domingo, janeiro 28, 2007

NOTAS SOBRE o ANARQUISMO

Um escritor francês, simpatizante do anarquismo, escreveu na década de 1890 que "o anarquismo tem costas largas, e, como o papel, aceita qualquer coisa" - e também mencionou aqueles anarquistas, cujas ações são tais, que "um inimigo mortal do anarquismo não poderia fazer melhor".1 Existem muitos estilos de pensamento e ação que são considerados "anarquistas". Seria desanimador tentar abranger todas essas conflituosas tendências em alguma teoria ou ideologia geral. E, mesmo se formos sintetizar a existência da história do pensamento libertário, envolvendo tradição, como Daniel Guérin faz em Anarquismo,2 fica difícil expor suas doutrinas com precisão, como uma teoria específica e determinada da sociedade e da mudança social. O historiador anarquista Rudolf Rocker, que apresenta uma concepção siste­mática do desenvolvimento do pensamento anarquista rumo ao anarco-sindicalismo, por linhas que levam à similaridade com o trabalho de Guérin, coloca bem o problema quando escreve que o anarquismo não é:
um sistema social fixo, fechado, mas uma tendência definida no desenvolvimento histórico humano, que, em contraste com a proteção intelectual de todas as institui­ções governamentais e clericais, luta para o livre desenvol­vimento, sem qualquer bloqueio, de todas as forças indivi­duais e sociais da vida. Mesmo a liberdade é apenas um conceito relativo, não absoluto, visto que ela tende, cons-tantemente, a se tornar mais ampla e afetar círculos mais extensos, das mais variadas maneiras. Para o anarquista, a liberdade não é um conceito abstrato e filosófico, mas a possibilidade concreta essencial para todo ser humano levar ao completo desenvolvimento todas as faculdades, capa­cidades e talentos com os quais a natureza o dotou, e con­vertê-los em valor social. Quanto menos esse desenvolvi­mento natural do homem for influenciado pela proteção política ou eclesiástica, mais eficiente e harmoniosa se tor­nará a personalidade humana, mais ela se tornará a exten­são da cultura intelectual da sociedade que foi desen­volvida.3
Pode-se perguntar qual é o valor de se estudar uma "tendên­cia definida do desenvolvimento histórico humano" que não articula uma teoria social detalhada e específica. De fato, muitos críticos desconsideram o anarquismo por o acharem utópico, sem forma, primitivo ou incompatível com as realidades de uma socie­dade complexa. No entanto, pode-se argumentar diferentemente: que em todo estágio da história, nossa preocupação deve ser desmantelar as formas de autoridade e opressão, que sobrevivem de uma época que podem ter sido justificadas pelas necessidades de segurança, sobrevivência ou desenvolvimento económico, mas que agora contribuem para - ao invés de aliviar - a deficiência cultural e material. Neste caso, não existirá doutrina de mudança social fixa no presente e no futuro, nem mesmo, necessariamente, um conceito imutável e específico dos objetivos que a mudança social deva visar. Certamente, nossa compreensão da natureza do homem ou das possibilidades de modelos sociais viáveis é tão rudimentar, que qualquer doutrina de longo alcance deve ser tratada com grande ceticismo, exatamente como nos tornamos céticos quando ouvimos que "a natureza humana" ou "as exigên­cias de eficiência" ou "a complexidade da vida moderna" exigem essa ou aquela forma de opressão e regra autocrática.
Contudo, num momento específico, justifica-se plenamente o desenvolvimento, na medida em que nosso entendimento permita, de uma realização específica dessa tendência definida, no desenvolvimento histórico humano, e que seja apropriada às tare­fas do momento. Para Rocker, "o problema que é colocado para nossa época é o de libertar o homem da desgraça da exploração económica e da escravização social e política"; e o método, não é a conquista e o exercício do poder do Estado, nem a ridicula-rização do parlamentarismo, mas, mais propriamente, "reconstruir a vida económica das pessoas de baixo pra cima e desenvolvê-la no espírito do socialismo".
A liberdade não é um conceito abstraio e filosófico, mas a possibilidade concreta essencial para todo ser humano levar ao completo desenvolvimento todas as faculdades, capa­cidades e talentos com os quais a natureza o dotou, e con­vertê-los em valor social. Quanto menos esse desenvolvi­mento natural do homem for influenciado pela proteção política ou eclesiástica, mais eficiente e harmoniosa se tor­nará a personalidade humana, mais ela se tornará a exten­são da cultura intelectual da sociedade que foi desen­volvida.3
Pode-se perguntar qual é o valor de se estudar uma "tendên­cia definida do desenvolvimento histórico humano" que não articula uma teoria social detalhada e específica. De fato, muitos críticos desconsideram o anarquismo por o acharem utópico, sem forma, primitivo ou incompatível com as realidades de uma socie­dade complexa. No entanto, pode-se argumentar diferentemente: que em todo estágio da história, nossa preocupação deve ser desmantelar as formas de autoridade e opressão, que sobrevivem de uma época que podem ter sido justificadas pelas necessidades de segurança, sobrevivência ou desenvolvimento económico, mas que agora contribuem para - ao invés de aliviar - a deficiência cultural e material. Neste caso, não existirá doutrina de mudança social fixa no presente e no futuro, nem mesmo, necessariamente, um conceito imutável e específico dos objetivos que a mudança social deva visar. Certamente, nossa compreensão da natureza do homem ou das possibilidades de modelos sociais viáveis é tão rudimentar, que qualquer doutrina de longo alcance deve ser tratada com grande ceticismo, exatamente como nos tornamos céticos quando ouvimos que "a natureza humana" ou "as exigên­cias de eficiência" ou "a complexidade da vida moderna" exigem essa ou aquela forma de opressão e regra autocrática.
