Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2003, divulgada em 19/9/2004, contém indicações de que o desemprego tecnológico da era da informação, já está presente no Brasil.
Alguns indicadores já eram de se esperar, assim: “O computador foi o bem durável que mais cresceu nos últimos anos. De 2001 para 2002, o crescimento foi de 15,1% e de 2002 para 2003, de 11,4%, sendo que, entre os que tinham acesso à internet, o aumento nos dois períodos foi, respectivamente, de 23,5% e 14,5%. Em 2003, 15,3% das moradias tinham microcomputador e em 11,4% este equipamento tinha acesso à internet”.
Também não surpreende o crescimento do número de telefones celulares: “Observa-se que vem crescendo o número de domicílios somente com telefone celular. O percentual de aumento de 2002 para 2003 (31,1%) foi praticamente o dobro do ocorrido de 2001 para 2003 (15,4%). Em 2001, 3,6 milhões de domicílios (7,8% do total de moradias) tinham apenas telefone celular. Em 2002, já eram 4,2 milhões (8,8%) e em 2003, eram 5,5 milhões (11,2%)”.
É bastante interessante a informação de que: “Por outro lado, a proporção de domicílios com, pelo menos, telefone fixo convencional aumentou de 51,1% em 2001 para 52,8% em 2002, mas diminuiu em 2003 (50,8%). Em se tratando da proporção de domicílios somente com telefone fixo convencional, a queda foi ainda mais expressiva: de 27,9% em 2001 passou para 27,0% em 2002 e chegou a 23,4% em 2003”. Como interpretar esses dados?
A explosão de celulares é perceptível entre dois grupos de pessoas: Os jovens de classes alta e média, e entre trabalhadores autônomos, mesmo os de baixa renda como eletricistas, encanadores, instaladores de antenas, etc. Mas uma estagnação e até redução de telefones fixos só pode ter uma explicação: Redução de renda da classe média.
É interessante notar que em todas as regiões do país, o número de eletrodomésticos presentes nas residências, como geladeira, freezer, máquina de lavar roupa, rádio e televisão, tiveram aumentos razoáveis de 1993 para 2003. Como a renda por domicílio caiu 8% de 2002 para 2003, à explicação só pode estar no fato de que esses equipamentos deixaram de ser luxo e passaram a ser necessidade vital. Geladeira, freezer e máquina de lavar roupa, liberam trabalho feminino do domicílio para o mercado
Outro dado que nos chama a atenção é que: “Em relação a 2002, cresceu o número de trabalhadores com carteira assinada em atividade não-agrícola, tanto entre os empregados (3,3%, ou mais 720 mil trabalhadores) quanto entre os trabalhadores domésticos (5,5%, ou mais 87 mil trabalhadores). No período, caiu o número de trabalhadores sem carteira assinada, tanto entre os empregados (-3,4%) quanto entre os trabalhadores domésticos (-1,1%)”.
Como é um tanto difícil acreditar em uma súbita onda de “consciência social”, por parte dos empregadores, podemos atribuir essa variação ao aumento no rigor da fiscalização. Por outro lado, é estranho que num ano de recessão, a informalidade não tenha aumentado. A explicação favorita para os cortes de mão-de-obra, tem sito justamente o custo do empregado formal.
Ao analisarmos a questão do mercado de trabalho, chama atenção que: “Segundo a PNAD 2003, era de R$ 692 o rendimento médio real dos trabalhadores com rendimento do trabalho. Esse indicador sofreu uma queda de 7,4% em relação a 2002, a maior ocorrida desde 1997”. Sabendo-se que nesse período, a retração do PIB foi de 0,2%, é evidente que a renda do trabalho caiu muito mais.
De fato notamos que essa é uma tendência irreversível: “De 1996 a 2003, o rendimento médio real das pessoas com rendimento do trabalho teve queda de 18,8%, que estendeu-se a todas as categorias de ocupação: trabalhadores domésticos (-5,4%), trabalhadores por conta própria (-6,6%), empregados e empregadores (-7,5% para ambos)”.
Mas a informação decisiva é a de que: “Na população ocupada, os 50% com os menores rendimentos sofreram uma perda real de 4,2%, enquanto que, para os 50% com os maiores rendimentos, a perda foi de 8,1%”.
