Introdução A indústria do petróleo internacional cunhou o termo "área de fronteira" para designar as províncias que entraram mais recentemente na busca por recursos petrolíferos. Como matéria de facto, nas suas Olímpiadas quadrienais conhecidas como 'World Petroleum Congress' (WPC), a indústria do petróleo costumava ter uma grande sessão em painel dedicada a destacar e rever os desenvolvimentos mais recentes nas tais áreas de fronteira.Estas sessões muito especiais eram fascinantes pois davam (numa era pre-Internet) os primeiros relances acerca das novas regiões a serem acometidas pela indústria. Portanto, elas habitualmente eram bem concorridas e eu estava entre as legiões de peritos em petróleo ávidos de receberem os primeiros relatórios sobre as mais recentes províncias de petróleo e gás. Recordo-me de nunca faltar a tais leituras críticas. Eu comparecia ao WPC e, desde então, coleccionei os panfletos das sessões num dossier especial (juntamente com os panfletos do WPC sobre 'Reservas Brutas de Petróleo' e 'Reservas de Gás Natural' — com estas últimas a acabarem no cesto de papeis depois de finalmente ter-me encontrado com o Dr. Colin Campbell e o Sr. Jean Laherrere).Foi nestas sessões de 'fronteiras' que tive o primeiro conhecimento do Mar do Norte, do Alasca e da maior parte das futuras estórias de êxito Não-OPEP (Oman, Egipto, Casaquistão, etc) antes de ser devidamente educado acerca do 'petróleo não convencional' (areias petrolíferas do Canadá e petróleo pesado da Venezuela) e dos múltiplos offshores — primeiro águas rasas, a seguir águas profundas e finalmente águas ultra-profundas (exemplo, Golfo do México, Brasil e África Ocidental).AS FRONTEIRAS SECAMEm meados da década de 1990 tornara-se evidentemente claro que as 'áreas de fronteira' haviam secado; em consequência, suas sessões WPC desvaneceram-se sem deixar sinais. A princípio, o cancelamento das 'fronteiras' pareceu uma surpresa; mas, no entanto, era a consequência lógica do facto inegável de que não havia tais áreas deixadas por explorar !! A indústria havia até então coberto todo o globo, tanto no onshore como no offshore — com excepção das duas regiões polares, o Ártico e a Antártida, as quais naturalmente estavam fora dos limites e eram também absurdas para qualquer acompanhamento potencial (como eu e meu colegas concluímos então)RESERVAS POLARES DE PETRÓLEO De acordo com o Dr. Colin Campbell, o mais notável dentre os especialistas mundiais em reservas de petróleo, a chamadas reservas de 'petróleo polar' são estimadas num grande total de apenas 52 mil milhões de barris [1] — menos do que o abastecimento de dois anos para o actual consumo mundial. Além disso, o Dr. Campbell previu que a produção total de 'petróleo polar' seria em média aproximadamente 1 milhão de barris/dia (mb/d) em 2010, aumentando para 2 mb/d em 2020 e finalmente atingindo o pico em torno dos 2,5 mb/d por volta de 2030 — seguindo-se um rápido declínio a partir daí.A REGIÃO ÁRCTICA Quando se aproximava o fim do século XX, entretanto, começou a emergir que as expectativas acerca das regiões polares, estando 'fora dos limites', eram indevidamente optimistas. Dentro em breve, o Árctico expôs-se no radar da indústria petrolífera e focou seus interesses. Nos últimos poucos anos, tanto a pesquisa como a exploração do petróleo dentro do Círculo Árctico tornaram-se realidade — com toda a gente habituando-se a isto nesta altura (sem mais o franzir de sobrancelhas). Era ainda mais um sintoma que contava quão desesperada estava a indústria petrolífera para não deixar qualquer pedra sem virar — mesmo nas altamente inóspitas águas geladas do Oceano Árctico. Os custos, naturalmente, teriam sido proibitivos não muito tempo atrás, mas com o bruto nos seus actuais US$ 70/barril eles agora são prontamente assumidos.