Contudo, num momento específico, justifica-se plenamente o desenvolvimento, na medida em que nosso entendimento per mita, de uma realização específica dessa tendência definida, no desenvolvimento histórico humano, e que seja apropriada às tare­fas do momento. Para Rocker, "o problema que é colocado para nossa época é o de libertar o homem da desgraça da exploração económica e da escravização social e política"; e o método, não é a conquista e o exercício do poder do Estado, nem a ridicula' rização do parlamentarismo, mas, mais propriamente, "reconstruir a vida económica das pessoas de baixo pra cima e desenvolvê-la no espírito do socialismo".
Mas apenas os próprios produtores estão preparados para essa tarefa, visto que são os únicos elementos de criação de valor na sociedade em que um. novo futuro pode surgir. Deve ser deles a tarefa de libertar o trabalho de todOs os grilhões que a exploração económica o colocou, de libertar a sociedade de todas as instituições e processos de poder político, e de abrir caminho para uma aliança de grupos livres, de homens e mulheres, baseados em trabalho cooperativo e administração planejada dos assuntos de interesse da comunidade. Preparar as massas trabalhadoras na cidade e no país para esse grande objetivo e aglutiná-las com uma força militante é o objetivo do anarco-sindi-calismo moderno, e nele, todo seu propósito está deposi­tado, [p. 108]
Como socialista, Rocker tomaria por certo "que a libertação séria, final e completa dos trabalhadores é possível apenas sob uma condição: a da apropriação do capital, ou seja, da matéria-prima e de todas as ferramentas de trabalho, incluindo a terra, por todos os trabalhadores".4 Como um anarco-sindicalista, ele insiste, além disso, que as organizações de trabalhadores devem criar "não só as ideias, mas também os fatos do seu próprio futuro" no período pré-revolucionário, que elas personifiquem em si mes­mas a estrutura da sociedade futura - e ele espera por uma revo lução social que irá desmantelar o aparato de Estado assim como expropriar os expropriadores. "O que nós colocamos no lugar do governo é a organização industrial."
Os anarco-sindicalistas estão convencidos de que uma ordem económica socialista não pode ser criada pelos de­cretos e estatutos de um governo, mas apenas pela colabo­ração solidária dos trabalhadores com mão e inteligência em cada ramo especial da produção; ou seja, através da tomada de controle da gestão de todas as fábricas pelos próprios produtores e de forma que os grupos independentes, fábricas e ramos da indústria, sejam membros independentes do organismo económico geral e sistematicamente man­tenham a produção e a distribuição de produtos de acordo com o interesse da comunidade nas bases dos acordos mú­tuos livres, [p. 94]
Rocker estava escrevendo num momento em que tais ideias tinham sido colocadas em prática de maneira espetacular na Revo­lução Espanhola. Pouco antes da eclosão da revolução, o econo­mista anarco-sindicalista Diego Abad de Santillán escreveu:
(...) ao enfrentar o problema da transformação social, a Revolução não pode considerar o Estado como um meio, e deve depender da organização dos produtores.
Nós temos seguido esse modelo e não vemos necessidade para a hipótese de um poder superior ao trabalho organizado, com a finalidade de estabelecer uma nova ordem das coisas. Nós agradeceríamos qualquer um que nos apontasse qual função, caso haja, o Estado pode ter numa organização eco­nómica, onde a propriedade privada foi abolida e na qual o parasitismo e o privilégio especial não têm lugar. A supressão do Estado não pode ser algo lento; deve ser a tarefa da Revo­lução acabar com o Estado. Ou a Revolução dá prosperidade social aos produtores, no caso dos produtores se organizarem para a distribuição coletiva adequada, e, assim, o Estado não tem nada a fazer; ou a Revolução não dá prosperidade social aos produtores, e nesse caso a Revolução terá sido uma mentira, e o Estado continuaria.