Também nos interessa o fato de que: “De 1993 a 2003, diminuiu a concentração do rendimento de trabalho. Em 1993, na população ocupada, o rendimento dos 10% com os maiores rendimentos representava 49% do rendimento total, e passou para 45,3% em 2003. No mesmo período, a participação do rendimento dos 10% com os menores rendimentos foi de 0,7%, para 1,0%. Com isso, o Índice de Gini do rendimento caiu de 0,600 em 1993 para 0,555 em 2003, o mais baixo resultado desde 1981”.
Isso é apresentado como um dado positivo, haveria uma “democratização” no mercado de trabalho. Mas como a renda total vem caindo, é fácil deduzir que não foram os salários mais baixos que cresceram e sim os mais altos que diminuíram.
O nível de emprego em geral caiu muito pouco: “A População Ocupada representava 55,4% do total das pessoas com dez anos ou mais de idade. Esse percentual – o nível de ocupação – foi menor que o de 2002 (55,7%) e igualou o de 1997”.
Sabemos que no ano corrente (2004), o desemprego tem recuado ligeiramente, o PIB vem tendo crescimento acentuado mas, a renda do trabalho continua caindo.
Em resumo, temos vários dados que já são nossos velhos conhecidos das estatísticas dos países desenvolvidos. Embora com menor intensidade, os números no Brasil nos dizem que:
.
· Mesmo não havendo uma explosão de desemprego, o nível geral de ocupação, cresce sempre menos do que o PIB.
· A renda dos salários vem caindo independentemente do crescimento da economia.
· Essa redução de situa muito mais nas faixas mais altas de salários do que nas mais baixas.
Quando se considera que as novas tecnologias de informação e telecomunicações, aliadas às novas técnicas gerenciais, tendem a gerar desemprego nos níveis médios da hierarquia empresarial, os números não nos surpreendem.
De fato, as novas tecnologias não substituem abruptamente os empregos dos trabalhadores braçais por máquinas, como ocorria nas “revoluções industriais” do passado. Ela provoca principalmente um forte desequilíbrio nas relações entre capital e trabalho, favorecendo enormemente o primeiro.
Após os processos de “reengenharia”, que agora não estão mais restritos apenas às indústrias, notamos que os trabalhadores “sobreviventes”, tornam-se muito mais dóceis quanto a reivindicações por aumentos de salários, reposição de perdas inflacionárias e novos benefícios. Isso explica as perdas progressivas de poder aquisitivo, mesmo para os que continuam empregados.
Os demitidos, após um longo período de procura, irão acabar por aceitar empregos com remuneração mais baixa. Outros aceitarão funções muito abaixo de suas qualificações e outros simplesmente abandonarão o mercado de trabalho, seja para se tornar autônomos, empresários informais ou “desempregados permanentes”, vivendo as custas de parentes. Isso explica a redução drástica da renda “por domicílio”.
Outro dado revelador é que: “No contingente de mulheres, o nível da ocupação de 2003, permaneceu igual ao de 2002 (44,5%), que praticamente havia alcançado o de 1995 (44,6%), o mais alto desde o início da década de 1990”. Como interpretar isso? É simples, o trabalho feminino está concentrado ou nas funções de menor renda, ou e em atividades pouco afetadas pelas novas tecnologias, como as ligadas ao preparo de alimentos, limpeza e conservação, cuidado com doentes, deficientes, crianças, idosos, etc.
Mesmo a redução do trabalho infantil, pode ser relacionada aos programas governamentais que se baseiam na troca de “comida por estudo”. Assim, no âmbito da economia da família, a criança na escola garante a “cesta básica”, enquanto o adulto desempregado passa a ocupar as suas funções.
Isso não é perceptível na agricultura, onde o trabalho infantil é complementar ao do adulto e, sempre foi uma fonte de renda perfeitamente aceitável. Mas, nas cidades, basta notar a substituição do “tomador de conta” de automóveis infantil, pelo “flanelinha”, sempre um adulto. Também notamos o progressivo “envelhecimento” dos encarregados de transporte de documentos e pequenos volumes. Sai o “guarda mirim” e entra o “moto boy”.
Não resta mais dúvidas de que o Brasil já compartilha, via globalização, dos mesmos problemas de desemprego tecnológico já detectados nos países desenvolvidos.
