sexta-feira, janeiro 12, 2007

Liberalismo/Socialismo - Todos Diferentes, Todos Iguais?

Post em forma de semi-provocação ao Manyfaces:
.Fico sempre com alguma dificuldade em perceber exactamente algumas facetas do discurso dito “liberal” acerca da Educação. Penso ter umas noções básicas sobre o que é o Liberalismo nas vertentes político-institucional e económico-social, mas esbarro sempre em algumas das suas variações aplicadas aos problemas educacionais.Se há ilações que eu retiro de alguns dos nossos debates nestes meses é que um “liberal” defende um sistema de ensino onde existe liberdade de escolha (é normal) e critica o igualitarismo forçado actualmente existente, que qualifica de inspiração socialista, na Educação pública que fornece um serviço quase indiferenciado aos alunos e, por isso mesmo, deve ser radicalmente alterado segundo regras de gestão (quase) empresarial em nome da eficácia e da melhoria do desempenho das “organizações. Defendem ainda a contratação, se necessário, de docentes e técnicos conforme as necessidades e de acordo com determinados “perfis”, tidos como mais adequados para certas funções, devendo acabar o sistema nacional de colocações porque centralizador.
No entanto, e talvez mesmo em contrapartida, a mesma veia de pensamento “liberal” considera que os professores são funcionários públicos como quaisquer outros e que, como tal, não devem existir quaisquer resíduos de especificidade na estrutura da sua carreira e que devem ser tratados de forma indiferenciada em relação aos restantes corpos (que até nem devem ser considerados como tal) da Administração Pública.
Serei apenas eu - julgo que não, julgo que não - a encontrar por aqui uma quase insanável contradição conceptual, entre uma crítica ao igualitarismo numa parte da Educação (funcionamento das Escolas, tratamento dispensado aos alunos, currículo unificado) e depois a sua defesa em outra (carreira docente)?
Ou será que os docentes não fazem parte da Educação e que, como tal, devem ser regidos segundo uma lógica de indiferenciação igualitária em relação a todos os outros funcionários públicos?
E já agora mais uma contradição, daquelas pequenas, tipo areia na engrenagem: se os docentes devem ser todos tratados como o resto da Administração Pública, sem qualquer tipo de diferenciação ou “privilégios” estatutários, como se enquadra nessa lógica a criação, no interior da própria função, de estatutos diferenciados de acordo com a fragmentação do sistema de colocações e a chamada “liberalização” das contratações?
Acredito que as respostas sejam óbvias para estas minhas incipientes dúvidas, eu agora é que estou assim a modos que pouco esclarecido em relação a estas questões e quase me quer parecer que, afinal, Socialismo e Liberalismo, em determinadas matérias, estão bem mais próximos no seu afã igualitário do que se poderia pensar, o que até explica que há pouco mais de uma semana Vital Moreira clamasse nas páginas do Público contra os “privilégios ilegítimos” de alguma aristocracia operária (não usou o termo “proletária”, é verdade) e vai-se a ver e esse é exactamente o argumento dos “liberais”.
No que ficamos? Será que temos aqui a chave para o socialismo liberal? Aquela desideologia que pesca onde calha o que convém mais a cada momento? Não estou contra em tese, note-se bem, chamem-lhe é apenas pragmatismo casuístico (uma redundância, eu notei) e não outra coisa.
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