Nosso conselho federal de economia não é um poder político mas um poder regulador administrativo e econó­mico. Ele recebe sua orientação de baixo e opera de acordo com as resoluções das assembleias regionais e nacionais. Ele é um corpo conectado e nada mais.5
Engels, numa carta de 1883, expressou sua divergência com essa concepção, como segue:
Os anarquistas colocam as coisas de ponta cabeça. Eles declaram que a revolução proletária deve começar acabando com a organização política do Estado (...). Mas destruí-ío num certo momento, seria destruir o único organismo atra­vés do qual o vitorioso proletariado pode afirmar seu poder recentemente conquistado, conter seus adversários capita­listas, e colocar em prática a revolução económica da socie­dade sem a qual toda a vitória deverá terminar numa nova derrota e um massacre em massa dos trabalhadores, similar àqueles acontecidos após a Comuna de Paris.6
Em contraste, os anarquistas - e com mais eloquência Ba-kunin - advertiram sobre os perigos da "burocracia vermelha", que provaria ser "a mentira mais vil e terrível que o nosso século criou."7 O anarco-sindicalista Fernand Pelloutier perguntou: 'Até o Estado transitório, ao qual nós temos que nos submeter, deve necessária e fatalmente ser uma prisão coletiva? Ele não pode consistir numa organização livre, limitada exclusivamente pelas necessidades de produção e consumo, uma vez que todas as insti­tuições políticas desapareceram?"8
Eu não tenho a pretensão de saber as respostas para essa questão. Mas parece claro que, a menos que exista, de alguma forma, uma resposta positiva, as chances para uma revolução verdadeiramente democrática, que irá alcançar os ideais huma­nistas da esquerda, não são grandes. Martin Buber colocou o pro­blema de forma sucinta quando escreveu: "Ninguém pode esperar, pela natureza das coisas, que uma pequena árvore que foi trans­formada em um bastão, produza folhas."9 A questão da conquista ou da destruição do poder do Estado é o que Bakunin julgou como o ponto fundamental que o separava de Marx.10 De uma forma ou de outra, o problema surgiu repetidamente no século passado, separando os socialistas "autoritários" dos "libertários". Apesar dos avisos de Bakunin sobre a burocracia vermelha e de sua realização sob a ditadura de Stalin, seria obviamente um grande erro na interpretação dos debates de um século atrás, apoiar-se nas reivindicações dos movimentos sociais contempo­râneos, assim como em suas origens históricas. Em particular, é perverso considerar o bolchevismo como "o marxismo na prática". A crítica da esquerda ao bolchevismo, levando em conta as cir­cunstâncias históricas que envolviam a Revolução Russa, é muito mais relevante.11
O movimento operário de esquerda, antibolchevique, opôs-se aos leninistas, porque eles não foram muito longe na exploração das revoltas russas para fins estritamente proletários. Eles se tornaram prisioneiros de seu ambiente e usaram o movimento radical internacional para satisfazer necessidades especificamente russas, o que logo se tornou sinónimo das necessidades do Partido-Estado bolchevique. Os aspectos burgueses da Revolução Russa foram desco­bertos agora no próprio bolchevismo: o leninismo foi conde­nado como sendo parte da social-democracia internacional, diferindo desta, apenas nas questões táticas.12
Se buscarmos uma única ideia principal dentro da tradição anarquista, eu acredito que deva ser aquela expressa por Bakunin quando, escrevendo sobre a Comuna de Paris, identificou-se dessa forma:
Eu sou um amante fanático da liberdade, considerando-a a única condição sob a qual a inteligência, a dignidade e a felicidade humana podem se desenvolver e crescer; não a liberdade formal puramente concedida, proporcionada e regulada pelo Estado, uma mentira eterna que na realidade nada mais representa do que o privilégio de alguns, fundado na escravidão dos demais; não a liberdade fictícia, desgas­tada, egoísta e individualista exaltada pela Escola de J.-J. Rousseau e outras escolas do liberalismo burguês, que consi­deram os desejados direitos de todos os homens, represen­tados pelo Estado, que limita os direitos de cada um — uma ideia que conduz inevitavelmente à redução dos direitos de cada um a zero. Não, eu quero dizer, o único tipo de liberdade que é digno do nome, a liberdade que consiste no completo desenvolvimento de todas as faculdades morais, intelectuais e materiais que estão latentes em cada pessoa; liberdade que não reconhece outras restrições além daquelas determi­nadas pelas leis de nossa própria natureza individual, que não podem ser consideradas propriamente como restrições, visto que essas leis não são impostas por algum legislador que está de fora, próximo ou acima de nós, mas são intrín­secas e inerentes, formando a base real de nossa existência moral, intelectual e material — elas não nos limitam, mas são as condições imediatas e reais de nossa liberdade.13
Essas ideias vieram do Iluminismo; suas origens estão no Discurso sobre a Desigualdade de Rousseau, no Limites da Ação do Estado de Humboldt, na insistência de Kant, em sua defesa da Revolução Francesa, de que a liberdade é o pré-requisito para alcançar a maturidade para a liberdade, não um presente a ser dado quando certa maturidade é alcançada. Com o desenvolvi­mento desse novo e inesperado sistema de injustiça que é o capitalismo industrial, foi o socialismo libertário que preservou e estendeu a mensagem humanista radical do Iluminismo e os ideais clássicos liberais, que acabaram deturpados numa ideologia para sustentar a ordem social emergente. De fato, se nos basearmos nas mesmas suposições que levaram o liberalismo clássico a se opor à intervenção do Estado na vida social, as relações sociais capitalistas também são intoleráveis. Isso é claro, por exemplo, no trabalho clássico de Humboldt, Os Limites da Ação do Estado, que antecipou e talvez tenha inspirado John Stuart Mill. Esse clássico do pensamento liberal, terminado em 1792, é, em sua essência, profundamente, ainda que prematuramente, anticapi-talista. Suas ideias devem ser entendidas além do fato de terem sido convertidas numa ideologia do capitalismo industrial.
A visão de Humboldt de uma sociedade na qual os grilhões sociais são substituídos por laços sociais e o trabalho é livremente empreendido, inspira o jovem Marx, com sua discussão da "alie­nação do trabalho, quando o trabalho é externo ao trabalhador (...) não é parte de sua natureza (...) [então] ele não se satisfaz em seu trabalho, mas nega a si mesmo (...) [e é] fisicamente consumido e mentalmente rebaixado", trabalho alienado que "lança alguns trabalhadores de volta a um tipo bárbaro de trabalho e transforma outros em máquinas", privando, dessa forma, o homem de suas "características de espécie" da "atividade consciente livre" e da "vida produtiva". Similarmente, Marx concebe "um novo tipo de ser humano que precisa de seu com­panheiro (...). [A associação dos trabalhadores se torna] o esforço construtivo real para criar a estrutura social de futuras relações humanas".14 É verdade que o pensamento clássico liberal é oposto à intervenção do Estado na vida social, como uma consequência de profundas suposições sobre a necessidade humana de liberdade, diversidade, e livre associação. Nas mesmas suposi­ções, as relações capitalistas de produção, trabalho assalariado, competitividade, a ideologia de "individualismo possessivo" - todas devem ser consideradas como fundamentalmente anti-humanas.