Nota: Usamos o resumo do PNDA 2003 divulgado no site do IBGE, em www.ibge.gov.br
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/
Alguns indicadores já eram de se esperar, assim: “O computador foi o bem durável que mais cresceu nos últimos anos. De 2001 para 2002, o crescimento foi de 15,1% e de 2002 para 2003, de 11,4%, sendo que, entre os que tinham acesso à internet, o aumento nos dois períodos foi, respectivamente, de 23,5% e 14,5%. Em 2003, 15,3% das moradias tinham microcomputador e em 11,4% este equipamento tinha acesso à internet”.
Também não surpreende o crescimento do número de telefones celulares: “Observa-se que vem crescendo o número de domicílios somente com telefone celular. O percentual de aumento de 2002 para 2003 (31,1%) foi praticamente o dobro do ocorrido de 2001 para 2003 (15,4%). Em 2001, 3,6 milhões de domicílios (7,8% do total de moradias) tinham apenas telefone celular. Em 2002, já eram 4,2 milhões (8,8%) e em 2003, eram 5,5 milhões (11,2%)”.
É bastante interessante a informação de que: “Por outro lado, a proporção de domicílios com, pelo menos, telefone fixo convencional aumentou de 51,1% em 2001 para 52,8% em 2002, mas diminuiu em 2003 (50,8%). Em se tratando da proporção de domicílios somente com telefone fixo convencional, a queda foi ainda mais expressiva: de 27,9% em 2001 passou para 27,0% em 2002 e chegou a 23,4% em 2003”. Como interpretar esses dados?
A explosão de celulares é perceptível entre dois grupos de pessoas: Os jovens de classes alta e média, e entre trabalhadores autônomos, mesmo os de baixa renda como eletricistas, encanadores, instaladores de antenas, etc. Mas uma estagnação e até redução de telefones fixos só pode ter uma explicação: Redução de renda da classe média.
É interessante notar que em todas as regiões do país, o número de eletrodomésticos presentes nas residências, como geladeira, freezer, máquina de lavar roupa, rádio e televisão, tiveram aumentos razoáveis de 1993 para 2003. Como a renda por domicílio caiu 8% de 2002 para 2003, à explicação só pode estar no fato de que esses equipamentos deixaram de ser luxo e passaram a ser necessidade vital. Geladeira, freezer e máquina de lavar roupa, liberam trabalho feminino do domicílio para o mercado
Outro dado que nos chama a atenção é que: “Em relação a 2002, cresceu o número de trabalhadores com carteira assinada em atividade não-agrícola, tanto entre os empregados (3,3%, ou mais 720 mil trabalhadores) quanto entre os trabalhadores domésticos (5,5%, ou mais 87 mil trabalhadores). No período, caiu o número de trabalhadores sem carteira assinada, tanto entre os empregados (-3,4%) quanto entre os trabalhadores domésticos (-1,1%)”.
Como é um tanto difícil acreditar em uma súbita onda de “consciência social”, por parte dos empregadores, podemos atribuir essa variação ao aumento no rigor da fiscalização. Por outro lado, é estranho que num ano de recessão, a informalidade não tenha aumentado. A explicação favorita para os cortes de mão-de-obra, tem sito justamente o custo do empregado formal.
Ao analisarmos a questão do mercado de trabalho, chama atenção que: “Segundo a PNAD 2003, era de R$ 692 o rendimento médio real dos trabalhadores com rendimento do trabalho. Esse indicador sofreu uma queda de 7,4% em relação a 2002, a maior ocorrida desde 1997”. Sabendo-se que nesse período, a retração do PIB foi de 0,2%, é evidente que a renda do trabalho caiu muito mais.
De fato notamos que essa é uma tendência irreversível: “De 1996 a 2003, o rendimento médio real das pessoas com rendimento do trabalho teve queda de 18,8%, que estendeu-se a todas as categorias de ocupação: trabalhadores domésticos (-5,4%), trabalhadores por conta própria (-6,6%), empregados e empregadores (-7,5% para ambos)”.
Mas a informação decisiva é a de que: “Na população ocupada, os 50% com os menores rendimentos sofreram uma perda real de 4,2%, enquanto que, para os 50% com os maiores rendimentos, a perda foi de 8,1%”.
