sexta-feira, janeiro 12, 2007

Dramatismos à parte

Actualmente, em Portugal, o discurso da “dramatização da crise” é dominante, principalmente nas intervenções oriundas de sectores exteriores ao sistema educativo (empresários, jornalistas e economistas) que se reclamam como intépretes privilegiados das exigências e dos desafios que resultam da “globalização” e da “competição nos mercados internacionais”, e que, em geral, encontram eco nos partidos situados à direita do espectro político. Os principais alvos são: O Estado (e o controlo que exerce sobre o funcionamento do sistema educativo); as Ciências da Educação (e as responsabilidades que teriam na situação a que se chegou com as sucessivas “experiências pedagógicas” e “reformas educativas” ensaiadas, em particular, durante os governos do Partido Socialista); os professores e os seus sindicatos (considerados como principais beneficiários e defensores de um sistema dominado por interesses corporativos). As receitas propostas para “sair da crise” são, em geral, as mesmas: redução (e progressiva extinção) do papel do Estado na educação, com a consequente privatização da escola pública; prioridade às reformas de gestão (inspiradas na gestão empresarial) e subordinação das preocupações pedagógicas aos critérios de eficiência e qualidade (…).
A presença deste discurso nos meios de comunicação social contribui para criar na opinião pública a ideia de que as questões de política educativa são demasiado importantes para serem entregues aos professores e aos pedagogos e que os problemas com que se debate o nosso sistema educativo estão relacionados, essencialmente, com o seu modo de governo e gestão.
Este discurso é tanto mais eficaz (e facilmente consumível pelos media) quanto se radica em diagnósticos simplistas e pretensas evidências, substituindo a análise científica e o debate dos problemas, pela aceitação obrigatória de axiomas e imperativos de racionalidade técnica, cujas soluções seriam aparentemente sustentadas por experiências de sucesso, postas em prática em países mais desenvolvidos (João Barroso, “Introdução” in A Escola Pública: Regulação, Desregulação, Privatização, 2003, pp. 11-12, destaques meus)
Quanto a tudo isto apenas uns pontos adicionais:
A crise existe, mesmo se poderá não ser assim tão dramática.
A novidade é que o Ministério passou a colocar-se do lado dos produtores desse discurso, culpando todos os outros e não assumindo as responsabilidades políticas do próprio Estado pela situação criada.
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