o Fórum da Rádio J, uma estação criada pelo Fundo Social Judeu unificado e domiciliado nas instalações do CRIF. Durante o seu tempo de antena, ele declara-se "chocado" e indignado com a "dupla linguagem" do governo de Raffarin, mostrando a seu turno a sua alta concepção de "independência" do CSA. [21] Colérico, o CRIF publica um novo comunicado: "A decisão do CSA em estabelecer acordos com o canal de televisão do Hezbollah, Al-Manar, equivale a uma autorização oficial, dada pela França, à propaganda anti-semita. Se o Comité interministerial de luta contra o anti-semitismo ainda tem um sentido, nunca a sua convocatória foi tão urgente. Gostaríamos de conhecer a posição do Presidente da República sobre a situação criada pelo CSA." [22] O Partido Socialista não descansa, e qualifica Al-Manar de "instrumento de propaganda ao serviço do terrorismo e do anti-semitismo". [23] O seu primeiro secretário, François Hollande, escreve ao CSA: "Como foram capazes de imaginar que o canal do Hezbollah, que difunde ciclicamente, durante horas, clips incitando as crianças à raiva e ao martírio, pudessem reconsiderar por completo programas concebidos para substituir uma fraseologia incompatível com os valores que fundam a União Europeia?" [24] Enquanto isso, o Centro Simon Wiesenthal, com o seu notório sentido de medida, afirmava: "O CSA e os outros oficiais que acordaram ao Hezbollah uma nova licença para matar (…) serão tidos por co-responsáveis de todas as consequências violentas que poderão daí resultar." [25] O porta-voz do Partido Socialista, Julien Dray, insinua que a decisão do CSA poderá ter sido tomada no quadro de uma negociação relativa à libertação de reféns franceses no Iraque; uma apetecível amálgama rapidamente retomada por toda a imprensa. [26] Este murmúrio teve os seus efeitos. Em 30 de Novembro, o CSA reúne-se com o Conselho de Estado por causa da nova lei e por ter permitido que se difundissem declarações que perturbaram a ordem pública, e ainda por ter tido falta de honestidade no tratamento da informação. O canal tinha citado, com efeito, durante uma revista de imprensa, um artigo em que se afirmava: "Temos assistido, durante os últimos anos, a tentativas sionistas de transmitir doenças perigosas, tais como a SIDA, através de exportações para os países árabes. Esse inimigo não terá qualquer escrúpulo em cometer actos que atentem a saúde dos cidadãos árabes e muçulmanos". [27] Interpelando o ministro da Comunicação da Assembleia Nacional, o deputado Rudy Salles, presidente do grupo de amizade parlamentar França-Israel, retoma o argumento da perturbação da ordem pública: "Esse canal transmitiria em árabe, mas também em francês. Imaginem o efeito que poderiam produzir, nas nossas cidades e subúrbios, essas mensagens de ódio e violência contra os judeus". Ao que o ministro responde que tendo a Assembleia adoptado uma nova lei, ela tinha de ser aplicada com severidade. [28] Mas temendo o desgaste do Conselho de Estado ao deixar-se convencer da interdição de um canal de televisão por este ter realizado uma revista de imprensa, o grupo UMP na Assembleia Nacional propõe de imediato o endurecimento da nova lei. [29] No decorrer de uma outra sessão de questões ao governo, o deputado UMP, Pierre Lellouche, presidente da Assembleia Parlamentar da NATO, interpela, por seu turno, o ministro da Comunicação nestes termos: "O canal Al-Manar pertence ao grupo terrorista do Hezbollah, que esteve na origem dos atentados da rua de Rennes e das Galeries Lafayette em Paris, em 1985 e 1986, e que raptou diversos cidadãos franceses, nomeadamente Jean-Paul Kaufmann e Marcel Fontaine. Esse canal difunde quotidianamente apelos à morte de judeus de Israel e, subsidiariamente, de cristãos. Há um ano atrás, ele difundiu em França uma série intitulada Al-Shatat, Diáspora em francês, que, retomando a propaganda nazi do "Protocolo dos sábios de Sião", mostrava o conluio judeu mundial ilustrado pela degolação de uma criança cristã, cujo sangue servia para fabricar bolos ázimos para a Páscoa judia. Esta série conduziu o presidente do CSA, Baudis, a reunir a justiça e o procurador da República no mês de Janeiro passado. Desde essa data, nenhuma notícia dessa queixa (…). Porque é que nos vemos hoje chegados ao ponto de