O 'Arctic National Wildlife Refuge' [ANWR] americano e a sua área costeira '1002' estão constantemente a fazer manchetes — a mais recente até à data foi a US House of Representatives aprovar uma Lei (por 225-201 votos) para abrir a planície costeira do ANWR à exploração de petróleo [2] . Também no Alasca, o Delta do Rio Mackenzie e áreas do Mar Chukchi, Bacia Hope e Bacia Norton estão no processo de serem desenvolvidas. Mais distante para leste, outras perspectivas são a Bacia Orphan (noroeste do Canadá) e Gronelândia (seis furos na South Baffin Bay e um poço seco de US$ 25 milhões da 'Statoil'). Não esquecer o Mar de Barentes com o campo de gás de 'Snoevhit' (e sua fábrica de GNL), o campo de petróleo 'Goliat' (com reservas recuperáveis estimadas de 250 milhões de barris) e o campo de gás super-gigante 'Shtokman', da Rússia (reservas de 113 milhões de milhões de pés cúbicos). Além disso, a Rússia está a desenvolver as cinco fases na sua Ilha Sacalina com parceiros estrangeiros (ExxonMobil e Shell). Além disso, o 'Circum-Arctic International Consortium' (EUA, Reino Unido, Canadá, França, Noruega, Dinamarca e Gronelândia) adjudicaram ao US Geological Survey [USGS] e ao dinamarquês 'GEUS' um programa de investigação "para mapear estratigraficamente o Árctivo e compilar sua tectónica original e rochas fontes de petróleo" [3] com resultados que devem ser apresentados em 2007: o 'Ano Internacional Polar'. A ÚLTIMA FRONTEIRA Com o Árctico agora a ser explorado, resta apenas uma 'última fronteira' no nosso pequeno planeta: a Antárctida. Excepto o continente gelado do sul, a espraiar-se sobre uns 14 milhões de quilómetros quadrados, todo o resto já foi perfeitamente examinado quanto a petróleo e gás. É previsível que o continente gelado permanecerá por longo tempo fora dos limites dos equipamentos de perfuração do petróleo e do gás. O Tratado da Antárctida (agora assinado por 45 estados participantes) apela a "uma proibição de mineração até o ano de 2048" [4] . E há boas razões para considerar que a exploração do petróleo e do gás possa demonstrar-se complicada na Antárctida pois a Mãe Natureza fez ali condições tão extremas que mesmo pensar em furar suas vastas extensões provoca um calafrio de descrença. Não só é o mais árido, o mais ventoso (rajadas de vento com picos de 288 km/h) e o mais frio de todos os continentes como também fica na escuridão 24 horas por dia durante o seu longo inverno. E, durante o seu inverno austral (do princípio de Outubro ao fim de Fevereiro), concede apenas um espaço de dois meses para o trabalho efectivo de construção. De modo que apenas os 20 milhões de pinguins do continente e um punhado de outras espécies animais foram capazes de adaptar-se às suas condições desumanas. Também se deve considerar que furar no gelo é um assunto complicado e muito aborrecido, nada fácil na águas geladas da Antárctida. E isto sem mencionar a exploração, com seus imperativos de produção contínua e logística a jusante de pipelines, tanques de armazenagem e transporte por petroleiros quebra-gelos. Mas para um mundo sedento de petróleo nada parece impossível — especialmente quando os preços do barril tiverem disparado para aquelas alturas estratosféricas que hoje são difíceis de visualizar mas que nos deixarão saudosos de quaisquer simpáticos preços com dois dígitos. ENTRADA NO PICO PETROLÍFERO Quer gostemos ou não, todas as sociedades desenvolvidas estão viciadas em petróleo bruto e na sua miríade de derivados. Muitos tomadores de decisão estão a tentar parquear o 'Peak Oil' no recanto mais recôndito das suas mentes (orando para que ele se vá embora), e continuam a negar que não há substituição para o petróleo, excepto possivelmente a energia solar (se ela puder ser transmutada em energia 'barata' — agora disponível por muito caros US$ 7000 a US$ 10000 por megawatt produzido). Nem o gás natural nem o carvão podem tomá-la facilmente, assim como as chamadas renováveis apenas proporcionarão