Depois de aterrorizar durante anos um povo ocupado, os regimes párias de Washington e Tel Aviv podem finalmente ter encontrado quem lhes faça frente.
Lembram-se de Kosovo e do resto dos Balcãs atacados? Lembram-se dos curdos no norte do Iraque? Quantos telegramas emocionantes aquelas crises geraram no ocidente, juntamente com maldições aos seus atormentadores. Recordo-me que eram chamados "a causa mais moral da nossa geração". Não havia dúvida, diziam os cruzados, entre o certo e o errado eles estavam firmemente do lado do certo, junto com Blair e Clinton e os seus generais. Quão silenciosos estão agora estes cruzados, a sua compaixão selectiva fica reservada confirmadamente para as causas do estado, as "nossas" causas.Perante nossos olhos, o regime israelense (que naturalmente nunca é chamado regime), armado e financiado pelos Estados Unidos, e apoiado pela Grã-Bretanha, está a atacar e destruir todo um país, a matar deliberadamente civis, quase a metade dos quais são crianças; e os cruzados estão calados como ratos ou ocupados a trabalhar na grande barragem da mistificação. Detectei um deles ontem a contribuir para uma reportagem acerca de Condaleeza Rice — a Ribbentrop moderna — na qual se dizia que ela havia "embarcado numa missão no Médio Oriente para coser em conjunto um plano de paz". Li aquilo duas vezes e perguntei-me como era possível para Rice (ou "Condi") cumprir sua "missão" quando a missão descarada do seu governo era apoiar e colaborar agressivamente com os israelenses, fornecendo-lhes mesmo em meio a carnificina bombas guiadas de precisão e mísseis revestidos de urânio. O antigo cruzado não disse."O EXÉRCITO ISRAELENSE É UM DOS MAIS COVARDES"Detectei um outro cruzado a debater seriamente se o exército israelense ainda era um "exército moral". Li aquilo duas vezes. Na minha experiência de guerra e de Médio Oriente, o exército israelense é um dos mais covardes. Todos os dias os seus soldados humilham pessoas indefesas, aterrorizam idosos e mulheres grávidas em barreiras nas estradas e agora os seus pilotos de F-16 despejam bombas de fósforo sobre famílias a fugir em veículos cambaleantes.O ministro da Justiça israelense, Haim Ramon, disse que Israel havia "de facto obtido a autorização para continuar nossas operações" na conferência de Roma de 16 de Julho. Anteriormente, Blair e Bush haviam "dissuadido" a reunião do G8 de apelar a um cessar fogo. O que isto significa é muito simples. Em 1982, as grandes potências ficaram de lado enquanto os israelenses superintendiam o massacre de milhares de pessoas nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, no sul do Líbano. As mesmas grandes potências estão agora a dizer: "Vão em frente, matem e massacrem até ficarem saciados. Nós lhes diremos para parar quando pensarmos que já é bastante".No Vietnam, muito tempo atrás, ao explicar porque "nós venceremos", um membro da Frente de Libertação Nacional disse-me: "Eles (os americanos) não podem matar todos nós". Os invasores (a palavras quase nunca era utilizada no ocidente) fizeram o seu melhor e mataram ou provocaram a morte de mais de três milhões de pessoas. Os invasores dizimaram a resistência no Vietnam do Sul, a FLN, mas eles não podiam matá-los todos, e acabaram por seu expulsos.Não estou a desenhar um paralelo preciso: basta dizer que a resistência no Líbano, o Hizbollah, está a mostrar que eles, também, operam de acordo com a mesma máxima. A resistência ao poder opressor, a crimes monstruosos de invasão (aos quais os juizes de Nuremberg chamaram o crime "supremo") é a humanidade na sua maior nobreza. Mas o paradoxo adverte-nos que nenhuma resistência é linda, que cada uma acrescenta sua própria forma de violência a fim de expulsar um invasor (tal como os civis mortos pelos rockets do Hizbollah); e isto também sem aplica aos heróicos partisans na Europa e aos heróicos curdos e aqueles sem rosto, os abominados iraquianos que têm tido êxito em atarraxar a máquina homicida americana dentro do seu país.Mas há esperança. Depois de durante todos estes anos aterrorizarem um povo ocupado, acabando por conduzi-lo ao desespero de terem de cometer as suas próprias atrocidades, os regimes párias de Washington e Tel Aviv podem, apoiados por Blair (a quem a história julgará como ser desprezível e criminoso), podem, quase podem, ter encontrado quem lhes faça frente. Ou, se não toda luta, no princípio dela.Nesse ínterim, devemos exigir que aqueles que consideram possuir cargos responsáveis em governos "civilizados" rompam o seu silêncio covarde e digam aos invasores para parar a sua matança e caírem fora.