O socialismo libertário deve ser propriamente considerado como o herdeiro dos ideais liberais do Iluminismo.
Rudolf Rocker descreve o anarquismo moderno como "a confluência das duas grandes correntes que, durante e desde a Revolução Francesa, encontraram certa expressão característica na vida intelectual da Europa: o Socialismo e o Liberalismo". Os ideais liberais clássicos, argumenta ele, foram destruídos nas realidades dos modelos económicos capitalistas. O anarquismo é necessariamente anticapitalista e se "opõe à exploração do ho­mem pelo homem". Mas o anarquismo também se opõe à "domi­nação do homem sobre o homem". Ele insiste ainda que "o socia­lismo será livre ou ele nunca o será. No reconhecimento disso, sustenta-se a justificativa profunda e genuína para a existência do anarquismo".15 Desse ponto de vista, o anarquismo deve ser considerado como a tendência libertária do socialismo. Ê nesse espírito que Daniel Guérin chegou ao estudo do anarquismo em Anarquismo e outros trabalhos.16 Guérin cita Adolph Fischer, que disse que "todo anarquista é um socialista, mas nem todo socia­lista é necessariamente um anarquista". De maneira semelhante, Bakunin, no seu "manifesto anarquista" de 1865, o programa de sua fraternidade revolucionária internacional planejada, afirmou o princípio de que cada membro deveria ser, para começar, um socialista.
Um anarquista coerente deve se opor à propriedade privada dos meios de produção e à escravidão pelo salário, um com­ponente desse sistema que é incompatível com o princípio de que o trabalho deve ser livremente empreendido e estar sob o controle dos produtores. Como disse Marx, os socialistas esperam por uma sociedade na qual o trabalho irá "se tornar não apenas um meio de vida, mas também o maior desejo na vida",17 uma impossibi­lidade quando o trabalhador é dirigido por uma autoridade ou necessidade externa, ao invés de um impulso interior: "nenhuma estrutura de trabalho assalariado, mesmo aquelas que possam ser menos detestáveis que outras, podem terminar com a miséria do trabalho assalariado".18 Um anarquista coerente deve se opor não somente ao trabalho alienado, mas também à espantosa espe­cialização do trabalho que toma lugar quando os meios para se desenvolver a produção
mutilara o trabalhador num fragmento de ser humano, degradam-no, fazendo com que se torne um mero acessório da máquina, fazem de seu trabalho tamanho tormento, que seu significado essencial é destruído; alienam dele as poten-cialidades intelectuais do processo de trabalho em proporção real, até que a ciência seja incorporada nele como um poder independente (...)-19
Marx viu isso não como uma concomitância inevitável da industrialização, mas como uma característica das relações capi­talistas de produção. A sociedade do futuro deve estar preocupada em "substituir o trabalhador de hoje; que faz somente parte do trabalho (...) reduzido a um mero fragmento de homem, pelo indi­víduo completamente desenvolvido, adaptado a uma variedade de trabalhos (...) a quem as diferentes funções sociais (...) são então muitos modos de dar livre extensão às suas próprias faculdades naturais".20 O pré-requisito é a abolição do capital e do trabalho assalariado como categorias sociais (sem falar dos exércitos indus­triais do "Estado operário" ou das várias formas modernas de tota­litarismo desde o nascimento do capitalismo). A redução do ho­mem a um acessório de máquina, uma ferramenta especializada de produção, pode, em princípio, ser superada, ao invés de ser acen­tuada, com o desenvolvimento próprio e uso da tecnologia, mas não sob as condições de controle autocrático da produção por aqueles que fazem do homem um instrumento para servir a seus fins, tendo em vista seus propósitos individuais, na frase de Humboldt.
Os anarco-sindicalístas procuraram, mesmo sob o capita­lismo, criar "livres associações de livres produtores" que se engaja­riam na luta militante e se preparariam para tomar a organização da produção em bases democráticas. Essas associações serviriam como "uma escola prática do anarquismo".21 Se a propriedade privada dos meios de produção for, como na frase de Proudhon frequentemente citada, meramente uma forma de "roubo" - "a exploração dos fracos pelos fortes"22 - o controle da produção por uma burocracia de Estado, independente de quão benevolentes sejam suas intenções, também não cria as condições sob as quais o trabalho, manual e intelectual, pode se tornar o desejo mais elevado na vida. Ambos, então, devem ser superados.
