João César das Neves (JCN) tem substituído a habitual homilia das segundas-feiras por artigos de opinião com manifesto prejuízo dos leitores que procuram nas prédicas do devoto os ensinamentos das missas a que se baldam e o tratamento para o fígado.JCN não é um desses devotos que viajam de joelhos, de língua estendida, a caminho da eucaristia. Não se priva da rodela de pão ázimo com que lambe a comissura dos lábios como os mais glutões soem fazer com o leitão da Bairrada; não falta à confissão nem deixa de rezar o terço que a Irmã Lúcia recomendou, a rogo da Senhora de Fátima, uma Virgem voadora que fazia das azinheiras aeroporto. Mas não faz figuras tristes na rua.JCN não estraga as calças de bom corte a fazer gincanas de joelhos à volta da capelinha das aparições, faz desporto em beatas homilias nos jornais e nos livros que publica.No Diário de Notícias de ontem JCN dissertou sobre «A vida de Deus em mim» - salvo seja. «Hoje nas sociedades laicizadas vê-se muito Deus» - garantiu o prosélito. Onde andará o Deus dele que não aparece nos cafés, na via pública, nos escritórios, nos sítios por onde passam as pessoas normais?Andará Deus na clandestinidade com medo de ser apanhado sem identificação ou só aparece ao padre Vaz Pinto e a ele próprio, como ambos alegam?JCN diz que «a grande surpresa, a única Boa Nova que o mundo recebe é que Deus vem pessoalmente viver aqui no meio de nós». Será que já alugou casa, fez o contracto do gás, electricidade e água ou vai viver com o padre Vaz Pinto e o JCN?Estes dois publicitários do divino dizem que não podem viver sem Deus. Para eles é o urso de peluche a que as crianças se agarram para vencer o medo.Deus é uma espécie de anti-depressivo de que carecem pessoas pouco estáveis ou mais supersticiosas. É um placebo de resultados comprovados em pessoas instáveis mas pode tornar-se perigoso quando os clientes querem impor aos outros a mesma receita.Eu já tomei óleo de fígado de bacalhau em doses suficientes. Deixo Deus só para eles. O pior é que os prosélitos não desistem de o impingir aos outros.
Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/
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