Num texto já não muito recente incluído no Umbigo procurei chamar a atenção para algumas das pesquisas sobre a eficácia docente que contrariam abertamente muito do que parece ser a vulgata aceite como incontestável nos últimos tempos, pelo menos no plano de muita retórica publicada entre nós (imprensa, mas não só) sobre a Educação.
São estudos com apoio oficial, bastante alargados, e pouco ambíguos nas suas conclusões. Não são estudos de caso, ou baseados em amostras mais ou menos restritas, em experiências-piloto às quais se deram todas as condições para sucederem, nada disso.
Um desses estudos, um relatório realizado por Hay McBeer entre 1999 e 2000 para o governo britânico sobre a eficácia docente, é particularmente elucidativo sobre a forma como apresenta um ambiente de sala de aula propício à aprendizagem, tendo mesmo dado origem a diversas orientações para o trabalho dos docentes; repito aqui as características que já então tinha reproduzido:
Clareza em torno do objectivo de cada lição.
Ordem na sala de aula, onde a disciplina deve ser mantida.
Padrões claros para serem seguidos e atingidos pelos alunos, sendo que se deve apontar para padrões mais altos do que para os mínimos.
Honestidade (fairness) no sentido de ausência de favoritismos na avaliação do desempenho dos alunos
Participação garantida aos alunos na aula, permitindo-lhes apresentar questões ou materiais.
Apoio aos alunos, para que eles sintam um suporte emocional para tentarem novas soluções, mesmo a partirt dos seus erros.
Segurança, de modo que a sala de aula seja um espaço livre de factores geradores de medo, como o bullying físico ou emocional.
Interesse, de uma forma que os alunos sintam a sala de aula como um espaço interessante para estar.
Bom ambiente da sala de aula, para que os alunos a sintam como um espaço confortável, bem organizado, limpo e atractivo.
Estes princípios parecem ser óbvios quando assim lidos. Mas a verdade, e especialmente se nos apercebermos da sua sequência, é que este tipo de abordagem está muito longe de ser aquele que aparece proposto nas recomendações que orientam o trabalho pedagógico dos professores por cá. Seja por parte da tutela, seja pelo discurso público de muitos “especialistas”, normalmente daqueles que nunca exerceram a docência no ensino básico ou então que visitaram escolas em ambiente VIP.
Ordem nas aulas? Escolher padrões altos de exigência em vez de mínimos? Atenção à segurança e conforto da sala de aula? Combate ao bullying físico e emocional?
Quase tudo isto parecem ser irrelevâncias para o discurso que conhecemos como eduquês (e que eu defino como um abastardamento facilitista e terminologicamente vago e confuso de um efectivo discurso educacional ou sobre a Educação), pois tudo é enfoque nas competências, na construção do saber, sem se perceber o que isso significa ou se é sequer possível em salas de aula desordenadas, onde a autoridade do professor é perfeitamente questionada e onde a própria clareza do objectivo da aulas ou os padrões definidos pelos docentes são passíveis de “negociações” e mesmo (foi moda há uns anos) de “compromissos” ou “acordos” negociados à la carte.
A garantia da participação efectiva dos alunos no processo educativo não passa por aí. Passa pela criação de um ambiente de aprendizagem “limpo de ruídos” (espero que se perceba o que quero com isto, para não perder aqui mais umas linhas), onde todos se possam expressar com liberdade, mas com civismo e respeito eplos outros e pelo que se passa numa sala de aula.
A eficácia do trabalho de um docente - independentemente da sua postura teórica ou metodológica - depende e muito de um ambiente de Escola e de sala de aula propício à aprendizagem dos alunos, de todos os alunos. Ora se optarmos pela constante desculpabilização de comportamentos disruptivos em nome da defesa da liberdade de expressão individual, podemos acabar apenas no caos. Porque a liberdade de cada um define-se em muito pelo respeito da liberdade dos outros. E a ordem e disciplina na sala de aula não são necessariamente sinónimo de autoritarismo e opressão; na maior parte dos casos é apenas uma questão de mera civilidade.