Em seu ataque ao direito de controle burocrático ou privado dos meios de produção, o anarquista toma em sua defesa aqueles que lutam para trazer "a terceira e última fase emancipatória da história"; a primeira fazendo dos escravos, servos; a segunda tendo feito dos servos, assalariados; e a terceira que abole o proletariado num ato final de libertação que coloca o controle da economia nas mãos das associações livres e voluntárias de produtores (Fou-rier, 1848).23 O perigo iminente para a "civilização" foi mencio­nado por Tocqueville, também em 1848:
Enquanto o direito de propriedade era a origem e o prin­cípio fundamental de muitos outros direitos, era facilmente defendido - ou pelo menos, não era atacado; ele era então a fortaleza da sociedade enquanto todos os outros direitos eram sua força; ele não suportou o ímpeto do ataque e, de fato, não houve um esforço sério para atacá-lo. Mas hoje, quando o direito de propriedade é considerado como o último resíduo ainda não destruído do mundo aristocrático, quando ele por si só é "deixado de pé", o único privilégio numa sociedade igualitária, ele é um problema diferente. Considere o que está acontecendo nos corações das classes trabalhadoras, embora eu admita que eles estejam calmos no momento. É verdade que eles estão menos exaltados do que antigamente, por paixões políticas propriamente fa­lando; mas você não vê que as paixões deles, longe de serem políticas, se tornaram sociais? Você não vê que, pouco a pouco, as ideias e opiniões estão se espalhando entre eles, que almejam não apenas a remoção dessas ou daquelas leis, como um ministro ou um governo, mas almejam romper os verdadeiros princípios da sociedade?24
Os trabalhadores de Paris, em 1871, quebraram o silêncio e instauraram um processo
para abolir a propriedade, o princípio de toda a civilização! Sim, cavalheiro, a Comuna pretendia acabar com aquela propriedade de classe que faz do trabalho de muitos, a riqueza de poucos. Ela tinha a intenção de expropriar os expropria-dores. Queria fazer da propriedade individual uma verdade, pela transformação dos meios de produção, da terra e do capital, hoje meios de escravização e exploração do trabalho, em meros instrumentos do trabalho livre e associado.25
A Comuna, é claro, foi afogada no sangue. A natureza da "civilização", que os trabalhadores de Paris procuraram superar em seu ataque aos "os princípios fundamentais da sociedade", foi revelada, mais uma vez, quando as tropas do governo de Versalhes recuperaram Paris de seu povo. Como Marx escreveu, amarga­mente, mas de forma correia:
A civilização e a justiça da ordem burguesa aparecem em sua luz tenebrosa quando os escravos e servos daquela ordem se levantam contra seus mestres. Então, essa civili­zação e justiça se sustentam com uma clara selvageria e vingança sem lei (...) as proezas infernais dos militares refletem o espírito inato daquela civilização, da qual eles são defensores mercenários (...). A burguesia de todo o mundo, que observa complacentemente o massacre indis­criminado depois da batalha, é agitada pelo horror da des­truição de tijolos e cimento. [Ibid., pp. 74,77]
Apesar da violenta destruição da Comuna, Bakunin escre­veu que Paris abre uma nova era, "aquela da definitiva e completa emancipação das massas populares e sua futura e legítima solida­riedade, através e apesar dos limites do Estado (...) a próxima revolução do homem, internacional em solidariedade, será a res­surreição de Paris" - uma revolução que o mundo ainda espera.
O anarquista coerente, então, deve ser um socialista, mas um socialista de um tipo particular. Ele não irá apenas se opor ao trabalho alienado e especializado e esperar pela apropriação do capital por todo o corpo de trabalhadores, mas irá também insistir para que essa apropriação seja direta, não exercida por alguma força da elite agindo em nome do proletariado. Ele irá, em síntese, se opor
à organização da produção pelo governo. Isso significa socia­lismo de Estado, o comando dos oficiais do Estado sobre a produção e o comando dos gestores, cientistas, oficiais (...). O objetivo da classe trabalhadora é a libertação da explora­ção. Esse objetivo não é atingido e não pode ser atingido por uma nova classe de gestores e governantes que seja subs­tituta da burguesia. Ele é realizado apenas pelos próprios trabalhadores tendo controle sobre a produção.
Essas observações foram tiradas das Cinco Teses sobre a Luta de Classes do marxista de esquerda Anton Pannekoek, um dos notáveis teóricos da esquerda do movimento comunista conse-Ihista. E, de fato, o marxismo radical funde-se com as correntes anarquistas.
Como outra ilustração, considere a seguinte caracterização de "socialismo revolucionário":
O socialista revolucionário nega que a propriedade esta­tal possa acabar em algo diferente do que um despotismo burocrático. Nós temos visto porque o Estado não pode con­trolar a indústria de forma democrática. A indústria somente pode ser democrática e controlada pelos trabalhadores, elegendo comissões administrativas industriais diretamente das suas próprias fileiras. O socialismo será fundamen­talmente um sistema industrial; seus elementos serão de caráter industrial. Neste caso, aqueles que mantêm as ati-vidades sociais e indústrias da sociedade serão diretamente representados nos conselhos locais e centrais da adminis­tração social. Desse modo, os poderes desses delegados irão partir daqueles que mantêm o trabalho e que estão familiari­zados com as necessidades da comunidade. Quando a comis­são industrial administrativa central se encontrar, ela irá representar todos os aspectos da atividade social. Conse-qúentemente, o Estado politicamente capitalista ou geográ­fico será substituído pela comissão administrativa industrial do socialismo. A transição de um sistema social para o outro, será a revolução social. O Estado político, por toda a história, significou o governo dos homens pelas classes dominantes; a República do Socialismo será o governo da indústria, administrada em favor de toda a comunidade. O passado significou a sujeição política e económica de muitos; o futuro significará a liberdade económica de todos - será, portanto, uma verdadeira democracia.
Essa declaração programática aparece no livro O Estado, suas Origens e Funções de Willian Paul, escrito já em 1917 - um pouco antes de O Estado e a Revolução de Lenin, talvez sua obra mais libertária (ver nota 10). Paul era um membro do Partido Operário Socialista Marxista-De Leonista e mais tarde um dos fun­dadores do Partido Comunista Britânico.26 Sua crítica ao socia­lismo de Estado assemelha-se à doutrina libertária dos anarquistas em seu princípio de que a propriedade e a gestão do Estado leva rão ao despotismo burocrático e que a revolução social deve subs­tituí-las pela organização industrial da sociedade com o controle direto dos trabalhadores. Muitas declarações semelhantes podem ser citadas.