nichos de energia sem serem mesmo capazes de substituir a maciça utilização dominante do petróleo (ainda a proporcionar cerca de 40% das nossas necessidades energéticas globais). Mas, quando a produção mundial do bruto entra no seu inevitável declínio, ninguém pode estar certo de que algum executivo da indústria petrolífera americana não tentará (contra todas as adversidades) a Antárctida ! E não são as regulações internacionais existentes que impedirão alguém de tentar. E, embora apenas sete dos grandes estados participantes no Tratado da Artáctida tenham reclamações territoriais, ninguém parece concordar pois "todas as reivindicações estão agora congeladas... e poucos dos 45 signatários reconhecem-nas e a maioria dos países constrói estações sem se preocupar" [5] com umas 40 bases nacionais já a operarem e dezanove outras a serem planeadas (até mesmo uma da micro Estónia). De uma população total de aproximadamente 4000 pessoas no verão, a Antárctida cai para cerca de 1000 durante o seu longo e escuro inverno. Também convém mencionar que o número de turistas está continuamente a aumentar e é esperado um récord de 38 mil durante o presente ano. ATAQUES PRELIMINARES Além do turismo polar, alguns novos ataques foram cometidos recentemente na Antárctida. Primeiramente, a "Rodovia do gelo", de US$ 20 milhões, ligando as estações americanas de 'McMurdo' e 'Amundsen-Scott' (no Polo Sul), está a ser traçada ao longo de 1632 km de gelo pelos americanos (alegadamente para potenciar a investigação científica e facilitar o transporte entre elas). Nos últimos três verões uns 680 km já foram completados e estão a ser feitos planos para lançar um cabo ao longo da 'Rodovia', no valor de US$ 250 mihões, para transferir dados entre as duas bases. Em segundo lugar, os australianos estão a dar o toque final à sua nova 'Pista de decolagem no gelo' Wilkins, de US$ 46 milhões, a estirar-se uns 4 km, para permitir voos intercontinentais em 2007. Em terceiro lugar, novas e refinadas estações polares no estado da arte estão a ser concebidas e construídas a fim de se tornarem habitações permanentes na paisagem da Antárctida. A base britânica 'Halley VI' está a ser montada sobre quatro 'bainhas de 60 toneladas' que actuam como esquis para o conjunto da base
"com quartos, laboratórios e salas de depósitos, bem como ginásio, sáuna, salas de jogos, uma parede para escaladas e uma estufa na qualfrutas frescas e vegetais podem ser cultivados em água enriquecida por nutrientes" [6] pode ser deslocada sobre o gelo ao contrário das suas cinco antecessoras que eram fixadas e então atadas para serem finalmente sacrificadas (devido ao movimento maciço do banco de gelo) e deixadas a enferrujar na calota glacial. Em quarto lugar, a Austrália decidiu ultimamente reivindicar a plataforma continental que confina com os seus 5,6 milhões de quilómetros quadrados territoriais de terra Antárctida (aproximadamente 40% da massa de terra total, claramente a fatia do leão) tendo em vista possíveis desenvolvimentos futuros. Na verdade, este lance estratégico poderá ser visto no futuro como uma decisão atempada e sábia.REUNIÃO CONSULTIVA De 12 a 24 de Junho de 2006, umas três centenas de delegados de 45 países reuniu-se em Edinburgo para participar da 29ª Reunião Consultiva do Tratado da Antárctida (ATCM). Nesta reunião as "Orientações para visitantes à Antárctida" foi posta sobre a mesa (após sete anos de negociações) e um delegado observou sensatamente que
"questões a afectarem a Antárctida reflectem-se sobre o resto do mundo" [7]
Ainda em outro evento paralelo, o senador australiano Barnaby Joyce, no seu retorno de uma visita de quatro semanas à Antárctida, causou furor ao declarar que "A Austrália deveria escavar os recursos minerais que reivindica antes que outros países o façam" [8]
argumentando que "O desejo pode ser deixar a Antárctida como uma imensidão pura, mas a realidade é que ela não vai ser deixada intacta e inexplorada...
