A Oferta Púbica de Aquisição (OPA) da Sonae à Portugal Telecom faz lembrar os tempos em que Salazar assentava o seu poder em três pilares: a Igreja, a Repressão e o Império da CUF. O velho ditador percebeu que só conseguia impor a sua tacanhez e mediocridade se tivesse do seu lado o Poder Económico e fizesse do Poder Judicial um feroz aparelho de repressão ao serviço da ditadura. A PIDE e as forças armadas e militarizadas garantiam que ninguém ousaria pôr em causa o edifício salazarista. Hoje, José Sócrates, na senda de Salazar, faz tudo para pôr de pé o Império Sonae, dando a Belmiro de Azevedo, de mão beijada, a maior empresa portuguesa. De merceeiro açambarcador, com maior ou menor habilidade para as engenharias financeiras, Belmiro passa a ser detentor daquela que já foi a jóia da coroa do sector empresarial do Estado.No primeiro dia da OPA, o principal noticiário da RTP convidou Rosado de Carvalho, um empregado de Belmiro de Azevedo, para comentar a operação. No dia seguinte, a Autoridade da Concorrência divulgava um estudo patético que dava gás às pretensões de Belmiro. Fora o árbitro, que está comprado! Ainda a poeira do estudo não nos tinha cegado de todo, já Judite de Sousa convidava o merceeiro do Continente para uma grande entrevista, na antena da RTP. Belmiro mostrou a arrogância própria de quem ostenta o título de homem mais rico de Portugal, insinuou que tem no bolso o Primeiro-Ministro, que só avançou com o negócio porque tinha garantias do Governo e ousou chamar pedintes aos accionistas de referência da PT que, na sua santa ingenuidade, proclamam que a empresa vale mais do que as cascas de alhos que o merceeiro quer dar. Puro engano de alma!A Portugal Telecom não vale 9,5 euros como quer Belmiro nem 11,5 euros como avalia a administração da empresa. A Portugal Telecom pura e simplesmente não tem preço. O ministro das Finanças de Sócrates se não sabe isto, nem sequer serve para moço de fretes de uma mercearia. Se José Sócrates não sabe que o Poder Político se comprometeu a manter o controlo estratégico da empresa nas mãos do Estado, está a trair a boa fé dos portugueses. E não venham com truques baixos alegando que a União Europeia quer acabar com as “golden share”. Porque se mudam as regras que levaram à privatização da empresa, então o Governo tem a obrigação de fazer regressar a PT ao sector empresarial do Estado, custe o que custar. Face à desgraça anunciada, os portugueses lá vão cantando e rindo a caminho da penúria absoluta. O Estado já pouco mais é do que um domador de funcionários públicos, proprietário de edifícios em ruínas, pagador de pensões de reformas e subsídios de desemprego. Os Belmiros ostenta os anéis que nos pertencem e arrotam milhões. Já é tempo de perceberemos que com o nosso silêncio e indiferença face a golpadas como a que está em curso na Portugal Telecom, somos cúmplices da morte anunciada do nosso futuro e do futuro dos nossos filhos. É tempo de nos interrogarmos porque razão a televisão do Estado está ao serviço de Belmiro de Azevedo no negócio da Portugal Telecom. E porque será que José Sócrates e o seu ministro da tutela estão a caucionar esta iniquidade sem nome.
Artur Queiroz
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