Sendo normalmente os países frescos da Escandinávia apontados como modelos a seguir - e pelos resultados obtidos acho que sim - nada como ir pescando aqui e ali alguns depoimentos sobre a tal realidade maravilhosa que devemos seguir.
Ora o interessante, e eu já sei que eles têm padrões de exigência bem mais elevados do que os nossos mas em contrapartida não são dados a baixos níveis de auto-estima ou a hábitos de auto-flagelação pública, é que os próprios rapazes (e raparigas) altos e louros nem sempre parecem muito satisfeitos com a sua obra.
As citações que em seguida vou alinhar, sem um sentido ou uma orientação particular que não seja o facto de as achar curiosas, devem-se ao então Ministro da Educação Jorn Skovsgaard, quando participou em 1998 num ciclo de conferências no Porto cujos textos foram publicados pela Asa sob o título Autonomia, gestão e avaliação das escolas.
Os professores dinamarqueses mantêm-se na mesma escola, e não é raro que se reformem na escola onde começaram a trabalhar como recém-licenciados. Durante o período em que o declínio da taxa de nascimentos, nos anos 70, conduziu a uma diminuição do número de novos alunos nas nossas escolas, a consequência foi que muito pouco “sangue novo” entrou para o pessoal docente. Na Dinamarca, este é significativamente menos móvel do que os seus colegas, mesmo quando comparados com os países escandinavos. Até à data, os esforços feitos para estimular a mobilidade dos professores (e de outros segmentos do funcionalismo público) têm sido espantosamente infrutíferos.
Certamente que nem todos os professores são competentes nem empenhados e livrar-se dos maus professores é, por muitos pais, considerado o problema mais sério com que é confrontada a administração escolar na Dinamarca hoje em dia. O facto de não poderem fazer nada a este respeito tem causado algum desapontamento e frustração entre os membros dos conselhos escolares e essa poderá ser uma das razões pelas quais o interesse pelas eleições e pelo trabalho dos concelhos escolares declinou. Nas últimas eleições, só 20% a 25% dos pais votaram, isto no caso de ter havido eleição. em algumas regiões houve uma certa dificuldade em encontrar candidatos.
Não deixa de ser interessante como, com tantos problemas e obstáculos os níveis educacionais da Dinamarca eram dos mais elevados no final do século XX. Mas havia mais problemas por aquelas bandas do que corpos docentes estáveis com alguns profes menos bons. Deixemos o Ministro continuar:
Cada vez mais a gestão das escolas tem, em alguns municípios, sido descentralizada a ponto de, na base de cada escola, estar “um saco de dinheiro” - o tamanho do “saco” depende do número de alunos registados na escola. Sem qualquer interferência - ou interesse aparente - das autoridades locais, é deixado ao professor, ao conselho escolar e aos professores da própria escola decidir como o dirigir. Claro que isto dá aos directores escolares uma forte ilusão de autonomia, mas as escolas sob pressão ou com perda de legitimidade sofrem ao ser deixadas sozinhas e é óbvio que muitas escolas e muitos sistemas municipais são deixados sem recursos para resolver os conflitos internos.
O quê? Então a autonomia da gestão e a municipalização da Educação deram mau resultado? Não pode ser! O homem não deve saber do que fala. Mas é Ministro e na Dinamarca eles têm o hábito de escolher gente razoavelmente competente para os cargos… Se calhar até tem razão e as coisas é que correram mal. E ao que parece não foi só com a gestão escolar:
Neste processo [de descentralização] recuperámos outros problemas. problemas que, provavelmente, têm uma origem anterior á descentralização, mas agora vieram á superfície. Os conflitos entre professores são, em muitas escolas, deixados por resolver durante anos, prejudicando a necessária cooperação na organização e tornando o ensino em equipa impossível nas escolas que sofrem desta situação. Os conflitos entre professores e pais tornaram-se comuns e ainda mais difíceis de resolver. Nos exemplos mais extremos, verificámos que cada professor era deixado sozinho nas situações de confito com os pais. Durante o Outono de 1997, numa escola de um pequeno município a sul de Copenhaga, um grupo de pais deslocou-se todas as manhãs à escola, com o fim de “supervisionar” o trabalho de uma determinada professora na sala de aula. Após algumas semanas, a professora em causa sofreu um esgotamento nervoso e foi forçada a abandonar o trabalho. É óbvio que ela foi deixada sozinha. Onde estavam o director escolar e a autoridade local? E como foi possível deixar este conflito desenrolar-se na sala de aula, em frente de crianças inocentes?
Por cá já faltou muito menos para que isto se passe. Aliás não é incomum deixarem-se docentes com pouca experiência a enfrentar direcções de turma complicadas e, principalmente, a sanha persecutória em relação aos docentes desenvolvida pela aliança entre o actual ME e alguns “parceiros” não tem sido feita apenas frente a “crianças inocentes”, mas perante todo o país.