Há recursos ali, eles serão explorados. Isto é simplesmente o modo como o mundo funciona... As pessoas estão sempre vigilantes para obtê-los... Uma vez que se torne económico para as pessoas fazerem isto na Antárctida, elas aparecerão e farão, haja ou não haja um acordo em vigor" [9]
Isto tudo pode soar um tanto pessimista, mas no entanto também é bastante realista ! Esperançosamente, a questão da economicidade (affordability) ajudará a empurrar os primeiros passo dos desenvolvimentos mais para o futuro. Mas um dia a corrida ao ouro da Antárctida poderá finalmente ocorrer. Então, a responsabilidade global da Austrália para administrar e regular as coisas ali poderia ser de importância crítica para o continente gelado — possivelmente muito mais altas do que a sua fatia do botim potencial...CONCLUSÃO Dentro de cinco anos o mundo celebrará o centésimo aniversário da conquista do Polo Sul pelo heróico pioneiro norueguês Roald Amundsen (1872-1928) e recordará mais uma vez a tragédia sucedida ao capitão Robert Scott (1868-1912) e seus corajosos companheiros na sua viagem de retorno do "Último lugar sobre a Terra" [10] . Durante o século passado, o 'Último lugar' do planeta foi gradualmente transmutado na 'Última fronteira' da humanidade — um facto que nem Amundsen nem Scott poderiam alguma vez ter sonhado quando enfrentavam os elementos no seu caminho para o seu objectivo polar.Recuando a 1987, a consciência mundial levantou o desafio do 'Esgotamento do ozono' sobre a Antárctida e estruturou devidamente o Protocolo de Montreal [11] o qual levou ao banimento dos CFCs. Agora, duas décadas após Montreal, alguém poderia perguntar se a Espécie Humana não faria melhor em deixar a sua 'Última fronteira' para os seus milhões de pinguins, colocando-as deliberadamente 'fora dos limites' tentando assim agradar-se junto a Deus Poderoso — que não precisa das nossas graças, mas delicia-se com um toque de humildade. A questão final que permanece é se o Homo Sapiens alcançou finalmente o estado de sabedoria que lhe permitirá fazer tais decisões cruciais. Decisões das quais a sua sobrevivência sobre o planeta pode finalmente vir a depender!Quanto à sobrevivência do planeta, James Lovelock (o pai da 'Teoria Gaia') arriscou:
"Salvar o planeta?? Nós não podemos salvar o planeta... Nunca pudemos..."