fazer acordos com um canal de televisão terrorista?" [30] Uma intervenção que fez sensação em vez de respeitar a honestidade de informação. Com efeito, nenhum inquérito judicial ligou alguma vez os atentados de 1985 e 1986 ao Hezbollah; Jean-Paul Kaufman e Marcel Fontaine foram detidos pela Jihad islâmica; Al-Manar não apela à morte dos judeus e dos cristãos, mas antes à luta contra a ocupação militar e a Colaboração; a série Diáspora não se inspira no Protocolo dos sábios de Sião; quanto à queixa do CSA, isso não foi senão uma chamada de atenção ao procurador da República, o qual tinha aberto uma instrução confiada ao juiz Emmanuelle Ducos que não encontrou motivo suficiente para a sua prossecução. Pouco importa, incitado pelos socialistas e pelo UMP, o ministro Renaud Donnedieu de Vabres exclama: "Se são necessários meios jurídicos suplementares [para interditar Al-Manar], o primeiro-ministro e o governo encarregar-se-ão de os propor". [31] Aquando do debate transmitido pela France 3, o vice-presidente da Réseau Voltaire, Issa El-Ayoubi, contesta perante Pierre Lellouche e sugere que seja pronunciada uma sanção penal a propósito da série, se houver razão para isso, mas que não se aplique uma sanção colectiva de modo arbitrário a toda a programação do canal. Mas a hora do debate expira e o moderador põe termo à discussão. [32] Já mais ninguém esconde que o objectivo é interditar Al-Manar para o impedir de difundir os seus boletins de informação, que se votará não importa que lei for e que se encontrará não importa que pretexto for para que isso aconteça. O presidente do CSA, Dominique Baudis, deixa de preservar a ficção da sua independência e dirige-se para o gabinete do primeiro-ministro, para acordarem juntos uma solução. [33] Á saída dessa reunião, Jean-Pierre Raffarin anuncia a sua intenção de relançar o processo legislativo passando pela União Europeia [34] e "aconselha" o CSA a rescindir sine die o seu acordo com o Al-Manar, [35] , suscitando de imediato as felicitações do ministro israelense dos Negócios Estrangeiros. [36] Na sequência destes acontecimentos, o primeiro-ministro recebe uma delegação do American Jewish Committee (AJC), uma poderosa organização neoconservadora norte-americana, da qual faz parte Sharansky, e que trabalha em estreita colaboração com o CRIF. Em conjunto, eles coordenam uma estratégia… europeia. Num comunicado, o AJC felicita Raffarin e precisa: "O Al-Manar e outros canais que difundam mensagens anti-semitas, anti-americanas e anti-ocidentais, não terão lugar numa Europa que promove a tolerância, o pluralismo e a paz". [37] Para aplicar o golpe de misericórdia, é desencadeado um terceiro apelo do Conselho de Estado, desta vez, por parte do CRIF por causa da nova lei. [38] Uma emoção viva abala o mundo árabe. Manifestações e colóquios no Líbano e no Egipto. Intervenções políticas de todas as frentes, até ao secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa. [39] O Conselho Nacional libanês do Audiovisual anuncia medidas recíprocas, ou seja, suprimirá ele também os privilégios acordados aos meios de comunicação franceses no Líbano, caso o Al-Manar seja interditado em França. [40] Em definitivo, a ordem de interdição do Conselho de Estado é anunciado no dia 13 de Dezembro de 2004. O canal é interditado, mas não devido ao anti-semitismo imaginário. "Ele não teria sido excluído, caso a reiteração das emissões abertamente contrárias às disposições do artigo 15 da lei de 30 de Setembro de 1986 [protecção da infância e da adolescência] não causassem incidentes nefastos na salvaguarda da ordem pública". Noutros termos, o canal é censurado porque as informações que difunde são susceptíveis de revoltar jovens que perturbariam a ordem pública com os seus actos. [41] O ministro israelense dos Negócios Estrangeiros exulta: "Só nos podemos alegrar com a medida tomada contra esse canal que difunde discursos de ódio feroz contra os judeus, os cristãos e os países ocidentais." [42] Com todas as ambiguidades a que já nos habituou, a Associação Repórteres sem Fronteiras (RSF) desaprova o método empregado contra o Al-Manar para o acusar de difundir "declarações anti-semitas inaceitáveis". [43] Posteriormente, ficámos a saber como a NED/CIA financia essa associação que