sábado, janeiro 13, 2007

Vai certamente parecer embirração

Através do Professores Contratados e Desempregados, acedi a um texto do colega José Pacheco, um dos míticos “fundadores” da Escola da Ponte, que gosto de designar como Farol da nossa Educação, não porque tenha nada contra o seu projecto e os seus protagonistas (não conheço pessoalmente nenhum), mas apenas porque não gosto de exemplos únicos de Virtude e, mesmo num país pequenote como o nosso, porque não acho que uma andorinha faça qualquer Primavera, pois pode apenas ter-se perdido e andar desorientada em busca do rumo certo, sem o achar.
Nesse texto publicado no site Educare, a certa altura é descrito um confronto verbal entre o autor e parte da audiência de uma palestra que culmina assim:
Esperei que a turba se acalmasse. E perguntei:“Disseste desonestidade? Consideras que há professores desonestos?”O líder da claque titubeou: “Não era isso que eu queria dizer…”E mais não disse. A claque emudeceu. Restaram imprecações, em surdina.
Eu confesso não ser o mais dilecto apoiante do movimento sindical, na docência em particular, sendo muito crítico da forma como se foi acomodando a rotinas, perdendo o pé em relação a muito do quotidiano docente e como o seu discurso foi ficando, em certos sectores, profundamente monocórdico. No entanto, nunca me ocorreria qualificar como “turba” ou “claque” um conjunto de colegas de profissão que expressassem, mesmo que de forma adversa e concertada, uma opinião diferente da minha. Suponho mesmo que o colega José Pacheco se sentiria, a avaliar pela leveza com que gosta de revestir a sua prosa de “aprendiz de utopias”, incomodado se alguém designasse como turba um conjunto de crianças mal-educadas numa aula ou de jovens incómodos em qualquer situação. No entanto, um conjunto de professores parece que já se podem qualificar como “turba”, desde que sejam - ao que parece - de um sindicato diverso do seu (e eu não tenho nenhum, pelo que não tenho interesses em jogo).
Mas em relação ao essencial, e porque fico algo distópico nas 5ªs feiras à noite, eu não tenho problemas em admitir que existem professores desonestos, como existem indivíduos desonestos em todas as profissões. Nesse particular não tenho pruridos de classe; posso não ter quotas para a desonestidade, mas que a há é indesmentível e só alguém muito desatento ou encerrado numa redoma utópica nunca presenciou como sempre se “cozinharam” colocações com ou sem autonomia.
Aliás, talvez o incómodo com o sistema de colocações implementado por David Justino se explique exactamente por ter vindo perturbar certas lógicas acantonadas a rotinas instaladas que funcionavam à margem de qualquer equidade de tratamento entre os colegas.
Eu não estou contra a autonomia das escolas, mas estou contra um sistema desregulado de contratação ad hoc de docentes com base no princípio abstracto da “escolha”, vizinho da crença nas virtudes salvíficas do mercado. Isso não acontece por qualquer razão pessoal - sou desde há um par de anos efectivo numa escola que escolhi exactamente porque sabia que não se incomodaria em me ter por lá - mas apenas porque ouvi e vi acontecer demasiadas coisas “estranhas” ao longo de uma dúzia de anos de mini-concursos e outra meia-dúzia de QZP. A “escolha” e a “autonomia” nesta matéria podem ser soluções pontuais para casos específicos, mas nunca “a” solução, porque isso acarretaria, inevitavelmente, a existência de mecanismos de segregação profissional e mesmo de “guetização” escolar, agravando clivagens e desigualdades.
Afirmar como o colega José Pacheco fez mais recentemente em outro texto que “nos concursos, como em qualquer outro domínio, é perigoso o raciocínio de que os professores podem cometer ilegalidades [e que] recusar a possibilidade de escolha é recusar autonomia” é ser extremamente redutor e simplista ou então representa apenas um razoável desconhecimento da situação existente até à uniformização do processo de colocações que esta equipa ministerial está a fazer tudo por contrariar.
Mas para mim, fica ainda por esclarecer o que motiva uma passagem enigmática do segundo texto do colega José Pacheco, quando escreve que:
E, quando não me senti integrado, fui-me embora, para não perturbar a escola e procurar realização em outro lugar.
Afinal o que se passou, como se deu essa des-integração, o que a motivou? Talvez seja assunto público e notório mas eu desconheço-o. O que falhou na Utopia Maravilhosa?
O indivíduo ou a organização?
http://educar.wordpress.com/

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