Referências [1] Ver 'ASPO Newsletter #66' (May 2006) para as mais recentes estimativas emitidas pelo Dr. Campbell sobre 'petróleo polar'. [2] A House of Representatives aprovou esta Lei pela 'décima vez' [!] segundo o sítio web da 'ANWR' www.anwr.org . [3] Em 'AAPG Explorer' (issue November 2004) p.6. [4] Barbie Dutter, 'Antarctic Cold Rush levanta receios quanto à última grande imensidão', 'The Daily Telegraph' (June 4, 2006). [5] Andrew Darby, 'March of the building workers threatens Antarctica', 'Sydney Morning Herald' (April 18, 2006). [6] Catriona Davis, 'New job, Day one', 'The Daily Telegraph' (May 15, 2006). [7] Ver o sítio web 'ATCM' em www.atcm2006.gov.uk . [8] Barbie Dutter, ref. [4] acima. [9] Ibid. [10] Tomado do título do bestseller de Roland Huntford, de 1999. [11] O 'Ozone Secretariat' do 'U.N. Environment Program' [UNEP] pode ser encontrado em http://ozone.unep.org
A.M. Samsam Bakhtiari
http://resistir.info/
O 'Arctic National Wildlife Refuge' [ANWR] americano e a sua área costeira '1002' estão constantemente a fazer manchetes — a mais recente até à data foi a US House of Representatives aprovar uma Lei (por 225-201 votos) para abrir a planície costeira do ANWR à exploração de petróleo [2] . Também no Alasca, o Delta do Rio Mackenzie e áreas do Mar Chukchi, Bacia Hope e Bacia Norton estão no processo de serem desenvolvidas. Mais distante para leste, outras perspectivas são a Bacia Orphan (noroeste do Canadá) e Gronelândia (seis furos na South Baffin Bay e um poço seco de US$ 25 milhões da 'Statoil'). Não esquecer o Mar de Barentes com o campo de gás de 'Snoevhit' (e sua fábrica de GNL), o campo de petróleo 'Goliat' (com reservas recuperáveis estimadas de 250 milhões de barris) e o campo de gás super-gigante 'Shtokman', da Rússia (reservas de 113 milhões de milhões de pés cúbicos). Além disso, a Rússia está a desenvolver as cinco fases na sua Ilha Sacalina com parceiros estrangeiros (ExxonMobil e Shell). Além disso, o 'Circum-Arctic International Consortium' (EUA, Reino Unido, Canadá, França, Noruega, Dinamarca e Gronelândia) adjudicaram ao US Geological Survey [USGS] e ao dinamarquês 'GEUS' um programa de investigação "para mapear estratigraficamente o Árctivo e compilar sua tectónica original e rochas fontes de petróleo" [3] com resultados que devem ser apresentados em 2007: o 'Ano Internacional Polar'. A ÚLTIMA FRONTEIRA Com o Árctico agora a ser explorado, resta apenas uma 'última fronteira' no nosso pequeno planeta: a Antárctida. Excepto o continente gelado do sul, a espraiar-se sobre uns 14 milhões de quilómetros quadrados, todo o resto já foi perfeitamente examinado quanto a petróleo e gás. É previsível que o continente gelado permanecerá por longo tempo fora dos limites dos equipamentos de perfuração do petróleo e do gás. O Tratado da Antárctida (agora assinado por 45 estados participantes) apela a "uma proibição de mineração até o ano de 2048" [4] . E há boas razões para considerar que a exploração do petróleo e do gás possa demonstrar-se complicada na Antárctida pois a Mãe Natureza fez ali condições tão extremas que mesmo pensar em furar suas vastas extensões provoca um calafrio de descrença. Não só é o mais árido, o mais ventoso (rajadas de vento com picos de 288 km/h) e o mais frio de todos os continentes como também fica na escuridão 24 horas por dia durante o seu longo inverno. E, durante o seu inverno austral (do princípio de Outubro ao fim de Fevereiro), concede apenas um espaço de dois meses para o trabalho efectivo de construção. De modo que apenas os 20 milhões de pinguins do continente e um punhado de outras espécies animais foram capazes de adaptar-se às suas condições desumanas. Também se deve considerar que furar no gelo é um assunto complicado e muito aborrecido, nada fácil na águas geladas da Antárctida. E isto sem mencionar a exploração, com seus imperativos de produção contínua e logística a jusante de pipelines, tanques de armazenagem e transporte por petroleiros quebra-gelos. Mas para um mundo sedento de petróleo nada parece impossível — especialmente quando os preços do barril tiverem disparado para aquelas alturas estratosféricas que hoje são difíceis de visualizar mas que nos deixarão saudosos de quaisquer simpáticos preços com dois dígitos. ENTRADA NO PICO PETROLÍFERO Quer gostemos ou não, todas as sociedades desenvolvidas estão viciadas em petróleo bruto e na sua miríade de derivados. Muitos tomadores de decisão estão a tentar parquear o 'Peak Oil' no recanto mais recôndito das suas mentes (orando para que ele se vá embora), e continuam a negar que não há substituição para o petróleo, excepto possivelmente a energia solar (se ela puder ser transmutada em energia 'barata' — agora disponível por muito caros US$ 7000 a US$ 10000 por megawatt produzido). Nem o gás natural nem o carvão podem tomá-la facilmente, assim como as chamadas renováveis apenas proporcionarão nichos de energia sem serem mesmo capazes de substituir a maciça utilização dominante do petróleo (ainda a proporcionar cerca de 40% das nossas necessidades energéticas globais). Mas, quando a produção mundial do bruto entra no seu inevitável declínio, ninguém pode estar certo de que algum executivo da indústria petrolífera americana não tentará (contra todas as adversidades) a Antárctida ! E não são as regulações internacionais existentes que impedirão alguém de tentar. E, embora apenas sete dos grandes estados participantes no Tratado da Artáctida tenham reclamações territoriais, ninguém parece concordar pois "todas as reivindicações estão agora congeladas... e poucos dos 45 signatários reconhecem-nas e a maioria dos países constrói estações sem se preocupar" [5] com umas 40 bases nacionais já a operarem e dezanove outras a serem planeadas (até mesmo uma da micro Estónia). De uma população total de aproximadamente 4000 pessoas no verão, a Antárctida cai para cerca de 1000 durante o seu longo e escuro inverno. Também convém mencionar que o número de turistas está continuamente a aumentar e é esperado um récord de 38 mil durante o presente ano. ATAQUES PRELIMINARES Além do turismo polar, alguns novos ataques foram cometidos recentemente na Antárctida. Primeiramente, a "Rodovia do gelo", de US$ 20 milhões, ligando as estações americanas de 'McMurdo' e 'Amundsen-Scott' (no Polo Sul), está a ser traçada ao longo de 1632 km de gelo pelos americanos (alegadamente para potenciar a investigação científica e facilitar o transporte entre elas). Nos últimos três verões uns 680 km já foram completados e estão a ser feitos planos para lançar um cabo ao longo da 'Rodovia', no valor de US$ 250 mihões, para transferir dados entre as duas bases. Em segundo lugar, os australianos estão a dar o toque final à sua nova 'Pista de decolagem no gelo' Wilkins, de US$ 46 milhões, a estirar-se uns 4 km, para permitir voos intercontinentais em 2007. Em terceiro lugar, novas e refinadas estações polares no estado da arte estão a ser concebidas e construídas a fim de se tornarem habitações permanentes na paisagem da Antárctida. A base britânica 'Halley VI' está a ser montada sobre quatro 'bainhas de 60 toneladas' que actuam como esquis para o conjunto da base
"com quartos, laboratórios e salas de depósitos, bem como ginásio, sáuna, salas de jogos, uma parede para escaladas e uma estufa na qualfrutas frescas e vegetais podem ser cultivados em água enriquecida por nutrientes" [6] pode ser deslocada sobre o gelo ao contrário das suas cinco antecessoras que eram fixadas e então atadas para serem finalmente sacrificadas (devido ao movimento maciço do banco de gelo) e deixadas a enferrujar na calota glacial. Em quarto lugar, a Austrália decidiu ultimamente reivindicar a plataforma continental que confina com os seus 5,6 milhões de quilómetros quadrados territoriais de terra Antárctida (aproximadamente 40% da massa de terra total, claramente a fatia do leão) tendo em vista possíveis desenvolvimentos futuros. Na verdade, este lance estratégico poderá ser visto no futuro como uma decisão atempada e sábia.REUNIÃO CONSULTIVA De 12 a 24 de Junho de 2006, umas três centenas de delegados de 45 países reuniu-se em Edinburgo para participar da 29ª Reunião Consultiva do Tratado da Antárctida (ATCM). Nesta reunião as "Orientações para visitantes à Antárctida" foi posta sobre a mesa (após sete anos de negociações) e um delegado observou sensatamente que
"questões a afectarem a Antárctida reflectem-se sobre o resto do mundo" [7]
Ainda em outro evento paralelo, o senador australiano Barnaby Joyce, no seu retorno de uma visita de quatro semanas à Antárctida, causou furor ao declarar que "A Austrália deveria escavar os recursos minerais que reivindica antes que outros países o façam" [8]
argumentando que "O desejo pode ser deixar a Antárctida como uma imensidão pura, mas a realidade é que ela não vai ser deixada intacta e inexplorada...