O que é muito mais importante é que essas ideias foram realizadas em ações revolucionárias espontâneas, por exemplo, na Alemanha e na Itália depois da Primeira Guerra Mundial e na Espanha (não apenas no interior agrícola, mas também na Bar­celona industrial) em 1936. Pode-se dizer que alguma forma de comunismo de conselhos seja a forma natural de socialismo revo­lucionário numa sociedade industrial. Ela reflete a compreensão intuitiva de que a democracia é seriamente limitada quando o sistema industrial é controlado por alguma forma de elite auto­crática, ou de proprietários, gestores e tecnocratas, um partido de "vanguarda", ou uma burocracia de Estado. Sob essas condi­ções de dominação autoritária, os ideais clássicos libertários de­senvolvidos por Marx e Bakunin, e todos os verdadeiros ideais revolucionários, não podem ser realizados; o homem não será livre para desenvolver suas próprias potencialidades em sua ínte­gra, e o produtor continuará "um fragmento de ser humano", degradado, uma ferramenta no processo produtivo dirigido de cima para baixo.
A expressão "ações revolucionárias espontâneas" pode ser enganosa. Os anarco-sindicalistas, ao menos, tomaram muito seriamente a observação de Bakunin de que a organização dos trabalhadores deve criar "não somente as ideias, mas também os fatos do próprio futuro" no período pré-revolucionário. As reali­zações da revolução popular na Espanha, em particular, foram baseadas no esforço paciente de muitos anos de organização e educação, um componente de longa tradição de comprometi­mento e militância. As deliberações do Congresso de Madri de junho de 1931 e do Congresso de Zaragoza em maio de 1936 pre­nunciaram, de muitas maneiras, as ações da revolução, como fizeram algumas ideias diferentes esboçadas por Santillán (ver nota 5) em seu relato muito específico da organização económica e social a ser instituída pela revolução. Guérin diz que "a revo­lução espanhola estava relativamente madura nas mentes dos pensadores libertários, assim como na consciência popular." E organizações de trabalhadores existiram com estrutura, experiên­cia e entendimento para empreender a tarefa de reconstrução social quando, com o triunfo de Franco, o turbilhão do início de 1936 explodiu na revolução social. Em sua introdução para uma coletânea de documentos sobre a coletivização na Espanha, o anar­quista Augustin Souchy escreve:
Por muitos anos, os anarquistas e sindicalistas da Espa­nha consideraram como sua principal tarefa, a transformação social da sociedade. Nas assembleias de seus sindicatos e grupos, em seus periódicos, suas brochuras e livros, o pro­blema da revolução social foi discutido incessantemente e de forma sistemática.27
Tudo isso está por trás das realizações espontâneas, do tra­balho construtivo da Revolução Espanhola.
As ideias do socialismo libertário, no sentido descrito, foram submersas nas sociedades industriais do último meio século. As ideologias dominantes foram aquelas do socialismo de Estado ou do capitalismo de Estado (de caráter cada vez mais militarizado nos Estados Unidos, por razões claras).28 Mas tem havido um res­surgimento de interesse nos últimos anos. As teses que eu citei de Anton Pannekoek foram tiradas de um panfleto recente de um grupo radical de trabalhadores franceses (Informations et Corres-pondance Ouvrière).
As observações de William Paul sobre o socialismo revolu­cionário são citadas num panfleto feito por Walter Kendall, distri­buído na Conferência Nacional sobre o Controle Operário em Sheffield, Inglaterra, em março de 1969. O movimento pelo con trole operário se tornou uma força significativa na Inglaterra nos últimos anos. Organizou várias conferências e produziu uma subs­tancial literatura de panfleto, e conta, entre seus membros ativos, com representantes de alguns dos mais importantes sindicatos. O Sindicato dos Engenheiros Associados e o Sindicato dos Tra­balhadores de Fundição, por exemplo, adotaram, como política oficial, o programa de nacionalização das indústrias básicas sob "controle operário em todos os níveis."29 No Continente, há de­senvolvimentos similares. Maio de 1968, naturalmente, acelerou o crescente interesse no comunismo conselhista e ideias afins, na França e Alemanha, assim como na Inglaterra.
Dado o alto aspecto conservador de nossa sociedade alta­mente ideológica, não é muito surpreendente que os Estados Uni­dos não tenham tido muito contato com esses desenvolvimentos. Mas isso também pode mudar. O desgaste da mitologia da guerra fria, pelo menos torna possível levantar essas questões em círculos relativamente amplos. Se a presente onda de repressão puder ser afastada, se a esquerda puder superar suas tendências mais sui­cidas e basear-se no que tem sido realizado na última década, então, o problema de corno organizar a sociedade industrial sobre linhas verdadeiramente democráticas, com controle democrático nos locais de trabalho e na comunidade, deve se tornar uma ques­tão intelectual dominante para aqueles que são sensíveis aos pro­blemas da sociedade contemporânea, e, à medida que um movi­mento de massa pelo socialismo libertário se desenvolver, a especulação deve voltar-se para a ação.
Em seu manifesto de 1865, Bakunin previu que um ele­mento na revolução social iria ser "aquela excelente e inteligente parte da juventude que, apesar de pertencer, pelo nascimento, às classes privilegiadas, em suas generosas convicções e suas ar­dentes aspirações, adota a causa do povo." Talvez na origem do movimento estudantil da década de 1960 pode-se ver passos em direção à realização dessa previsão.
