Agradecendo à Amélia Pais a referência para a notícia do Portugal Diário, mais os comentários apensos (entretanto já encontrei a versão oficial integral da apologia ministerial à sua obra):
Educação: ministra faz balanço positivoNuma carta enviada às escolas Maria de Lurdes salienta trabalho realizado em 2006
O encerramento de escolas no 1º ciclo, a generalização das actividades extra-curriculares, o aumento de cursos profissionais e o novo concurso de professores são as medidas destacadas pela tutela num balanço em que considera «positiva» a actividade de 2006, escreve a Lusa.Num documento enviado esta quinta-feira às escolas, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, salienta «o efeito positivo e estruturante no sistema educativo» daquelas quatro decisões.Ao nível do 1º ciclo, o reordenamento da rede escolar levou ao encerramento de cerca de 1.500 estabelecimentos com poucos alunos e taxas de insucesso superiores à média nacional, tendo 11 mil crianças sido transferidas para 847 escolas de acolhimento, nas quais foram investidos 2,4 milhões de euros.Também na antiga primária, 2006 foi o ano da generalização a 99 por cento das escolas das Actividades de Enriquecimento Curricular, que abrangem o Inglês, a Música, o Desporto e o Estudo Acompanhado.O Ministério destaca ainda a criação de 500 novos cursos profissionais no secundário, que sextuplicou a oferta existente, e o aumento de vagas nos Cursos Educação e Formação, salientando igualmente a aprovação de novas regras no concurso de professores, válido por três anos, que afirma dar estabilidade a docentes, escolas e famílias.Na carta dirigida aos estabelecimentos de ensino, o ME enumera outras 46 medidas tomadas no ano passado, considerando que estas «contribuirão certamente, de forma decisiva, para qualificar a escola pública, melhorando o seu funcionamento e os resultados escolares».Neste leque, encontram-se, entre outras, o Plano de Acção para a Matemática, o Plano Nacional de Leitura, a revisão do Estatuto da Carreira Docente e o processo de autonomia das escolas.Para 2007, Maria de Lurdes Rodrigues elege a avaliação das escolas, dos professores, dos manuais e dos currículos do ensino básico e secundário como os principais desafios, assim como a modernização dos estabelecimentos de ensino e das infra-estruturas tecnológicas.
Sempre me ensinaram que quem muito se elogia a si mesmo, deveria encontrar outra coisa para fazer. No caso da Ministra da Educação não é só a auto-complacência que irrita e ofende a (mesmo que escassa) inteligência alheia é a forma como descola da realidade e cede gratuitamente aos números tonitruantes.
· São 50 medidas “estruturantes” ou “decisivas”. A mim chegava-me uma meia dúzia delas, mas bem feitas.
· São 99% de escolas com as Actividades de Enriquecimento Curricular. Fiz as contas e pelos vistos devo ser um tipo com sorte pois o 1% restante deve estar todo no meu raio de visão quotidiano, pois no concelho onde lecciono a CM retirou todo o apoio a essas actvidades e ainda são umas dezenas de escolas. O reordenamento da rede escolar, mais do que um trunfo em nome da “racionalização”, é tão só a confirmação da aposta numa “Escola Mínima” a todos os níveis e não apenas no dos conteúdos curriculares e na definição do novo perfil de professor “generalista”, assim como o atestado de óbito ao interior do país mais profundo, convidando-o a extinguir-se e dar lugar a eucaliptosd e campos de golfe.
· Quanto ao Plano Nacional de Leitura, as verbas realmente chegaram ainda em 2006. Os livros só puderam ser comprados em Dezembro, mas o que conta para o ME é que foi ainda em 2006, mesmo se só vão ser utilizados em 2007, no 2º período, tamanha é a regulamentação para a sua utilização (devem ser usados nas aulas, mas ao mesmo tempo devem ser inseridos no fundo de obras disponíveis nas Bibliotecas para requisição domiciliária pelos alunos).
· Já o Plano de Acção para a Matemática foi objecto de incongruências sucessivas, com os projectos em suspenso à espera de esclarecimentos e muitas actividades continuam por arrancar em variadíssimas escolas. provavelmente, aos serviços do ME essas notícias não chegam, pois não acredito que a Ministra fugisse à verdade dos factos numa carta às Escolas onde as situações se passam. A menos que a carta fosse principalmente para ser divulgada na comunicação social.
· Relativamente ao aumento da oferta de cursos profissionalizantes, seria de elementar justiça que o ME divulgasse os dados concretos sobre os alunos envolvidos, porque na prática o que se passa é que os CEF’s acabaram por se tornar uma outra encarnação dos chamados Currículos Alternativos ou dos “9º+1″ que antes existiam. Seria, portanto, algo interessante que se percebesse se quem os frequenta, independentemente do valor de cursos de Jardinagem e Hotelaria dados por docentes das áreas científicas mais distantes que se possam imaginar, não estaria da mesma forma a frequentar os estabelecimentos de ensino, caso não houvesse um forte ”empurrão” para a sua criação no sentido de um aproveitamento algo propagandístico.
