Nas discussões geradas em alguns post do Umbigo - e não estou necessariamente a referir-me aos últimos - existe uma tendência evidente para um certo maniqueísmo argumentativo, para o acentuar de clivagens entre protagonistas, metodologias de trabalho, perspectivas sobre o mundo, formas de organizar a Escola e por aí adiante. Nota-se uma tendência para apresentar “a” solução definitiva como se nos tempos que se deixam passar as coisas fossem assim tão simples como decidir se cozermos, fritamos ou grelhamos o peixe.
É que depende. Do peixe, essencialmente.
Não sou muito amigo de consensos e de soluções tipo “ponte” sobre as diferenças e agora vamos todos unir-nos num projecto comum que não choque ninguém. Isso também é meio caminho andado para estragarmos o peixe, pois ainda acabamos por fazer uma coisa tipo haute cuisine afrancesada e ficamos todos cheios de fome e com o peixe, sem espinhas, mas desperdiçado.
Só que existem temas em que não podemos tornar estanques as coisas, nem compartimentá-las em execesso.
Veja-se o caso dos métodos de ensino: não há método que eu ache universalmente válido para todas as situações. Eu tenho as minhas ideias sobre o que poderá ser globalmente mais eficaz, mas depois é necessário adaptá-lo em função dos contextos, seja da disciplina leccionada, seja do grupo de trabalho que constitui cada turma, seja ainda das características específicas de determinados alunos. Acho que é a isso que se chama Pedagogia Diferenciada, mas por vezes parece-me que quem clama por isso parece pensar estar a clamar por um método específico.
Não: a Pedagogia Diferenciada - quando ela é possível nas condições que temos para trabalhar nas Escolas - é a aplicação de modelos híbridos de ensino/aprendizagem, conforme as circunstâncias. Pode haver uma tonalidade dominante, mas não é algo monocromático.
Assim como muitos outros aspectos relacionados com a Educação não podem ser fácil ou proveitosamente separados de uma forma clara e exclusiva. Existe um continuum entre diversas opções, sendo útil a chamada contaminação entre métodos diversos ou a sua articulação em diferentes momentos.
A oposição e clivagem forçadas entre algo que é complementar só ajuda a estabelecer ruído. Parte das minhas aulas é, em muitos casos, expositiva; e outra parte é para trabalho individual ou cooperativo entre grupos de alunos; em alguns casos pode ser de “descoberta”.
Depende.
Depende por exemplo se eu estou a leccionar um conteúdo de História que considero necessário esclarecer de forma evidente, digamos, a questão da sucessão dinástica que leva à União Ibérica, ou se estou a explorar um texto dramático numa aula de Língua Portuguesa. Num caso existe uma parcela de exposição dificilmente contornável, enquanto no outro ela é praticamente irrelevante e o trabalho é completamente diferente.
Ora o que se tem passado entre nós em termos de discurso educacional é a apresentação de certas questões a preto e branco e, muito pior do que isso, a querer-se que tudo seja ou preto ou branco. Só que há uma gama de cinzentos que não se pode perder.
E quando existem facções a tentarem impor de forma generalizada a sua mundivisão e muito em particular quando detêm o poder para o fazer, apenas estão a limitar as opções de todos nós.
Fala-se muito em autonomia, em reflexividade, em capacidade crítica nas e das Escolas, mas não se praticam muito ou, para ser mais exacto, não se permite que sejam praticadas se fugirem aos esquemas do(a)s senhore(a)s do momento. Reclama-se muito por projectos inovadores - sempre inovadores! parece que é necessário estar sempre a inventar a roda e o fogo, como se tudo não passasse de uma aprendizagem sobre o passado que se projecta para o futuro com uma mais ou menos diferente recombinação de alguns elementos basilares - mas tentem lá fazer passar projectos que não estejam de acordo com a cartilha dominante?
