Releio sempre com algum maravilhamento as justificações para alargar a monodocência ao 2º ciclo, assim como para legitimar com a melhor aregumentação psico-pedagógica a criação de um professor “generalista” até onde calhar (porque não até ao 9º ano? afinal é tudo “básico”!).
A razão que apela mais ao sentimento é a que aponta para o bem das crianças, para o que tal medida tem de benéfico para a estabilidade emocional infantil. Talvez, talvez, talvez…
Só que eu lembro-me de com 10 anos ter de ir apanhar o autocarro, mais conhecido por “Barrote Velho”, e ir para o Ciclo a uma mão-cheia de quilómetros de casa e não ter ficado assim tão traumatizado. E conhecer uma boa mão-cheia de professores até foi bem agradável. Mais que não fosse porque estava mais do que fartinho da minha professora primária da 3ª e 4ª classes, pessoa competente mas com as suas manias e arbitrariedades.
E lá ia eu e mais muitos outros, logo ali em cima do 25 de Abril quando havia mais greves que eu sei lá o quê e éramos obrigados a ir de boleia em cima das carroças de transporte de cortiça (e os 10 minutos de trajecto passavam a quase uma hora), para não falar nos abençoados “furos”, por causa da falta sistemática de colocação de professores, ideais para irmos jogar à bola como se nunca mais houvesse amanhã.
Pois, assim a modos que trauma eu não me lembro de nada. Até me lembro de ser bem feliz nessa altura. Ainda hoje recordo essa fase da minha vida escolar como uma das mais confortantes. Mas talvez fosse atípico. O problema é que consultando alguns ex-colegas ninguém se lembra muito de ficar traumatizado com isso. Já com os salários em atraso dos nossos pais (quase todos empregados em grandes empresas nacionalizadas da Margem Sul) uns anitos depois, que faziam com que mais de metade das nossas famílias andasse ao “fiado” nas mercearias (os cartões de crédito ainda eram uma miragem) e a continuação dos estudos fosse mais do que problemática (afinal no meu ano de ingresso à Faculdade fui o único sobrevivente da minha classe da primária, seguindo-se mais um par de amigos no ano seguinte).
É que tendemos a projectar na infância de hoje imagens distorcidas do passado, esquecendo mesmo que os tempos agora são outros, bem mais velozes a todos os níveis, ou então a efabular uma fragilidade infantil onde apenas existem (necessárias) fases de crescimento individual.
E já agora, se é mesmo só pelo bem das crianças, da sua estabilidade e conforto emocional e não por causa de mais nada, que tal se não arrancassem a miudagem das escolas do 1º ciclo das aldeias do interior para as levar para 20 e 30 km de distância em nome do “reordenamento” e “racionalização” da rede escolar?
Nesse caso, já não existe trauma nenhum, pois não? O problema é mesmo a transição para o 2º ciclo, isso é que é mesmo um problema do demo. Pois, está bem.
http://educar.wordpress.com/
A razão que apela mais ao sentimento é a que aponta para o bem das crianças, para o que tal medida tem de benéfico para a estabilidade emocional infantil. Talvez, talvez, talvez…
Só que eu lembro-me de com 10 anos ter de ir apanhar o autocarro, mais conhecido por “Barrote Velho”, e ir para o Ciclo a uma mão-cheia de quilómetros de casa e não ter ficado assim tão traumatizado. E conhecer uma boa mão-cheia de professores até foi bem agradável. Mais que não fosse porque estava mais do que fartinho da minha professora primária da 3ª e 4ª classes, pessoa competente mas com as suas manias e arbitrariedades.
E lá ia eu e mais muitos outros, logo ali em cima do 25 de Abril quando havia mais greves que eu sei lá o quê e éramos obrigados a ir de boleia em cima das carroças de transporte de cortiça (e os 10 minutos de trajecto passavam a quase uma hora), para não falar nos abençoados “furos”, por causa da falta sistemática de colocação de professores, ideais para irmos jogar à bola como se nunca mais houvesse amanhã.
Pois, assim a modos que trauma eu não me lembro de nada. Até me lembro de ser bem feliz nessa altura. Ainda hoje recordo essa fase da minha vida escolar como uma das mais confortantes. Mas talvez fosse atípico. O problema é que consultando alguns ex-colegas ninguém se lembra muito de ficar traumatizado com isso. Já com os salários em atraso dos nossos pais (quase todos empregados em grandes empresas nacionalizadas da Margem Sul) uns anitos depois, que faziam com que mais de metade das nossas famílias andasse ao “fiado” nas mercearias (os cartões de crédito ainda eram uma miragem) e a continuação dos estudos fosse mais do que problemática (afinal no meu ano de ingresso à Faculdade fui o único sobrevivente da minha classe da primária, seguindo-se mais um par de amigos no ano seguinte).
É que tendemos a projectar na infância de hoje imagens distorcidas do passado, esquecendo mesmo que os tempos agora são outros, bem mais velozes a todos os níveis, ou então a efabular uma fragilidade infantil onde apenas existem (necessárias) fases de crescimento individual.
E já agora, se é mesmo só pelo bem das crianças, da sua estabilidade e conforto emocional e não por causa de mais nada, que tal se não arrancassem a miudagem das escolas do 1º ciclo das aldeias do interior para as levar para 20 e 30 km de distância em nome do “reordenamento” e “racionalização” da rede escolar?
Nesse caso, já não existe trauma nenhum, pois não? O problema é mesmo a transição para o 2º ciclo, isso é que é mesmo um problema do demo. Pois, está bem.
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