terça-feira, janeiro 30, 2007

A GLOBALIZAÇÃO E A ECONOMIA DA EDUCAÇÃO

Os movimentos migratórios estão a aumentar drasticamente à escala mundial. Cada vez mais seres humanos fogem, perante o rolo compressor da pobreza, em direcção aos países ainda relativamente mais ricos. Há muito que já não se trata apenas da migração de miséria, como a do flanco sul da Europa, que enche os cabeçalhos dos jornais. Entretanto há também uma crescente migração de gente com estudos. Em muitos países da periferia aumenta o número de estudantes. Mas, simultaneamente, com a crise das finanças estatais, há infra-estruturas que são desmanteladas ou reduzidas às poucas regiões metropolitanas, diminuindo assim as possibilidades de emprego das pessoas com estudos, enquanto o sector privado comprime os salários de entrada. Na China, com o boom unilateral das zonas de economia de exportação, cresce a massa de jovens com estudos sem emprego. Recém-licenciados/as trabalham como caixas de supermercado ou mulheres de limpeza. Daí que, não só na China, muita gente com formação pretende virar as costas ao seu país. Em África, com os mais altos índices de doenças de todo o mundo, desaparecem os serviços de saúde, porque a maioria dos médicos são aliciados por outros países e emigram.
O "braindrain" ocorreu até agora sobretudo da periferia para os centros. Mas, entretanto, também nos centros muitos jovens recém-licenciados se tornaram precários. É bem conhecida na Alemanha a miséria do "estágio de geração" dos licenciados mal pagos, ou nem sequer pagos, no início da profissão. A migração de pessoas com graus académicos também já atingiu a Alemanha e outros países ocidentais. Neste processo se faz notar a contradição entre a globalização e a economia da educação. O aliciamento torna-se possível porque há uma queda global da procura de licenciados. O horizonte temporal da formação é de longo prazo, enquanto o do mercado globalizado é de curto prazo. Assim, surgem problemas de coordenação: nalguns sectores há excesso de licenciados, noutros predomina a falta. Isto é diferente de país para país, conforme o desenvolvimento institucional no decurso do processo de globalização. Nos sectores deficitários, é mais vantajoso aliciar licenciados de outros países do que reorientar as estruturas de formação próprias.
Aqui se esboça a tendência para fazer regredir, por todo o lado, a economia da educação, uma vez que se prefere baixar o excesso de procura de licenciados, "comprando" no exterior licenciados já formados, para as necessidades de curto prazo. Assim se concorre pela força de trabalho que cada país precisa, cujos custos de formação, sempre que possível, não devem onerar o respectivo orçamento. Depois, os países que emagreceram neoliberalmente o seu sistema social de modo particularmente drástico podem acenar com salários relativamente mais altos. As profissões académicas, enquanto tiverem emprego (e isso pode mudar rapidamente) ganham nos países anglo-saxónicos até menos 30% que na Alemanha ou na França. Salários mais elevados nos sectores académicos deficitários sobrecarregam também a maioria da população. Ironicamente, os países com custos de educação e custos sociais mais elevados estão a cair a pouco e pouco na situação da ex-RDA, cujos recém-licenciados bem formados migravam cada vez mais para o Ocidente. Esta é mais uma razão porque aumenta a pressão sobre os sistemas sociais na Europa continental, ao mesmo tempo que resta pouca tendência para amplos investimentos na educação, apesar da retórica em contrário. O auto-canibalismo do capital manifesta-se também na economia da educação.
Robert Kurz
http://obeco.planetaclix.pt/

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