terça-feira, janeiro 16, 2007

Bush prepara-se para intensificar a guerra no Iraque

Quando a contagem de mortos entre os soldados estadunidenses ultrapassa os 3000 e o número de mortes iraquianas excede as 600 mil, a execução de Saddam Hussein mostra a intenção de Bush de intensificar a guerra contra o povo do Iraque, pois planeia enviar mais 30 mil soldados para manter a ocupação. Os milhares de milhões que já foram gastos nesta guerra – e os mais de US$ 100 mil milhões que Bush está a pedir para este Inverno e Primavera – foram roubados do povo daqui, que precisa desse dinheiro para empregos com salários dignos, para cuidados de saúde, habitações, educação e para a reconstrução da costa do Golfo do México. A execução de Saddam Hussein pela ocupação militar dos Estados Unidos no Iraque mostra novamente, de modo muito claro, a natureza da ocupação criminal. A execução do presidente constitucional do Iraque constituiu um brutal ultraje colonial com o propósito de insultar a soberania nacional iraquiana. Tudo foi manejado com a intenção de inflamar os sentimentos de ódio sectário e religioso entre o povo iraquiano. O vídeo não oficial que circula na Internet mostra uma atmosfera de linchamento. Era uma cena caótica, com insultos, abusos, apupos e vaias, ao passo que Saddam Hussein permanecia desafiador e calmo. À medida que a ira e o ressentimento aumentam, no Iraque e por todo o mundo, pela execução e a maneira como foi efectuada, a imprensa capitalista estadunidense foi ao extremo de descreve-la como um assunto iraquiano, como uma decisão do Supremo Tribunal Iraquiano, uma entidade sobre o qual as forças de ocupação supostamente não têm muito controle ou influência. Aquele Supremo Tribunal é uma criação das forças de ocupação dos Estados Unidos. Sua criação foi um esforço desesperado para justificar a invasão ilegal e criminosa. Desde o princípio o tribunal foi uma corte totalmente ilegal – proibida explicitamente pelo direito internacional. Sob o acordos da Convenção de Genebra, os quais foram firmados pelo governos dos Estados Unidos, uma potência ocupante está explicitamente proibida de mudar a estrutura judicial ou de estabelecer novos tribunais. L. Paul Bremer III, chefe da Autoridade Provisória da Coligação em 2003, estabeleceu o tribunal. As autoridades de ocupação estadunidenses nomearam oficialmente os juízes e o pessoal, e o Congresso dos Estados Unidos estabeleceu um fundo económico de um milhão de dólares para pagar as despesas do tribunal. Os assessores estadunidenses redigiram as leis do referido tribunal. Durante o julgamento, três advogados da defesa foram assassinados. O Supremo Tribunal Iraquiano utilizou testemunha coagidas, censura, isolaram os acusados e negaram-lhes todo o tipo de visita e de direitos legais. Mesmo o anúncio da sentença de morte pelo tribunal foi calculado para que saísse no fim de semana antes das eleições estadunidenses de Novembro último. Washington controlou o julgamento e a execução Durante todo o tempo até a sua execução Saddam Hussein esteve nas mãos do militares estadunidenses. Foi capturado pelas forças estadunidenses e encarcerado na base estadunidense de Camp Cropper. Para a sua execução, foi conduzido por um helicóptero dos Estados Unidos, guarda dos Estados Unidos, até o Camp Victory, outra base estadunidense. As forças estadunidenses transportaram os verdugos e os colaboracionistas que iam servir como testemunhas. Oficiais estadunidenses escolheram os verdugos e os colaboradores, que foram de ascendência xiita aparentemente com a intenção de culpar os xiitas pela execução de Saddam Hussein. Recordemos que a ocupação estadunidense decidiu quem poderia candidatar-se a um posto governamental e como o governo iraquiano poderia ser estruturado. Eles protegem os títeres débeis e colaborantes no interior da Zona Verde. Uma declaração do antigo dirigente do partido Baath a seguir à sentença em Novembro último destacou que “os efeitos teatrais a que chamaram de julgamento não são mais do que uma forma de os EUA lançarem a culpa do crime de executar Saddam Hussein sobre o governo títere”. O momento escolhido para a execução, no dia de Eid Al-Adha, um dos dias festejados mais sagrados do ano muçulmano, aumentou ainda mais a ofensa. Tradicionalmente é um dia de paz, de por de lado as quezílias e a raiva, pelo menos enquanto durar a festividade. Ocorre depois da época do ano em que milhões de muçulmanos fazem peregrinação a Meca. É inaceitável e explicitamente ilegal na religião muçulmana, e inclusive na constituição fabricada sob a tutela dos EUA, executar uma pessoa durante este período. A execução foi um acto de desespero e fraqueza no momento em que a ocupação entrou em colapso e a resistência ganhou força. Ao invés de seguir os conselhos de negociações promovidos pelo Grupo de Estudo do Iraque e por outra estrategas quem temem o desastre imediato dos EUA no Iraque, Bush indicou, com a execução, uma decisão de intensificar a guerra. Também é suspeito que um vídeo “não oficial” fosse publicado mostrando supostos membros do exército Mahdi a insultar Saddam Hussein. O assassinato de Hussein ocorre depois de notícia publicadas de que os EUA aumentaram seus ataques e detenções de membros do exército Mahdi, liderado por Moqtada al-Sadr. Esta ofensiva também faz parte de uma tentativa desesperada para dividir ainda mais o país e sufocar qualquer possiblidade de negociação ou plano para retirar as tropas dos