O bloqueio imposto por Israel sobre os portos e aeroportos libaneses prossegue. Pretexto: interditar toda a chegada de armas para o Hezbollah. É preciso dizer que este bloqueio, tão pouco discutido pelas grandes potências (assim como, aliás, todas as violações da resolução 1701 cometidas pelas tropas israelenses), tem como fim real a desestabilização completa da economia libanesa que já bate asas após a agressão de Julho. Com efeito, as primeiras estimativas falam de perdas na agricultura que se elevam a uns 500 mil dólares, aos quais se acrescenta a destruição de fábricas de toda espécie (inclusive fábricas frigoríficas), de camiões e de camiões frigoríficos... Sem esquecer as pontes cortadas e as estradas esventradas que, mesmo se os cultivos não tivessem sido queimados, tornam impossível todo transporte entre as diferentes regiões. A isto acrescenta-se também um mil milhões de dólares de perdas directas provocadas pelo encerramento dos portos e a impossibilidade para os comerciantes de importar alguns géneros de primeira necessidade sem passar pelos portos e aeroportos acreditados por Israel na região. Durante este período, as discussões chegam ao auge quanto à formação das tropas internacionais que viriam somar-se àquelas da FINUL [1] já presentes no sul e que não tinham podido, aquando da última agressão israelense, proteger a população da aldeia de Marwahine (24 mortos, dos quais 12 crianças de menos de 11 anos), assim como suas antecessoras foram incapazes de faze-lo em relação aos habitantes de Cana, aquando das "Vinhas da ira" em 1996. Informam-nos que os europeus formariam a metade do novo contingente internacional, ou seja, 7000 a 7500 soldados, e que eles teriam a possibilidade de se defender contra possíveis agressões. Entretanto, nem o secretário-geral das Nações Unidas nem os chefes de Estado da União Europeia não dizem uma palavra quanto aos agressores eventuais e se Israel pode encontrar-se entre eles. O novo entusiasmo que os levou a participar da FINUL, depois de durante muito tempo estarem com a boca calada, é sobretudo o resultado directo da passagem de Tsippi Levni, ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, entre eles. Passemos e sejamos crédulos pensando que a nova decisão, firme e rápida, não foi tomada para agradar os israelenses e às vozes que eles podem fazer agitar num campo ou noutro em período eleitoral. Não pensemos tão pouco porque alguns pensam poder desarmar o Hezbollah, contrariamente às declarações do secretário-geral das Nações Unidas que precisam que isto cabe unicamente ao governo libanês, assim como a supervisão das fronteiras libanesas com a Síria. Sejamos crédulos, porque queremos, como diz o provérbio, "comer das uvas, não matar o guarda-campestre". Queremos a aplicação da resolução 1701, apesar de sermos muito reticentes quanto à ambiguidade que a envolve. Queremos que a ONU esteja presente, não para dar sempre garantias ao agressor (Israel, no caso), mas sobretudo ao eterno agredido, o Líbano, que, desde 1948, vê os seus territórios mordidos, suas águas bombadas, suas crianças mortas e suas cidades e aldeias destruídas. Pensamos que seria possível aos Estados europeus que aceitaram vir ao Líbano cumprir bem esta "missão", mesmo sem a presença de malasianos e outros. Não serão eles, somados aos soldados libaneses actualmente presentes ao sul do rio Litani, da ordem dos 23 mil em relação a uma população de 300 mil, dadas as destruições de cidades inteiras (tais como Bint-Jbeil, a nova Varsóvia, com suas 6200 casas transformadas em ruínas)? Isto daria a cada soldado menos de catorze habitantes a proteger no imediato e uma trintena um ano mais tarde, ou seja, aproximadamente o número de crianças de Marwahine que pereceram diante do posto permanente da FINUL situado a alguns passos da sua aldeia.
[1] Força de Intervenção das Nações Unidas no Líbano.
Marie Nassif-Debs[1] Força de Intervenção das Nações Unidas no Líbano.
http://resistir.info/
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