sexta-feira, dezembro 29, 2006

O que nos deveria esperar em 2007

Esta não é uma proposta articulada de reforma do que quer que seja no nosso sistema educativo, nem nunca o poderia ser. Muito menos de uma “reconfiguração”, porque isso me cheira a cosmética. São apenas ideias mais ou menos dispersas sobre aspectos que actualmente poderiam ser melhorados, sem especial esforço ou investimento material, recentrando o funcionamento das Escolas na sua função social específica e insubstituível. Na minha modesta opinião, o único risco que se correria seria o de agradar à maioria dos docentes em exercício e de melhorar de forma significativa o seu trabalho em prol do sucesso escolar dos seus alunos. E repare-se que nem sequer aludo ao malfadado ECD.
Considerar a Educação e os níveis de desempenho dos alunos não como meras estatísticas a manipular ou instrumentalizar ou como abstracções a incorporar em modelos idealizados, mas como a face visível e mensurável de um aspecto muito importante e essencial da vida e formação das crianças e jovens, encarados como indivíduos concretos com vidas reais.
Acabar de uma vez por todas com o disparate imenso que é a perda de tempo a que se dá o nome de Área de Projecto, assim como reformular profundamente o funcionamento e objectivos do Estudo Acompanhado. Em vez de pulverizar o currículo numa miríade de variantes e variações no 3º ciclo e no Ensino Secundário, apostar fortemente num núcleo essencial - mesmo se tradicional e não muito pós-moderno - de disciplinas nucleares, distribuídas por um conjunto restrito de áreas dominantes, deixando os floreados para actividades extra-curriculares de frequência voluntária.
Delinear plano e projectos de combate ao insucesso e abandono escolares de forma fundamentada, visando objectivos viáveis e realistas, mobilizando os recursos (humanos e materiais) adequados e não como estratégias de marketing político para obter capital junto da opinião pública. Em vez de convidar nomes sonantes para Comissões de Honra ou convocar Conferências de Imprensa para lançamentos virtuais de iniciativas, ter o cuidado de observar in loco as necessidades das Escolas, sem ser pelo filtro das reuniões de massas com os Executivos pu pela manifesta lente fosca das inspecções.
Recolocar a transmissão de conhecimentos básicos e essenciais no centro do processo de ensino/aprendizagem, não mascarando isso com futilidades irrelevantes, quantas vezes do puro domínio da abstracção teórica e de utilidade para lá de duvidosa. Apostar numa literacia e numeracia reais e funcionais e não apenas estatísticas, cuja falsidade e vacuidade são depois facilmente demonstradas em testes internacionais comparativos ou através da baixa qualificação efectiva da nossa mão-de-obra, que reduz bastante a sua produtividade.
Reconhecer a relevância social do papel dos docentes numa sociedade moderna e reforçar, nem que de forma simbólica, a autoridade (que não é sinónimo de autoritarismo) do papel dos professores na Escola e na sala de aula, em vez de apostar no seu desprestígio e na mobilização de parceiros sociais de relevância e representatividade mais do que anedótica para servirem de braço armado de uma investida contra a classe docente, assim contribuindo para a degradação da sua imagem social e para a erosão da sua autonomia no exercício da sua função.
E este quinteto de medidas seria mais do que suficiente para apaziguar ânimos e ir directo ao essencial e não ao acessório. E, no mínimo, traria melhores resultado do que todos os disparates que nos trouxeram os últimos 10-15 anos sob o manto de grandes e definitivas medidas, que mais não passaram do que de remendos.
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