se diz defensora da liberdade de imprensa. [44] Tecnicamente, para que a Eutelsat cessasse de difundir o canal Al-Manar na Europa, teria sido necessário cortar simultaneamente Sharjah TV, Quatar TV, Saudi Arabian TV, Kuwait Space Channel, Jamahirya Satellite Channel, Sudan TV, Oman TV, e a Egyptian Satellite Channel. Preocupado em não fazer sofrer aos outros o peso da censura de que era vítima, o Al-Manar desiste e rescinde os seus contratos. [45] Contudo, o canal permanece acessível através da Internet e via ArabSat 2B a 30.5 graus Este, Badr 3 a 26 graus Este e NileSat 102 a 7 graus Oeste. Para tornar pública essa decisão, o Ministério da Comunicação francês organiza uma campanha denominada "Viver juntos". As instituições culturais e os meios audiovisuais públicos transmitem mensagens explicando que "o ódio e a intolerância não têm direito de cidadania", e que por essa razão o Al-Manar foi interditado. Para edificação dos jovens revoltados, o canal Arte volta a difundir a série Holocausto. [46] Durante esse tempo, o presidente do UMP, Nicolas Sarkozy, começa uma tournée triunfal em Israel, onde se encontra com Ariel Sharon e com numerosos outros responsáveis políticos, e elogia-se a si mesmo, e ao seu partido, por terem tido um papel central na censura da voz do Hezbollah. [47] Terceiro acto: a generalização da censura Enquanto a classe dirigente francesa batalhava para fabricar um quadro jurídico que lhe permitisse censurar o Al-Manar, um processo idêntico se desenrolava na Austrália por iniciativa do deputado trabalhista Robert Ray. Este tinha já conseguido a interdição do satélite TARBS. A pedido do primeiro-ministro israelense Ariel Sharon, uma célula de coordenação é criada em Washington com o objectivo de estender a censura ao mundo inteiro: a Coalition Against Terrorist Media (CATM). Esta fica sediada nas instalações da Foudation for the Defense of Democracies, uma poderosa organização sionista. [48] A documentação dessa fundação não deixa dúvidas sobre a finalidade dessa campanha: trata-se de embargar a voz do Hezbollah na perspectiva de uma intervenção militar no Líbano. E entre os responsáveis da fundação, encontram-se os autores do plano de ataque ao Líbano, como por exemplo, Richard Perle. [49] Até aí, os franceses e os australianos não saberiam, talvez, que crimes estavam a preparar, mas a partir daí nenhum mais os ignorou. Transformado em estafeta do Estado-maior das Forças Armadas israelenses, o governo francês põe em marcha a estratégia acordada com a American Jewish Committee: ele introduz a questão da censura deste tipo de canais na ordem do dia do Conselho de Ministros Europeus. [50] O dossier é entregue à comissária europeia encarregada da Sociedade de Informação e dos Media, Viviane Reding. Esta irá trabalhar em colaboração com o gabinete de Bruxelas que o antigo presidente checo, Vaclav Havel, abriu para a Foundation for the Defense of Democracies. Nos Estados Unidos, o Departamento de Estado inscreve o canal de televisão na sua lista de "organizações terroristas". [51] Este é o primeiro meio de comunicação social a ser assim qualificado e, a menos que se considere que as notícias do Al-Manar são "verdadeiras bombas", não compreendemos o que isso poderá querer dizer. Seja como for, a Intelsat e a Globecast (uma filial da France-Télécom) deixam de difundir o canal Al-Manar na América do Norte. [52] Para o antigo Primeiro-Ministro libanês Salim El-Hoss, os Estados Unidos manipularam todo este caso para interditarem a expressão de um ponto de vista na Europa e na América. "Washington qualifica de "terrorismo" o direito à resistência contra a ocupação israelense, e de "legítima defesa" o terrorismo israelense e a usurpação por Israel de uma terra que pertence a um outro povo", comenta El-Hoss. [53] Em resposta, a maioria das operadoras libanesas por cabo deixam de transmitir o canal francês TV5. Em Julho de 2005, é a vez do ministro da Indústria e do Comércio espanhol de retirar o sinal do Al-Manar do satélite público Hispasat dirigido à América Latina. Depois, o Centro Simon Wiesenthal intervém junto do governo francês para que a Globast (outra filial da France-Télécom) corte o seu sinal dirigido à Ásia. Em Março de 2006, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos congela os capitais das sociedades aliadas ao Al-Manar nos bancos norte-americanos. Quarto acto: a eliminação física Em 12 de Julho de 2006, o Hezbollah captura os soldados israelenses durante uma disputa na zona das quintas de Chaaba. Esse território é reconhecido como libanês pela comunidade internacional, mas ocupado por Israel que o considera sírio. Este incidente serve de pretexto a uma vasta ofensiva militar contra o Líbano. Desde o início das operações, em 14 de Julho, que a aviação israelense bombardeia os estúdios do Al-Manar em Beirute para apagar de vez a voz do Hezbollah. [54] O raid faz três feridos graves. No entanto, a Resistência libanesa continua a emitir em diferido e intermitentemente a partir de locais mantidos secretos. [55] O secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah consegue assim dirigir-se aos seus concidadãos e dar notícias da guerra. Para terminar, as Forças israelenses bombardeiam, em 22 de Julho, todas as estações de difusão de todos os canais do país, para se certificarem que nenhuma substitui o sinal do Al-Manar [56] , mas ainda assim Arabsat continua a emitir. Por outro lado, Al-Manar continua a ser visível através do seu sítio na Internet. Como medida de precaução, o Hezbollah utiliza um servidor na Índia. Mas, servindo-se de uma prerrogativa governamental, o governo indiano preocupado em não comprometer o seu recente contrato nuclear com os Estados Unidos, desconectou o sítio a fim de "preservar as boas relações com um Estado amigo". O sítio, todavia, ressurgiu [durante algum tempo] em http://www.islamicdigest.net/almanar/start.php Para compreender o que se passa no Líbano e na Palestina ocupada, o mundo tem de se contentar com a informação das grandes agências noticiosas submetidas à censura militar israelense. [57] Os esforços desenvolvidos, desde há três anos, por Israel para matar Al-Manar são proporcionais aos crimes que quer esconder.
Notas [1] "La TV du Hezbollah indésirable au point presse de Powell", Reuters, 3 mai 2003. [2] "Un documentaire de la TV du Hezbollah accusé d'antisémitisme" par Karim Marouni, Reuters, 29 octobre 2003. [3] "Un feuilleton d'Al-Manar TV accusé d'antisémitisme", Le Monde, 6 décembre 2003. [4] " Les marionnettistes de Washington " par Thierry Meyssan, Voltaire, 13 novembre 2002. [5] " Le Carlyle Group, une affaire d'initiés ", Voltaire, 9 février 2004. [6] "Le CSA veut empêcher la diffusion d'Al Manar.", Reuters, et "CSA - M.Baudis dénonce la diffusion par satellite de "propos intolérables"", AFP, 20 janvier 2004. [7] A "Jornada nacional do combate contra o anti-semitismo" foi fixada pelo governo israelense para 27 de Janeiro, data do aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz. [8] "Natan Sharansky, idéologue de la démocratisation forcée" , Voltaire, 24 février 2005. [9] "Israël dénonce une résurgence de l'antisémitisme" par Marius Schattner, AFP, 27 janvier 2004. Le montage vidéo de l'état-major a servi de base à la publication en avril 2004 du DVD Beacon of Hatred: Inside Hizballah's Al-Manar Television et d'un livret de retranscription par le The Washington Institute for Near East Policy. [10] "Israël veut l'interdiction de diffusion de la TV du Hezbollah en Europe", AFP, 30 janvier 2004. [11] "Le gouvernement va interdire les chaînes par satellite diffusant des programmes antisémites", Associated Press, 31 janvier 2004. [12] Declaração à imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, 28 de Julho de 2004. [13] "Soutien de l'audiovisuel libanais à la TV du Hezbollah poursuivie en France", AFP, 30 juillet 2004. [14] "Journée de solidarité le 12 août avec la TV du Hezbollah", AFP, 2 août 2004. [15] "L'interdiction de la TV du Hezbollah en France est "politique" (ministre)", AFP, 5 août 2004. [16] Comunicado da presidência do Líbano, 12 de Agosto de 2004. [17] "Al-Manar, chaîne ennemie d'Israël qui verse aussi dans l'antisémitisme", AFP, 20 août 2004. [18] " CSA: le censeur supérieur de l'audiovisuel ", Voltaire, 20 août 2004. [19] "Le CSA aurait décidé d'autoriser Al Manar (presse)", AFP, 18 novembre 2004. [20] "Feu vert à Al Manar: le Crif dénonce des "pressions" étrangères", AFP, 22 novembre 2004. [21] "France/Al Manar-Fabius demande des explications au gouvernement", Reuters, 