EUA. Segundo fontes que monitoram os sítios na Internet da resistência iraquiana, estes publicaram mensagens advertindo os lutadores da resistência que os EUA estão a tentar provocar batalhas entre a resistência e o exército Mahdi. Estas mensagens urgem os lutadores a tomar como alvo principal as forças de ocupação estadunidenses e, onde for possível, convencer os efectivos do exército Mahdi a unirem-se à resistência contra os EUA. A execução nada teve a ver com os supostos crimes do presidente do Iraque, nem tão pouco o processo pode ser considerado como um julgamento do papel histórico desempenhado por Saddam Hussein no Iraque. Ela é encarada no Iraque e em todo o mundo como o acto de uma potência conquistadora, com a intenção de humilhar a nação ocupada à revelia da esmagadora maioria da população. EUA apoiam muitas ditaduras A guerra nunca teve nada a ver com o levar democracia ao Iraque. Sempre foi uma guerra pelo petróleo e pela dominação corporativa dos EUA sobre toda a região. Os EUA nunca se opuseram a ditaduras. Instalaram, apoiaram e armaram ditaduras quando estas se adequavam aos lucros corporativos. Desde o seu apoio e armamento das ditaduras no Paquistão, Arábia Saudita, Egipto e Kuwait até o Xá do Irão, Mobuto no Congo, Suharto na Indonésia e Pinochet no Chile, o governo dos EUA apoiaram alguns dos regimes mais brutais da história, sempre que isto serviu os interesses da Wall Street. Nos anos 80 Washington estava pronto a cooperar com o governo de Saddam Hussein quando queria utilizar os iraquianos contra a Revolução do Irão por meio da guerra entre o Irão e o Iraque. Foi a antiga táctica de “dividir para conquistar” e Henry Kissinger até escreveu sobre o desejo de enfraquecer ambos os lados ao ter o Irão e o Iraque a combaterem entre si. Saddam Hussein não foi executado porque as forças de ocupação dos EUA o considerassem um ditador. Ainda que no passado tivesse estado disposto a tratar e a manobrar com o imperialismo, Washington considerou que o seu verdadeiro crime foi recusar entregar a soberania ou o controle dos recursos do Iraque. Ele recusou submeter-se à Nova Ordem Mundial. Foi executado por ser um obstáculo à reconquista do Médio Oriente para o imperialismo estadunidense. O poder corporativo nos Estados Unidos estava decidido a terminar com o controle nacional do petróleo ganho durante a Revolução de 1958 no Iraque. Esta nacionalização havia transformado o Iraque num país próspero e em rápido desenvolvimento, com o mais alto nível de vida da região – um país moderno e secular onde a educação e a assistência médica eram gratuitos. Toda a classe dominante estadunidense, o establishment político, os meios de comunicação corporativos e as duas câmaras do Congresso, tanto democratas como republicanos, apoiaram em 1991 o bombardeamento e a destruição maciça das cidades iraquianas, das indústrias e das instituições educativas. Também apoiaram o bombardeamento, a invasão e a ocupação do Iraque em 2003. Os crimes de guerra dos Estados Unidos O imperialismo estadunidense cometeu numerosos crimes de guerra no seu esforço por subjugar o Iraque. O seu Pentágono utilizou bombas nucleares de alta penetração (bunker busters), bombas de fragmentação, napalm e armas com urânio empobrecido nas cidades do Iraque. Treze anos de sanções impostas pelos Estados Unidos resultaram na morte de 1,5 milhão de iraquianos por doenças e desnutrição. Desde a invasão de 2003, as forças de ocupação estadunidenses levaram a cabo detenções em massa, humilhações e torturas sistemáticas de presos indefesos que o mundo inteiro conhece através das fotos de Abu Ghraib. A ocupação estadunidense criou um caos que fechou escolas, universidades e hospitais, deixando ainda a capital, Bagdad, sem água potável, sem serviços sanitários e sem mais de quatro horas de electricidade por dia. A corrupção por atacado de dezenas de milhares de empreiteiros estadunidenses resultou no saqueio de projecto de reconstrução e no roubo de milhares e milhares de artefactos culturais. Quase quatro anos de ocupação deram como resultado a morte de mais de 600 mil iraquianos e o êxodo de dois milhões de pessoas. Quaisquer que sejam as críticas e acusações que os iraquianos tenham contra Saddam Hussein, era seu direito soberano decidir seu destino, livre de forças de ocupação estrangeiras. A entidade independente Centro Iraquiano para Investigações e Estudos Estratégicos efectuou recentemente um inquérito entre os iraquianos para averiguar se a sua vida era melhor sob o governo de Saddeam Hussein em comparação com a humilhação e o caos actual. Quase 90 por cento declarou que a situação do Iraque era melhor e mais estável antes da ocupação estadunidense. O movimento de protesto contra a guerra imperialista no Iraque que reivindica que todas as tropas estadunidenses sejam retiradas precisa também declarar-se contra todas as formas de ocupação colonial. Os contratos das corporações estadunidenses e as leis que privatizaram e saquearam os recursos iraquianos devem ser cancelados. As centenas de bases estadunidenses, os milhares de postos de controle e as vintenas de prisões secretas devem ser encerradas. Os tribunais ilegais devem ser desmantelados. Finalmente, é necessário que este movimento exija que o governo estadunidense e os responsáveis militares sejam acusados de crimes de guerra e crimes contra a humanidade pelas suas acções no Iraque.
Sara Flounders
http://resistir.info/

Sem comentários: