sexta-feira, dezembro 01, 2006

Foleirismo linguístico

Agora fala-se em acessibilidades. Uma estrada circular deixou de ser um acesso para passar a ser uma acessibilidade. Esta invenção só podia ter sido trazida pelo Dr. Sampaio, enquanto passava horas e dias no Palácio de Belém a mudar palavras banais dos seus discursos por vocábulos aparentemente mais inteligentes.Certo dia, num discurso, o então Presidente da República referiu-se aos acessos a um qualquer local inóspito como acessibilidades. Desde então, naturalmente, não há pessoa que não goste de colocar uma acessibilidade num diálogo. De resto, falar em acessos pode despontar um sorriso palerma no interlocutor.Ora, vejamos o exemplo do elevador. O elevador pode ter boas acessibilidades. Isto é, eu consigo entrar com facilidade no elevador, sem ter de sujar a minha camisa com óleo. Um elevador com boas acessibilidades é, também, aquele que não tem um degrau que nos faça tropeçar ou um penduricalho que nos abra a cabeça. Assim, este elevador com boa acessibilidade dá-me acesso ao primeiro, ao segundo e ao terceiro andares. O elevador é acessível e ao mesmo tempo um acesso a qualquer coisa.Ora, o IC19 é um acesso a Lisboa e não uma acessibilidade, mesmo que todos os socialistas do mundo se lembrem de afirmar o contrário. Pode ter acessibilidade, naturalmente, caso tenha boas entradas e boas saídas, servindo a Bobadela e a Abuxarda como nenhuma outra circular, mas o IC19 é, então, um acesso com acessibilidade, nunca uma acessibilidade isolada. Se assim fosse, entrava-se no IC19 e não se ia dar a lado nenhum. Ficavamos a flutuar.
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