quinta-feira, janeiro 18, 2007

Empregos de alta tecnologia são exportados para países pobres

Existia (e existe ainda) a convicção de que os empregos nas áreas de “alta tecnologia” se destinam principalmente aos países mais desenvolvidos. Um alto grau de escolaridade e especialização seria a chave para a preservação de empregos nessas economias. A realidade porem, é muito diferente.

A convicção de que um alto grau de escolaridade e a intensa especialização garantiriam empregos em países desenvolvidos na realidade não se sustenta. O erro básico dos economistas e analistas de mercado de trabalho está em desconhecer a verdadeira natureza dessas ocupações.

Vamos a alguns fatos importantes. Em relação a China, país sem nenhuma tradição de industrialização e que seria candidata apenas a receber fabricas da “era das chaminés”:

“Em 2004, o país superou os Estados Unidos e se tornou o maior exportador do mundo de bens relacionados à tecnologia de informação, entre os quais estão computadores, celulares, laptops, palmtops, e câmeras digitais”. (1)

O que causa evidente apreensão, pois, teoricamente esses produtos deveriam ser fabricados em países como os EUA, Japão e europeus. De fato:

“Um dos temas mais discutidos na campanha eleitoral dos EUA é a exportação de empregos Hi-Tech (alta tecnologia). Empresas norte-americanas, principalmente na área de TI (Tecnologia da informação), estão deslocando departamentos e fábricas inteiras para o exterior ("off-shoring", ou "outsorcing"). Com isto pretendem alcançar custos menores e mais competitividade”. (2)

Além disso, como sempre afirmamos, a própria industria de alta tecnologia gera poucos empregos e utiliza ao máximo a capacidade das novas tecnologias combinadas com os novos métodos gerenciais. O resultado:

“A off-shoring não é única, nem principal, causa do desemprego na área de TI. Ganhos de produtividade têm tido efeito devastador na geração de empregos Hi-Tech. Além da produtividade, colaboram a economia desaquecida e cadeias de negócios pela Internet.” (3)

A questão não fica só nos setores de microeletrônica. Vem se ampliando:

“Andrew Pollack assina "Medical Companies Joining Offshore Trend" (Companhias médicas acompanham tendência do offshore) para a edição de 24 de fevereiro do The New York Times. A matéria revela que a exportação de empregos para países como Índia e China, que já atingiu a etapa de manufatura e algumas atividades internas de empresas norte-americanas, está se estendendo às indústrias médica e farmacêutica. A chamada "indústria das ciências da vida", afirma a reportagem, confia fortemente na inovação científica. Além disso, "é vista como um mecanismo de crescimento econômico e fonte para novos empregos, particularmente quando o crescimento diminui em outros setores, como o da tecnologia da informação". Esses fatores fizeram com que a indústria farmacêutica fosse tida, por muito tempo, como "menos vulnerável à tendência do outsourcing", ou seja, da terceirização no exterior. Mas as histórias contadas por Pollack mostram que há bastante gente do setor interessada nos baixos custos asiáticos”.(4)
A conclusão, no geral, confirma nossas teses da irreversibilidade da perda de empregos:

“O "downsizing" empresarial é, naturalmente, parte das altas e baixas da maré do ciclo econômico. Essas demissões, porém, não estão acontecendo apenas porque a demanda secou. Ex-gerentes e firmas terceirizadas pelo BofA [Bank of América] dizem que um terço desses postos de trabalho estão sendo exportados para a Índia, onde um trabalho remunerado a US$ 100 por hora nos EUA pode ser contratado por apenas US$ 20. O BofA admite que terceirizará até 1.100 postos de trabalho junto a companhias indianas este ano, mas insiste que nem todas as funções exportadas para a Índia implicam cortes nos EUA”.(5)

“As forças motrizes são a digitalização, a internet e as redes de dados de alta velocidade que dão a volta ao globo. Hoje, tarefas como o detalhamento de projetos arquitetônicos, a elaboração de relatórios financeiros de empresas ou o desenvolvimento de um microprocessador revolucionário são facilmente feitas no exterior”.(6)

“É por isso que a Intel e a Texas Instruments estão febrilmente contratando engenheiros indianos e chineses para projetar circuitos de chips. A Philips, gigante holandesa do setor de produtos eletrônicos de consumo, migrou suas atividades de pesquisa e desenvolvimento envolvendo a maioria de seus aparelhos de TV, telefones celulares e produtos de áudio para Xangai”. (7)

Isso reforça nossa convicção de que o que está ocorrendo nada tem em comum com o velho raciocínio da “divisão internacional” do trabalho. A realidade é que as novas tecnologias viabilizam a busca por menores salários, estejam onde estiverem. A própria produção das novas tecnologias em si, seguem essa lógica inexorável.

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Notas:

(1) Trevisan, Cláudia, “China: o renascimento do império” – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006 – pág. 104.
(2) “EUA reage à exportação de empregos Hi-Tech”
(3) Idem.
(4) “Setores médico e farmacêutico já começam a também buscar as vantagens do outsourcing nos países da Ásia” - The New York Times, 24 de fevereiro de 2005 -Disponível em: http://www.inovacao.unicamp.br/report/le-outsourcing.shtml Acesso em: 03/04/2006.
(5) “Países ricos exportam emprego em serviço” - Pete Engardio, Aaron Bernstein e Manjeet Kripalani, BusinessWeek - Valor Econômico - 05 de fevereiro de 2003 - Especial - p. A14.
(6) Idem.
(7) Idem.
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/

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