““(…) atendendo a que demora 15 anos a criar um cientista ou um engenheiro superior [deveria iniciar-se] um programa de choque a favor da ciência e da engenharia, com todo o empenho do país sem barreiras aos apoios e sem cortes orçamentais. Os cientistas e os engenheiros não crescem nas árvores. Têm de ser ensinados através de um longo processo porque, senhoras e senhores, isto é realmente ciência à velocidade dos foguetões.”
Friedman; Thomas L.
O mundo é plano – uma história breve do séc. XXI. Lisboa: Actual Editora
A recente reforma do ensino secundário em Portugal começa a dar já os primeiros sinais de desastre, ao nível de, por exemplo, um bom no ensino das ciências naturais e físico-químicas. E, dentro de pouco tempo, toda a reforma terá o seu impacto brutal no nosso desenvolvimento e consequentemente na economia nacional, se, até lá, nada for feito de forma célere e corajosa. Vejamos por exemplo alguns números de alunos do 12º ano dos cursos de científico natural (agrupamento 1) em Guimarães, na minha Escola, a Francisco de Holanda:O que em termos percentuais representa reduções de formação nas áreas específicas de Química e de Física em mais de dois terços nos últimos anos nos últimos anos.Ora o que se passa na Francisco de Holanda, passa-se em Guimarães e passa-se ao nível nacional, provavelmente de forma ainda mais brutal.Todo o processo de revisão do ensino secundário foi acompanhado de várias discussões em que as opiniões da comunidade educativa foram, pura e simplesmente, ignoradas. Da parte que me toca, e enquanto professor na área da Química e da Física, eu e outros colegas fizemos as necessárias críticas às matrizes curriculares propostas e expusemo-lo à tutela. Nomeadamente no que concerne à irresponsável diminuição do número de disciplinas da componente de formação específica e ao enfraquecimento na formação em ciências experimentais. Paradoxalmente, a par de um conjunto de reformas interessantes e importantes ao nível dos novos conteúdos deu-se uma machadada muito significativa na preparação técnica e científica dos nossos alunos da área das ciências permitindo uma redução significativa ao nível dos seus saberes e das suas competências. Facilitou-se uma vez mais, em nome não sei bem de quê…Como parece lógico e legítimo os alunos fogem das disciplinas mais trabalhosas, como o são as disciplinas a que fiz referência. Assim um futuro candidato a engenheiro pode não ter Física no 12ºano, como um aspirante ao curso de medicina terá apenas ou Química ou Biologia nesse mesmo ano, e nunca as duas. Para mal dos nossos pecados as Universidades no aperto financeiro em que se encontram, e tendo como balão de oxigénio os candidatos, não dizem nada, nem o podem dizer; baixam a fasquia e já está.Numa altura em que, em Portugal, toda a gente enche a boca com a ciência, numa altura em que os gigantes China e Índia colhem já os frutos da sua exigência nas áreas científicas, numa altura em que qualquer país que se quer desenvolver escolhe a Matemática, a Química, a Física, a Biologia como armas para esse desenvolvimento, nós fazemos o caminho inverso.Estamos a chegar, efectivamente, à definição romântica que temos de nós mesmos: um país de poetas!Só que sem ciência nem poesia nenhuma…
Rui Vitor Costa
http://www.guimaraesdigital.com/index.php?a=edicoes&id=5460
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