sábado, janeiro 20, 2007

Uma Ideia Geral de Educação

Sou teimoso. Acho que os governantes devem ter um conhecimento moderadamente específico, no mínimo, dos assuntos de que vão tratar na governança da coisa pública. Não é preciso ser diplomata para estar no MNE, ou ser militar para ir para a Defesa, nem polícia para a Administração Interna. De onde se pode deduzir que não julgo indispensável que um professor do ensino não-superior venha um dia a ocupar a pasta da Educação, nesta versão amputada do resto. Mas confesso que gostaria - nem que fosse como experiência, já que por lá passaram tantas coisas esquisitas - que isso acontecesse pelo menos uma vez para podermos discutir se tinha ou não valido a pena.
É que com os “outros” isto não tem dado muito resultado e confesso que pior nem seria muito fácil fazer.
De qualquer modo insisto na relativa necessidade de uma equipa ministerial, no caso particular do ME, ter pelo menos um (1) elemento com algo mais do que ideias “gerais” sobre a Educação.
É que de ideias “gerais” já tivemos a nossa conta ao longo da História, em especial da mais recente. Chamem-me antiquado, conservador, isso tudo, mas sinto-me mais seguro quando vejo alguém com ideias claras e objectivas ao leme do bote. Um Guterres a tartamudear a tabuada deixa-me apreensivo.
Uma coisa é exercer um cargo de magistratura “de influência” e ter uma ideia “geral” sobre o rumo do país. Outra é ter responsabilidades executivas e ter uma vaga ideia sobre o que fazer e onde chegar. Como exemplo dou-lhes o Mário Soares, primeiro-ministro perfeitamente olvidável mas Presidente da República menos mau.
De ideias gerais tivemos o nosso século XIX completamente cheio e vimos no que deu. Uma industrialização falhada, um sistema político bloqueado, um país adiado (olha o lugar-comum) e um sistema educativo por erguer. O século XX teve mais ideias “fixas” do que propriamente ideias muito específicas. O homem providencial era um contabilista nato com uma grande afeição nacionalista, mas sobre o resto também era muito dado a ideias gerais e a não gostar de quem lhe fizesse muita sombra.
Vinda a Democracia, passada a turbulência em que todos tinhas ideias muito específicas sobre o rumo político que queriam, entrámos em 30 aninhos em que as ideias “gerais” se instalaram e acomodaram em todos os recantos do poder e em que os “especialistas” só são chamados quando é para anuir e dar uma certa legitimação técnica ás opções assumidas. Quando é para discordar do remanso, colocam-se de lado. No período cavaquista ficou conhecido o episódio do chamado Relatório Porter sobre a economia portuguesa que defendia a criação de clusters em sectores especializados da estrutura procutiva nacional, apostando no que ela tem de mais específico. Era demasiado. Específico.
Vivemos num país que, “em geral”, tem um bom clima e no qual, “em geral”, as pessoas gostam de brandos costumes (tirando o futebol). Somos governados de “forma geral” por políticos “generalistas” que gostam de se pronunciar, “em geral”, sobre os problemas “gerais” da nação e que “em geral” estão muito satisfeitos por (quase) parecerem europeus porque todos usamos o euro. É o novo modelo do ”português suave”.
O caso da Educação não é excepção, antes pelo contrário, bastando lembrar que sempre que a actual Ministra foi confrontada em debates ou entrevistas com questões “particulares” e muito concretas, se refugiou sempre num “plano mais geral”, também conhecido por “de conjunto”, de todo o “sistema”. Aliás, sempre que usou dados mais específicos percebeu-se que teria deles uma “ideia geral”, já que raramente resistiriam a um escrutínio mais detalhado e crítico, a que MLR sempre gostou de apelidar de caricatural. Sempre que se apontava qualquer detalhe concreto mal planeado ou implementado, vinha logo a cassete da “caricatura”.
Quanto aos secretários de Estado, a um não se conhecia até ao momento qualquer ideia concreta sobre o sistema educativo não-superior, enquanto o outro, pela obra publicada, é um “generalista” nato, especialista em generalidades sobre a avaliação. No conjunto acho que tinham todos uma ideia “geral” do que deles pretendiam - num caso amansar os gastos com os docentes, no outro voltar a injectar medidas artificiais para promover o sucesso educativo estatístico.
Ora a Educação já passou essa fase das ideias “gerais”. Não chega ter uma ideia “geral” sobre a bondade das aulas de substituição: convém saber como implementá-las de forma coerente. Não interessa ter uma ideia “geral” sobre a repetição de esames a gosto por despacho arbitrário: convém saber a hierarquia dos diplomas jurídicos e conhecer o quadro legal em que nos movemos. Não adianta a ninguiém ter alguém com umas ideias “gerais” sobre o valor do mérito: seira interessantes saber fundamentá-las e demonstrá-las com exemplos concretos.
Não me interessa se isso é trabalho para as assessorias técnicas. Aliás, se o responsável político não perceber do assunto é presa fácil de alguns interesses bem situados. Também não me interessa se o governante apenas deve apontar a direcção e gritar “adiante e em força”, se depois não souber o caminho exacto a seguir.
No entanto, há muito caminhamos com base numa ”ideia geral” de Educação para Portugal a todos os níveis, a qual - embora com algumas mutações - se vai traduzindo na institucionalização de umas “generalidades” em forma de ciclos de ensino, incluindo o Superior.
A apressada bolonhização do Ensino Superior será fatal a pouco mais que curto prazo. Teremos imensos “mestres” com o 2º ciclo de estudos, especializados a 30 créditos semestrais a matéria. E a condizer teremos uma escadinha de ciclos de ensino não-superior progressivamente infatilizado com base em “generalidades” mal aprendidas por professores “generalistas” com uma ideia “geral” sobre diversas matérias e conhecimento efectivo sobre nenhuma.
Mas este é o ciclo natural das coisas. A mediocridade tende a desconfiar da excelência, logo evita promovê-la e prefere reproduzir mais mediocridade.
Assim, a mediocridade política na área da Educação teme a verdadeira excelência educativa. Porque assim notar-se-ia a diferença. Logo, nada melhor do que apostar na generalização da mediocritas, ainda por cima sem a virtude da aura.
http://educar.wordpress.com/

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