quinta-feira, novembro 23, 2006

Patriot Act : Universidades do Canadá procuram esconder o seu trabalho da espionagem americana

Preocupadas com os olhos bisbilhoteiros do governo dos EUA, um certo número de universidades do Canadá estão a mudar o modo como os seus professores e estudantes efectuam investigação online. Muitas bibliotecas universitárias assinam a RefWorks , uma ferramenta de Internet com base nos EUA que permite a académicos e estudantes criarem contas pessoais e armazenarem informação de pesquisa, bem como gerar citações e bibliografias. Mas o Patriot Act — que foi aprovado após os ataques terroristas do 11 de Setembro e que potencialmente permite às autoridades americanas vasculharem em bases de dados como a RefWorks — estimulou as instituições superiores canadianas a abandonar o servidor americano por outro abrigado na Universidade de Toronto. "Há com certeza preocupação dentro das bibliotecas universitárias canadianas. É uma preocupação com o facto de um país estrangeiro ter acesso à sua informação pessoal sem uma boa causa", disse William Maes, bibliotecário da Dalhousie University, em Halifax. "É o efeito sorrateiro do Patriot Act, eles podem fazer isto sem que ninguém saiba". Com o RefWorks, professores e estudantes criam contas pessoais em bases de dados americanas e podem então salvar títulos de jornais para os seus registos de investigações. Em meio a temores acrescidos acerca de actividades terroristas, responsáveis de universidades canadianas preocupam-se com o facto de investigações de natureza delicada poderem ser mal interpretadas. Exemplo: um académico a investigar a Coreia do Norte ou armas nucleares poderia ter o seu trabalhado assinalado pelo governo Bush, temem bibliotecários de universidades. Em consequência, a Dalhousie, o Memorial University of Newfoundland e a Universidade de Alberta estão entre as instituições que comutaram para o servidor canadiano. A esperança é de que os dados num servidor canadiano estarão protegidos do Patriot Act, o qual dá às autoridades poderes de investigação virtualmente ilimitados. O sr. Maes considera que ainda é possivel ao RCMP e ao CSIS sondarem o servidor de Ontario, mas no Canadá pelo menos há supervisão judicial. Ele acrescenta que a Universidade de Halifax tem estado a utilizar o RefWorks desde há dois anos, mas o fortalecimento da legislação de privacidade na Nova Escócia juntamente com o Patriot Act levaram a Dalhousie, bem como outras instituições atlânticas, a mudarem para o servidor de Ontário neste ano académico. As universidades ainda têm acesso ao RefWorks, mas agora a informação pessoal de professores e estudantes é armazenada em Ontario. O servidor da Universidade de Toronto, administrado em nome do Ontario Council of University Libraries, foi criado quatro anos atrás a fim de dar às instituições da província mais controle sobre a maneira como a informação de pesquisa é administrada. As universidades pagam à RefWorks pelas licenças de sítio, e a seguir pagam uma pequena comissão à Universidade de Toronto para compensar o custos da utilização do servidor. "Se se trata de trabalho académico canadiano faz mais sentido que ele seja alojado num servidor académico canadiano", afirmou John Teskey, director de bibliotecas na Universidade de News Brunswick. Karen Adams, director da biblioteca da Universidade de Alberta, disse que a sua instituição mudou para o servidor de Ontario no mês passado, depois de usar o RefWorks durante vários anos. Razão: "Nós temos forte legislação de privacidade aqui em Alberta, e o U.S. Patriot Act era simplesmente um outro ângulo que nos levou a perceber a importância de tudo isto [proteger os utilizadores]". A presidenta da RefWorks, Colleen Stempien, disse compreender as preocupações de algumas universidades canadianas e que a companhia faz grandes esforços para proteger os dados dos seus clientes. A sra. Stempien afirmou que os juristas da companhia estão a verificar que poderes tem o governo americano sob o Patriot Act. Ela considerou que não era um problema para a RefWorks que universidades canadianas pedissem para mudar de servidores. "Se os nossos clientes estão preocupados com isso, queremos que eles fiquem confortáveis", disse ela. "Uma vez que havia uma oportunidade para abrigá-los em algum lugar onde eles se sentissem mais confortáveis não havia razão para dizer não". Na verdade, alguns investigadores da Memorial recusaram-se a assinar a RefWorks até que se verificasse a mudança, disse Karen Lippold, responsável pela divisão de serviços de informação da universidade. A universidade assinou a RefWorks durante o verão, e mudou-se para o servidor canadiano no mês passado. Há cerca de 300 professores e estudantes da Memorial a utilizarem o serviço. "Temos algumas pessoas que não parecem pensar que isto era um problema. Temos algumas outras que sentiam que era um problema e estamos a afastar-nos e não vamos estabelecer uma conta até que haja a mudança [de servidor]", disse a sra. Lippold. "Agrada-nos que agora esteja no Canadá". Enquanto algumas universidades já fizeram a mudança por receio do Patriot Act, outras fora de Ontario ainda estão a considerar a medida. Michelle Lamberson, director do gabinete de tecnologia da aprendizagem da Universidade da Columbia Britânica disse que os utilizadores da instituição recebem uma advertência de que a sua informação está a ser armazenada nos Estados Unidos quando se conectam à RefWorks. A UBC considera a mudança para o servidor com base em Ontario a fim de garantir que a informação privada fique segura, afirmou ela.
Caroline Alphonso
http://resistir.info/

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