21 novembre 2004. [22] "Al-Manar: déclaration du Président du CRIF Roger Cukierman", CRIF, 23 novembre 2004. [23] "Le PS "s'indigne" du feu vert accordé par le CSA à la TV Al Manar", AFP, 23 novembre 2004. [24] "Al Manar: M.Hollande demande des éclaircissements au CSA", AFP, 26 novembre 2004. [25] "Protestations de plusieurs associations au feu vert donné à Al Manar", AFP, 23 novembre 2004. [26] Por exemplo, "Bienvenue sur Al-Manar, chaîne judéophobe", Libération, 26 de Novembro de 2004. [27] "Al Manar: le Conseil met la chaîne en demeure et saisit le Conseil d'État", Comunicado 568 do CSA, 30 de Novembro de 2004. [28] Assembleia nacional, 23 de Novembro de 2004. [29] "Affaire Al-Manar: les députés UMP souhaitent renforcer la législation", Associated Press, 30 novembre 2004. [30] Assembleia nacional, segunda sessão do dia 30 de Novembro de 2004. [31] Ibid. [32] Paradoxalmente, este moderador será objecto de uma condenação penal por ter passado no ecrã declarações racistas relativas a Dieudonné. Contudo ele não cessa as suas funções e ninguém manda interditar o canal público. [33] "Le président du CSA à Matignon ce mercredi à la suite de l'affaire Al Manar", AFP, 1er décembre 2004. [34] "Images racistes: Raffarin veut renforcer le dispositif législatif", AFP, 1er décembre 2004. [35] "Al-Manar/Raffarin - La convention avec le CSA sera résiliée", Reuters, 2 décembre 2004. Ver também a resposta de Jean-Pierre Raffarin a uma questão oral do senador Ladislas Poniatowski, Sénat, 2 décembre 2004. [36] "Israël félicite Paris pour la résiliation de la convention avec Al-Manar", AFP, 2 décembre 2004. [37] "Le Comité juif américain félicite le premier ministre français d'avoir suspendu la chaîne TV du Hezbollah", PR Newswire, 3 décembre 2004. [38] "CRIF - Al Manar: Le Conseil d'Etat à nouveau saisi", News Press, 6 décembre 2004. [39] "Manifestations de solidarité tous azimuts avec Al-Manar", AFP, 6 décembre 2004. [40] "Al-Manar: Beyrouth menace les médias français de mesures réciproques", AFP, 10 décembre 2004. [41] Ordenança do juiz dos recursos de 31 de Dezembro de 2004, Conselho de Estado nº 274757. [42] "Israël se félicite de l'interdiction de la diffusion d'Al-Manar", AFP, 13 décembre 2004. [43] "Pour RSF, la méthode employée pour interdire Al Manar n'est pas la bonne", AFP, 14 décembre 2004. [44] " Quand Reporters Sans Frontières couvre la CIA " par Thierry Meyssan et " Le financement de Reporters sans frontières par la NED/CIA " par Diana Barahona et Jeb Sprague, Voltaire, 25 avril 2005 et 7 août 2006. [45] "En mettant fin à ses émissions, Al Manar calme le jeu", AFP, 14 décembre 2004. [46] "Audiovisuel et culture mobilisés pour promouvoir la tolérance", AFP, 15 décembre 2004. [47] "Reçu en Israël en homme d'Etat, M.Sarkozy s'est posé en héraut de la lutte contre l'antisémitisme", Le Monde, 17 septembre. [48] " Les trucages de la Foundation for the Defense of Democracies ", Voltaire, 2 février 2005. [49] " Les néo-conservateurs et la politique du "chaos constructeur" " par Thierry Meyssan, Voltaire, 25 juillet 2006. [50] "Al Manar: Paris souhaite que la question soit abordée au niveau européen", AFP, 14 décembre 2004. [51] "USA - Al Manar dans le collimateur du département d'Etat" et "USA-El Manar rangée parmi les "organisations terroristes"", Reuters, 17 décembre 2004. [52] "Globecast retire Al Manar de son offre satellitaire aux Etats-Unis", AFP, 18 décembre 2004. [53] "Le Liban fustige les mesures de Washington et Paris contre Al-Manar", AFP, 18 décembre 2004. [54] "La télévision du Hezbollah touchée par un raid israélien (Hezbollah)" et "Raid israélien contre la télévision du Hezbollah: 3 blessés (Hezbollah)", AFP, 13 juillet 2006. [55] "Al-Manar, la télévision du Hezbollah qui ne veut pas se taire", AFP, 31 juillet 2006; "La télévision du Hezbollah émet toujours", Le Figaro, 1er août 2006; "Al-Manar, la voix du Hezbollah qui fait écran à Israël" par Jean-Pierre Perrin, Libération, 4 août 2006. [56] "Israël impose la loi du silence au Libanais", AFP, 22 juillet 2006. [57] " Les agences de presse occidentales victimes consentantes de la censure militaire israélienne ", Voltaire, 18 juillet 2006.
Thierry Meyssan
http://resistir.info/
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