Que, claro, convém que não seja apenas aprendida na Escola. E, mais importante, que a Escola seja um espaço que os alunos sejam ensinados - desde montante - a respeitar, para dessa forma ser mais útil e agradável para todos e não apenas a alguns. E que o(a) professor(a) não seja sucessivamente desautorizado e menorizado na praça pública, seja pela tutela, seja por aqueles que parecem ter erguido a docência como um alvo de desdém ou permanente animosidade.
http://educar.wordpress.com/
São estudos com apoio oficial, bastante alargados, e pouco ambíguos nas suas conclusões. Não são estudos de caso, ou baseados em amostras mais ou menos restritas, em experiências-piloto às quais se deram todas as condições para sucederem, nada disso.
Um desses estudos, um relatório realizado por Hay McBeer entre 1999 e 2000 para o governo britânico sobre a eficácia docente, é particularmente elucidativo sobre a forma como apresenta um ambiente de sala de aula propício à aprendizagem, tendo mesmo dado origem a diversas orientações para o trabalho dos docentes; repito aqui as características que já então tinha reproduzido:
Clareza em torno do objectivo de cada lição.
Ordem na sala de aula, onde a disciplina deve ser mantida.
Padrões claros para serem seguidos e atingidos pelos alunos, sendo que se deve apontar para padrões mais altos do que para os mínimos.
Honestidade (fairness) no sentido de ausência de favoritismos na avaliação do desempenho dos alunos
Participação garantida aos alunos na aula, permitindo-lhes apresentar questões ou materiais.
Apoio aos alunos, para que eles sintam um suporte emocional para tentarem novas soluções, mesmo a partirt dos seus erros.
Segurança, de modo que a sala de aula seja um espaço livre de factores geradores de medo, como o bullying físico ou emocional.
Interesse, de uma forma que os alunos sintam a sala de aula como um espaço interessante para estar.
Bom ambiente da sala de aula, para que os alunos a sintam como um espaço confortável, bem organizado, limpo e atractivo.
Estes princípios parecem ser óbvios quando assim lidos. Mas a verdade, e especialmente se nos apercebermos da sua sequência, é que este tipo de abordagem está muito longe de ser aquele que aparece proposto nas recomendações que orientam o trabalho pedagógico dos professores por cá. Seja por parte da tutela, seja pelo discurso público de muitos “especialistas”, normalmente daqueles que nunca exerceram a docência no ensino básico ou então que visitaram escolas em ambiente VIP.
Ordem nas aulas? Escolher padrões altos de exigência em vez de mínimos? Atenção à segurança e conforto da sala de aula? Combate ao bullying físico e emocional?
Quase tudo isto parecem ser irrelevâncias para o discurso que conhecemos como eduquês (e que eu defino como um abastardamento facilitista e terminologicamente vago e confuso de um efectivo discurso educacional ou sobre a Educação), pois tudo é enfoque nas competências, na construção do saber, sem se perceber o que isso significa ou se é sequer possível em salas de aula desordenadas, onde a autoridade do professor é perfeitamente questionada e onde a própria clareza do objectivo da aulas ou os padrões definidos pelos docentes são passíveis de “negociações” e mesmo (foi moda há uns anos) de “compromissos” ou “acordos” negociados à la carte.
A garantia da participação efectiva dos alunos no processo educativo não passa por aí. Passa pela criação de um ambiente de aprendizagem “limpo de ruídos” (espero que se perceba o que quero com isto, para não perder aqui mais umas linhas), onde todos se possam expressar com liberdade, mas com civismo e respeito eplos outros e pelo que se passa numa sala de aula.
A eficácia do trabalho de um docente - independentemente da sua postura teórica ou metodológica - depende e muito de um ambiente de Escola e de sala de aula propício à aprendizagem dos alunos, de todos os alunos. Ora se optarmos pela constante desculpabilização de comportamentos disruptivos em nome da defesa da liberdade de expressão individual, podemos acabar apenas no caos. Porque a liberdade de cada um define-se em muito pelo respeito da liberdade dos outros. E a ordem e disciplina na sala de aula não são necessariamente sinónimo de autoritarismo e opressão; na maior parte dos casos é apenas uma questão de mera civilidade.
Que, claro, convém que não seja apenas aprendida na Escola. E, mais importante, que a Escola seja um espaço que os alunos sejam ensinados - desde montante - a respeitar, para dessa forma ser mais útil e agradável para todos e não apenas a alguns. E que o(a) professor(a) não seja sucessivamente desautorizado e menorizado na praça pública, seja pela tutela, seja por aqueles que parecem ter erguido a docência como um alvo de desdém ou permanente animosidade.
http://educar.wordpress.com/
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