John Pilger
http://resistir.info/
Lembram-se de Kosovo e do resto dos Balcãs atacados? Lembram-se dos curdos no norte do Iraque? Quantos telegramas emocionantes aquelas crises geraram no ocidente, juntamente com maldições aos seus atormentadores. Recordo-me que eram chamados "a causa mais moral da nossa geração". Não havia dúvida, diziam os cruzados, entre o certo e o errado eles estavam firmemente do lado do certo, junto com Blair e Clinton e os seus generais. Quão silenciosos estão agora estes cruzados, a sua compaixão selectiva fica reservada confirmadamente para as causas do estado, as "nossas" causas.Perante nossos olhos, o regime israelense (que naturalmente nunca é chamado regime), armado e financiado pelos Estados Unidos, e apoiado pela Grã-Bretanha, está a atacar e destruir todo um país, a matar deliberadamente civis, quase a metade dos quais são crianças; e os cruzados estão calados como ratos ou ocupados a trabalhar na grande barragem da mistificação. Detectei um deles ontem a contribuir para uma reportagem acerca de Condaleeza Rice — a Ribbentrop moderna — na qual se dizia que ela havia "embarcado numa missão no Médio Oriente para coser em conjunto um plano de paz". Li aquilo duas vezes e perguntei-me como era possível para Rice (ou "Condi") cumprir sua "missão" quando a missão descarada do seu governo era apoiar e colaborar agressivamente com os israelenses, fornecendo-lhes mesmo em meio a carnificina bombas guiadas de precisão e mísseis revestidos de urânio. O antigo cruzado não disse."O EXÉRCITO ISRAELENSE É UM DOS MAIS COVARDES"Detectei um outro cruzado a debater seriamente se o exército israelense ainda era um "exército moral". Li aquilo duas vezes. Na minha experiência de guerra e de Médio Oriente, o exército israelense é um dos mais covardes. Todos os dias os seus soldados humilham pessoas indefesas, aterrorizam idosos e mulheres grávidas em barreiras nas estradas e agora os seus pilotos de F-16 despejam bombas de fósforo sobre famílias a fugir em veículos cambaleantes.O ministro da Justiça israelense, Haim Ramon, disse que Israel havia "de facto obtido a autorização para continuar nossas operações" na conferência de Roma de 16 de Julho. Anteriormente, Blair e Bush haviam "dissuadido" a reunião do G8 de apelar a um cessar fogo. O que isto significa é muito simples. Em 1982, as grandes potências ficaram de lado enquanto os israelenses superintendiam o massacre de milhares de pessoas nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, no sul do Líbano. As mesmas grandes potências estão agora a dizer: "Vão em frente, matem e massacrem até ficarem saciados. Nós lhes diremos para parar quando pensarmos que já é bastante".No Vietnam, muito tempo atrás, ao explicar porque "nós venceremos", um membro da Frente de Libertação Nacional disse-me: "Eles (os americanos) não podem matar todos nós". Os invasores (a palavras quase nunca era utilizada no ocidente) fizeram o seu melhor e mataram ou provocaram a morte de mais de três milhões de pessoas. Os invasores dizimaram a resistência no Vietnam do Sul, a FLN, mas eles não podiam matá-los todos, e acabaram por seu expulsos.Não estou a desenhar um paralelo preciso: basta dizer que a resistência no Líbano, o Hizbollah, está a mostrar que eles, também, operam de acordo com a mesma máxima. A resistência ao poder opressor, a crimes monstruosos de invasão (aos quais os juizes de Nuremberg chamaram o crime "supremo") é a humanidade na sua maior nobreza. Mas o paradoxo adverte-nos que nenhuma resistência é linda, que cada uma acrescenta sua própria forma de violência a fim de expulsar um invasor (tal como os civis mortos pelos rockets do Hizbollah); e isto também sem aplica aos heróicos partisans na Europa e aos heróicos curdos e aqueles sem rosto, os abominados iraquianos que têm tido êxito em atarraxar a máquina homicida americana dentro do seu país.Mas há esperança. Depois de durante todos estes anos aterrorizarem um povo ocupado, acabando por conduzi-lo ao desespero de terem de cometer as suas próprias atrocidades, os regimes párias de Washington e Tel Aviv podem, apoiados por Blair (a quem a história julgará como ser desprezível e criminoso), podem, quase podem, ter encontrado quem lhes faça frente. Ou, se não toda luta, no princípio dela.Nesse ínterim, devemos exigir que aqueles que consideram possuir cargos responsáveis em governos "civilizados" rompam o seu silêncio covarde e digam aos invasores para parar a sua matança e caírem fora.
John Pilger
http://resistir.info/
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