O crescente papel das grandes empresas e seus interesses privados no mundo das artes: na produção, circulação e nas instituições culturais no mundo, submetendo-o aos seus interesses, sob a óptica do marketing, do investimento em activos ou da diplomacia de negócios. Este é o delicado e pouco explorado tema do livro inovador da autora taiwanesa Chin-tao Wu, Privatização da Cultura a partir da sua pesquisa na Universidade de Londres sobre as mudanças ocorridas nos sistemas de apoio às artes nos Estados Unidos e Reino Unido no final do século XX. O livro será lançado no Brasil nesta quarta-feira, 18 de outubro, numa co-edição do SESC com a Boitempo Editorial e com palestra da autora no SESC Vila Mariana.
A obra analisa os efeitos das políticas para o setor dos governos de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, que estabeleceram marcos como a redução dos investimentos governamentais directos e do controle público, e o crescimento dos incentivos fiscais, fundações privadas, do marketing cultural e dos institutos de empresas actuando no setor. A cultura deixa de ser uma área de enriquecimento do espírito, para se tornar mais um setor que tem que “se sustentar”, como “negócios privados”, mas que continuam, ainda que de forma às vezes dissimulada, subsidiados pelo poder público.
A partir desta mudança na postura dos governos e sociedades em relação à influência do mundo dos negócios na arte, Chin-tao explora o peso das empresas e seus dirigentes nos conselhos curadores, inclusive de instituições públicas como a Tate Gallery, e as crescentes colecções privadas, em poder das próprias empresas. Como estas fazem da arte, também, seu negócio financeiro e de imagem. E como os próprios museus se tornam cada dia mais orientados e parecidos com empresas. Como no caso, estudado no livro, das “franquias” do museu Guggenheim, que hoje já possui até uma filial dentro de um casino em Las Vegas. E quais são os efeitos disso na produção artística. Afinal, porque as grandes empresas colocam dinheiro numa arte que aparentemente as contesta?
Um debate essencial para a discussão de cultura no Brasil das leis de incentivo que promovem o controle privado com recursos públicos, após a falência da polémica Brasilconnects, da imensa colecção privada de Edemar Cid Ferreira, e dos projectos imobiliários de um Museu de Artes de São Paulo em crise. O livro traz ainda um texto inédito sobre financiamento público à cultura, escrito por Danilo Santos de Miranda, Director do Departamento Regional do SESC no Estado de São Paulo.
A autora virá ao Brasil para o lançamento do livro, no dia 18 de outubro, no SESC Vila Mariana.
Sobre a autora: Chin-tao Wu é especialista em cultura e arte contemporânea e colaboradora da revista New Left Review. É pesquisadora-colaboradora na Universidade de Londres e pesquisadora no Instituto de Estudos Europeus e Americanos da Academia Sinica, em Taipei (Taiwan).
Carta Maior
http://www.infoalternativa.org/cultura/livro023.htm
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