Porque a liberdade educativa tão apregoada é, por via de regra, uma liberdade controlada a maior ou menor distância e que deve ser mantida dentro dos limites que Alguém define como razoáveis. Sendo que esses limites são normalment definidos em função das fronteiras tradicionais e simplistas entre o branco e o preto.
http://educar.wordpress.com/
É que depende. Do peixe, essencialmente.
Não sou muito amigo de consensos e de soluções tipo “ponte” sobre as diferenças e agora vamos todos unir-nos num projecto comum que não choque ninguém. Isso também é meio caminho andado para estragarmos o peixe, pois ainda acabamos por fazer uma coisa tipo haute cuisine afrancesada e ficamos todos cheios de fome e com o peixe, sem espinhas, mas desperdiçado.
Só que existem temas em que não podemos tornar estanques as coisas, nem compartimentá-las em execesso.
Veja-se o caso dos métodos de ensino: não há método que eu ache universalmente válido para todas as situações. Eu tenho as minhas ideias sobre o que poderá ser globalmente mais eficaz, mas depois é necessário adaptá-lo em função dos contextos, seja da disciplina leccionada, seja do grupo de trabalho que constitui cada turma, seja ainda das características específicas de determinados alunos. Acho que é a isso que se chama Pedagogia Diferenciada, mas por vezes parece-me que quem clama por isso parece pensar estar a clamar por um método específico.
Não: a Pedagogia Diferenciada - quando ela é possível nas condições que temos para trabalhar nas Escolas - é a aplicação de modelos híbridos de ensino/aprendizagem, conforme as circunstâncias. Pode haver uma tonalidade dominante, mas não é algo monocromático.
Assim como muitos outros aspectos relacionados com a Educação não podem ser fácil ou proveitosamente separados de uma forma clara e exclusiva. Existe um continuum entre diversas opções, sendo útil a chamada contaminação entre métodos diversos ou a sua articulação em diferentes momentos.
A oposição e clivagem forçadas entre algo que é complementar só ajuda a estabelecer ruído. Parte das minhas aulas é, em muitos casos, expositiva; e outra parte é para trabalho individual ou cooperativo entre grupos de alunos; em alguns casos pode ser de “descoberta”.
Depende.
Depende por exemplo se eu estou a leccionar um conteúdo de História que considero necessário esclarecer de forma evidente, digamos, a questão da sucessão dinástica que leva à União Ibérica, ou se estou a explorar um texto dramático numa aula de Língua Portuguesa. Num caso existe uma parcela de exposição dificilmente contornável, enquanto no outro ela é praticamente irrelevante e o trabalho é completamente diferente.
Ora o que se tem passado entre nós em termos de discurso educacional é a apresentação de certas questões a preto e branco e, muito pior do que isso, a querer-se que tudo seja ou preto ou branco. Só que há uma gama de cinzentos que não se pode perder.
E quando existem facções a tentarem impor de forma generalizada a sua mundivisão e muito em particular quando detêm o poder para o fazer, apenas estão a limitar as opções de todos nós.
Fala-se muito em autonomia, em reflexividade, em capacidade crítica nas e das Escolas, mas não se praticam muito ou, para ser mais exacto, não se permite que sejam praticadas se fugirem aos esquemas do(a)s senhore(a)s do momento. Reclama-se muito por projectos inovadores - sempre inovadores! parece que é necessário estar sempre a inventar a roda e o fogo, como se tudo não passasse de uma aprendizagem sobre o passado que se projecta para o futuro com uma mais ou menos diferente recombinação de alguns elementos basilares - mas tentem lá fazer passar projectos que não estejam de acordo com a cartilha dominante?
Porque a liberdade educativa tão apregoada é, por via de regra, uma liberdade controlada a maior ou menor distância e que deve ser mantida dentro dos limites que Alguém define como razoáveis. Sendo que esses limites são normalment definidos em função das fronteiras tradicionais e simplistas entre o branco e o preto.
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