Daniel Guérin ocupou-se com o que ele descreveu como um "processo de reabilitação" do anarquismo. Ele discute, convin­centemente, acredito eu, que "as ideias construtivas do anar­quismo conservam sua vitalidade, que elas podem, quando revis­tas e analisadas cuidadosamente, ajudar o pensamento socialista contemporâneo a tentar um novo começo (...) [e] contribuir para enriquecer o marxismo".30 Das "costas largas" do anarquismo, ele selecionou para uma análise mais intensa, aquelas ideias e ações que podem ser descritas como socialistas libertárias. Isso é natural e correto. Essa tendência conta com os maiores porta-vozes do anarquismo, assim como as ações de massa que foram inspiradas por ideais e sentimentos anarquistas. Guérin está inte­ressado não apenas no pensamento anarquista mas também nas ações espontâneas das lutas revolucionárias populares. Ele está interessado na criatividade social, assim como na intelectual. Além disso, ele procura o caminho das realizações construtivas das lições do passado que irão enriquecer a teoria da libertação social. Para aqueles que desejam não apenas entender o mundo, mas também mudá-lo, esse é o modo adequado para estudar a história do anarquismo.
Guérin descreve o anarquismo do século XIX como essen­cialmente doutrinal, enquanto o século XX, para os anarquistas, foi um momento de "prática revolucionária".31 Anarquismo reflete esse pensamento. Sua interpretação do anarquismo consciente -mente aponta em direção ao futuro. Arthur Rosenberg uma vez comentou que as revoluções populares buscam caracteristicamente substituir "uma autoridade centralizada ou feudal que dirige pela força" por alguma forma de sistema de comunas que "signifique a destruição e o desaparecimento da velha forma de Estado". Esse sistema será socialista ou uma "forma extrema de democracia... [que é] a condição preliminar para o socialismo, visto que o socia­lismo pode apenas ser realizado num mundo desfrutando da maior extensão possível de liberdade individual". Esse ideal, ele comenta, era comum a Marx e aos anarquistas.32 Essa luta natural por libertação vai contra a tendência predominante da centrali­zação na vida económica e política.
Um século atrás, Marx escreveu que os trabalhadores de Paris "sentiram que existia somente uma alternativa - a Comuna, ou o império - sob qualquer nome que ela pudesse reaparecer".
O império arruinou-os economicamente pela destruição que fez da prosperidade pública, pela fraude financeira indiscriminada na qual se sustentou, pelos apoios que deu para a centralização de capital acelerada artificialmente, e a expropriação concomitante de suas próprias fileiras. Ele os reprimiu politicamente, chocou-os moralmente com suas orgias, insultou seu voltairianismo cedenc.o a educação de suas crianças aosfrères ignorantins, revoltou seu sentimento nacional como franceses jogando-os, de forma apressada, numa guerra que deixou apenas um equivalente para as ruínas que fez - o desaparecimento do império.33
O miserável Segundo Império "era a única forma de governo possível numa época em que a burguesia já tinha perdido, e a classe trabalhadora ainda não tinha adquirido, a capacidade de controlar a nação".
Não é muito difícil reformular novamente essas observações para que elas se tornem apropriadas aos sistemas imperiais da década de 1970. O problema de "libertar o homem da desgraça da exploração económica e da escravização social e política" per­manece o problema do nosso tempo. Enquanto isso durar, as doutrinas e a práticas revolucionárias do socialismo libertário servirão como inspiração e guia.

Notas:
1 Octave Mirbeau, citado em James Joll, The Anarchists, pp. 145-6.
2 O livro de Daniel Guérin Anarchism: From Theory to Practice [Anarquismo: daTeoria à Prática] foi publicado originalmente em 1965 pela editora francesaGallimard. A editora Monthly Review Press publicou o livro nos EUA em 1970quando foi incluído o texto de Chomsky como prefácio. No Brasil, a editoraGerminal publicou uma edição do livro em português em 1968. (N.E.)
3 Rudolf Rocker, Anarchosyndicalism, p. 31.
4 Citado por Rocker, ibid., p. 77. Essa citação e aquela na próxima frase são deMíkhail Bakunin, "The Program of the Alliance" in Sam Dolgoff, ed. and trans.,Bakunin on Anarchy, p. 255.
5 Diego Abad de Santillan, After the Revolution, p. 86. No último capítulo, escritoalguns meses depois da revolução ter começado, ele expressa sua insatisfação como que foi realizado ao longo dessas linhas. Sobre as conclusões da revolução socialna Espanha, ver meu American Power and the New Mandarins, capítulo l, e asreferências lá citadas — o importante estudo feito por Broué e Témime foi desdeentão traduzido para o inglês. Alguns outros importantes estudos apareceram desdeentão, em particular: Frank Mintz, EAutogestion dans 1'Espagne révolutiarmaire (Paris:Editions Bélibaste, 1971); César M. Lorenzo, Lês Anarchistes espagnols et lê pouvoir,1868-1969 (Paris: Editions du Seuil, 1969); Gaston Levai, Espagne libertaire, 1936-1939: LOeuvre constructive de Ia Revolution espagnole (Paris: Editions du Cercle,1971). Ver também Vernon Richards, Lessons of the Spanish Revolution na ediçãoampliada de 1972.