· Sobre a revisão do ECD não vale a pena continuarmos aqui nos lamentos. O tempo demonstrará quem tinha razão e porque foi feita. Apenas com objectivos de controle orçamental, desprezando os interesses pedagógicos e uma verdadeira dignificação da carreira.
· Por fim, a pompa com que se fala no reforço da autonomia das Escolas só poderá convencer quem não conhece a montanha de papelada que agora cai nas Escolas para responder ontem sobre o mínimo detalhe da vida dos estabelecimentos de ensino. Neste momento há uma investida de recolha de dados de natureza socio-económica dos alunos que atinge detalhes que me levantam bastantes reservas: para além disso, os docentes até agora com declaradas incapacidades para leccionar estão a ser chamados para ser “despachados” do sistema de ensino sem qualquer respeito pelas suas condições de saúde. O desrespeito pela dignidade individual atinge, nos casos mais dramáticos, foros de absoluta indecência que, ao que parece, os sindicatos não estão suficientemente atentos.
Neste balanço claro que falta a admissão de certos pormenores, como a sucessiva desautorização judicial de várias medidas ministeriais - repetição de exames, não pagamento de aulas de substituição -, a vergonhosa situação com os portáteis (na minha escola foi necessário ir “sacar” 13 a outra) e a trapalhada da TLEBS.
Para 2007 a grande aposta passa - ao que parece - pela avaliação de quase tudo, sendo que obviamente falta a avaliação da acção política do próprio ME. E esquece-se que, por exemplo, à suspensão da adopção dos manuais de Língua Portuguesa para o 8º ano se junta agora a dos manuais de Matemática.
Sinceramente não compreendo esta forma de auto-gratificação numa idade já madura dos indivíduos, quando o equilíbrio e o bom-senso aconselhariam um maior recato nas atitudes. Porque esta é daquelas coisas que se pode guardar para mais tarde recordar. Claro que não servirá de nada, porque quando isso acontecer haverá quem esteja num qualquer “Grupo de Missão” internacional ou nos órgãos directivos de qualquer instituição que acidentalmente tenha conseguido sucesso durante este mandato governativo.
E a lengalenga da legitimação eleitoral e da avaliação da acção governativa em novas eleições voltará, mesmo se quem for a julgamento for outrem e se tudo é feito sempre “em geral”.
E “em geral” nunca ninguém é verdadeiramente responsável por nada.
http://educar.wordpress.com/
Educação: ministra faz balanço positivoNuma carta enviada às escolas Maria de Lurdes salienta trabalho realizado em 2006
O encerramento de escolas no 1º ciclo, a generalização das actividades extra-curriculares, o aumento de cursos profissionais e o novo concurso de professores são as medidas destacadas pela tutela num balanço em que considera «positiva» a actividade de 2006, escreve a Lusa.Num documento enviado esta quinta-feira às escolas, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, salienta «o efeito positivo e estruturante no sistema educativo» daquelas quatro decisões.Ao nível do 1º ciclo, o reordenamento da rede escolar levou ao encerramento de cerca de 1.500 estabelecimentos com poucos alunos e taxas de insucesso superiores à média nacional, tendo 11 mil crianças sido transferidas para 847 escolas de acolhimento, nas quais foram investidos 2,4 milhões de euros.Também na antiga primária, 2006 foi o ano da generalização a 99 por cento das escolas das Actividades de Enriquecimento Curricular, que abrangem o Inglês, a Música, o Desporto e o Estudo Acompanhado.O Ministério destaca ainda a criação de 500 novos cursos profissionais no secundário, que sextuplicou a oferta existente, e o aumento de vagas nos Cursos Educação e Formação, salientando igualmente a aprovação de novas regras no concurso de professores, válido por três anos, que afirma dar estabilidade a docentes, escolas e famílias.Na carta dirigida aos estabelecimentos de ensino, o ME enumera outras 46 medidas tomadas no ano passado, considerando que estas «contribuirão certamente, de forma decisiva, para qualificar a escola pública, melhorando o seu funcionamento e os resultados escolares».Neste leque, encontram-se, entre outras, o Plano de Acção para a Matemática, o Plano Nacional de Leitura, a revisão do Estatuto da Carreira Docente e o processo de autonomia das escolas.Para 2007, Maria de Lurdes Rodrigues elege a avaliação das escolas, dos professores, dos manuais e dos currículos do ensino básico e secundário como os principais desafios, assim como a modernização dos estabelecimentos de ensino e das infra-estruturas tecnológicas.
Sempre me ensinaram que quem muito se elogia a si mesmo, deveria encontrar outra coisa para fazer. No caso da Ministra da Educação não é só a auto-complacência que irrita e ofende a (mesmo que escassa) inteligência alheia é a forma como descola da realidade e cede gratuitamente aos números tonitruantes.
