segunda-feira, setembro 25, 2006

Faluja novamente sob ameaça

Após ter sofrido dois grandes assaltos nos últimos dois anos, Faluja está outra vez sob ameaça das forças dos EUA, afirmam os habitantes.

«Eles destruíram a nossa cidade duas vezes e agora estão a ameaçar­‑nos pela terceira vez», disse à IPS Ahmed Dhahy, de 52 anos, em Faluja, a cidade de maioria sunita localizada 50 quilómetros a oeste de Bagdade.

«Querem que façamos o trabalho deles, e que entreguemos aqueles que os atacam», disse.

Dhahy, que perdeu 32 familiares quando a casa do seu pai foi bombardeada pela aviação dos EUA durante o ataque à cidade em Abril de 2004, afirmou que os militares dos EUA ameaçaram destruir a cidade se os combatentes da resistência não lhes forem entregues.

«Na semana passada, os americanos usaram alto-falantes na parte traseira dos seus tanques e Humvees [veículos blindados] para nos ameaçar», disse Dhahy. Os habitantes afirmaram que as forças dos EUA avisaram de uma «grande operação militar» se os combatentes não forem entregues.

Um porta-voz militar estadunidense em Bagdade afirmou que não tinha ouvido relatos de tal acção.

Faluja foi intensamente bombardeada em Abril de 2004 e de novo em Novembro desse ano. Os ataques destruíram 75% da infra-estrutura da cidade e deixaram mais de 5.000 mortos, segundo organizações não­‑governamentais locais.

Mas a seguir aos intensos ataques, os combatentes da resistência continuaram a lançar ataques contra as forças estadunidenses e iraquianas oficiais na cidade. Faluja continua sob fortes medidas de segurança, com os soldados estadunidenses a utilizar sistemas de identificação biométrica, revista corporal completa e cartões de identificação com código de barras para entrar ou sair da cidade.

«A resistência iraquiana não parou um só dia, apesar das vastas actividades militares estadunidenses», disse à IPS um capitão de polícia da cidade que falou sob condição de anonimato.

«Os sábios da cidade explicaram às autoridades estadunidenses que é impossível deter a resistência com operações militares, mas parece que os norte­‑americanos preferem seguir o caminho difícil».

O capitão de polícia afirmou que os combatentes contra a ocupação aumentaram as suas actividades face à violência sectária na qual esquadrões da morte xiitas mataram milhares de sunitas em Bagdade. Muitos habitantes de Faluja têm parentes na capital.

A falta de reconstrução e a falha dos militares estadunidenses em pagar a devida compensação às famílias das vítimas agravaram o mal-estar, disse o capitão.

«Costumava haver ataques da resistência contra as forças estadunidenses e iraquianas em Faluja diariamente», acrescentou o capitão. «Mas agora aumentaram para vários por dia. Muitos soldados foram mortos e os seus veículos destruídos. Por isso, está claro que as medidas de segurança que adoptaram em Faluja fracassaram».

Vários habitantes disseram à IPS que todo o tipo de assassinatos foi cometido nos últimos oito meses. Líderes religiosos foram alvejados regularmente, sem nenhum grupo a assumir a responsabilidade.

No Domingo, 10 de Setembro, o antigo chefe da polícia de trânsito, o brigadeiro Ahmed Diraa, foi morto a tiro no seu carro. Os habitantes de Faluja disseram à IPS que Diraa tinha deixado o seu cargo há um mês.

Frente a estes assassinatos, e agora das ameaças de um novo ataque, os habitantes permanecem desafiadores ante as forças de ocupação. As dificuldades por que as pessoas passaram parecem tê­‑las fortalecido em vez de enfraquecido.

«Há tantas detenções, assassinatos e punições colectivas, tais como tiroteios indiscriminados, rusgas de inspecção violentas, toques de recolher repetidos e cortes deliberados de água e electricidade», disse à IPS Mohammed al­‑Darraji, director de uma organização não­‑governamental em Faluja chamada Centro Iraquiano para a Observação dos Direitos Humanos.

«O que se passa nesta cidade requer a intervenção internacional para proteger os civis e punir aqueles que prejudicaram seriamente a sociedade de Faluja e cometeram graves crimes contra a humanidade», acrescentou al­‑Darraji. A sua organização tem vindo a monitorar as violações das Convenções de Genebra na cidade desde o cerco de Abril de 2004.

«Existe uma longa lista de punições colectivas que transformaram a cidade num aterrador campo de detenção», disse.

Outro defensor dos direitos humanos em Faluja, que pediu para ser referido como Khalid, afirmou que os activistas de direitos humanos no Iraque se sentiam traídos pelas Nações Unidas.

A ONU mostrou ignorância «ao deixar que as tropas estadunidenses actuassem sozinhas na cidade», disse à IPS Khalid, que trabalha para a Raya Human Rights, uma organização não­‑governamental na cidade. «Isto foi depois de os meios de comunicação terem exposto a enormidade da violência e das violações dos direitos humanos durante os últimos três anos».

Dahr Jamail; Ali al­‑Fadhily
http://www.infoalternativa.org/autores/jamail/jamail019.htm

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