Mas talvez esta seja a faceta do paraíso escandinavo e particularmente do dinamarquês - lembremos que é também o berço da flexisegurança que o nosso primeiro parece ter descoberto e tanto adorado - que nem sempre é divulgada. Talvez porque certas soluções que agora cá se querem implementar não sejam assim tão idílicas como nos querem fazer acreditar
http://educar.wordpress.com/
Ora o interessante, e eu já sei que eles têm padrões de exigência bem mais elevados do que os nossos mas em contrapartida não são dados a baixos níveis de auto-estima ou a hábitos de auto-flagelação pública, é que os próprios rapazes (e raparigas) altos e louros nem sempre parecem muito satisfeitos com a sua obra.
As citações que em seguida vou alinhar, sem um sentido ou uma orientação particular que não seja o facto de as achar curiosas, devem-se ao então Ministro da Educação Jorn Skovsgaard, quando participou em 1998 num ciclo de conferências no Porto cujos textos foram publicados pela Asa sob o título Autonomia, gestão e avaliação das escolas.
Os professores dinamarqueses mantêm-se na mesma escola, e não é raro que se reformem na escola onde começaram a trabalhar como recém-licenciados. Durante o período em que o declínio da taxa de nascimentos, nos anos 70, conduziu a uma diminuição do número de novos alunos nas nossas escolas, a consequência foi que muito pouco “sangue novo” entrou para o pessoal docente. Na Dinamarca, este é significativamente menos móvel do que os seus colegas, mesmo quando comparados com os países escandinavos. Até à data, os esforços feitos para estimular a mobilidade dos professores (e de outros segmentos do funcionalismo público) têm sido espantosamente infrutíferos.
Certamente que nem todos os professores são competentes nem empenhados e livrar-se dos maus professores é, por muitos pais, considerado o problema mais sério com que é confrontada a administração escolar na Dinamarca hoje em dia. O facto de não poderem fazer nada a este respeito tem causado algum desapontamento e frustração entre os membros dos conselhos escolares e essa poderá ser uma das razões pelas quais o interesse pelas eleições e pelo trabalho dos concelhos escolares declinou. Nas últimas eleições, só 20% a 25% dos pais votaram, isto no caso de ter havido eleição. em algumas regiões houve uma certa dificuldade em encontrar candidatos.
Não deixa de ser interessante como, com tantos problemas e obstáculos os níveis educacionais da Dinamarca eram dos mais elevados no final do século XX. Mas havia mais problemas por aquelas bandas do que corpos docentes estáveis com alguns profes menos bons. Deixemos o Ministro continuar:
Cada vez mais a gestão das escolas tem, em alguns municípios, sido descentralizada a ponto de, na base de cada escola, estar “um saco de dinheiro” - o tamanho do “saco” depende do número de alunos registados na escola. Sem qualquer interferência - ou interesse aparente - das autoridades locais, é deixado ao professor, ao conselho escolar e aos professores da própria escola decidir como o dirigir. Claro que isto dá aos directores escolares uma forte ilusão de autonomia, mas as escolas sob pressão ou com perda de legitimidade sofrem ao ser deixadas sozinhas e é óbvio que muitas escolas e muitos sistemas municipais são deixados sem recursos para resolver os conflitos internos.
O quê? Então a autonomia da gestão e a municipalização da Educação deram mau resultado? Não pode ser! O homem não deve saber do que fala. Mas é Ministro e na Dinamarca eles têm o hábito de escolher gente razoavelmente competente para os cargos… Se calhar até tem razão e as coisas é que correram mal. E ao que parece não foi só com a gestão escolar:
Neste processo [de descentralização] recuperámos outros problemas. problemas que, provavelmente, têm uma origem anterior á descentralização, mas agora vieram á superfície. Os conflitos entre professores são, em muitas escolas, deixados por resolver durante anos, prejudicando a necessária cooperação na organização e tornando o ensino em equipa impossível nas escolas que sofrem desta situação. Os conflitos entre professores e pais tornaram-se comuns e ainda mais difíceis de resolver. Nos exemplos mais extremos, verificámos que cada professor era deixado sozinho nas situações de confito com os pais. Durante o Outono de 1997, numa escola de um pequeno município a sul de Copenhaga, um grupo de pais deslocou-se todas as manhãs à escola, com o fim de “supervisionar” o trabalho de uma determinada professora na sala de aula. Após algumas semanas, a professora em causa sofreu um esgotamento nervoso e foi forçada a abandonar o trabalho. É óbvio que ela foi deixada sozinha. Onde estavam o director escolar e a autoridade local? E como foi possível deixar este conflito desenrolar-se na sala de aula, em frente de crianças inocentes?
Por cá já faltou muito menos para que isto se passe. Aliás não é incomum deixarem-se docentes com pouca experiência a enfrentar direcções de turma complicadas e, principalmente, a sanha persecutória em relação aos docentes desenvolvida pela aliança entre o actual ME e alguns “parceiros” não tem sido feita apenas frente a “crianças inocentes”, mas perante todo o país.
Mas talvez esta seja a faceta do paraíso escandinavo e particularmente do dinamarquês - lembremos que é também o berço da flexisegurança que o nosso primeiro parece ter descoberto e tanto adorado - que nem sempre é divulgada. Talvez porque certas soluções que agora cá se querem implementar não sejam assim tão idílicas como nos querem fazer acreditar
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