6 Citado por Robert C. Tucker, The Marxian Revolutionary lata, em sua discussãosobre marxismo e anarquismo.
7 Bakunin, numa carta para Herzen e Ogareff, 1866. Citado por Daniel Guérin,Jeunesse du soáalisme libertaire, p. 119.
8 Fernand Pelloutier, citado em Joll, Anarchists. A fonte é UAnarchisme et lês syndicatsouvriers, Lês Temps nouveaux, 1895. O texto completo aparece em Daniel Guérin,Ni Dieu, ni Maitre, uma excelente antologia histórica do anarquismo.
9 Martin Buber, Paths in Utopia, p. 127.
10 "Sem Estado, por mais democrático que seja," escreveu Bakunin, "nem mesmoa república mais vermelha — pode dar ao povo o que ele realmente quer, isto é: alivre auto-organização e administração de seus próprios negócios de baixo paracima, sem qualquer interferência ou violência vindas de cima, porque todo Estado,mesmo o pseudo Estado Popular forjado pelo Sr. Marx, é, na essência, apenas umamáquina regrando as massas de cima para baixo, a partir de uma minoria privilegiada
de conceituados intelectuais, que imaginam que sabem o que o povo precisa e quer, melhor do que o próprio povo (.-.)•" "O povo, contudo, não irá se sentir melhor se o porrete com o qual está sendo surrado for chamado de 'porrete do povo'" (Statism and Anarchy [1873], in Dolgoff, Bakunin on Anarchy, p. 338) - "o porrete do povo" sendo a República democrática.
Marx, é claro, viu o problema de modo diferente.
Para a discussão do impacto da Comuna de Paris sobre essa disputa, ver os comentários de Daniel Guérin em Ni Dieu, ni Maitre; esses também aparecem, um pouco mais ampliados, em seu Pour un marxisme libertaire. Veja também a nota 25.
11 Sobre o "afastamento intelectual" de Lenin para a esquerda durante 1917, verRobert Vincent Daniels, The State and Revolution: a Case Study in the Génesis andTransformation of Communist Ideology, American Slavic and East European Revieiv,vol. 12, ml (1953).
12 Paul Mattick, Marx and Keynes, p. 295.
13 Mikhail Bakunin, La Commune de Paris et Ia notion de 1'Etat, reimpresso emGuérin, Ni Dieu, ni Maitre. A observação final de Bakunin sobre as leis da naturezado indivíduo como a condição de liberdade pode ser comparada ao pensamentocriativo desenvolvido nas tradições românticas e racionalistas. Ver meu CartesianLinguistics e Language and Mind.
14 Shlomo Avineri, The Social and Political Thought ofKarl Marx, p. 142, referindoaos comentários em A Sagrada Família. Avineri explica que dentro do movimentosocialista só o kibbutz israelense "percebeu que os modos e as formas da organizaçãosocial atual irão determinar a estrutura da sociedade futura". Isso, todavia, foiuma posição característica do anarco-sindicalismo, conforme mencionadoanteriormente.
b Rocker, Anarchosyndicalism, p. 28.
16 Ver as obras de Guérin citadas anteriormente.
17 Karl Marx, Crítica do Programa de Gotha.
18 Karl Marx, Grundrisse der Kritik der Politischen Õkonomie, citado por Mattick,Marx and Keynes, p. 306. Com relação a isso, ver também o ensaio de MattickWorkers' Control em Priscilla Long, ed., The New Left; e Avineri, Social and PoliticalThought ofMarx.
19 Karl Marx, Capital, citado por Robert Tucker, quem corretamente enfatiza queMarx vê o revolucionário mais como um "produtor frustrado" do que como um"consumidor insatisfeito" (The Marxian Revolutionary Idea). Essa crítica mais radicaldas relações de produção capitalistas é uma consequência direta do pensamentolibertário do Iluminismo.
20 Marx, Capital, citado por Avineri, Sócia! and Political Thought ofMarx, p. 83.
21 Pelloutier, EAnarchisrne.
22 O que é a propriedade? A frase "a propriedade é um roubo" desagradou Marx, queviu em seu uso um problema lógico, roubo pressupondo a existência legítima dapropriedade. Ver Avineri, Social and Political Thought of Marx.
23 Citado em Buber, Paths in Utopia, p. 19.
24 Citado em J. Hampden Jackson, Proudhon and European Socialism, p. 60.
25 Karl Marx, The Civil War in France, p. 24. Avineri observa que esse e outroscomentários de Marx sobre a Comuna se referem objetivamente a intenções eplanos. Como Marx deixou claro em outros escritos, sua avaliação ponderada eramais crítica do que nesse discurso.
26 Para algum conhecimento, ver Walter Kendall, The Revolutionary Movement inBritain.
21 Collectivisations: EOeuvre constructive de Ia Révoluúon espagnole, p. 8.
28 Para discussão, ver Mattick, Marx and Keyne, s Michael Kidron, Western CapitalismSince the War. Ver também a discussão e as referências citadas em meu At War WithÁsia, cap. l, pp. 23-26.
29 Ver Hugh Scanlon, The Way Forwardfor Workers' Contrai. Scanlon é presidentedo AEF, um dos maiores sindicatos britânicos. O instituto foi fundado comoresultado da sexta Conferência sobre o Controle Operário, de março de 1968, eserve como um centro de divulgação de informação e incentivo à pesquisa.
30 Guérin, Ni Dieu, ni Maítre, introdução.
31 Ibid.
32 Arthur Rosenberg, A History of Bohhevism, p. 88.
33 Marx, Civil War in France, pp. 62-63.


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