quinta-feira, janeiro 11, 2007

Não é (só) o Tamanho que Conta

Em algumas caixas de comentários reavivou-se a discussão em torno da remuneração relativa dos professores portugueses e do tempo passado na sala de aula ou na Escola.
Esta discussão, com base nos dados da OCDE ou em outros, padece de alguns equívocos, alguns dos quais já abordei em anteriores posts que agora não vou conseguir linkar por falta de tempo para os pesquisar nos arquivos. No entanto, não é difícil inventariar alguns deles:
Antes de mais, comecemos pela questão da remuneração dos professores sobre a qual o PJ me enviou o gráfico que aqui se reproduz e que permite colocar na perspectiva correcta o respectivo valor relativo que deve ser calculado com base no estabelecimento de uma paridade, neste caso o valor do poder de compra em dólares. Como rapidamente se vê, o caso português encontra-se na metade baixa da tabela, mais exactamente no 20º lugar numa amostra de 30 países. Tudo bem, mesmo assim estamos ligeiramente à frente da França, da Itália e da Suécia. Mas estamos longe, bem longe, do topo como querem fazer a opinião pública acreditar.
Por outro lado, não me parece razoável tentarmos assimilar sempre quantidade a qualidade. Estar mais tempo na Escola ou dar mais aulas desde quando equivale a dar melhores aulas? Dar 10 aulas por dia é melhor do que dar 7? Será que um médico atende melhor 7 ou 10 doentes por manhã de consultas? Estará o professor em melhores condições ao dar a 7ª e 8ª aulas às 6 da tarde ou ao dar apenas a 5ª e a 6ª às 16.00? E a petizada reagirá melhor a uma sobrecarga de 7-8 aulas diárias, com apoios pelo meio ou a um conjunto regular de 5-6, com eventuais actividades extra de tfrequ~encia voluntária? A questão da eficácia mede-se em termos de mais trabalho ou de melhor trabalho? E para isso não contam as condições em que se desenvolve a tarefa? Agora numa outra perspectiva: eu acho com toda a sinceridade que dava melhores aulas de 50 minutos do que dou as de 90. Porque as abordagens são diferentes, porque em 90 minutos pode existir uma sobrecarga de trabalho para os alunos que torna as aprendizagens menos eficazes. O que interessa estar muito tempo numa aula ou na escola durante um dia se não existir produtividade, neste caso, uma melhoria do desempenho de todos, docentes e alunos? Ora a mim parece-me, empiricamente, que ao longo do dia o rendimento de todos vai descendo, a capacidade de concentração diminuindo, o cansaço aumentando, a inquietação e as quezílias multiplicando-se.
E por fim, por agora, não seria interessante juntar a esta conversa tudo o resto? Que por acaso até muito a começar pela sacrossantas condições materiais em que trabalhamos todos, por exemplo? A dimensão das turmas (o ratio professor/aluno é outra coisa, nunca se esqueçam)? A qualidade do mobiliário escolar (na Escola onde fiz o Secundário ainda devem existir cadeiras com a assinatura dos meus colegas, que eu nunca me dei muito a esse trabalho)? Os recursos multimédia, facilitadores da admirada inovação? Um data-show por Escola chega? Um quadro interactivo por cada concelho ou distrito? O pessoal auxiliar, para que eu não tenha de vir à porta lembrar aos alunos que esperam uma substituição que devem gritar ligeiramente mais baixo a sua indignação e ansiedade juvenis, porque uma qualquer subcoordenadora decidiu que n contratos não se renovavam? Alguém se lembra que dar uma aula na Suécia, na Áustria, na Suiça ou na amada Finlândia é algo ligeiramente diverso que dá-la na Damaia, em Francelos ou na Baixa da Banheira (neste caso, sou eu…)? Estamos melhor do que há 20 anos quando comecei, eu bem sei, mas tal como todo o nosso país e a sua economia, continuamos a não conseguir recuperar de muito do atraso relativo que então tínhamos.
Portanto, quando agarramos num ou outro indicador, vamos lá tentar usá-lo de forma apropriada e não à moda do Ministério, como arma de arremesso. E, já agora, uma contextualização fica sempre bem
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