Entrevista a Cladiné Curreli
Conhecida como destino de férias desde que o príncipe Aga Khan comprou nos anos 50 uma extensa faixa do litoral e a transformou numa fieira de urbanizações turísticas, a Sardenha tem uma outra face menos conhecida – um enorme complexo de bases militares da NATO e polígonos de tiro do exército italiano.
– São muitas as bases na Sardenha?
A concentração de bases e polígonos de tiro na Sardenha (Santo Stefano, Decimomannu, Salto di Quirra, Capo Teulada, Capo Frasca) ultrapassa tudo o que se conhece noutras regiões. Cerca de três quartos do território da ilha estão submetidos a reserva militar.
– Que consequências?
O meio ambiente está afectado, em alguns casos de forma irreversível. Surgiu um deserto onde até aos anos 50 havia bosques, espécies raras foram extintas, a pesca tornou-se impossível na costa leste. O mar, na região de Teulada foi recentemente declarado «irrecuperável» devido à acumulação no fundo de projécteis e mísseis. Numa coincidência mais que suspeita, o Estado italiano tem vindo a criar parques naturais e reservas marinhas nas zonas envolventes das bases, deslocando à força as populações.
– E a vida das pessoas?
Há quem diga que as bases são boas porque dão trabalho e fazem girar a economia da ilha. Mas qual economia? A Sardenha está resumida a turismo, refinarias e bases militares. É uma das regiões mais pobres da Europa. O lucro vai para o Ministério da Defesa italiano, que cobra 60 a 80 milhões diários pelo aluguer de polígonos de tiro. Os habitantes dessas zonas estão submetidos ao sequestro e ao bombardeamento contínuo na costa. A única saída que resta aos jovens é continuar a emigrar para Itália cada vez em maior número.
– Que se passa nessas bases?
Apesar do segredo militar sabe-se que nelas são realizadas experiências de armas tóxicas e radioactivas, como as de urânio empobrecido. É o caso da base de La Maddalena, criada por tratado secreto assinado por Nixon e Andreotti nos anos 70 e nunca ratificado pelo parlamento italiano.
A energia nuclear foi proibida na Itália por referendo, mas os submarinos com reactores nucleares sulcam as águas do Mediterrâneo. Nos últimos anos foi oficialmente reconhecida a presença de dois desses submarinos em bases da Sardenha, mas muitos outros terão aí aportado. Investigações independentes registaram uma concentração anormal de plutónio e elementos radioactivos em torno das bases da La Maddalena/S. Stefano e Teulada.
– Há prejuízos para a saúde da população?
A inalação de partículas infinitesimais causadas pela explosão de munições com urânio empobrecido ou ingeridas através da cadeia alimentar está a provocar mutações genéticas, cancros e linfomas. No polígono de lançamento de mísseis de Quirra, o maior da Europa com os seus 7200 hectares de terreno expropriado e 500 km2 de mar transformado em reserva militar, são feitas experiências e demonstrações promocionais dessas armas a clientes estrangeiros. Uma investigação levada a cabo pelo comité sardo “Gettiamo le Basi” (Fora com as Bases) na zona de Quirra assinala: seis militares mortos depois de terem prestado serviço na base, onze casos de leucemias registados em dez anos entre os 150 habitantes de Quirra, 11 bebés nascidos com malformações em Escalaplano nos anos 80, ainda em Escalaplano catorze casos de tumor da tiróide, mais cinco militares internados em diversos hospitais… Chamam-lhes os “números do medo”. O “síndroma de Quirra” é já mencionado em estudos científicos.
Ana Barradas
Política Operária
http://www.infoalternativa.org/europa/e063.htm
Conhecida como destino de férias desde que o príncipe Aga Khan comprou nos anos 50 uma extensa faixa do litoral e a transformou numa fieira de urbanizações turísticas, a Sardenha tem uma outra face menos conhecida – um enorme complexo de bases militares da NATO e polígonos de tiro do exército italiano.
– São muitas as bases na Sardenha?
A concentração de bases e polígonos de tiro na Sardenha (Santo Stefano, Decimomannu, Salto di Quirra, Capo Teulada, Capo Frasca) ultrapassa tudo o que se conhece noutras regiões. Cerca de três quartos do território da ilha estão submetidos a reserva militar.
– Que consequências?
O meio ambiente está afectado, em alguns casos de forma irreversível. Surgiu um deserto onde até aos anos 50 havia bosques, espécies raras foram extintas, a pesca tornou-se impossível na costa leste. O mar, na região de Teulada foi recentemente declarado «irrecuperável» devido à acumulação no fundo de projécteis e mísseis. Numa coincidência mais que suspeita, o Estado italiano tem vindo a criar parques naturais e reservas marinhas nas zonas envolventes das bases, deslocando à força as populações.
– E a vida das pessoas?
Há quem diga que as bases são boas porque dão trabalho e fazem girar a economia da ilha. Mas qual economia? A Sardenha está resumida a turismo, refinarias e bases militares. É uma das regiões mais pobres da Europa. O lucro vai para o Ministério da Defesa italiano, que cobra 60 a 80 milhões diários pelo aluguer de polígonos de tiro. Os habitantes dessas zonas estão submetidos ao sequestro e ao bombardeamento contínuo na costa. A única saída que resta aos jovens é continuar a emigrar para Itália cada vez em maior número.
– Que se passa nessas bases?
Apesar do segredo militar sabe-se que nelas são realizadas experiências de armas tóxicas e radioactivas, como as de urânio empobrecido. É o caso da base de La Maddalena, criada por tratado secreto assinado por Nixon e Andreotti nos anos 70 e nunca ratificado pelo parlamento italiano.
A energia nuclear foi proibida na Itália por referendo, mas os submarinos com reactores nucleares sulcam as águas do Mediterrâneo. Nos últimos anos foi oficialmente reconhecida a presença de dois desses submarinos em bases da Sardenha, mas muitos outros terão aí aportado. Investigações independentes registaram uma concentração anormal de plutónio e elementos radioactivos em torno das bases da La Maddalena/S. Stefano e Teulada.
– Há prejuízos para a saúde da população?
A inalação de partículas infinitesimais causadas pela explosão de munições com urânio empobrecido ou ingeridas através da cadeia alimentar está a provocar mutações genéticas, cancros e linfomas. No polígono de lançamento de mísseis de Quirra, o maior da Europa com os seus 7200 hectares de terreno expropriado e 500 km2 de mar transformado em reserva militar, são feitas experiências e demonstrações promocionais dessas armas a clientes estrangeiros. Uma investigação levada a cabo pelo comité sardo “Gettiamo le Basi” (Fora com as Bases) na zona de Quirra assinala: seis militares mortos depois de terem prestado serviço na base, onze casos de leucemias registados em dez anos entre os 150 habitantes de Quirra, 11 bebés nascidos com malformações em Escalaplano nos anos 80, ainda em Escalaplano catorze casos de tumor da tiróide, mais cinco militares internados em diversos hospitais… Chamam-lhes os “números do medo”. O “síndroma de Quirra” é já mencionado em estudos científicos.
Ana Barradas
Política Operária
http://www.infoalternativa.org/europa/e063.htm
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