Também nos interessa o fato de que: “De 1993 a 2003, diminuiu a concentração do rendimento de trabalho. Em 1993, na população ocupada, o rendimento dos 10% com os maiores rendimentos representava 49% do rendimento total, e passou para 45,3% em 2003. No mesmo período, a participação do rendimento dos 10% com os menores rendimentos foi de 0,7%, para 1,0%. Com isso, o Índice de Gini do rendimento caiu de 0,600 em 1993 para 0,555 em 2003, o mais baixo resultado desde 1981”.
Isso é apresentado como um dado positivo, haveria uma “democratização” no mercado de trabalho. Mas como a renda total vem caindo, é fácil deduzir que não foram os salários mais baixos que cresceram e sim os mais altos que diminuíram.
O nível de emprego em geral caiu muito pouco: “A População Ocupada representava 55,4% do total das pessoas com dez anos ou mais de idade. Esse percentual – o nível de ocupação – foi menor que o de 2002 (55,7%) e igualou o de 1997”.
Sabemos que no ano corrente (2004), o desemprego tem recuado ligeiramente, o PIB vem tendo crescimento acentuado mas, a renda do trabalho continua caindo.
Em resumo, temos vários dados que já são nossos velhos conhecidos das estatísticas dos países desenvolvidos. Embora com menor intensidade, os números no Brasil nos dizem que:
.
· Mesmo não havendo uma explosão de desemprego, o nível geral de ocupação, cresce sempre menos do que o PIB.
· A renda dos salários vem caindo independentemente do crescimento da economia.
· Essa redução de situa muito mais nas faixas mais altas de salários do que nas mais baixas.
Quando se considera que as novas tecnologias de informação e telecomunicações, aliadas às novas técnicas gerenciais, tendem a gerar desemprego nos níveis médios da hierarquia empresarial, os números não nos surpreendem.
De fato, as novas tecnologias não substituem abruptamente os empregos dos trabalhadores braçais por máquinas, como ocorria nas “revoluções industriais” do passado. Ela provoca principalmente um forte desequilíbrio nas relações entre capital e trabalho, favorecendo enormemente o primeiro.
Após os processos de “reengenharia”, que agora não estão mais restritos apenas às indústrias, notamos que os trabalhadores “sobreviventes”, tornam-se muito mais dóceis quanto a reivindicações por aumentos de salários, reposição de perdas inflacionárias e novos benefícios. Isso explica as perdas progressivas de poder aquisitivo, mesmo para os que continuam empregados.
Os demitidos, após um longo período de procura, irão acabar por aceitar empregos com remuneração mais baixa. Outros aceitarão funções muito abaixo de suas qualificações e outros simplesmente abandonarão o mercado de trabalho, seja para se tornar autônomos, empresários informais ou “desempregados permanentes”, vivendo as custas de parentes. Isso explica a redução drástica da renda “por domicílio”.
Outro dado revelador é que: “No contingente de mulheres, o nível da ocupação de 2003, permaneceu igual ao de 2002 (44,5%), que praticamente havia alcançado o de 1995 (44,6%), o mais alto desde o início da década de 1990”. Como interpretar isso? É simples, o trabalho feminino está concentrado ou nas funções de menor renda, ou e em atividades pouco afetadas pelas novas tecnologias, como as ligadas ao preparo de alimentos, limpeza e conservação, cuidado com doentes, deficientes, crianças, idosos, etc.
Mesmo a redução do trabalho infantil, pode ser relacionada aos programas governamentais que se baseiam na troca de “comida por estudo”. Assim, no âmbito da economia da família, a criança na escola garante a “cesta básica”, enquanto o adulto desempregado passa a ocupar as suas funções.
Isso não é perceptível na agricultura, onde o trabalho infantil é complementar ao do adulto e, sempre foi uma fonte de renda perfeitamente aceitável. Mas, nas cidades, basta notar a substituição do “tomador de conta” de automóveis infantil, pelo “flanelinha”, sempre um adulto. Também notamos o progressivo “envelhecimento” dos encarregados de transporte de documentos e pequenos volumes. Sai o “guarda mirim” e entra o “moto boy”.
Não resta mais dúvidas de que o Brasil já compartilha, via globalização, dos mesmos problemas de desemprego tecnológico já detectados nos países desenvolvidos.
Nota: Usamos o resumo do PNDA 2003 divulgado no site do IBGE, em www.ibge.gov.br
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/
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