· São 50 medidas “estruturantes” ou “decisivas”. A mim chegava-me uma meia dúzia delas, mas bem feitas.
· São 99% de escolas com as Actividades de Enriquecimento Curricular. Fiz as contas e pelos vistos devo ser um tipo com sorte pois o 1% restante deve estar todo no meu raio de visão quotidiano, pois no concelho onde lecciono a CM retirou todo o apoio a essas actvidades e ainda são umas dezenas de escolas. O reordenamento da rede escolar, mais do que um trunfo em nome da “racionalização”, é tão só a confirmação da aposta numa “Escola Mínima” a todos os níveis e não apenas no dos conteúdos curriculares e na definição do novo perfil de professor “generalista”, assim como o atestado de óbito ao interior do país mais profundo, convidando-o a extinguir-se e dar lugar a eucaliptosd e campos de golfe.
· Quanto ao Plano Nacional de Leitura, as verbas realmente chegaram ainda em 2006. Os livros só puderam ser comprados em Dezembro, mas o que conta para o ME é que foi ainda em 2006, mesmo se só vão ser utilizados em 2007, no 2º período, tamanha é a regulamentação para a sua utilização (devem ser usados nas aulas, mas ao mesmo tempo devem ser inseridos no fundo de obras disponíveis nas Bibliotecas para requisição domiciliária pelos alunos).
· Já o Plano de Acção para a Matemática foi objecto de incongruências sucessivas, com os projectos em suspenso à espera de esclarecimentos e muitas actividades continuam por arrancar em variadíssimas escolas. provavelmente, aos serviços do ME essas notícias não chegam, pois não acredito que a Ministra fugisse à verdade dos factos numa carta às Escolas onde as situações se passam. A menos que a carta fosse principalmente para ser divulgada na comunicação social.
· Relativamente ao aumento da oferta de cursos profissionalizantes, seria de elementar justiça que o ME divulgasse os dados concretos sobre os alunos envolvidos, porque na prática o que se passa é que os CEF’s acabaram por se tornar uma outra encarnação dos chamados Currículos Alternativos ou dos “9º+1″ que antes existiam. Seria, portanto, algo interessante que se percebesse se quem os frequenta, independentemente do valor de cursos de Jardinagem e Hotelaria dados por docentes das áreas científicas mais distantes que se possam imaginar, não estaria da mesma forma a frequentar os estabelecimentos de ensino, caso não houvesse um forte ”empurrão” para a sua criação no sentido de um aproveitamento algo propagandístico.
· Sobre a revisão do ECD não vale a pena continuarmos aqui nos lamentos. O tempo demonstrará quem tinha razão e porque foi feita. Apenas com objectivos de controle orçamental, desprezando os interesses pedagógicos e uma verdadeira dignificação da carreira.
· Por fim, a pompa com que se fala no reforço da autonomia das Escolas só poderá convencer quem não conhece a montanha de papelada que agora cai nas Escolas para responder ontem sobre o mínimo detalhe da vida dos estabelecimentos de ensino. Neste momento há uma investida de recolha de dados de natureza socio-económica dos alunos que atinge detalhes que me levantam bastantes reservas: para além disso, os docentes até agora com declaradas incapacidades para leccionar estão a ser chamados para ser “despachados” do sistema de ensino sem qualquer respeito pelas suas condições de saúde. O desrespeito pela dignidade individual atinge, nos casos mais dramáticos, foros de absoluta indecência que, ao que parece, os sindicatos não estão suficientemente atentos.
Neste balanço claro que falta a admissão de certos pormenores, como a sucessiva desautorização judicial de várias medidas ministeriais - repetição de exames, não pagamento de aulas de substituição -, a vergonhosa situação com os portáteis (na minha escola foi necessário ir “sacar” 13 a outra) e a trapalhada da TLEBS.
Para 2007 a grande aposta passa - ao que parece - pela avaliação de quase tudo, sendo que obviamente falta a avaliação da acção política do próprio ME. E esquece-se que, por exemplo, à suspensão da adopção dos manuais de Língua Portuguesa para o 8º ano se junta agora a dos manuais de Matemática.
Sinceramente não compreendo esta forma de auto-gratificação numa idade já madura dos indivíduos, quando o equilíbrio e o bom-senso aconselhariam um maior recato nas atitudes. Porque esta é daquelas coisas que se pode guardar para mais tarde recordar. Claro que não servirá de nada, porque quando isso acontecer haverá quem esteja num qualquer “Grupo de Missão” internacional ou nos órgãos directivos de qualquer instituição que acidentalmente tenha conseguido sucesso durante este mandato governativo.
E a lengalenga da legitimação eleitoral e da avaliação da acção governativa em novas eleições voltará, mesmo se quem for a julgamento for outrem e se tudo é feito sempre “em geral”.
E “em geral” nunca ninguém é verdadeiramente responsável por nada.
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