Há recursos ali, eles serão explorados. Isto é simplesmente o modo como o mundo funciona... As pessoas estão sempre vigilantes para obtê-los... Uma vez que se torne económico para as pessoas fazerem isto na Antárctida, elas aparecerão e farão, haja ou não haja um acordo em vigor" [9]
Isto tudo pode soar um tanto pessimista, mas no entanto também é bastante realista ! Esperançosamente, a questão da economicidade (affordability) ajudará a empurrar os primeiros passo dos desenvolvimentos mais para o futuro. Mas um dia a corrida ao ouro da Antárctida poderá finalmente ocorrer. Então, a responsabilidade global da Austrália para administrar e regular as coisas ali poderia ser de importância crítica para o continente gelado — possivelmente muito mais altas do que a sua fatia do botim potencial...CONCLUSÃO Dentro de cinco anos o mundo celebrará o centésimo aniversário da conquista do Polo Sul pelo heróico pioneiro norueguês Roald Amundsen (1872-1928) e recordará mais uma vez a tragédia sucedida ao capitão Robert Scott (1868-1912) e seus corajosos companheiros na sua viagem de retorno do "Último lugar sobre a Terra" [10] . Durante o século passado, o 'Último lugar' do planeta foi gradualmente transmutado na 'Última fronteira' da humanidade — um facto que nem Amundsen nem Scott poderiam alguma vez ter sonhado quando enfrentavam os elementos no seu caminho para o seu objectivo polar.Recuando a 1987, a consciência mundial levantou o desafio do 'Esgotamento do ozono' sobre a Antárctida e estruturou devidamente o Protocolo de Montreal [11] o qual levou ao banimento dos CFCs. Agora, duas décadas após Montreal, alguém poderia perguntar se a Espécie Humana não faria melhor em deixar a sua 'Última fronteira' para os seus milhões de pinguins, colocando-as deliberadamente 'fora dos limites' tentando assim agradar-se junto a Deus Poderoso — que não precisa das nossas graças, mas delicia-se com um toque de humildade. A questão final que permanece é se o Homo Sapiens alcançou finalmente o estado de sabedoria que lhe permitirá fazer tais decisões cruciais. Decisões das quais a sua sobrevivência sobre o planeta pode finalmente vir a depender!Quanto à sobrevivência do planeta, James Lovelock (o pai da 'Teoria Gaia') arriscou:
"Salvar o planeta?? Nós não podemos salvar o planeta... Nunca pudemos..."
Referências [1] Ver 'ASPO Newsletter #66' (May 2006) para as mais recentes estimativas emitidas pelo Dr. Campbell sobre 'petróleo polar'. [2] A House of Representatives aprovou esta Lei pela 'décima vez' [!] segundo o sítio web da 'ANWR' www.anwr.org . [3] Em 'AAPG Explorer' (issue November 2004) p.6. [4] Barbie Dutter, 'Antarctic Cold Rush levanta receios quanto à última grande imensidão', 'The Daily Telegraph' (June 4, 2006). [5] Andrew Darby, 'March of the building workers threatens Antarctica', 'Sydney Morning Herald' (April 18, 2006). [6] Catriona Davis, 'New job, Day one', 'The Daily Telegraph' (May 15, 2006). [7] Ver o sítio web 'ATCM' em www.atcm2006.gov.uk . [8] Barbie Dutter, ref. [4] acima. [9] Ibid. [10] Tomado do título do bestseller de Roland Huntford, de 1999. [11] O 'Ozone Secretariat' do 'U.N. Environment Program' [UNEP] pode ser encontrado em http://ozone.unep.org
A.M. Samsam Bakhtiari
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